O muro de Berlim foi abaixo a 9 de novembro de 1989. Um grande monumento à vergonha. Outros muros, entretanto, embora invisíveis, são erguidos atualmente, dividindo o mundo entre ricos e pobres. O drama dos refugiados enodoa a civilização que conheceu o Século das Luzes (XVIII), Disso, porém, parece não saber, pois continua pisoteando as ideias implementadas pelo iluminismo, que teve sua maior força na França, influenciando o mundo a nível cultural, social, político e espiritual.
A pintura "Operação resgate" (acrílica s/tela 46x61) nasceu de minha indignação ao ver a fotografia do menino sírio Aylan Kurdi, de três anos (que neste quadro aparece nos braços da Virgem Maria), morto à beira da praia turca de Ali Hoca (v. notícia de setembro de 2015). Irrefutável prova de que os "muros" invisíveis estão aí, separando as nações, não só por questões financeiras, mas por diferenças étnicas e religiosas. Uma estupidez inconcebível!
O lema Arte: Expressão e Identidade denomina há quinze anos a exposição de fim de ano do Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas (MAPP). O evento de 2015 transcorre por primeira vez no Centro Comercial Zona Norte, onde se encontra a sede da associação.
O XV Arte se compõe de mostra de obras bi e tridimensionais e um bazar para obras de pequeno porte. A mostra inclui 74 obras dos associados e 16 obras doadas em benefício ao Hospital Espírita de Pelotas, parceiro do MAPP. O bazar oferece mais de 200 peças que diariamente são renovadas, como reposição de peças vendidas.
Os artistas que expõem são 40: Adalberto Vilela, Alice Bender, Arlinda Magalhães Nunes, Catherine Azevedo, Ceres Torres, Claudia Drummond de Mello, Cristina Alves de Souza Moreira, Déborah Blank Mirenda, Eduarda Franz, Eduardo Aguiar, Elenise DeLamare, Elizabete Pereira, Flávio João Forlin, Giza Silveira, Graça Antunes, Helena Badia, Inês Martinez de Oliveira, Jacqueline Tavares, Letícia Beck Fonseca, Lígia Monassa Farias, Maria Alice Castilho, Maria Bacelo, Maria Cristina Leonardo, Maria Clara Leiria, Maria de Fátima Martins, Maria de Fátima Silveira, Maria Lúcia Franz, Maria Luisa Schuch, Mardônio Carneiro, Mário Campello, Michele Iannarella, Nauri Saccol, Nina Rosa Medeiros, Raquel Grinberg, Regina Ávila da Silva, Renata Martins, Silvia Pinheiro, Tânia Maria Araújo Bellora, Tânia Maria Porto e Vera Souto.
Visite a 15ª versão do Arte: Expressão e Identidade até o próximo sábado (31-10), na Avenida Fernando Osório nº 20. O local fica aberto de segunda a sexta (9-18h) e sábados (9-17h).
Durante agosto de 2015 (precisamente, de 12-8 a 1-9), o Atelier Giane Casaretto voltou a expor, no Corredor Arte do Hospital da UFPel. Desta vez foram 19 pinturas sobre o tema "Pelotas", produzidas em anos anteriores no atelier.
As artistas são: a professora Giane Casaretto e as alunas Fernanda Tröger, Fátima Ferreira, Greice Brod, Heloisa Motta, Rosamélia Ruivo, Carmem Brod, Maria Helena Braga, Vera Holthausen e Clarice Silva (v. mais imagens no Facebook). O convite (dir.) mostra a criação de Giane, uma colagem livre de detalhes urbanos pelotenses, como a Fonte das Nereidas e o calçadão do Mercado.
Costumeiramente no primeiro semestre, o grupo trabalhava motivos relacionados com a Princesa do Sul e organizava, em sua própria sede, mostra alusiva à Semana de Pelotas, celebrada de 1 a 7 de julho. Desta vez, durante três semanas a exposição não foi feita na época de praxe, mas chegou a pessoas que nunca teriam ido a uma galeria de arte ou a um ateliê de pintura: trabalhadores do hospital, pacientes em tratamento e os visitantes dos enfermos.
Um detalhe especial nesta ocasião é que os trabalhos sobre Pelotas marcaram a 300ª (tricentésima) exposição de arte no Corredor do Hospital. O projeto de humanização foi iniciado no ano 2000 e completa 15 anos de atividade ininterrupta, mais precisamente na sexta-feira 18 de setembro (v. post de 2010 Dez anos do Corredor Arte).
