quinta-feira, 28 de maio de 2009

Pelotas e suas belezas


Saiu um clipe com gravação de estúdio para a música "Pelotas" de Kleiton e Kledir, interpretada já duas vezes em nossa cidade, como mencionei num post anterior. A vantagem é que o áudio permite entender a letra bem melhor que nas gravações até agora disponíveis.

Esta é uma das músicas mais ingênuas e simples da dupla, mas conseguiu a aprovação dos pelotenses, pois os irmãos Ramil conhecem bem nossos lugares e nossas preferências.

Já as imagens do clipe não refletem o mesmo conhecimento presencial de Pelotas; se baseiam no álbum pessoal dos cantores, acrescentando algumas escolhidas pela internet. O vazio se faz imperdoável quando a letra menciona as gurias lindas por metro quadrado.

Onde elas foram parar?

Para compensar essa baita falta, estão aqui algumas dessas lindas pelotenses:

Gabriele Rocha (acima, foto de Suzy Alam), Rainha da Fenadoce 2008, Miss Pelotas 2010, que nesta sexta-feira (29) recebe a faixa de sua antecessora Bruna Peter.

Taíse Rodrigues Dias (dir.), nossa Garota Verão 2005 e única pelotense a ganhar o concurso em todo o Estado - então aluna do Colégio Municipal Pelotense; pela agência pelotense Maxi Models já obteve colocações como bailarina e modelo internacional. Hoje está trabalhando como modelo na China.

Há milhares delas, e mereceriam várias canções de Kleiton, Kledir e outros.
Foto 1: Flickr.
Foto 2: site CMP.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Luminárias solitárias



As luminárias que estão sendo utilizadas em renovações urbanas em Pelotas são de um só modelo, mas, como é lógico, em cada lugar ganham aspecto e significado diferentes.

No Parque Dom Antônio Zattera (dir.), elas se misturam com as árvores e passam despercebidas durante o dia, especialmente com tempo nublado como foi neste domingo (24).

Sua forma parece desenhada para fazer parte de um bosque: talo alto e copa pequena, feita de luz em vez de folhas.

À noite é quando elas assumem sua função, enquanto as verdadeiras árvores dormem na sombra.

Já defronte ao Guarani (esq.), o mesmo tipo de objeto chama a atenção por seu contraste, parecendo um solitário visitante de um espaço estranho. Não que fique feio ou bonito, mas não consegue identificar-se com o ambiente.

Nesse trecho da Lobo da Costa, as árvores não existem nem serão colocadas, pois prejudicam a visão dos prédios. Entretanto, as luminárias antigas, bem mais altas e colocadas em postes, não foram retiradas; somente desativadas.

Nesse contexto, o desenho moderno mantém a funcionalidade à noite, mas de dia obtém um efeito de contraposição, e não de harmonia como no parque.
Fotos de F. A. Vidal.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Parceria entre pintor e escritor

Há uma semana, o pintor e escritor Manoel Soares Magalhães criou dois blogues : um literário, no qual reedita seu livro mais recente, e um sobre sua pintura naïve, que comentei aqui antes (veja o post).
Jornalista formado nos anos 70, Manoel desenvolve posteriormente uma vocação literária, começando por reportagens e contos, passando por uma peça de teatro e chegando ao romance, onde já publicou três títulos e prepara o quarto.
Há poucos anos, inicia silenciosamente um caminho nas artes plásticas, autônomo em relação a academias artísticas e em aparente desconexão com a literatura. Nesse caminho, o da pintura, seus resultados se podem perceber como mais expressivos e sugestivos, mais complexos e de mais longo alcance (no tempo e no espaço).
Os dois blogues de Manoel não têm relação entre si, mas o segundo é o que mais promete em termos da construção de um novo discurso (autêntico e também criativo em relação ao nosso contexto artístico). Se Manoel já surpreendia por sua inquieta e inquietante multiplicidade, agora nos mostra seu talento integrador.
Neste blogue-folhetim, ele divulga em trechos seu romance "Vampiros", relatos sobre o submundo marginal de Pelotas, escritos num estilo que também pode considerar-se, literariamente, marginal.
Ao entrar no endereço acima, aparece este aviso:
"O blog que você está prestes a abrir possui conteúdo adequado somente para adultos".
Imagens eróticas? Não; somente uma linguagem meio forte, própria da marginalidade social. Como exemplo, veja as primeiras linhas do livro (post de 21 de maio):
Gosto de gatos. Até bem pouco tempo atrás havia um cagando e mijando em meu apartamento. Pinguço era seu nome. Enorme e preto, pelo luzidio, extremamente preguiçoso. Gostava de vodca, o danado!

Com esse longo nome (tipo jornalístico), o autor apresenta seu ateliê virtual de arte naïve. Cada imagem vem acompanhada de um breve texto. Imaginamos que ele terá sido feito pelo escritor, mas não; eles respeitam o espaço um do outro. Cada qual no seu blogue. Aparece aqui um terceiro personagem, que faz a conexão entre os dois que conhecíamos, ou acreditávamos conhecer.

