sábado, 31 de outubro de 2009

Significado de uma curadoria

Pellegrin movimenta uma das obras (e a megaexposição)
O professor e artista José Luiz de Pellegrin concebeu e coordenou a ocupação artística do velho prédio da Cotada, comprado pela UFPel este ano. A exposição "Arte no Porto III" terminou hoje (31) mas seguirá sendo falada e documentada, por seu valor histórico e artístico.

Funcionando também como relações públicas e como guia da exposição, ontem (30) ele me explicou que o termo "curadoria" se aplica à supervisão 100% exercida pelo organizador. Diz ele que, neste caso, a intervenção da antiga fábrica não foi feita somente com obras criadas para esta ação (algumas foram trazidas já feitas em outros contextos).

No entanto, desde fora percebe-se que todo o cuidado (significado essencial de uma curadoria) foi tido por ele para que as criações dialogassem: com o público, com o espaço e os detalhes físicos dos seis andares e com a concepção de uma velha fábrica agora em renovação, onde serão "fabricados" profissionais universitários (a reitoria planeja instalar aqui as engenharias e as licenciaturas noturnas). Seu foi o projeto, sua é a execução. Mesmo que as obras não sejam suas, o curador lhes dá vida e ação dentro do projeto.

Como a exercer simbolicamente essa curadoria, o catarinense Pellegrin mostra como funciona o carrinho concebido por Chico Machado, gaúcho de Santo Ângelo e professor na UFPel há um ano. Na arte contemporânea, um objeto criado pode não ter um significado preciso nem "utilidade", mas pode chamar a atenção para fatores inconscientes, ocultos na arte tradicional, como a interação, a sonoridade, o movimento corporal, a física cinética e a exposição social.

E no mundo atual as cidades são criadas (e curadas) por quem as ama, e não simplesmente por seus filhos mais antigos e ilustres.
Foto de F. A. Vidal

Diário Popular cria novo espaço interno

O portal do Diário Popular adiantou-se à organização da Feira do Livro de Pelotas e criou ontem (30), no mesmo dia da inauguração, o seu próprio blogue de notícias sobre a 37ª Feira. A iniciativa injeta dinamismo, realismo e interatividade neste meio, que aos poucos aprende a adaptar-se aos tempos atuais.

O espaço é feito por uma equipe de quatro estudantes de Jornalismo, como se eles fossem funcionários do jornal, exclusivamente para este veículo e somente dentro dos 17 dias da Feira. O sítio virtual já contava com três blogues: um para cada colunista social, com entregas em certos dias da semana, e um para os repórteres, chamado Espaço da Redação, com um artigo diário.
A apresentação gráfica desses blogues é extremamente simples, sem nada de artístico. Cada postagem tem uma foto não centralizada, com três linhas de texto interrompido, cuja leitura completa exige fazer mais um clique.
Nota-se que a ideia partiu da escola universitária e foi aceita pela empresa informativa, parecendo uma tarefa do professor para os melhores alunos. Aliás, uma muito boa ideia, que deveria ser incrementada aos poucos, se o veículo - que insiste em recordar suas origens no século XIX - desejar e puder acompanhar a agilidade destes tempos, em que as coisas "querem" acontecer e as pessoas precisam ser bem informadas. Com o menor número possível de cliques.
Imagem DP

Dicionário Histórico de Pelotas, um presente para os 200 anos

Nunca imaginei encontrar uma notícia cultural inserida num currículo Lattes. Na verdade, foi a autora desse currículo, Fernanda Oliveira da Silva, que me deu a informação, quando lhe perguntei sobre o andamento do Dicionário Histórico de Pelotas, cujo projeto ela ajudara a coordenar em 2005 (leia uma versão), quando aluna de História na UFPel (hoje ela cursa mestrado na PUC-RS, já afastada da equipe do Dicionário).

A tal notícia era que o livro estava agora no prelo, com o texto pronto e esperando publicação, talvez para a próxima Feira do Livro, que começou ontem (30), na Praça Coronel Pedro Osório.

O projeto (leia o relatório inicial) teve uma equipe de colaboradores que produziram verbetes para uma pequena enciclopédia sobre a história de nossa cidade desde o século XVIII até 1960, compilando informação até então dispersa. Além de Fernanda, identificavam-se os seguintes integrantes: Juliana Cabistany Marcello, Emmanuel de Bem, Caroline Meggiato. Como professores coordenadores: Lorena Almeida Gill, Beatriz Ana Loner e Mário Osório Magalhães.

O problema

A riqueza econômica e a importância política de Pelotas durante todo o Império (1822-1889) prolongou-se pela primeira República (1889-1930), produzindo uma sociedade culturalmente avançada, com artistas, cultores das letras e das ciências. A produção histórica sobre todo esse desenvolvimento focou aspectos ou fases precisas, sem nunca abranger toda a evolução da cidade.

Como resultado, a informação sobre Pelotas não era facilmente encontrável ou continha incongruências não estudadas, ocasionando perda de tempo para quem buscasse apenas uma referência pontual.

Objetivo

O Dicionário Histórico de Pelotas procura sanar esta falta, apresentando com rigor científico, numa obra única, uma visão sintética da cidade ao longo do tempo: sobre suas instituições e associações, por um lado, e seus acontecimentos, etnias, características econômicas, culturais e sociais, por outro.

Métodos

Para o fichamento de temas, a pesquisa começou em fontes secundárias (textos de história já existentes), discutindo depois em equipe as semelhanças e diferenças da informação, para homogeneizar a linguagem.

Elaboraram-se modelos de verbetes e uma lista com possíveis verbetes, divididos em eventos, povoamento e instituições; a redação foi entregue à equipe (estudantes e professores) ou a especialistas em cada tema. Foram detectados assuntos ainda não estudados pelas fontes secundárias, como associações extintas e de cunho estritamente popular ou a formação dos bairros.

Identificaram-se quais assuntos requeriam o uso de fontes primárias: fotos e documentos dispersos em cartórios, bibliotecas, jornais diários ou quinzenais. No cartório Rocha Brito, por exemplo, foram pesquisadas 115 instituições, muitas das quais já extintas.

Ao ver aumentar sem medida o número de verbetes, a equipe decidiu restringir a pesquisa, deixando de lado a elaboração de biografias. À medida que o trabalho avançava, os estudiosos sentiam a grande receptividade por parte de quem conhecia o projeto, tanto da comunidade científica como de instituições de preservação da memória da cidade.