Charqueada, de M. H. Braga
"Charqueada", de Maria Helena Braga, ilustra a antiga casa do Barão de Butuí, José Antônio Moreira, às margens do Arroio Pelotas. A construção ficou muitos anos abandonada e passou por reforma recentemente (a pintura ilustra o seu estado "antigo", até 2010 aproximadamente).
Sem tentar uma reprodução minuciosa da realidade, a artista conseguiu um distanciamento que sugere a idealização de um tempo ainda mais antigo que o observado, como que obnubilado por lágrimas. Potenciando a introspecção, ela trabalhou o reflexo na água, que remarca a ruralidade do local, afastado das luzes e geometrias do centro urbano. A tela de 50x70 custa somente R$90 mas terá grande valor afetivo para a maioria dos pelotenses, pois evoca a riqueza que deu fama à cidade, riqueza perdida gradualmente desde as primeiras décadas do século XX.
Rosamélia Ruivo pintou "Patrimônio: banco", outra emblemática face da tradição pelotense, tanto pelo lado arquitetônico como pela história econômica. Em tamanho menor que a tela descrita acima (40x50) esta tem o preço de R$80. Novamente devemos comentar: o valor de mercado seria pelo menos dez vezes maior, se fosse apregoado ou oferecido em leilão.
Em 1928 o Banco do Brasil inaugurou esta imponente sede, defronte à Prefeitura Municipal, com a qual compete, até hoje, em solenidade e sofisticação. As duas instituições representam o poder imperial do século XIX: esta última aloja o governo político, inicialmente nas mãos dos fazendeiros locais, enquanto o Banco do Brasil, imune à decadência das charqueadas, se associa desde sempre ao capital federal. O prédio passou ao Município em 1970, que o utilizou por mais 30 anos, mas, em vez de restaurá-lo, deixou-o fechado e em deterioração progressiva na última década.
Há mais de um século que Pelotas perdeu a antiga riqueza e não existe mais o Império do Brasil, mas o povo ainda respeita e estima a grandiosidade destes símbolos colocados no coração da cidade. A imagem aqui reproduzida mostra outro tipo de idealização afetiva, a que maquia defeitos e sujeiras e prefere recordar as caras dos bisavós não pelas nuvens da memória mas pelas nítidas fotos dos álbuns de família.
Exposição no hospital é vista por pacientes e visitantes de todas as idades.
A médica obstetra e fotógrafa Sônia Simões de Almeida expõe o ensaio "Newborn", 17 fotografias de bebês, entre 5 e 12 dias de vida. A mostra pode ser visitada no Corredor Arte do Hospital Escola da UFPel até 30 de junho.
Nascida em Minas Gerais, Sônia formou-se em 1989 pela Faculdade de Medicina de Itajubá, graduou-se pela Escola Panamericana de Arte e Design e hoje reside em São Paulo (veja o sítio da artista).
A médica com 25 anos de experiência em ginecologia e obstetrícia transformou em arte seu amor pelos pequeninos e passou a ser também uma fotógrafa especializada em recém-nascidos.
Nas suas fotografias ela busca capturar a graça de cada bebê, num cenário especialmente preparado para cada um, e contar as histórias das crianças, em suas características únicas (um anjinho, um docinho, um filhotinho). Como ela mesma explica:
– Meu objetivo como fotógrafa vai além de capturar poses construídas, mas captar com muita sensibilidade imagens espontâneas, detalhes do corpo, dos movimentos e expressões dos bebês, tudo com muito conhecimento no manuseio, em como tranquilizar e mantê-lo em segurança.
Fotos de Sônia Almeida mostram a alma de pessoas recém-nascidas.
Inspirado nos traços e na técnica do artista Leonid Afremov, o pelotense Mário Campello pintou uma vista da praça Coronel Pedro Osório. O ângulo é clássico para qualquer pessoa que conheça Pelotas, mas o olhar do pintor trouxe uma tonalidade europeia, talvez inusitada para quem fotografa nossas praças, a qual acentua e evidencia uma de nossas verdades locais: que nosso clima e nossa arquitetura têm algo a ver com a geografia e a cultura dos que nos colonizaram.
Enquanto os parapluies entristecidos mergulham no anoitecer, as árvores enrubescidas iluminam o Grande Hotel de Pelotas, este plantado aqui em 1928 para recordar a Europa do século XIX. Na época, os modelos e ideais urbanos eram esses prédios com sacadas, desvãos, sótãos e cúpulas. Contudo, nada tão pelotense como este jogo de lusco-fusco e umidade. Mesmo num conteúdo visual nada de surpreendente, o artista nos cativa com esses aspectos formais: viscerais, pegajosos e ancestrais.