Eis aí a versatilidade de Magalhães para assumir um novo gênero: mais do que a simples soma de literatura e pintura, percebemos por primeira vez uma voz central que representa Manoel como um todo e o faz nos dois idiomas: o visual e o verbal. Quem fala não é um crítico nem um publicista, mas o artista propriamente; sua voz não explica nem elogia o que vemos, mas testemunha o que a pessoa nunca havia dito. A seguir o que ele postou dia 21 de maio último:

A pescaria de Deus

Minha mãe costumava dizer que Deus é um pescador. Comentava isso ao pé do fogão a lenha, olhos dançarinos, velado sorriso nos lábios. Fala mansa, recomendava-me ficar atento a Ele, pois seu "anzol" a qualquer momento poderia desabar diante de nosso nariz, tentando-nos.

Eu ficava muito sério, imaginando o que o Senhor haveria de querer conosco, grandes pecadores que éramos - no dizer do padre Agostinho no alto do púlpito, olhar de fogo. Experimentando abalos no corpo, às vezes eu corria em direção ao campo aberto e ficava olhando as alturas na expectativa de ver o tal "anzol".

Jamais ele balançou à minha frente como minha mãe argumentara, mas, claro, "ele" existe e se nós permitirmos seremos, sim, fisgados pelo Senhor que está sempre disposto para uma "conversinha" a sós conosco.

Duas sugestões formais para aprimorar o texto: revisar melhor acentuação e ortografia, e recordar a diferença entre naïf (masculino) e naïve (feminino).
Imagens de M.S.Magalhães.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Hotel Tower estreia com Rita Lee

Durante anos, as obras do hotel Jacques George Tower ocuparam a calçada da Almirante Barroso com Sete de Setembro, onde funcionou a antiga SMUMA (Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente). Somente uma passarela de madeira facilitava o trânsito de pedestres.

Em 2008, a passarela foi retirada e não foi mais possível caminhar por ali. A calçada ficou totalmente bloqueada (dir.). A paciência dos pedestres teve que acompanhar a demora das obras; quem quisesse passar, que caminhasse pela rua (abaixo).
Não houve fiscalização todo esse tempo, nem respeito por parte dos responsáveis. Nem lei, nem ética.
Dia 9 de maio, a passagem começou a ser liberada. Foi retirado o tapume - pois passarela já não havia - e a calçada ficou transitável.
Compare a foto acima com a de baixo; são exatamente do mesmo trecho.
O hotel estava finalmente pronto. Seria inaugurado o segundo Jacques George em Pelotas, com certeza agora para a última sexta-feira de maio (29). Em 2006, esperava-se que o hotel abrisse em 2007 (veja a notícia). Depois o anúncio foi para 2008.

O primeiro Jacques George funciona desde 2003, com 40 apartamentos, na Gonçalves Chaves.
O JG Tower, segundo hotel do Grupo Jacques Halal (dir.), tem o dobro da capacidade, e bastante mais luxo, com suites para hóspedes VIP, salão de convenções, piscina e sauna. A estreia das suites será antes da inauguração, nesta terça-feira (26), pela cantora Rita Lee e seu marido Roberto de Carvalho, que darão um show no Teatro Guarani na quarta (27).
Também há planos de um restaurante internacional neste hotel, com uma cafeteria na recepção e uma loja de venda de doces de Pelotas.

Também em 2008, a empresária Jacqueline Halal anunciou a construção de um terceiro hotel (veja a notícia), com a expectativa de que antes do fim desse ano as obras iniciassem. Um ano depois, somente se realizou o acabamento do Tower.
O terceiro JG, que terá outro nome, será mais popular, com 148 apartamentos, a preços de não mais de cem reais, sem frigobar, com ar condicionado, TV, telefone e cama-box. A localização será na Santa Cruz com Tiradentes, justamente atrás do primeiro JG.
Ainda não foi anunciado, mas fiquei sabendo que Jacques Halal já adquiriu todo o terreno e prédio do antigo Salis Goulart (defronte ao primeiro hotel da rede). Dizem os comentários que o novo estabelecimento será um hotel ainda mais barato e rotativo, mas, a julgar pelo ritmo já observado na construção, alguns anos mais se passarão (e bastante dinheiro rolará) até que o quarto hotel seja uma realidade.
Fotos de F. A. Vidal.

Homenagem à arte japonesa

O Ateliê Giane Casaretto preparou neste primeiro semestre uma forma de homenagear simultaneamente, com seu desempenho artístico e técnico, o centenário da imigração japonesa no Brasil e a pintura dessa cultura oriental.

No Corredor Arte do Hospital-Escola, 15 alunas de Giane e ela mesma expõem 25 telas nesta temática, até quarta-feira (27).

Em junho, o Ateliê comemora 18 anos de atividades, com sucesso crescente, sempre com muita capacidade de inovação e de inserção na comunidade.

Nesta escola, cada pintora tem ido encontrando suas linhas próprias e marcando estilos pessoais que gradualmente se fazem inconfundíveis. É a mão da mestra que convida os artistas a soltarem a imaginação e a autenticidade.