Além da pesquisa de dados nas fontes e da redação dos resultados em cada assunto, a unificação dos verbetes foi uma tarefa complexa, pois deviam ter simplicidade, profundidade, correção histórica e uma homogeneidade de estilo.

Antes mesmo da publicação, alguns verbetes serviram de base para os programas de rádio do projeto Patrimônio Pé de Ouvido, financiado pelo Ministério da Cultura, UNESCO e BID. Um foi feito para a Casa da Banha (leia), prédio que já foi Quartel Farroupilha e sede de lojas como "Ao Novo Papagaio" (dir.).

A última versão do projeto do Dicionário é de 2008 (leia) e inclui um exemplo de verbete (abaixo) e a lista dos 186 temas escolhidos.

Hino. O Hino de Pelotas, cuja música é de autoria do maestro Romeu Tagnin e letra de Hipólito Lucena, foi composto para as comemorações do centenário de elevação à cidade, em 1935. A letra e a música foram escolhidas mediante concurso, sendo que no tocante à letra exigia-se que resumisse o assunto de forma acessível aos alunos das escolas primárias, possuindo para tal uma linguagem simples e não extenso número de versos. Concorreram 21 candidatos, e o resultado foi divulgado em 1º de junho de 1935. Teve início, então, o concurso para escolha da música que melhor se adaptasse à letra classificada. Concorreram 13 composições, escolhendo-se, em 5 de junho, o trabalho musical de Romeu Tagnin por unanimidade da comissão julgadora.

Esse júri era composto pelo Dr. Francisco Simões, pelo professor Milton de Lemos e pela professora Lourdes Nascimento. Sob a regência do maestro Romeu Tagnin e acompanhamento da banda do 9º Regimento de Infantaria, o hino foi cantado, pela primeira vez, em 7 de julho de 1935, por um coro composto de alunos da rede de ensino, previamente selecionados pelo referido maestro e pelo professor Milton de Lemos. Em conjunto com a bandeira do município, foi oficializado através da lei nº. 1.119, sancionada em 30 de Abril de 1962.

Fontes.─ BPP- Fundo DIV- 001. Diário Popular, 23 de maio de 1935; 25 de maio de 1935; 31 de maio de 1935; 1º de junho de 1935; 7 de junho de 1935.


(Fernanda Oliveira da Silva)
Imagens:
Blog Pelotas Vip (1-3)
POST DATA (5 nov 09)
A professora Beatriz Ana Loner, coordenadora do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel, órgão que realiza o Dicionário de História de Pelotas, escreveu ontem para esclarecer o seguinte:
  1. Os responsáveis do projeto desde o início são os professores Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill e Mario Osório Magalhães, que em equipe assinam a concepção e a execução do Dicionário Histórico de Pelotas.
  2. Fernanda Oliveira da Silva atuou como bolsista até 2008, desempenhando atividades de auxílio formal aos organizadores. Sua participação na obra é como autora de alguns verbetes.
  3. A publicação não está em vista para esta Feira do Livro, mas sim para o primeiro semestre de 2010, em data que será divulgada. Ainda falta que os redatores concordem com a versão final dos seus verbetes e a fase final de captação de recursos.

Pôr do sol, agora sem hífen

Em artigo que comentei há uns dias (leia) apareceu a expressão pôr do sol, cuja ortografia pode causar dúvidas, especialmente neste período de adaptação (2009-2013) ao novo Acordo Ortográfico.

Antes

Na verdade, esse é dos casos mais fáceis e menos polêmicos de palavras compostas modificadas pelo Acordo. Grafava-se "pôr-do-sol", com dois hifens e circunflexo em "pôr". Curiosamente, o nascer do sol não requeria hifenização.

A anterior reforma, da década de 1970, conservou o acento em "pôr", monossílabo tônico, que serve para diferenciar da preposição "por". Na época, os professores de Português brincavam: era preciso, sim, pôr o acento. O circunflexo é tão útil que distingue, por exemplo: "vamos por comida" e "vamos pôr comida" - no primeiro caso, a frase indica fome; no segundo, satisfação.

Hoje

O novo Acordo ainda mantém o circunflexo em pôr. Mas retira os hifens. O composto "pôr-do-sol" ficou simplificado em três palavras, igualando-se ao "nascer do sol". Se a natureza não diferencia a aurora do crepúsculo - nem nós falamos com hifens - para que fazê-lo no papel?

Às vezes sem lógica, o Acordo conserva hifens que poderia abolir (como em pé-de-meia), mas simplifica palavras compostas, de dois modos: aglutinando-as (como em paraquedas) ou fragmentando-as (como em pôr do sol).

Ao publicar o artigo comentado, o blogue Amigos de Pelotas usou a forma nova, mas o Diário Popular criou uma peregrina versão: "pôr-do-Sol" - que, além de ignorar este Acordo internacional, inventa uma figura não contemplada na língua portuguesa: o uso de maiúscula no meio de um substantivo comum (sobre maiúsculas no meio de um nome próprio veja o post Sul-Rio-Grandense).
Foto: Eduardo Amorim/Flickr
Canal São Gonçalo serpenteia em busca do pôr do sol.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O cerro do Jarau e as torres de Alhambra

Hilda Simões Lopes Costa, escritora e socióloga pelotense, patrona da Feira do Livro que hoje começa, escreveu a seguinte crônica de viagem, que na verdade é uma tese literária e antropológica.

Viajando pela Espanha, hipnotizada, olho os desenhos nas pedras de Alhambra, ouço uma gravação explicando os símbolos árabes e a todo instante sou interrompida: "Olha, aqui um americano escreveu um livro..."

Mais adiante, no palácio, fazem-me ver onde o americano redigiu sua obra; visito o lugar sem entusiasmo, não é momento para livros, estou num mundo alucinante, preciso senti-lo. Mas com o tal escritor intrometendo-se em meus silêncios, está difícil.

Final de dia, calor insuportável, exaustão. Peço a chave no hotel e meu braço derruba a pilha de livros à venda: Cuentos de La Alhambra, Washington Irving. O próprio, o intrometido.

Examino a capa, as ilustrações, não resisto ao fascínio mouro. Compro a obra e, mais tarde, tonta de sono, dou uma olhada.

