O negócio cresce quando se junta a fome com a vontade de vender. |
Há três anos contei 31 vendas fixas funcionando no caminho dos pedestres e dos banhistas do Laranjal. Este domingo (13) de janeiro, constatei nada menos que 55 pontos comerciais, instalados seja na areia ou nos lugares para estacionamento de carros (os estacionados saem de cena quando não há público). Além desses pontos, havia algumas "bancas institucionais", sem fins de lucro, como ocorre em feiras e shoppings (bombeiros, Secretaria de Saúde, SESC e doação de animais).
As 55 vendas incluíam 47 pontos de alimentação (desde simples carrinhos até casas instaladas na areia, passando por vans e trêileres de vários tamanhos), um aluguel de parapente aquático com skate e 7 bancas de produtos artesanais. Cerca de 10% do espaço para banhistas e dos estacionamentos estava ocupado por negociantes informais e suas cadeiras. Alguns carros do público estacionavam também de modo informal, em lugares indevidos, avançando sobre o espaço de circulação da avenida.
A contagem dos pontos comerciais foi feita passando de carro, e omitiu os carrinhos que transitavam pelo calçadão ao lado dos pedestres. Não foi verificado quais teriam autorização legal, função que compete a fiscais da Prefeitura. Alguns chegaram este ano ou no ano passado; outros levam décadas.
Um trêiler e suas cadeiras podem ocupar a vaga de dois ou três carros. |
Os nomes dos pontos identificavam a origem popular dos comerciantes: Capetinha, Rei do Pancho, Churraskito do Dindo, Pastelaria Paladar, Choupana Bar, Ringo III, Só Lanches II, Katrina's Bar, Krep's do Idemar, Krep's da Tia Rosa, Maneka-Dog, Lanches Shrek, Fera, Rei do Krep's, Saboroso, O Poderoso. Por outro lado, a falta de nome em 20 destes 55 pontos de alimentação denunciava a informalidade dos negócios (eufemismo para clandestinidade).
Tanto se o comércio fosse do tipo informal ou autorizado pela Prefeitura, o fato é escandaloso, pois um caos no respeito às leis e à convivência se instalou gradualmente, com tolerância do povo e do governo. O mesmo fenômeno já se vê nas calçadas do centro de Pelotas e nas áreas centrais das avenidas Bento Gonçalves e Duque de Caxias.
Para os diretamente envolvidos, tudo está bem: para os vendedores, trata-se de um meio de subsistência, e o público comprador agradece a possibilidade de comprar o que mais precisa por preços acessíveis. Prefeitura não consegue solucionar, vereadores apoiam os vendedores, e o ponto turístico de Pelotas vai sendo ocupado pelos mais ousados. Leia sobre o conceito de favela, que pode aplicar-se à expansão do comércio ilegal.
O que era um espaço turístico virou um corredor de camelôs. Foto de 2010 ainda é atual. |
Fotos: F. A. Vidal (1-2), Amigos de Pelotas (3)
2 comentários:
Em dezembro de 2009, Jandir Barreto publicou o seguinte no Amigos de Pelotas:
Favelização do espaço público
"A deficiência de caráter de alguns pelotenses favelizou o espaço público. Aqui, a cada passo, se observa o sinal deste comportamento de posse daquilo que é público, traço de nossa cultura. O espaço que deveria servir de estacionamento também vem sendo loteado, com fins eleitorais, para ambulantes, que em Pelotas têm direito à edificação eterna. E é tão normal o abuso, que ninguém protesta.
Isto acontece há décadas no Laranjal, sob o olhar complacente e cúmplice de policiais e da inércia de todos nós. Poucos são os pelotenses que ficam indignados diante de tanta falta de respeito ao espaço público. Agora, a Prefeitura, a Câmara, o Judiciário, o MP e a BM já podem enxergar o óbvio. Tomara que consigam enxergar,também, que ambulantes já são fixos no Laranjal, alguns até residindo em edificação sobre a areia. As cadeirinhas das damas nada mais são do que o símbolo da falta de nossa cidadania e de nossa incapacidade de indignação diante de tamanho desaforo".
Ante este texto, um leitor anônimo denunciou detalhes graves:
A ocupação desenfreada no Laranjal chegou ao ponto de um mesmo cidadão ser detentor de varios pontos de treiler ligados com energia pela CEEE, em nome de várias pessoas, e que são alugados a terceiros. É só a CEEE ir lá e exigir a presença de cada um dos ocupantes e conferir com o nome na conta. Existem também varios pontos com água potável e sem relógio de medição.
Existe também, aquele pessoal que se diz pescadores e ocupam a área de preservação da Lagoa dos Patos lá na barra com uma pastelaria, e que agora assumiram aquele bar dentro da areia, em frente a Av. Rio Grande do Sul, e aí pergunto: - ponto na areia pode ser vendido, cadê a fiscalização, será que a liminar dos primeiros pode ser transferida para o segundo?
É bagunça total seu Jandir, porém, o pior é que não existe interesse dos órgãos fiscalizadores, porque será?
Em abril de 2011, leitor Horácio Augusto Silva escreveu para o Amigos de Pelotas:
Sou morador da praia. Concordo que todos devem trabalhar e que a situação está difícil, mas a autorização da Prefeitura para os ambulantes, pelo que entendo, deveria durar somente no período de verão, depois os treilers deveriam ser retirados, ja que são ambulantes, não é mesmo?
Hoje estão depositados na orla mais de 30 trailers, que ficam durante todo o ano guardando espaço e enfeiando um dos maiores cartões postais do município. Assim não da para alimentar o turismo, não é mesmo?
Alguns leitores comentaram o texto como anônimos:
- A prefeitura abandonou o Laranjal faz muito tempo. Essas carroças na beira da praia é a prova do descaso desta administração, digo isso pois votei em Fetter esperando que a cidade tivesse organização e pulso firme nas cobranças de invasores do espaço publico! Morri na praia!!
- É uma pena, porém fiscalização em Pelotas é algo que não existe. Quando passaremos a ter fiscalização na cidade?
- Sou servidor público, graduado na área e pós graduando em Direito Ambiental. A SSU desconhece o Código de Posturas!! Trocando em miúdos, o Executivo descumpre Lei que ele mesmo criou. É inacreditável! Só em Pelotas.
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