O grupo já se acostumou a homenagear datas importantes, grandes artistas e figuras da humanidade, em oportunidades que servem para ganhar conhecimentos e desenvolver novas técnicas.

O exercício consistiu em conhecer os modos em que o japonês retrata paisagens e detalhes da natureza. Traços simples, cores vivas, combinações sóbrias, poder de síntese - cada uma dessas maneiras peculiares do artista oriental foi tomada pelas pintoras dentro de seus estilos, já delineados no trabalho de vários anos (clique nas fotos para ampliar).

Lúcia Rizzolo obteve efeitos de textura áspera nos "Bambus", provocativos ao olhar e ao tato (foto 1).

As "Folhas" de Carla Borin são mais sutis e femininas, aproximando-se de um contexto orgânico e humano (foto 2).

Rosamélia Ruivo reproduz uma forma simples de ver um mundo natural, imenso e cheio de nuances (detalhe do "Díptico", foto 3).

Lilian Prates (abaixo) faz algo parecido, mediante uma linguagem abstrata de cores e vagas formas.

Todos os quadros se encontram à venda, a maioria por preços entre 80 e 120 reais. O mais caro neste grupo é a "Flor" (R$ 250), quase solene em sua simplicidade, de Maria Lúcia Drummond (foto 4).

Ante o trabalho que surgiu de uma inspiração comum, o espectador tende a maravilhar-se com a forma em que tal diversidade de resultados leva de volta à unidade original. Quando a percepção do espírito é profunda e a expressão é verdadeira, o efeito que se obtém é parecido à contemplação do Universo: cada detalhe é diferente do outro, mas se complementa com uma vibração unitária invísivel.
Fotos de F. A. Vidal (1-4).


domingo, 24 de maio de 2009

Dia do Café

A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) promove desde 2005 o Dia Nacional do Café, em 24 de Maio.

O dia celebra o início da colheita do café e homenageia esta bebida consumida por 93% da população brasileira. Em Santos, o Museu do Café registra a história desta riqueza nossa e divulga o consumo da bebida.

"A data comemora toda a cadeia produtiva, do grão à xícara, e enaltece todos os segmentos que investem continuamente para oferecer ao consumidor brasileiro um café de qualidade, com muito aroma e sabor", diz Guivan Bueno, presidente da ABIC.

O Brasil é o maior produtor (32,9 milhões de sacas na safra 2005/2006) e maior exportador (26,6 milhões sacas em 2005) de café do mundo (veja a notícia).

Em Pelotas, somente o Diário Popular (site não disponível) lembrou a data, mencionando o Café Aquários, principal e mais antigo café da cidade, cujas vendas de café são também as maiores no Estado, como loja individual. A maioria dos consumidores prefere o cafezinho, mas aqui também se prepara a bebida com sorvete, creme, merengue e diversos licores.

O Café Armazém (acima) hoje esteve fechado (esq.), como todo domingo, apesar de localizar-se num shopping, onde há fluxo de clientes para o cinema – no qual não se serve café.

Cafés de boa qualidade e diversas apresentações também são servidos na Feira (Quinze e Galeria Malcon), Croasonho, Confeitaria Otto, Doçaria Pelotense, Grão de Café, Isa Gastronomia, Pingo Doce, Café.com, Café Vitrô, Galeria Firenze, Galeria Central, Dom da Palavra, Márcia Aquino e Café Rivoli, entre outras doçarias e confeitarias.
Fotos 2-3: F. A. Vidal.

sábado, 23 de maio de 2009

Inaugurado "calçadão" do Guarani

Após uma quarta-feira chuvosa (13), a quadra histórica do Teatro Guarani foi inaugurada oficialmente na sexta (15) da semana passada, incluindo espetáculos com bailarinos e músicos.

Um público inicialmente modesto (entre cem e duzentas pessoas) foi aumentando à medida que anoitecia e as novas luminárias eram acesas.
A partir das 5 e meia da tarde e até cerca das 19h, prefeito e secretários estiveram, primeiro, no palanque (construído dois dias antes) e logo acompanhando o show da Banda Mídia, com vocalista e três músicos (dir.).
Fetter Jr. deu entrevista enquanto ouvia a música, a três metros dos alto-falantes (esq.); precisou aproximar o ouvido para poder ouvir as perguntas da jornalista.
O projeto de revitalização deste trecho urbano pertence à Secretaria de Urbanismo e pretendeu reduzir a circulação de veículos, para melhor conservação dos prédios, anteriores a 1920, e uso da área para lazer, equivalente a um passeio público.
A reforma dividiu os pelotenses, entre opositores que falam do mau-gosto e inutilidade (um destes críticos pessimistas é Joari Reis, em sua coluna deste domingo 24 no Diário Popular) e as opiniões partidárias da modernização eclética. Um debate entre leitores do blog Amigos de Pelotas resumiu bem esta confrontação de opiniões, inclusive com argumentos históricos, estéticos e políticos (veja o post), somando até hoje 46 comentários (veja o post).
Fotos de F. A. Vidal

Noite de sexta

Madrugada de sábado em Pelotas. A Avenida Bento Gonçalves já foi o único espaço de movimento noturno, mas há alguns anos as proximidades da UCPel se converteram num centro de festa urbana.

