A artista plástica Graça Antunes está expondo, no Bar João Gilberto, uma dezena de quadros com inspiração no aniversário de nossa cidade. O dia 7 de julho recorda a instalação em 1812 da Freguesia de São Francisco de Paula (com paróquia autônoma em relação à de Rio Grande).
Sob o título "Referências", as imagens colocam, em primeiro plano, mulheres em relação com a cultura de Pelotas, representada simbolicamente pelos ladrilhos hidráulicos, a pelota, a agricultura, o Laranjal, o Grupo Tholl.
Na tela "Sustentando o Patrimônio" (acima), a mulher mostra prédios do século XIX, numa corda que serve de alegoria para a valorização afetiva da arquitetura herdada dos europeus. Mais perto da mão esquerda, o antigo Teatro Sete de Abril (dir.), que já passou por diversas reformas desde sua abertura oficial em 1834, e hoje se encontra fechado à espera de mais uma reparação.
"Que se chamasse Pelotas, feito um barco e feito um rio" (do poema de Mário Osório Magalhães) é o título do quadro (esq.) que evoca o nome original da localidade, ligado ao Arroio Pelotas ou "das Pelotas", aquelas pequenas embarcações esféricas que tanto impressionaram os portugueses. O poema aludido foi escrito em 1999 para a abertura do ballet moderno de Otávio Augusto Lima "A Flor do Sal".
Tanto na escultura como nas telas pintadas, Graça Antunes costuma apresentar mulheres como personagens, especialmente gordas, valorizando a sensualidade corporal e a delicadeza dos traços faciais. De diversas raças, estas mulheres dialogam com a cultura pelotense, seja como agentes ativas (no artesanato indígena ou na música africana), contemplativas ou como simples adornos.
Na história oficial, o homem é protagonista único do desenvolvimento pelotense, mas cabe reconhecer o ser feminino, pois sem os dois sexos nenhuma cultura existiria e sem os dois lados nenhum ser humano existiria.
Em nossa história, houve mulheres benfeitoras ao lado dos patrões e, do outro lado, escravas contribuindo com a vida e a arte. Mulheres plantaram e colheram, cantaram e esculpiram, construíram pelotas e tijoletas. Tais os atos valorizados pelos homens.
Vem agora a artista recordar-nos que a mulher não é somente empresária ou trabalhadora, mas essencialmente presença amorosa, biológica e espiritual, não percebida pela ambição masculina.
Os pêssegos e suas formas, texturas e colorações sensuais foram colocados aqui ao lado dos pés femininos (esq.). A pelota semelha um útero. A praia é a mãe-esposa que espera e acolhe os navegantes. O feminino é silencioso e está em tudo.
Fotos de F. A. Vidal
Referência de M.O.Magalhães: "Os passeios da cidade antiga" (2ª ed., 2000)
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