segunda-feira, 11 de maio de 2009

Objetos irreais, de Daniel Gómez

O artista plástico Daniel Fernando Gómez, colombiano da cidade de Pereira, encontra-se em período de intercâmbio, participando em atividades da UFPel, com orientação da professora Angela Pohlmann.

Ele acaba de inaugurar uma exposição intitulada "Irreales" (dir.), coordenada pelo professor José Pellegrin, e que contou com a presença de alunos, professores e autoridades.

À base de conceitos cotidianos, Daniel criou 21 objetos em metais, madeira, vidro, grafite, plástico, zirconita e até fios de cabelo. Cada um contém hibridismos e contradições, que provocam em nós surpresas e fortes questionamentos sobre a realidade.

Daniel Gómez
Os nomes em espanhol são compreensíveis e servem como ponte comunicacional entre o espectador e a obra, mostrando que o autor tem a capacidade de brincar com as ideias, os sons e o vocabulário, efeito que não se perde totalmente para quem só fala português.

Inclusive num dos casos o nome ficou mais próximo para nós (lusófonos) do que para quem só entende espanhol: Un irreal, mescla de ficha e moeda que é emblema do que a exposição inteira quer simbolizar. Um real (moeda espanhola antiga e brasileira atual) que é irreal, ou duplamente real, ou simplesmente não é "real" (do rei).
Contenedor

Contenedor (dir.) é intraduzível se não olharmos o neo-objeto, uma imaginativa geminação em aço vazado. É colher (cuchara) ou garfo (tenedor)? Não é possível responder claramente.
Precisaríamos do neologismo "colharfo", mas o espanhol já tem uma palavra parecida (contenedor), que significa contêiner e continente (do verbo conter). Pela magia da linguagem, ela também pode entender-se como "com-garfo". A melhor equivalência seria com a expressão "bom garfo", que mesmo assim não expressaria tudo o que o objeto "diz".
Pregos em materiais diversos também "falam" com eloquência: ao mesmo tempo pela imagem - sem palavras - e pelos nomes com que os batizou o artista. Não são aqui ambiguidades verbais, que no discurso cotidiano gerariam confusão, mas simplesmente mensagens que se acumulam, fazendo pensar sobre o que se vê.

Inflexible é um prego talhado em madeira. Servirá de algo?
Acero (aço): um prego com aparência metálica, feito de grafite.
— Outro deles, pregado na parede, tem uma cabeça em material frágil - como terá sido posto ali, se não por marteladas?
— Um anzol feito em ouro cumpre sua função, mas quererá alguém lançá-lo ao mar? Seu nome expressa simultaneamente o que ele é e não é: Carnada (isca).
— Uma simples Bomba (esq.) traz mais dessas duplicidades: duas saídas, duas bocas, duas caras frente a frente, uma bomba, dois atos de bombar.
Fotos de F. A. Vidal.

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