Pela Gonçalves Chaves, o bar João 100 Gilberto e o Luna Inti atraem, com seus shows e gastronomia a preços seletivos, a atenção dos moços e moças da Zona Norte. O bar Dom Felipe foi inaugurado em abril, na mesma rua, que serve como via de acesso à Félix da Cunha, onde há alguns dias está o La Gitana.

Hoje após a meia-noite, a fila de carros ia da Dom Pedro II até a Lobo da Costa. As buzinadas eram esporádicas; a maioria esperava com certa paciência a fila que avançava uns 5 minutos por quadra. Enquanto alguns se sentem donos da rua, outros se impacientam com razão, e o resultado são mais buzinadas até 3 da manhã.

Este mês de maio, a Prefeitura proibiu o estacionamento entre General Teles e Dom Pedro II, das 22h às 6h, justamente para coibir o barulho, mas os carros ainda circulam com música alta.
Foto de F. A. Vidal.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Dia internacional dos museus

A presença de museus numa cidade qualifica suas relações sociais. 
Visitar museus e extrair o melhor proveito de suas múltiplas atividades são hábitos que precisamos cultivar e estimular em nossas comunidades.
Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (MALG), da UFPel
No Dia Internacional dos Museus, 18 de maio, a Secretária Estadual da Cultura, Mônica Leal, escreveu as frases acima, em artigo no Correio do Povo (p. 4).

O Rio Grande do Sul conta atualmente com 368 museus de diferentes tipos e esferas de administração, destaca a Secretária. Segundo ela, o Governo do Estado tem aumentado os investimentos em conservação do patrimônio cultural. Por outro lado, duas universidades federais gaúchas (UFRGS e UFPel) contribuem à capacitação de pessoal técnico, com cursos de graduação em Museologia.

Pelotas tem vinte museus e memoriais abertos ao público, alguns deles com muito pouca divulgação: pouco visitados e pouco conhecidos pelos pelotenses. Por exemplo, muitos conhecem o Museu da Baronesa - de nome, ou por haver entrado - mas pouquíssimos sabem da existência do Museu Carlos Ritter, na Deodoro com Cassiano. Há também quem não saiba que o Instituto João Simões Lopes Neto, a Biblioteca Pública e o Colégio Municipal Pelotense contêm pequenos museus.

Neste blogue, já vimos alguns deles (veja a seção Museus). Há outros ainda em construção; a lista foi feita pelo Diário Popular no domingo passado (site não disponível), dia de início da Semana dos Museus 2009 (de 17 a 23 de maio), promovida pelo Sistema Nacional de Museus.
Foto: site da Charqueada Santa Rita.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A bom entendedor, meia dúzia de flechas

Na Rua General Teles, entre Osório e Deodoro, uma obra precisa ter a porta livre, num setor da cidade onde todos querem estacionar. Ela ocupa a calçada e ainda suplica que respeitem sua entrada, não muito bem delineada pelo precário do tapume. Para que não haja dúvidas, o desenho autoexplicativo. "Aqui estou eu; não fiquem na minha frente".
Foto de F. A. Vidal.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O historiador Alfredo Ferreira Rodrigues

Palestra final do 8º Salão do Livro do Autor Pelotense (2009)
Fechando o 8º Salão do Livro do Autor Pelotense, promovido pela Academia Pelotense de Letras, o eminente jurista Mozart Victor Russomano dissertou sobre o historiador rio-grandino Alfredo Ferreira Rodrigues (1865-1942), contemporâneo de João Simões Lopes Neto (1865-1916).

Confira a seguir parte da informação que o Diário Popular publicou ontem (18-05) sobre a conferência, em destacado espaço no Caderno Zoom.
Filho de Povo Novo, viveu desde os dois anos de idade em Pelotas, na casa de tios.
Autodidata, formou seu cabedal de cultura numa época em que não havia cursos fundamentais.
Autor do Almanaque literário e estatístico do Rio Grande do Sul, com periodicidade anual, editou 29 volumes dessa obra, que Mozart Russomano recomendou como valiosa e a ser adquirida pela Bibliotheca Pública Pelotense
, se porventura ainda não fizer parte de seu acervo.
O conferencista, em ampla explanação, destacou em Alfredo Rodrigues, além do historiador, o autor de valiosos trabalhos biográficos, tradutor e profundo conhecedor da história da Revolução Farroupilha e das figuras de Bento Gonçalves da Silva, Bento Manuel, Canabarro e outros.
[DP, 18-05-09]
Dr. Mozart Russomano
Na ocasião, a Academia homenageou o Dr. Russomano inaugurando seu retrato na galeria de honra da Casa. A presidente, Zênia de Leon, referiu-se à importância da cultura para a formação da pessoa:
É a cultura que possibilita ao homem humanizar-se e conceber o mundo do qual participa e onde emite julgamentos, de forma mais ampla e completa. [DP, 18-05-09].
O Salão do Livro é uma atividade aberta da Academia, realizada anualmente e destinada a divulgar os autores pelotenses, constando de palestras, entrevistas com escritores e exposição de livros.