Vejo a palavra Salamanca e me detenho na Leyenda del soldado encantado. Desaparece o cansaço, leio num fôlego. Tenho nas mãos uma versão europeia da Salamanca do Jarau de João Simões Lopes Neto.

  • Enquanto Blau Nunes, o gaúcho, tem de seu apenas um cavalo, um facão e as estradas reais, don Vicente, o estudante espanhol, além da alegria leva consigo um violão.

  • O gaúcho Blau encontra um vulto de face branca e tristonha, o sacristão que, enfeitiçado, vive há 200 anos preso no cerro do Jarau que ficou sendo "o paiol das riquezas de todas as salamancas (furnas) dos outros lugares"; o espanhol don Vicente depara-se com um soldado dos reis católicos Fernando e Isabel, encantado há 300 anos nas torres de Alhambra, guardando o tesouro do último rei árabe.

  • O vaqueiro gaúcho recebe uma onça de ouro furada pelo condão mágico que o fará rico; o estudante espanhol acha uma estrela de seis pontas, amuleto de extraordinário poder.

  • Na lenda gaúcha, Blau irá adentrar o cerro do Jarau sob as palavras "alma forte, coração sereno, vai"; já Vicente, o espanhol, ao se encaminhar às torres de Alhambra ouvirá: si tienes fe y valor, sígueme.
Sabe-se que essas lendas são originárias da cidade espanhola de Salamanca, onde haveria um sacristão bruxo na cueva de São Cipriano. O escritor americano refere-se a ele e à fama das magias no lugar, mas a lenda se desenrola em Granada, onde chega o estudante de lá provindo.

Pesquisas indicavam o mesmo nódulo inicial à lenda gaúcha que, no entanto, desdobra-se na região do Prata. enquanto a obra de Irving é um registro da história oral, a de Simões Lopes Neto é prosa poética a partir da história oral, e é mais rica em desdobramentos.

O fato é que a lenda, ao que parece desconhecida em Salamanca, foi-se mundo afora. Em Granada, ganhou roteiro, personagens e símbolos. Atravessou os mares, chegou ao continente sul-americano, recebeu nova roupagem, elementos indígenas, adentrou o pampa gaúcho e se enfurnou no cerro do Jarau.

O povo, que vivia pelo meio do conflito entre mouros e cristãos, dominou-o através da palavra. Era um tempo, lamentavelmente perdido, em que os homens ainda fabulavam e não reduziam tudo ao domínio da razão. Criou as lendas, cruzou símbolos de uns e outros, abriu portas encantadas, fez e desfez magias.

Hoje, ao descobrir a lenda espanhola, sinto-me agarrando as duas pontas de um barbante que bordou e rendilhou desde o embrião dessas histórias. Impressiona-me a sabedoria popular, os arquétipos, o inconsciente coletivo, sei lá... Impressiona-me, sobretudo, que dessa mixórdia cultural árabe-cristã se originasse tanta sabedoria.

A atração entre os opostos, a busca da unicidade, é a dialética que faz o universo fluir. E na lenda, os enredo desloca-se através da dualidade: o Sol e a Lua, a mulher e o homem, os cristãos e os mouros, o crescente e a cruz.

Blau Nunes e don Vicente circulam pelo meio desses elementos e, como num bailado, vão dinamizando o alcance do UNO. Essa dinâmica, no plano valorativo dos homens, seres culturais, é entravada por ambições, ódios, vaidades, medos e tudo o que aprisiona o homem ao impedi-lo de ser ele mesmo.

Os símbolos dessa lenda fazem muito sentido nesse mundo de indivíduos reduzidos à mera "unidade econômica" destinada a trabalhar, consumir e repetir modelos estabelecidos, crescentemente apartados de suas condições de seres únicos e criativos. A busca na salamanca é pelo resgate da essência perdida, pela inteireza do EU.

E a salamanca está no cerro do Jarau, nas torres de Alhambra, ou no âmago de qualquer pessoa. Basta mergulhar, não para amealhar tesouros, eles são enfeitiçados. Mas com "alma forte e coração sereno", em busca do que Blau diz ser tudo o que não sabe o que é, porém que atina que existe fora dele, em volta dele, superior a ele, a quem chama o "tudo" e é simbolizado pela teiniaguá encantada.

Diário Popular, 29-06-2003
A Sedução da Salamanca - Leyla Lopes (1)
Blau Nunes, o vaqueano - filme de André Constantin (3)
A Princesa Moura, detalhe, Madu Lopes (6)

A maior mostra de criatividade já vista em Pelotas

A Universidade Federal de Pelotas comprou em abril dois prédios da antiga fábrica Cotada (veja a notícia).

Após décadas de abandono, o edifício maior - Benjamin Constant esquina Dona Mariana - não parece ter sido tocado: por fora a identificação em enormes letras (esq.), por dentro pequenos pátios, a estrutura em cimento, um velho elevador, grandes buracos entre os pisos.

O professor José Luiz de Pellegrin, diretor do Departamento de Arte e Cultura da UFPel, que vinha organizando grandes mostras no Cais do Porto desde 2006, imaginou agora a ocupação artística desse velho prédio, tão grande que uma turma de formandos do Instituto de Artes não conseguiria preencher. Foram chamados professores, ex-alunos e outros artistas, inclusive de fora de Pelotas, e o resultado teve inauguração na sexta-feira passada (23).

Aberta até amanhã (31), a "Arte no Porto III" é a maior exposição coletiva já vista em Pelotas, com 72 artistas (inicialmente eram 74, mas dois não puderam chegar), sem que mediasse prêmio ou concurso.

O entusiasmo e a criatividade que estiveram em jogo também dão mostra de como um ponto de partida velho e deteriorado permitem uma renovação e um futuro vislumbrado além dele. Esta ação coletiva pode considerar-se como uma multi-intervenção, que dá caráter poético a um espaço de nossa cidade que nos envergonhava e parecia destinado à destruição.

A imprensa de Pelotas funciona por agenda e não cobre os eventos artísticos após acontecerem - somente os anuncia. Não havendo aqui uma publicação exclusivamente dedicada à arte, esta megaexposição tomou os meios de surpresa e ficou sem ser informada ao público. Nem sequer o sítio oficial da UFPel deu detalhes da inauguração (leia). Somente um documentário da produtora Moviola mostrará ao mundo esta pequena façanha.