De acordo à postagem consultada, a imagem está no Facebook desde setembro de 2012. No entanto, ela foi publicada em 26 de maio deste ano. Técnica: óleo espatulado sobre tela de 50x80 cm. Veja aqui o autor pintando, em março de 2015.
Quando eu era criança, ao ouvir barulho nas alturas, entre carregadas e negras nuvens, minha mãe dizia: "Deus está arrumando a casa". Eu olhava para cima apurando o olhar, ansioso para ver alguma coisa se destacando no céu.
Quando a tormenta passava, fixava-me nas nuvens brancas que se ofereciam à vontade de Deus. Meu pensamento nelas plasmava imagens de santos, anjos e de pessoas que, apressadas, punham escadas que se erguiam em direção às nuvens, nelas se perdendo.
Na ilustração (dir.), pintura naïve de autoria de Manoel, representando uma dessas visões do menino imaginativo que já pensava na vida e na morte, e no papel divino em relação às culpas e à dor humana. Como seria a casa de Deus? Quem estaria convidado a visitá-la?
O escritor e jornalista recorreu às artes plásticas como forma de narrar a história sentimental de Pelotas, que aos pesquisadores custa descrever. Há cerca de uma década, ele pinta, ao modo ingênuo, o lado escondido do sofrimento escravo no século XIX e o lado trágico da riqueza que deu fama à assim chamada Princesa do Sul.
Em 2015 Manoel se encontra em produção de novas pinturas, agora mostrando o universo literário simoneano, também alusivo a uma realidade social do século XIX pouco estudada pelos historiadores. Veja algumas de suas telas neste álbum de fotos, na Série Aparições, no álbum Obras à venda e em postagens deste blogue.
O programa do 4º seminário Fotógrafos Históricos aborda, além dos autores históricos (europeus, russos e norte-americanos), outras relações entre a história e a arte da fotografia. A primeira edição deste evento acadêmico realizou-se em junho de 2011 (v. cartaz). O segundo foi em julho de 2013 (v. programa) e o terceiro, em junho de 2014.
Um dos trabalhos de 2015 se refere à nossa cidade: "Fotografias dos Almanaques de Pelotas (1913-1935): indícios da condição feminina naquele contexto", de Paula Garcia Lima, professora da UFPel que publicou recentemente, na revista do Centro de Artes Paralelo 31, o artigo Memórias do gênero feminino e do trabalho a partir dos Almanachs de Pelotas 1913-1935 (clique no título para ler). Hoje mestre e doutoranda em Memória e Patrimônio, Paula já havia apresentado, no seminário de 2011, um estudo sobre fotografias do Parque Souza Soares.
Inscrições gratuitas no Centro de Artes (sala 301, Alberto Rosa 62) ou na hora do evento, 18h (Museu Leopoldo Gotuzzo, General Osório 725). O cartaz com o programa deste ano usou uma foto de 2009 da retratista americana Annie Leibovitz (v. Wikipédia).
Seis artistas foram autorizados pela Prefeitura Municipal para pintar painéis de graffiti (2,2 x 2,2 m) em paredes da Passarela do Samba, para os desfiles de carnaval, este ano realizados fora de época. Os selecionados foram: Anderson Fim Treze, Guilherme Nunes da Rosa, Júnior Asnoum, Luiz Marcel Ferraz, Luiz Minduim e Gabriel Alves (v. fotos dos artistas pintando).
O resultado da seleção (v. notícia) foi publicado na terça (24-02) e os grafiteiros tiveram algumas horas para executar seus trabalhos, na quinta de noite (26). A Secretaria de Cultura forneceu o material (doze frascos de tinta colorida em spray) e um pagamento de 700 reais por pintura.
A figura escolhida por Luiz Minduim Vasconcelos mostrava um mascarado (esq.), um tipo simples de fantasia popular, muito usado no carnaval de rua em Pelotas, nas décadas de meados do século XX.
O painel de Minduim, pintado com spray e finalizado com pincel, se inspirou num desenho feito por ele mesmo nos anos 80, em nanquim e aquarela Ecoline. Naquela época os mascarados começaram a sumir, um dos sinais da decadência do antigo carnaval pelotense.
Em nossa cidade, hoje só resta o carnaval oficial dos desfiles e os bailes organizados por alguns clubes sociais. Os grupos carnavalescos sobrevivem mas o clima não é o mesmo. O único lugar de rua para viver o carnaval é uma passarela com entrada paga. Há menos turistas e nenhum mascarado.
As outrora famosas máscaras, usadas somente naquelas noites em que havia carnaval de rua, eram feitas de pano e cobriam toda a cabeça do folião, deixando três pequenos orifícios, para enxergar e respirar. Para comer, era preciso desapertar e levantar a máscara.