A palestra com o Dr. Mozart contou com pequeno público, cerca de uma dúzia de pessoas na plateia, mais sete na mesa. Em sua coluna no Diário da Manhã, hoje (19) a presidente da Academia considerou a publicidade adequada e deu por satisfatória a assistência de público.
Foto 1: F. A. Vidal.

POST DATA
Março 2014
Mais dados biográficos no sítio da Academia Rio-Grandense de Letras e poesias de Alfredo Ferreira Rodrigues na dissertação em História da Literatura (FURG, 2007) de Cláudia Fernanda de Barros Freitas (leia aqui).

Um menino de 82 anos entra na Academia

Em 24 de abril passado, a Academia Sul-Brasileira de Letras, fundada em Pelotas em 1970, integrou um novo membro, na cadeira de João Simões Lopes Neto: o poeta José Moreira da Silva, radicado em nosso Estado desde a década de 1950.

Apresentou-o oficialmente o poeta Joaquim Moncks, vice-presidente da ASBL, pelotense que viaja sem parar pelo Brasil desde a década de 1960 (hoje residindo em Passo de Torres, extremo sul de Santa Catarina).
Sendo pelotenses seu patrono e seu paraninfo (João e Joaquim), nada mais coerente que a cerimônia de ingresso de José Moreira da Silva fosse realizada nesta cidade. O lugar escolhido foi também o mais adequado: o Instituto João Simões Lopes Neto, justamente a casa em que um dia residiu o nosso grande escritor.
O Moreirinha tem uma história pessoal única: nascido no interior de Pernambuco, foi morar em Recife, entrou no Exército e, ao chegar a oficial, pediu designação a Bagé.
Aqui no Rio Grande do Sul formou família e depois de aposentado foi estudar Direito e dedicou-se à poesia. Fundou uma academia literária em Porto Alegre (a ALGA), e diz namorar a ASBL há 15 anos; frequentou-a até que houve uma vaga, e precisamente da cadeira de seu escritor favorito.
Aos 82 anos, não é o acadêmico mais idoso, mas é o mais "novo".
Joaquim Moncks (esq.) fez um apaixonado discurso de apresentação de Moreira da Silva.
Começou introduzindo algumas ideias preparadas, mas logo o entusiasmo o tomou e seu discurso abordou pontos não planejados; foi elogiando seu afilhado, o patrono, os outros acadêmicos e até as autoridades e amigos presentes na cerimônia. A empolgação teve todos os elementos de um discurso político, com grande expressão dramática e conteúdo literário. Eis aí um líder social com ideias e carisma; merecerá outra nota neste blogue - veja seu currículo.
O novel acadêmico bebeu o hidromel, trazido pela encantadora menina Francisca Vianna Beck (abaixo), representando uma ninfa da mitológica Grécia Antiga.
Logo ele leu um discurso de posse, sem usar microfone, introduzindo alguns comentários improvisados, próprios de sua ternura e delicadeza de coração:
"Como é belo o vosso silêncio. Guardarei por toda a minha vida este momento". "Venho para aprender. Quero que me levem pela mão". "Quem faz poesia é o alterego". "Leiam A Mandinga de João Simões Lopes Neto. Desopila o fígado".
Contrariando o costume maçom de não revelar em público as afiliações a esta confraria, Moreira da Silva identificou vários de seus irmãos ali presentes, inclusive o padrinho Joaquim Moncks, e revelou algo que ali ninguém mais parecia saber, até porque somente havia um documento comprovando-o: João Simões Lopes Neto também foi maçom.
Fotos de F. A. Vidal.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Feira da Serra Gaúcha

Feira da Serra Gaúcha fica defronte à Praça Primeiro de Maio (do Colono)
O Centro Esportivo 1º de Maio está sediando a Feira da Serra Gaúcha (v. sítio virtual), evento comercial que em 2009 funcionou de 15 a 24 de maio. Desde então vem visitando Pelotas duas vezes por ano.

Cerca de 50 pequenas lojas lotam o ginásio do clube, com comerciantes e compradores em busca de roupas de inverno. O frio está começando aqui no Sul, e na serra gaúcha há geadas e temperaturas próximas a zero. A publicidade da Feira foi feita mais pela TV, o meio que ainda chega a mais pessoas.

Não somente roupas se encontram aqui; também há uma loja de sapatos, uma de plantas com bonsai, uma de queijos e salame, outra com novidades para a cozinha, e mais uma de miudezas e artesanato.

A lancheria fica bem na entrada, funcionando mais como lugar de descanso, pois os corredores são apertadíssimos.

O centro fica na Fernando Osório 964, pouco antes de chegar à Dom Joaquim. O endereço fica defronte à praça 1º de Maio, na qual se encontra o Monumento ao Colono, de Antônio Caringi. Ali também confluem a Rua Marcílio Dias e a Avenida Francisco Caruccio, que vai ao Fragata cruzando a Estrada do Contorno.