Nos próximos dias, mostrarei alguns aspectos que mais me chamaram a atenção.
Fotos de F. A. Vidal

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O trapiche hoje (2009)

Norma Alves fotografou no celular o trapiche do balneário Valverde, depois de sua interdição por motivos de segurança, dia 26 de agosto (veja a notícia no Diário Popular).

A artista alterou a imagem em cor e luminosidade para remarcar (e confundir) o sentido da passagem do tempo. Esta e outras fotos estão em exposição na sala Antônio Caringi até 13 de novembro, de segunda a sexta (12:30-18:30).

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Rubens Filho publica 3º livro

Rubens Amador Filho lançou seu segundo livro, "Drops de Menta", contos e crônicas dos últimos dois anos. O terceiro já está encaminhado.

O sucesso foi pleno quanto à programação e quanto aos convidados: além de familiares, admiradoras e colaboradores e colunistas do Amigos de Pelotas (alguns deles na foto abaixo), chegaram figuras públicas e colunáveis, que são fãs do blogue que Rubens dirige - como o vereador Eduardo Macluf, o reitor do IFSul, Antônio Brod, o presidente do Conselho de Cultura Henrique Pires e o empresário farmacêutico Beto Moura.

Também esteve presente um grupo de jovens do Grupo Tholl, emprestando à reunião sua beleza e graça e dando à noite um ar artístico, histriônico e, claro, pelotense.

Uma caixa com balinhas de hortelã reais - não virtuais - esteve à disposição dos amigos de Pelotas presentes, aludindo com bom-humor ao nome do livro, que foi sugerido por um leitor, segundo comentei num post anterior (leia). Os textos pretendem ser suavemente amargos e refrescantes, como a vida, que nunca é 100% doce, nem angustiante.

Apesar de que o Amigos tem mais seguidores homens, mais colunistas homens e, em geral, traços masculinos - evidentes na análise e na sátira política e, por que não, na identificação com o Café Aquários - o texto literário de Rubens é basicamente psicológico e sentimental. Semelhante a uma autoanálise, as frases em primeira pessoa remarcam o lado sofrido da existência, com pessimismo e melancolia, mas com uma lucidez de si mesmo que poucos homens têm (ou se atrevem a verbalizar).

Já houve colunistas mulheres no blogue, mas todas elas saíram ou mantêm certa distância, ou estiveram em recesso, apesar da vontade de Rubens de fazer um veículo variado, para todos os interesses. Inevitavelmente, um jornal é a cara de seus editores ou donos, sendo normal e desejável a segmentação dos leitores. A objetividade total nunca é possível, mesmo que se mantenha como um princípio ou um estilo predominante.

Com sua imperante marca pessoal, o blogueiro mais lido de Pelotas abre um novo espaço de criação na cidade, que se configura como uma escola jornalística em desenvolvimento, com ingredientes políticos, artísticos e psicanalíticos. Nesse processo, Rubens escolhe, chama e protege seus colaboradores, sabendo que a consonância grupal pode produzir algo novo, um movimento que se mantenha no tempo, mesmo sem seu líder.

Seu próximo passo é publicar um livro sobre esta experiência, a ser lançado em 7 de novembro, na Feira do Livro. Desta vez - com os doze colunistas representados no texto (questão de química) - a mensagem será menos amarga e os efeitos, mais refrescantes.
Fotos de F. A. Vidal

Pelotense, conheça Pelotas!

Michel Constantino Figueira (esq.) vem publicando artigos no Diário Popular desde que era aluno do bacharelado em Turismo. Hoje ele cursa mestrado em Memória e Patrimônio e segue preocupado positivamente pelos potenciais turísticos de Pelotas.

Em 2009 ele escreveu por alguns meses no blogue Amigos de Pelotas. Curiosamente, um daqueles textos já postados na internet foi apresentado ao Diário Popular. Pela marcada contraposição entre os dois veículos, é muito raro quem colabora em ambos. Fiz uma comparação entre as duas versões desse escrito, cujo teor completo mostro abaixo (em azul e verde), com mínimos ajustes para facilitar a leitura. O que importa é o sentido total, mas se distinguem na forma dois tons expressivos de um mesmo autor.

  • Pelotense não conhece Pelotas - postado no Amigos em maio de 2009.
    O título é uma negação, em presente do indicativo, sem sugerir saídas.
    Algumas frases foram enxugadas [entre colchetes] transmitindo a mesma ideia em menos espaço, e outras foram acrescentadas (em verde), adotando o estilo crítico do site.
    O parágrafo final desta 1ª versão é coerente com o título, e culpa a pobre visão das autoridades.

  • Pelotenses: conheçam Pelotas! - Diário Popular, na internet e na edição impressa, outubro 2009.
    O título está no afirmativo do imperativo, estimulando soluções.
    As frases são mais extensas, o que sugere que o texto, sendo base do citado acima, tenha sido escrito antes, ainda que publicado depois. Entre colchetes, as partes que ficaram só nesta versão. Em verde, as que talvez foram retiradas da versão original para sair nesta.
    Os dois parágrafos finais são concordantes com o título, vislumbrando soluções em conjunto com a comunidade.
O desconhecimento

Uma das maiores barreiras para o desenvolvimento turístico local está no desinteresse do pelotense em conhecer sua própria “casa”. As informações [sobre eventos, roteiros, atividades de lazer e de cunho turístico] que ele repassa aos seus visitantes são [quase] nulas.

Diversas pessoas me dizem que nunca comeram bolinhos de siri [e pastel de camarão] na Colônia de Pescadores Z3;
- nunca viram o pôr do sol nas Doquinhas ou o nascer do sol no Laranjal (acima);
- jamais entraram no Sete de Abril (esq.) [para assistir às peças e concertos gratuitos];
- não sabem descrever as charqueadas [e sua relação com a história local];
- nunca provaram a comida deliciosa do restaurante Gruppelli;
- nunca fizeram trilha ecológica no ecocamping;
- nunca beberam um cafezinho no Aquário (abaixo);
- e nem mesmo entraram numa doçaria.
Eu conto nos dedos as pessoas que conheço que já visitaram os museus Leopoldo Gotuzzo e Carlos Ritter.

Dentro da Semana do Turismo, em setembro passado, num passeio organizado pela Secretaria de Turismo, Esporte e Lazer, três vereadores declararam não conhecer bem os detalhes físicos e históricos da cidade (leia a notícia).

