Figura do Gato-Pelado foi criada por Aldyr Schlee

O Ginásio Pelotense (desde 1962 Colégio Municipal Pelotense) foi criado em 1902 pelos grupos maçônicos locais, como forma de entregar educação de boa qualidade a meninos e meninas, sem conteúdo religioso e com os ideais republicanos positivistas.

No final da década de 1930, as iniciais GP originaram a expressão Gato Pelado, inventada por estudantes do colégio masculino mais antigo, o Ginásio Gonzaga, fundado pelos jesuítas em 1895 e administrado desde 1926 pelos irmãos lassalistas. O apelido tinha a ver com uma imagem pejorativa de pobreza de alguns alunos do Pelotense (possível relação com "gato-pingado"); a ironia foi retribuída aos rivais com o apelido Galinha Gorda, alusivo à aristocracia local, assumidamente católica e submissa à Igreja.

Na época, cada agrupação adotou um hino informal, aplicando uma letra a uma melodia popular. O Hino do Gato Pelado tomou em 1938 a música da marcha de carnaval As Pastorinhas, sucesso nacional naquele ano, com a música de Noel Rosa (composta em 1934). Um hino oficial, mais sério, foi composto em 1960, mas sem o mesmo arraigo emotivo. Ainda hoje, todo aluno do Pelotense se orgulha de ser um gato-pelado e canta o tal Hino do Gato Pelado, mesmo que já não existam os clássicos Pe-Gon (a canção gonzagueana usava a marcha naval Cisne Branco).

A historiadora e professora Giana Lange do Amaral recolheu a história dessa rivalidade cultural em sua tese de doutorado Gatos Pelados x Galinhas Gordas: desdobramentos da educação laica e da educação católica na cidade de Pelotas (décadas de 1930 a 1960) (UFRGS, 2003) e no livro "Gymnasio Pelotense e a Maçonaria: uma face da história da educação em Pelotas" (Seiva, 2005). Antes, Paulo Marcant Gonçalves havia escrito as "Memórias dos Gatos Pelados" (EDUNISUL, 1988). A letra dos dois hinos se encontra na tese de Giana Amaral (p. 241).

No mesmo texto (p. 289) transcreve-se um testemunho de Aldyr Garcia Schlee, que — na década de 1950, sendo aluno do Curso Científico — criou o gato intelectual, com gravata e monóculo, figura-símbolo do Pelotense até hoje. Ou teria criado um com pince-nez (pâns-nê, belisca-nariz)?

Essa figura do gatinho fui eu que desenhei. Era o modelo da época. Quer dizer, era aquela coisa de fazer o animal (era Disney puro) antropomórfico, vamos dizer assim. Era um gatinho nojento, cretino, de pince-nez, de gravatinha tope, para se opor à Galinha Gorda. É quase uma figura humana.

A autoria do desenho é conhecida da família e dos amigos de Schlee, especialmente os gatos-pelados, mas não é informação muito difundida em Pelotas — fique aqui o reconhecimento. O talento gráfico seguiu manifestando-se em caricaturas, charges, diagramação jornalística e a famosa camiseta Canarinho, desenhada em 1953 (leia entrevista).

Não tendo o gato original à mão (feito em 1950 ou 1951, segundo o próprio Schlee me contou ontem), reproduzo neste post os únicos três que achei na internet.
Imagens da web