Boas ofertas, muito público e corredores estreitos
Fotos: F. A. Vidal

POST DATA
Agosto 2014
Cada ano a Feira da Serra Gaúcha tem mantido em Pelotas a visita nos primeiros dias de maio e de agosto, sempre no mesmo lugar e com o esquema de vendas aqui descrito. 
Agosto 2015
A Feira funciona no mesmo local de 31 de julho a 9 de agosto.

Amanhecer no Laranjal

Foto de Fernanda Tomiello (Flickr).

Cultura negra e educação quilombola

Sob o título geral de "As Experiências nas Comunidades Remanescentes de Quilombos no Sul do Brasil", o I Ciclo de Palestras sobre a Cultura Negra na América Latina teve continuidade com um segundo encontro no auditório da Faculdade de Educação da UFPel.

Nesta sexta (15), a professora Georgina Helena Nunes Lima (dir.) foi apresentada por André Luís Pereira, mestrando em Sociologia na UFRGS (abaixo). Ela trouxe o tema: "Educação Quilombola numa Perspectiva mais Ampla a fim de se Chegar a uma Pedagogia Quilombola”. Georgina formou-se na área da Educação Física e Educação Psicomotora, fez mestrado e doutorado em Educação na UFRGS e hoje trabalha na UFPel.
A palestra começou com um audiovisual de 15 minutos, chamado "A África está em nós". Uma montagem de cerca de 400 fotografias e edição de Socorro Araújo, com trechos musicais muito expressivos da alma africana, mostrou a vida em comunidades remanescentes de quilombos no Paraná. Bastaria ter visto esse conjunto de imagens, ritmos e melodias para compreender parte da vivência dos descendentes de africanos no Brasil. Consegui uma cópia do arquivo, e estou à espera da autorização para colocá-lo aqui no blogue.
A seguir, Georgina fez uma apresentação de uma hora sobre a experiência educacional nas comunidades quilombolas. Sua linguagem é mais poética do que concreta, mais filosófica do que histórica. Seu enfoque, que parece derivar da pedagogia de Paulo Freire, é de profundo amor e respeito pelos conteúdos e pelas formas de transmissão cultural nas comunidades remanescentes de quilombos. Contabilizam-se 3524 no Brasil, das quais somente 144 estão com título reconhecido.
O Ministério da Educação tem um documento de trabalho nesta área, que orienta os educadores que pretendem trabalhar com o elemento racial, em todo o Brasil, e não somente com índigenas ou afrodescendentes, pois uma ideia básica é que o sangue e as relações humanas estão envolvidos com todas as raças, de modo indistinguível. O livro tem o título: Orientações e ações para a educação das relações étnico-raciais (Brasília, 2006), editado pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do MEC.
Depois da exposição, ainda houve 40 minutos de perguntas e debate entre a mesa e os assistentes, surgindo polêmicas sobre o tratamento das questões étnicas na cultura negra, fora do tema específico trazido pela palestrante, que era sobre a educação nas comunidades derivadas de quilombos. Mas a calma e sabedoria da professora, coerente com seu marco de referência, "fez" ou "permitiu" que os polemistas chegassem a um acordo básico.
Fotos de F. A. Vidal

Feira rotativa de ovinos


A 21ª FENOVINOS (Feira Nacional rotativa de Ovinos) foi realizada em Pelotas de quinta-feira (15) até sábado (17). A atividade é rotativa, realizando-se em uma cidade do Sul do país a cada ano. A 20ª foi em Cachoeira do Sul e 19ª, em Jaguarão. Dizem que ela nunca foi realizada em Pelotas antes.
Não se deve confundir com a FEOVELHA - Feira Estadual da Ovelha - que se realiza há 25 anos em Pinheiro Machado. Não existe nenhuma "Fenovelha".
Além dos desfiles e premiações de ovinos, houve vendas de animais e produtos feitos com lã, encontros políticos e a escolha da cidade que sediará em 2010 a 22ª FENOVINOS. Ponta Grossa veio com prefeito e secretários, e conseguiu a oportunidade, sob o argumento de que, mesmo não sendo grandes produtores, os ponta-grossenses são grandes compradores. Uruguaiana e Santiago são candidatas para 2011.
Este domingo, o parque da Associação Rural já estava vazio (acima), com uma dúzia de visitantes curiosos, que somente puderam ver artesanato, no único local aberto (esq.). Os pavilhões estavam sem comerciantes nem nada para ver ou visitar. Na praça de alimentação, que funcionou com três locais, o único bar aberto só estava vendendo bebidas e pastéis.
Rejane Botelho conseguiu fotos de duas lojas e algumas ovelhas premiadas, e pôs no blog Agência da Arte (post de 18 de maio).
Esta terça (19) começa outro evento no parque Ildefonso Simões Lopes, desta vez com equinos.
Fotos de F. A. Vidal.

domingo, 17 de maio de 2009

Trajetória de Auildo Munhoz

Auildo dos Santos Munhoz cantava Beatles e Elvis desde a adolescência; formou-se em Medicina em 1982 e começou a exercer, na especialidade de Ginecologia, o que faz até hoje. Mas a música voltou a chamá-lo e em 1995 tomou aulas de canto por primeira vez. As professoras viram nele um grande talento e lhe ensinaram repertório lírico erudito.