O desinteresse

O pelotense se interessa muito pouco pela sua [cultura e memória pública]. [É indiferente quanto às suas raízes]: sobre as influências portuguesa e francesa dos casarões, as influências charrua e minuana em nossa veia gaúcha, a influência africana em nossas danças [e a influência italiana e alemã em nossa tradição colonial]. E isto vale para pobres e ricos, [velhos e jovens]. A 'aristocracia' acumula indiferença o ano inteiro para partir para Punta del Este no verão e sair nas colunas sociais dos jornais. Para os pobres sem informação, sendo o preço dos deslocamentos e eventos com artistas locais caríssimos para eles, os limites são ainda maiores.

Entendo que este desinteresse também está associado a fatores como: criminalidade [e desemprego], eventos repetitivos, e preços exorbitantes para visitar as charqueadas ou fazer passeios com agências de viagem pela Zona Colonial. Isto tudo, associado aos índices de sensibilização patrimonial e incentivo turístico abaixo de zero, desestimula ainda mais os pelotenses a sair “peloteando” por aí. [Mas precisamos prestigiar nossa cidade com tudo o que ela oferece].

O interesse

Quando fui professor de turismo e patrimônio cultural em um projeto do CDL de Pelotas, no final de 2008, percebi que as crianças pobres - de escolas municipais do Pestano, do Porto, do Areal, do Fragata e da Colônia Maciel - possuíam um profundo interesse em conhecer nossa cidade. Elas falavam com orgulho da Praia do Laranjal (esq.), mas muitas delas, inclusive com idades de 13 a 15 anos, nunca haviam estado na praia, no Centro Histórico ou na Zona Rural.

Pude compreender que seus horizontes eram tão limitados quanto a percepção de nossos gestores turístico-culturais, que não associam que o processo de transformação turística é bem maior do que ficar discutindo cultura e turismo em mesas de bar e seminários acadêmicos.
[FIM DA 1ª VERSÃO]

A solução

[Os gestores públicos e sem fins lucrativos do turismo, da cultura e da educação deveriam iniciar urgentemente um programa de incentivo social para os pelotenses conhecerem sua cidade. Um projeto de cunho turístico-patrimonial planejado, sinérgico e participativo, discutido, orientado e implementado concretamente pelo Poder Público com o apoio de diversas instituições e empresas. Um programa deste porte geraria orgulho e sentimento de pertencimento ao pelotenses que aprenderia a participar da construção de uma cidade melhor, bem cuidada, preservada e harmoniosa].

[Os nossos turistas estão chegando. Precisamos recebê-los com alegria, entusiasmo e conhecimento sobre nossa cultura. Mas para isso é preciso que a comunidade pelotense participe tanto do processo de construção do turismo, quanto dos reflexos positivos gerados pelo setor na economia local].

[Por exemplo, se cada bairro e cada etnia possuíssem o seu próprio museu e projetos de valorização da sua identidade, e a relação dessa identidade local com a identidade de Pelotas, isto já representaria um grande passo à frente no desenvolvimento do turismo e da qualidade de vida dos pelotenses, gerando oportunidades de emprego e renda com base no que Pelotas tem de melhor: cultura].
[FIM DA 2ª VERSÃO]

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Carla Domingues avança no mestrado

Carla Domingues, soprano lírico, formou-se no Conservatório da UFPel e está cursando mestrado na UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), na área de musicologia. Em julho passado, qualificou seu projeto, que analisa oito canções do compositor gaúcho Frederico Richter, ainda em atividade aos 77 anos (leia a nota escrita por Carla).

Enquanto ela prepara sua dissertação, apresenta-se em diversos recitais e óperas, segundo nos informa em seu blogue. Inclusive ela programou uma participação em Pelotas, mas em função da gripe A não pôde ser feita.

Na gravação abaixo, feita em Florianópolis em novembro de 2008, ela canta Prendi, per me sei libero, da ópera "O Elixir do Amor", de Gaetano Donizetti. O acompanhamento é da Camerata Florianópolis, regida pelo Maestro Jeferson Della Rocca. As fotos foram tomadas em Pelotas.


"Sítio da internet", em vez de website

Após ver a palavra "sítio" - em vez do internético site - num recente artigo (leia) do vereador Eduardo Leite, que escreve no Amigos de Pelotas desde 31 de julho, pareceu-me correto seguir esse costume em prol do nosso idioma, mesmo que ninguém mais o faça.

Ao começar este blogue, preferi aportuguesar a palavra blog, na falta de um vocábulo adequado para esse conceito em nosso idioma. Afinal, club virou clube, ballet virou balê, clip já é clipe e blog terá que ser blogue. O Primeiro Mundo inventa coisas e usa seus termos, e nós copiamos o costume e o nome. Até hoje nos valemos do latim no Direito porque foi a Roma Antiga que impôs certos usos e princípios.

Mas se já temos a palavra em português por que usar a versão inglesa? Daqui por diante, os websites serão chamados sítios ou páginas da rede.

Mantenho a palavra internet, que é uma condensação de international network, mas web ficará como rede.
Imagem da rede

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

3ª Conferência Municipal de Cultura

Sexta passada (23), realizou-se com sucesso e em paz a 3ª Conferência Municipal de Cultura em Pelotas.

As anteriores conferências (2005 e 2007) foram convocadas pelo prefeito mas esta teve o patrocínio da Câmara de Vereadores, que cedeu seu plenário para as reuniões (veja as conclusões da 2ª). Houve cerca de cem inscritos e foram eleitos nove delegados para a Conferência Estadual.

As palestras do dia 23 foram feitas pelo professor da UFPel Fábio Cerqueira, pelo presidente do Conselho de Cultura Henrique Pires e pelo artista e professor Igor Simões (dir.).

A tarde transcorreu tranquila, foram feitas as votações pelas prioridades de políticas culturais (veja os resultados), e o plenário foi-se esvaziando até ficar com uma dúzia de pessoas. Às 19h e às 20h começavam diversas atividades artísticas na cidade.

Os vereadores presentes na Conferência foram Eduardo Leite (24 anos, em 2º mandato), representante da Câmara no Concult, e Eduardo Macluf (38 anos, em 1º mandato), suplente. Ivan Duarte (47 anos, 5º mandato) estava inscrito, mas não o vi na reunião. O Secretário Municipal de Cultura Mogar Xavier inscreveu-se como participante e esteve presente no início, retirando-se no fim da segunda palestra.