Quem quisesse fazer palhaçadas de modo anônimo vestia um macacão e uma máscara como estas e saía gritando com voz esganiçada. Ocultando a cara e mudando a voz, os mascarados dissimulavam idade, raça e sexo, mas se sabia que a maioria deles eram homens.
Outras características da festa popular nas ruas eram: desfiles pelo centro da cidade, bancas de churrasquinhos ao redor da praça, cadeiras no lugar de arquibancadas, homens travestidos de mulher, conjuntos instrumentais uniformizados e baixo índice de criminalidade. Jamais foi realizado depois da Quarta-Feira de Cinzas.
“Algo do Fundo de Mim” é a mais recente mostra da artista plástica pelotense Mariza Fernanda Vargas de Souza, licenciada em Ciências, bacharel em Pintura, especialista em Artes Visuais, cursando o mestrado em Artes Visuais pela UFPel e integrante do Grupo Superfície. As 16 obras, todas utilizando tinta acrílica, estão expostas no Corredor Arte desde 25 de fevereiro e ficam até 17 de março.
Mariza Fernanda relatou à coordenação do Corredor Arte que ela se inspira em lembranças e objetos, e a partir daí cria um procedimento artístico que aplica à pintura, como o desenho e a impressão. Por exemplo, alguns procedimentos simples, muito usados na infância, são desenhar os contornos de objetos com o lápis sobre papel e imprimir a superfície de uma folha de planta mediante o carimbo.
Ainda conforme a informação divulgada pelo Hospital Escola, a artista utiliza um modo de impressão que denomina "rastros de cor". Ela explicou o seguinte:
Estes rastros de cor são contornados por linhas, formulando caminhos e traçados que parecem deslizar, como em um mapa. Margeiam, delimitam, contornam territórios, e originam a sintaxe do contato e, mais ainda, da pressão.
Mariza Fernanda (dir.) já participou em 16 exposições individuais e coletivas com o Grupo Superfície, em cidades do Rio Grande do Sul e em Montevidéu, Uruguai.
O Ateliê Giane Casaretto retorna ao Corredor Arte em 2015, inaugurando a exposição nº 290, a primeira do ano. Doze alunas apresentam 20 obras, sendo 11 quadros com a temática "cores/flores" e 9 abstratos, nos quais se incluem duas vertentes de trabalho exploradas em 2014 no Ateliê: estudos de Kandinsky e estudos de Paul Klee.
Na imagem acima, o estudo abstrato realizado por Telma Delgado sobre o artista russo Wassily Kandinsky (1866-1944), com um jogo de manchas coloridas e linhas em preto sugerindo formas geométricas. A tela foi feita em acrílica, no tamanho de 60 x 80 cm. Sem copiar o mestre, a estudante conseguiu aquele estranho contraste de emoções intensas convivendo com esboços de racionalismo, na eterna luta humana entre paixão e razão.
O Corredor Arte busca humanizar o ambiente de saúde,
para que a dor seja superada e faça sentido no tratamento.
Além de Telma, as participantes nesta mostra são: Heloisa Motta, Fernanda Tröger, Maria Helena Braga, Mara Coutinho, Vera Holthausen, Fátima Ferreira, Edy Bezerra, Rosamélia Ruivo, Luciana Gastaud, Greice Brod e Clarice Silva.
O Ateliê Giane Casaretto funciona em Pelotas como escola de desenho e galeria de arte. A artista que o dirige já fez exposições individuais e de produções das alunas no Corredor Arte, além das que organiza anualmente na sede do Ateliê.
Esta exposição permanece quatro semanas, de 8 de janeiro a 3 de fevereiro. A visitação ao Corredor pode ser feita todos os dias, das 7h às 22h, no Hospital Escola da UFPel (Professor Araújo, 538).
Podemos senti-la quando estamos a sós ou acompanhados.
O vácuo, porém, agiganta-se quando estamos realmente sozinhos, certos de que cair no abismo é inevitável.
Há quem diga que a solidão prefere olhar para dentro, distraindo-se com os escombros internos.
E o que deixa o solitário ainda mais triste é a certeza de que se perdeu no caminho, seja ele qual for, e que mergulhará definitivamente no buraco frio que abriu ao longo da existência.