Passou a cantar trechos de óperas e até mesmo óperas completas representando Don José (em "Carmen", de Bizet) e no papel central de "Jesus Cristo no Monte das Oliveiras", de Beethoven.

Já se apresentou em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis e Recife, predominantemente em repertório erudito.

Em toda parte há bons cantores populares ou mesmo ídolos consagrados, mas não se encontram facilmente tenores de ópera - eles vêm, muitas vezes, de outros países. Auildo é um deles, e o temos aqui. O maestro Sérgio Sisto o apresenta como "o melhor tenor na América do Sul"; realmente, ele não precisa de microfone para fazer-se ouvir em todo o Teatro Guarani. Com isso, o mais lógico seria precisamente dedicar-se à música erudita.

Mas a música romântica volta a recrutá-lo como um novo Plácido Domingo, tenor espanhol que, após uma vida cantando óperas, usa a canção popular para encantar maiores multidões.

Auildo começa por Pelotas, em maio de 2001, apresentando boleros, trechos de musicais americanos, músicas brasileiras e italianas; na ocasião, somente o acompanhava um tecladista que também fazia o vocal de apoio. Ele mesmo disse ao Diário Popular: "Me identifico muito com Plácido Domingo, um tenor que também canta de tudo" (veja a notícia).

Passou a gravar CDs e DVDs, preparando um show novo a cada ano ("Mulher", "Alma Latina", "Duetos", "Canções eternas"). Com seu progresso musical e de marketing, Auildo Munhoz hoje lota o Teatro Guarani, de modo similar à Orquestra e Coro Música pela Música.

E algo que não se menciona muito: ele também compõe melodias e já apresentou algumas dessas canções, em parceria com Luiz Conceição que faz as letras - segundo o Diário Popular em 2003 (veja a notícia). No vídeo abaixo, "Um tipo especial de amor", melodia amável e simples, para versos açucarados, cheios de rimas e com um verbo inventado ("resplander"). Tudo faz pensar que nosso Auildo está mais perto de um nacional Roberto Carlos que de um universal Plácido Domingo. Foto: Dunas Clube.

Guarani iluminado

Na última quarta-feira (13), o Teatro Guarani se iluminou para o show de Auildo Munhoz e convidados. Lá dentro, muitos holofotes, fumaça, espuma, papel picado; do lado de fora, luzes que iam mudando de cor, tanto pela entrada da Lobo da Costa como pela Gonçalves Chaves. O índio - guarani, supostamente - recebeu algo de luz, ficando como misterioso observador ou presidente da cena (abaixo).

Coincidentemente, naquela tarde a Prefeitura iria inaugurar o trecho desta quadra que recebeu revitalização urbanística (a calçada nova não se vê bem clara na foto). A chuva impediu a cerimônia ao ar livre, que foi realizar-se na sexta-feira (15); na ocasião, o Guarani não mereceu nenhum holofote.

Muitos pelotenses ainda conservam a grafia "Theatro Guarany", original da época (1920), sob a ideia de que os nomes próprios não se alteram. No entanto, o mesmo não ocorreu com os asyllos, clubs e pharmacias.
Fotos de F. A. Vidal.

Cultura negra na América Latina, 1ª palestra

Uma pioneira iniciativa foi tomada por dois pesquisadores da UFPel : organizar o I Ciclo de Palestras sobre a Cultura Negra na América Latina: As Experiências nas Comunidades Remanescentes de Quilombos no Sul do Brasil. Eles são: a pelotense Francine Pinto e o haitiano Handerson Joseph (esq.), mestrandos em Ciências Sociais que investigam sobre processos participativos na cultura afrodescendente, orientados pelo professor Alfredo Gugliano.

O ciclo de palestras consta de quatro encontros em forma de painel: numa primeira parte, um expositor aborda um enfoque dentro do tema das comunidades quilombolas, e o público a seguir estabelece um diálogo mais intenso e livre com o palestrante. Entre os inscritos, uma centena de alunos de diversos cursos de Pelotas e Rio Grande.

Na noite da sexta-feira 8 de maio, o auditório da Faculdade de Educação estava lotado. Handerson Joseph apresentou a professora Ledeci Lessa Coutinho, que falaria sobre “Memória e Identidade no Contexto das Comunidades Quilombolas”.

Ledeci é canguçuense; começou como professora de História e cursou mestrado estudando a identidade das mulheres negras. Ela fala com muito entusiasmo e segurança sobre suas experiências e seus pensamentos, que vão na linha da resistência negra e na desmitificação do que a cultura europeia dominante tem ensinado aos brasileiros: basicamente, que a opressão aos escravos e seus descendentes aqui no Sul foi benigna, sem tanta violência, e que a quantidade de população negra é baixíssima em todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná - cerca de 10% (sendo que na verdade é próxima a 50%). Como se vê, a professora não usa eufemismos nem é de uma atitude conciliadora.

