
O ponto em rua movimentada (General Neto 639) era há tempos do mesmo dono, um professor aposentado do CEFET; esteve em outras mãos uns anos, também sem muito sucesso, e o proprietário havia decidido retomar o negócio. Ele vinha ampliando o acervo e optando pelos filmes mais seletos, aqueles que nas grandes locadoras só merecem um cantinho, junto com os documentários. Também havia títulos comerciais, musicais, infantis e até pornôs (numa pasta preta), mas a lei da selva foi mais forte.

Assim como os cinemas se ressentem com o aluguel caseiro de filmes, as locadoras em crise atribuem o mau negócio aos canais de satélite e cabo, à internet e à venda de DVDs (legal ou pirata).
O problema não ocorre somente no interior, onde já não existem salas de cinema. Até nas grandes cidades a locação de filmes evolui e se recicla. O próprio nome "videolocadora" já é coisa do passado, pois os vídeos (VHS - Video Home System) já desapareceram da maioria das locadoras (o que ninguém lamenta). Em Pelotas, ainda há alguns antigos em bom estado na Hobby Vídeo (Andrade Neves 2353).

Talvez ao dono da Imaggem - um entusiasta do cinema mais do que um negociante - pudesse atribuir-se o traço contraposto: intelectuais não são comerciantes. Quem vê o coração, não lhe quer pôr um valor econômico.
Nos mesmos dias, o cineasta francês Eric Rohmer (abaixo à dir.) morria aos 89 anos de idade (veja notícia). A pronúncia em francês (ambas oxítonas): errík romér. Vários de seus filmes estavam disponíveis nesta locadora; por exemplo, "Conto de Verão (acima) e "O joelho de Claire" (abaixo à esq.).

Se bem os dois fatos (na França e em Pelotas) não tenham tido influência mútua, a relação foi sugerida pelo professor Joari. A partir do dia 11, Rohmer viveria somente mediante suas obras, e elas não seriam mais vistas na Imaggem, pois também havia deixado de existir... Dois fins-da-linha para o cineasta; duas perdas para os cinéfilos pelotenses.

Mas com pensamentos lamentosos e saudosistas (variedade do sentimento de culpa), seguiremos asfixiando nosso prazer em ver filmes e nossa capacidade de gerar novas imagens.
Deixemos melhor legado às próximas gerações. Uma imagem morreu, mas surgirão muitas outras.
Imagens da web (3, 5-6), F. A. Vidal (1-2) e Roger-Picasa (4)