domingo, 5 de fevereiro de 2012

Angela (1951), longa-metragem rodado em Pelotas

Um dos primeiros filmes da Vera Cruz teve cenas numa Pelotas já decadente.
Falando de cinema em Pelotas, o professor e crítico Joari Reis distingue três etapas históricas (veja reportagem de Carlos Cogoy):
  • uma fase de pioneirismo, nas primeiras décadas do século XX, quando se filmaram vários curtas e o primeiro longa-metragem de ficção brasileiro, "O crime dos banhados", de Francisco Santos;
  • o declínio criativo, tendo como referência o ano de 1937, quando morre Santos e está no início a Segunda Guerra Mundial;
  • a recente retomada da produção de filmagens, com a fundação do curso de Cinema na UFPel, o surgimento de produtoras pelotenses e de festivais de artes audiovisuais.
Na segunda etapa citada, Pelotas não teve criação própria (declínio produtivo até o início do século XXI) e serviu como locação para diversas produções do centro do país e até do exterior (desde 1951 até hoje).

Entrada principal do Solar da Baronesa, recuperado nos anos 80.
O primeiro filme dessa fase foi Ângela (1951), terceiro longa-metragem da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, de São Paulo. Foi dirigido pelo argentino Tom Payne e por Abílio Pereira de Almeida, em preto e branco, com a duração de 95 minutos (veja uma ficha técnica).

Filmagens externas foram feitas no Rio de Janeiro e em Pelotas, na Chácara da Baronesa (atualmente Museu da Baronesa, sob administração municipal), na época ainda em mau estado de conservação (compare as fotos acima). Cenas de interiores foram feitas nos estúdios de São Bernardo do Campo. Não parece claro por que uma produtora iniciante como a Vera Cruz teria escolhido uma cidade tão distante do centro do país (a estrada para Porto Alegre não era asfaltada).

O roteiro é uma adaptação de Neli Dutra para o conto "Sorte no Jogo" (Spielerglück, 1820), de Hoffmann. Na história adaptada, a jovem Ângela (atriz Eliane Lage), que teve um padrasto viciado em jogos de azar, vem a casar-se com um homem com o mesmo problema (o gaúcho Alberto Ruschel, o Teodoro de "O Cangaceiro"). Atuam também duas mulheres que teriam longevas carreiras: a cantora Inezita Barroso, em sua estreia nas telas, e a então novata Ruth de Souza.

A dissertação O Momento Vera Cruz, de Valéria A. Hein (UNICAMP, 2003) descreve, entre diversos trabalhos cinematográficos, o filme Ângela (páginas 72-76).

A trilha sonora ficou a cargo do consagrado compositor e maestro Francisco Mignone, regendo a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo. Canções especiais para o filme: "Quem é", de Marcelo Tupinambá (cantada por Inesita), e "Enquanto houver", composta por Evaldo Ruy (cantada por Marisa Sá Earp).

Um documentário da TV Cultura de 2009 (vídeo abaixo) mostra o trecho do filme em que Inezita Barroso (como Vanju) – contracenando com Luciano Salce (Gennarino) e Ruth de Souza (Divina) – estreou no cinema brasileiro.
Fotos: Cris Matte

POST DATA
2014 Veja o filme completo aqui.

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