Hoje (26) o Diário Popular impresso dedica duas páginas completas ao evento (leia uma síntese), mencionando que o secretário estava presente e foi vaiado várias vezes; realmente, só ouvi uma pessoa vaiar ante a menção de seu nome, estando ele ausente.

Houve tolerância mútua, sob a aceitação tácita de que se trata de posturas políticas contrapostas. É a cultura que sai perdendo com essas divergências entre pelotenses. Com maior harmonia e convocação popular, a próxima conferência deveria lotar um teatro como o Guarani, e permanecer cheia até o fim.

Henrique Pires novamente sugeriu à Câmara que como casa do povo tomasse alguma iniciativa cultural, por pequena que fosse, sem esperar que o Executivo faça tudo. Hoje a instituição não tem ações de apoio à arte além das declarações de boa vontade - seguindo seu regulamento, que não inclui um departamento cultural. Seu antigo acervo de obras artísticas se encontra em algum porão municipal, deteriorando-se como boa parte do patrimônio da cidade.
Foto de F. A. Vidal

SAÚDE é fundaMENTAL, Arte também

Lembrando o Dia Mundial da Saúde Mental (10 out.), o Corredor Arte expõe até 4 de novembro trabalhos de 40 pacientes usuários das Oficinas de Criação Coletiva, da Faculdade de Medicina da UFPel.
Em parceria com o Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas, as oficinas fazem parte, desde 1996, de um projeto de saúde mental da Universidade, que inclui ações socioeducativas, culturais, artísticas e de lazer, no contexto da Reforma Psiquiátrica, que no Rio Grande do Sul se implantou em 1992.
Artistas do MAPP conduziram as 4 oficinas artísticas: Olga Halfen e Nauri Saccol (Pintura), Helena Badia e Jandira Dutra (Desenho), Marisa Oliveira e Bibiana Agendes (Confecção de bijuteria) e Gabriela Leiria, Maria Clara Leiria dos Santos e Elenise de Lamare (expressão gestual sobre papel).
As Assistentes Sociais do Departamento de Saúde Mental da Faculdade deram a ideia desta exposição, que ficou com o título “SAÚDE é fundaMENTAL”, aludindo a que todo tipo de saúde tem um aspecto mental (emocional), de acordo com o conceito integral de saúde.
No modelo "hospitalocêntrico", centrado no estabelecimento médico, a família fica em segundo plano, limitada pelas normas institucionais, enquanto nas Oficinas ela é um dos atores necessários para a melhoria e a inserção social do paciente. A sociedade se faz parte do tratamento e das melhorias da saúde física e mental, participando ativamente nas atividades de apoio.
Por outro lado, a expressão na arte tem efeito terapêutico, na medida em que ajuda a conhecer-se a si mesmo e conciliar conflitos internos; facilita também na reabilitação dos mais variados transtornos e na inserção social.
Os grupos funcionam em quatro unidades da Faculdade de Medicina, em reuniões semanais de 3 horas. Nas atividades participam um médico residente, uma assistente social e os artistas voluntários.
A Assistente Nilza Bertoldi considerou que a ideia teve pleno sucesso, considerando os bons efeitos tanto nas artistas como nos pacientes.
Imagens: Corredor Arte

domingo, 25 de outubro de 2009

Amanhecer, pinturas de Túlio Oliver

O multifacetado artista Túlio Oliver inaugurou terça (20-10) uma nova exposição de telas, no saguão do Centro de Integração do Mercosul.

Os quadros se inspiram na peça musical "Amanhecer", da suite Peer Gynt nº 1, do compositor norueguês Edvard Grieg. A obra orquestral foi composta em 1875, como música incidental para a primeira encenação da peça teatral, escrita por Henrik Ibsen, autor do livro de mesmo nome.

Nesta amostra, o artista plástico rodeou os quadros de decoração natural. Com seu desenvolvido sentido teatral (também é ator), ele costuma fazer verdadeiras cenografias para suas obras visuais, incluindo música e perfumes, o que compromete de modo mais amplo e profundo os sentidos e as emoções do espectador.

Alusões musicais — como neste caso a obra sinfônica de Grieg — e alguns conteúdos espirituais e místicos enriquecem a experiência de apreciar a criação de Túlio Oliver, sejam os adornos de uma simples mesa ou a cenografia de um grande balê. A mesa oferecerá comida, conversa e amizade; um painel teatral será mediador para que a pessoa entenda e viva melhor um espetáculo teatral.

A exposição pode ser visitada até 20 de novembro. As obras estão à venda, e já na tarde da vernissage algumas haviam sido compradas.
Fotos de F. A. Vidal

POST DATA

Desfrute, no vídeo abaixo, as duas suítes orquestrais Peer Gynt (33 min), a começar pelo "Amanhecer" (La mañana). Concerto gravado em 2013 pela Orquestra Sinfônica da RTVE (Rádio e Televisão Espanhola), dirigida por Guillermo García Calvo.

O mesmo trecho foi usado num flash mob da Sinfônica de Copenhagenno metrô da capital dinamarquesa, em abril de 2012 (a música foi escolhida para surpreender e emocionar os passageiros na saída de uma estação fechada para a luz da manhã).

sábado, 24 de outubro de 2009

Performance tentou mexer com Pelotas

No período de 20 de agosto a 18 de setembro, as salas de exposições do Centro Cultural Adail Bento Costa mostraram a série "De+talhe de Pelotas", de alunos formandos do Instituto de Artes e Design da UFPel.

Nada menos que 14 artistas exibiram algum detalhe de Pelotas por eles analisado. Não podendo destacar todos, só mencionarei um e fico à espera do momento de apresentar os demais, em notas à parte.

Sendo esta a quarta coletiva com o subtítulo "Arte = Profissão??", a amostra fez uma reflexão ampla sobre a atividade artística, sugerindo perguntas sobre o ser criativo e o ser profissional. Nesta ocasião, vemos que os artistas estão mais focados na mensagem que têm a dizer, a partir da arte; não nas consequências de manifestar-se, o que poderia relacionar-se com a profissão. Enfim, a reflexão ficou aberta.

O trabalho foi feito na disciplina de Prática Profissional, da profª Adriane Hernandez. A tarefa dos alunos era tomar uma fotografia de um detalhe da cidade e a partir dela criar uma obra artística com qualquer técnica, inclusive a fotografia.