A História do Brasil, bem estudada, revela que a cultura negra foi negada pelo discurso oficial desde o início, e somente na última década tem havido alguma discussão. Por exemplo, têm começado a ser estudadas as comunidades remanescentes de quilombos, que são grupos (às vezes até muito poucos indivíduos) que portam memórias orais sobre a cultura dos ascendentes africanos, em comunidades muitas vezes isoladas das cidades mas com assimilação de elementos de modernidade.

Em certos lugares do Brasil, segundo uma telenovela já denunciou, os donos de escravos constituíram "criatórios": haréns de negros com o fim único de reprodução, para gerar mais escravos. Em Pelotas, a praça central da cidade tinha um pelourinho, que com a abolição da escravatura foi substituído por uma bela fonte de chafarizes trazida da Europa.

A professora deu dois exemplos de resistência que os negros realizavam, nos tempos da escravidão: fugir e trocar de senhor, e insurgir-se com violência contra seus amos. Hoje em dia, a resistência negra se constitui em forma de movimentos sociais, que reforçam a identidade negra e lutam por seus direitos.

O procedimento é análogo aos sem-terra e tende a não incluir nessa luta os que não são negros ou descendentes de escravos, justamente para enfatizar a memória e a identidade dos afrodescendentes. Esta é minha apreciação após esta palestra, uma de cujas frases ficou soando em meu pensamento e sentimento, de modo confundidor e conflitivo:
"Os pelotenses de hoje ou são filhos dos senhores, ou filhos dos escravos".
Na origem não houve matizes, e com o tempo isso não deveria esquecer-se; mas os processos sociais não são graduais, transformadores e miscigenadores?
Fotos de F. A. Vidal.

sábado, 16 de maio de 2009

Auildo Munhoz em 2009

Quarta-feira passada (13), Auildo Munhoz apresentou com sucesso uma nova produção musical, "Canções Eternas", renovando repertório, recursos cênicos e artistas que o acompanham.

Após dois anos de "Duetos" com Cristina Sorrentino, onde chegou a colocar águas dançantes no fosso do Teatro Guarani, Auildo agora fez-se acompanhar por duas cantoras, um mímico, um grupo de bailarinos, locutor, sambistas e uma orquestra de câmara tocando ao vivo (cordas clássicas, violão, baixo, sopros, teclado e percussão).

Como meios cenográficos: variedade de luzes no palco, teto (esq.), camarotes e fachada, chuva de neve-espuma e de papel celofane picado, fumaça, tochas de fogo falso, entrega de flores à plateia por parte do mímico representando Chaplin (abaixo) e do próprio cantor - uma profusão de recursos para que o público se sentisse no meio de uma grande festa, não só musical mas de todos os sentidos.

A abundância festiva se acompanha do poder econômico, pois tantos meios custam dinheiro - várias mudanças de roupa para os artistas, amplificação de som, cenografia, músicos vindos de Porto Alegre e a filmagem de tudo para um novo DVD.

Os percussionistas e o baixo eram de Pelotas, e tiveram passagens pagas para ensaiar na Capital com os demais músicos.

Talento natural e muito estudo dão à voz de Auildo um grau de excelência em volume, respiração, afinação e expressividade. Seu lado fraco, que tem melhorado de modo notável, é na expressão corporal; preocupado do canto, como se estivesse num estúdio de rádio, ele se limitava a caminhar pelo palco, como personagem de uma demorada ária, às vezes movendo-se sem muita graça. Hoje ele desce até o público, entrega flores, toma a soprano pela mão, e aponta com o dedo em cada repetição do bolero: quizás, quizás, quizás (esq.). Com certeza, irá organizando com sua simpatia gestos sempre novos, ainda que não totalmente espontâneos. Falhas imperceptíveis para o público devem-se, como de praxe em conjuntos musicais, a falta de ensaio.

Os espetáculos de Auildo têm crescido, juntamente com ele (como cantor de música popular), o que se transforma, em Pelotas, numa espécie de evento turístico multisensorial. No entanto, está havendo um exagero na quantidade de elementos para chamar a atenção, como se já não bastasse o conteúdo altamente sonhador e sedutor das letras (Only you, La vie en rose, Come prima, Pela luz dos olhos teus).

A ingenuidade romântica chegou à saturação com a leitura de um texto apócrifo atribuído a Chaplin (Vida), enquanto um violinista repetia incansavelmente a melodia "Eternally", esta sim de Chaplin, do filme "Luzes da Ribalta". A Wikiquote (coletânea de citações) informa a autoria do texto como "atribuição incorreta", reconhecida no Brasil pela Biblioteca Nacional.

Canções tocantes e vozes maravilhosas entendem-se muito bem com a sobriedade e a suavidade de uma orquestra de cordas ou de um mímico caracterizado. No entanto, Pelotas aceita bem e até premia com entusiasmo excessos ruidosos como este.
Fotos de F. A. Vidal.