Letícia Prado tomou como "detalhe de Pelotas" as prostitutas da Praça Osório e elaborou uma performance (atuação interativa, num cenário da realidade) com o título de "Turismo Sexual".

Em meio a prédios tombados e um fluxo intenso de pessoas, algumas mulheres têm neste lugar o seu negócio, onde a mercadoria é seu próprio corpo. As prostitutas estão todos os dias neste "ponto" turístico da cidade e convivem em harmonia com este contexto.

A artista armou um painel (1ª foto), semelhante a outros que se usam em pontos turísticos para levar uma lembrança da cultura local, mas este é a imagem de uma prostituta, onde o turista colocará o rosto assumindo simbolicamente - como costuma ser nos painéis deste tipo - o papel dela, de ganhar dinheiro em troca de sexo.

Na exposição, dentro da Casa Adail Bento Costa, Letícia colocou uma explicação da performance, e dois dias por semana expôs o painel na Praça, como se fosse qualquer fotógrafa de turistas. Os passantes que aceitassem participar eram fotografados e essas imagens iam, no dia seguinte, à exposição, inseridas num arquivador (3ª foto, clique para aumentar).

Cada dia algumas pessoas foram fotografadas, cerca de uma dúzia por semana, entre as quais homens e mulheres de diversas idades - todos, por certo, com muito bom humor. Numa das fotos aparecia um casal de namorados, com o rapaz colocando a cabeça no painel e a moça a um lado, tomando-lhe a mão.

O projeto parece aceitar a prostituição como atividade, ao encará-la com leveza e sem pudor, mas pode também entender-se como um questionamento a esta superposição espacial (e conceitual) entre visitação turística do "corpo" da cidade e visitação do corpo humano erotizado. Os pelotenses poderiam estar sugerindo (ou tolerando), sem querer, que o turista tradicional também use o "turismo sexual", algo que realmente existe no chamado Primeiro Mundo. Denunciar tal confusão é um dos focos do trabalho.

Letícia estipulava o que fazer se nenhum transeunte participasse: Se a cidade de Pelotas não tem um desses painéis porque não tem algo [alguém] que sirva de personagem, então eu escolho a prostituta que está em meio ao patrimônio histórico para que cumpra este papel.

Na quarta 9 de setembro, o desempenho da artista na Praça coincidiu com uma entrevista da banda porto-alegrense Bidê ou Balde, que tinha vindo a Pelotas para um show (veja a nota). Após falar para a repórter, o vocalista Carlinhos assumiu o papel de entrevistador e fez Letícia apresentar sua proposta (2ª foto), que a meu ver é de conteúdo socioantropológico e psicológico, e de formato artístico.
Fotos de F. A. Vidal

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Festival de Flores na Igreja Anglicana

A Diocese Anglicana de Pelotas organizou o 13º Festival de Flores, que em 2009 coincidiu com o centenário da inauguração do templo pelotense que é considerado um dos cartões postais de nossa cidade.

A iniciativa tem um sentido ecológico e espiritual, favorecendo a meditação sobre nossa relação com Deus e com a Criação, da qual o ser humano é parte.

A inspiração do evento se baseia no Cântico das Criaturas, de São Francisco de Assis (leia o original em dialeto úmbrio), considerado patrono da ecologia moderna, dado o seu amor pelos animais e pela natureza. Não se poderá negar que um dos objetivos é reaproximar os fiéis e atrair pessoas novas, crentes ou não, como foi a intenção de Cristo.

Por alguns dias, a igreja se enche de arranjos florais que emprestam cores, perfume e leveza a um ambiente gótico-céltico, de estilo arquitetônico que lembra a Europa de séculos passados. Também soam no templo músicas de suaves melodias e até se apresentam alguns cantores e instrumentistas.

Este ano, a atividade em Pelotas transcorreu de 17 a 20 de outubro, abrindo à comunidade em geral o seu salão de chá e o acolhedor pátio, onde cantam pássaros e mora um simpático cãozinho chamado Júlio César.

O santo italiano viveu no século XII, quando ainda havia comunhão oficial entre a Igreja da Inglaterra e a de Roma. A separação ocorreu no século XVI, mas os desacordos vinham de muito antes. A Igreja Episcopal Anglicana é considerada a religião cristã inglesa desde o século III.

No dia de fechamento do Festival de Flores, que já é plena primavera, a centenária igreja estava com sua profusa hera totalmente verde (dir.), em sintonia com o Festival, como convidando a todos a comungar do amor pelas coisas naturais, obra do Criador de todos nós.
Fotos de F. A. Vidal (20-10)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Desenhos em grafite

A Sala de Exposições Inah Dávila Costa recebe até sexta 13 de novembro uma mostra de desenhos de Noé Cezar e alunos.

Noé nasceu no interior de São Lourenço do Sul e passou a infância em contato direto com as lides de campo. Desde criança reproduzia nas paredes dos galpões, com carvão ou giz, o movimento dos animais que o rodeavam.

Já lançou três álbuns com gravuras e textos sobre a morfologia do cavalo crioulo. Em função desse trabalho, a empresa Termolar o contratou para criar estampas em grafite, na linha campeira, de seus produtos. O artista é apaixonado pesquisador da música, culinária, costumes e toda a cultura gaúcha.
Foto de F. A. Vidal

Jantar de abertura da Quinzena

Alunos do SENAC preparam-se para servir 200 pratos de entrada
Transcorre até 31 de outubro a 6ª Quinzena Gastronômica de Pelotas, inaugurada oficialmente no Dunas Clube terça passada (13) com um jantar para os empresários, patrocinadores, imprensa e autoridades (notícia no Diário Popular).

Estive lá como colunista gastronômico do Amigos de Pelotas, por convite feito pelos organizadores ao editor Rubens Filho. Foi naquela noite que tomei uma das últimas fotos da Corte 2009 da Fenadoce (veja), cinco dias antes da nova eleição.

Além das ofertas dos 30 restaurantes, a Quinzena finaliza com um show especial: este ano será “Satolep Sambatown”, com Vítor Ramil e Marcos Suzano. O comensal que acumular os selos de 6 restaurantes, terá direito a 1 ingresso para 1 pessoa nesse espetáculo, dia 31 de outubro, no Teatro Guarani. A oferta não melhorou em relação a 2008, pois eram 5 os selos exigidos, além de que os pratos costumam ser para duas pessoas.

Bryan Chaplin
Para preparar o cardápio da noite de abertura, o chef Bryan Chaplin (esq.) – formado pela UCPel e pelo SENAC – inspirou-se no lema deste ano: “Tradição e requinte em sua mesa”.

O professor de Cozinha do SENAC apresentou-se com dez alunos (mais 20 garçons no serviço às mesas) e explicou cada prato, de grande simplicidade apesar de algumas palavras em francês: todas receitas típicas do século XIX, comuns em nossa cidade na época (para as famílias ricas, por certo).

A entrada começou a ser distribuída (primeira foto acima) cerca das 21h30min, logo após as apresentações. Percebi nos convidados, cerca de duzentos, uma pressa por comer: como eram somente bebidas a servir-se desde as 20h, o pequeno e delicado prato foi sentido como aperitivo, o que dificultou sua apreciação.

Coq au vin com arroz selvagem (e brócolis)
O nome – terrine de três pescados – induzia a engano, pois se tratava de um patê tricolor, de um só pescado, com as camadas em rosado (com tomate seco), branco (somente peixe) e amarelo (com cúrcuma). A apresentação visual, como desenhando uma pintura abstrata no recipiente, tão característica da culinária refinada, foi bem reproduzida pela equipe de Bryan.

Coq au vin (frango em molho de vinho tinto, champignon, bacon, cenoura e salsão) foi o prato principal (dir.), acompanhado de arroz selvagem e brócolis semicozida. A receita francesa usava tradicionalmente galos de criação, o que hoje em dia se faria de alto custo e de preparação demorada.

O resultado foi satisfatório em quantidade, mesmo para quem estava aqui jantando perto das 22h30; houve repetição. Quanto ao sabor, estava suave demais, pelo pouco sal. Paladares mais exigentes e analíticos que entrevistei sentiram falta de mais requinte e menos economia nos ingredientes.

Profiteroles com ganache e calda de goiaba
A sobremesa foram três profiteroles por pessoa, recheados com ganache (creme com chocolate) e calda de goiaba. Na foto à esquerda, a aluna do SENAC exibe o artístico prato, adornado com folhas de hortelã.

Em resumo, a noite foi um agradável encontro social de pessoas empreendedoras, preocupadas do desenvolvimento de Pelotas.

Os empresários gastronômicos mostram boas condições de atender turistas e a população pelotense mediante seus serviços, especialmente nesta 6ª Quinzena, que é um atrativo para conhecer a cidade.

No jantar, o lema de “tradição e requinte” foi observado no cardápio e na iluminação de velas, mas não houve música ambiental afim.

A confraternização humana e afetiva também seguiu o critério individualista, característico dos pelotenses.

A 6ª Quinzena oferece 30 pratos
Nesse contexto, os organizadores não puderam fazer que as pessoas saíssem de suas cadeiras para talvez conversar com mais de duas pessoas ao longo da noite ou apreciar a decoração de banners, que estava amontoada e sob holofotes no corredor de entrada (dir.).

O entrosamento começou depois da meia-noite, já com metade dos assistentes e a música a maior volume.

Esta crônica foi enviada por Slow Food para sua coluna de sábado 16 no Amigos de Pelotas, e não foi publicada pelo editor.
Fotos de F. A. Vidal

O verão nos pegou pelo relógio

O terceiro sábado de outubro deu início ao horário de verão na metade sul do Brasil, segundo lei federal.

Na quinta-feira anterior (15), o relógio na Esquina 22 (Quinze com Sete) estava parado, marcando hora diurna até tarde da noite, talvez ansioso na espera do ajuste que viria (dir.).

A foto foi tomada às 21:30, pouco antes de o Café Aquários fechar. Pelo horário novo, a casa passa a atender normalmente até 22:45, o que muitos agradecem, pelo menos em noites mais quentes.

Quando o horário mudou, o relógio entrou no prumo, não sei a que hora exatamente.
Foto de F. A. Vidal

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Prefeito em exercício admite erro do titular de Cultura

Segunda (19) o prefeito Fetter transmitiu o cargo máximo municipal ao vice-prefeito Fabrício Tavares (leia a notícia). O motivo foi uma viagem por poucos dias a Ouro Preto, onde foi lançado hoje (21) o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas, que está por liberar R$ 150 milhões para a conservação de cidades de cultura emblemática.

Fetter, que é vice-presidente para a Região Sul da Associação Brasileira de Cidades Históricas, viajou com o Secretário Municipal da Cultura, Mogar Xavier. O gesto sinaliza que pretende mantê-lo no cargo, apesar da reforma administrativa e de polêmicas com a classe artística, e que considera a SeCult uma pasta politicamente forte e significativa.

Tavares, prefeito em exercício, convocou no dia seguinte (20) dois líderes políticos do setor cultural, para esclarecer dúvidas sobre duas Conferências Municipais de Cultura paralelas, convocadas no início deste mês: uma pelo Secretário (o que viajou com o prefeito) e outra pela Câmara de Vereadores, em consonância com o Conselho de Cultura (leia a notícia).

Diz o site da Prefeitura:
Durante a audiência, Fabrício Tavares reconheceu o equívoco por parte da prefeitura ao anunciar a realização da Conferência, já que havia perdido os prazos legais para a referida convocação, e reconheceu como legítima a Conferência Municipal de Cultura convocada pelo Legislativo Municipal, em edital publicado na imprensa em 8 de outubro. Desta maneira, fica cancelada a realização da Conferência proposta pelo Executivo, que deverá participar da Conferência oficial que terá como local o Plenário da Câmara Municipal de Vereadores.

Na primeira semana de outubro, a cidade foi surpreendida pelo Secretário que anunciava a 3ª Conferência Municipal de Cultura (leia a notícia), ainda que fora do prazo e sem um documento oficial. Nesses dias, o setor artístico passou a apoiar o movimento Vigília Cultural, acolhido também pelos vereadores, em prol de políticas culturais participativas.

O Secretário seguiu defendendo a validade da sua convocação e qualificou os argumentos opositores como "conversa para boi dormir" (leia no Diário Popular). As relações chegaram a um ponto de alta tensão e agora o vice-prefeito veio restabelecer a racionalidade política nas relações com o meio cultural. No entanto, o divórcio entre discursos seguirá existindo e novas pontes e vinculações serão necessárias.