O artista plástico tem o poder mágico da imagem. Sem palavras, desperta emoções. O escritor tem o poder mágico da palavra. Interrompe uma tragédia inevitável e a elabora. Fotos: M. Soares
Compre, aprecie e colecione arte. É o lema implícito do Inutilitários Bazart, que a cada verão é reeditado pelo Ágape, Espaço de Arte (Anchieta 4480) para mostrar os artistas, fazer circular novas obras e formar público para as artes visuais em Pelotas. Em 2015, a exposição-bazar segue até a sexta-feira 23 de janeiro, na galeria JM.Moraes, sem abrir sábados nem domingos (v. fotos da inauguração).
Na imagem acima, fotografia e desenho mesclados, representando a esquina do Casarão Maciel, situado na Praça Coronel Pedro Osório nº 8. O trabalho pertence a Henrique Magalhães, de Portugal, e tem o valor de R$ 270. Abaixo, o homem com cabeça de polvo, desenho do caricaturista pelotense Sandro Andrade, à venda por R$ 250.
Outros 25 artistas também trouxeram obras especialmente para o Bazart: Alexandre Lettnin, Carla Borin, Carla Thiel, Daiane Biasibetti, Daniela Meine, Deborah Blank, Edison, Elaine Dias, Felipe Holman, Felipe Povo, Giane Casaretto, Gracia Casaretto, Grupo Superfície, Guinr, Izabel Neitzel, Liane Coll, Maria Clara Leiria, Mariane D`Ávila, Mariza Fernanda, Marta Dutra, Priscila Dias, Rehel Jérôme, Sebaje, Thiago Reis e Vivian Herzog.
Sob técnicas variadas – desenho, fotografia, pintura, cerâmica, colagem, gravura e objeto – as obras medem no máximo 40x60 cm, para ter preços acessíveis e poder inserir-se em diversos ambientes cotidianos, como lugares de trabalho ou estudo, espaços íntimos, salas de espera. No Ágape, respira-se arte todo dia, nos corredores e até nos banheiros, onde telas e cores fazem mais agradável o estar, o pensar, o conversar, o trabalhar, o viver e o conviver.
O Corredor Arte, em sua exposição nº 289, está mostrando uma coletiva de telas de Elenise de Lamare, Alice Bender e Vera Souto, integrantes do MAPP (Movimento dos Artistas Plásticos de Pelotas). As três optaram pelas flores e suas cores vibrantes, tendo em vista colocar sinais de vida e alegria no espaço hospitalar – especialmente neste tempo de mudanças, crises e despedidas – e levar uma mensagem simbólica de conforto àqueles que sofrem ou estão próximos da doença e dos tratamentos médicos.
Um minipresépio também foi colocado junto à árvore natalina, como é costume cada fim de ano. O Corredor Arte do Hospital Escola UFPel pode ser visitado todos os dias, na Rua Professor Araújo, 538.
O Caminho da Verdade é, ao mesmo tempo, uma instalação de arte visual, formada por objetos móveis, e um instrumento para trabalhar a visualização interior, que na área da Arteterapia, dá origem a uma oficina de autoconhecimento. A instalação artística, o instrumento e a oficina foram criadas em 2008 pela artista e arteterapeuta portuguesa Cristina Poppe.
Esperança, figura do Caminho da Verdade
A instalação
Criada para a 1ª Bienal Internacional de Artes Plásticas de Montijo (Portugal, 2008), a instalação foi montada em duas partes:
uma mandala em espiral centrípeta, com 37 pés esquerdos, esculpidos em gesso, formando uma trilha em direção ao interior de si mesmo (abaixo), e
um caminho curvo, formado por 24 pares de pés (veja aqui), sugerindo um caminhar em grupo.
Cada objeto traz um desenho e representa um símbolo, e o conjunto pode ser reorganizado à vontade. O trabalho foi premiado na Bienal com 7500 euros (v. notícia).
O instrumento
O material do jogo é uma "caixa de sentimentos", que consta de um baralho de 85 cartas impressas com os símbolos da instalação. Estes pés servem para caminhar em direção da verdade, e cada símbolo representa um aspecto subjetivo da pessoa (gratidão, dor, missão, espiritualidade, liberdade, aceitação, humildade).
O instrumento psicológico pode ativar memórias íntimas, despertar o sentido da autoestima e elevar a consciência de si mesmo. Aplicado em oficina de grupo, o jogo inicia uma viagem emocional que permitirá retratar a verdade e o momento existencial de cada pessoa (também pode aplicar-se coletivamente ao grupo).
O material, que está em inglês e em português, pode ser comprado em Lisboa ou diretamente com a autora. No Brasil, a exclusividade de venda é do Ágape Espaço de Arte, e tem o valor de R$ 150 (R$ 142 à vista). Veja detalhes na página The Truth Path.
A atividade é indicada para quem trabalha com pessoas: psicólogos, educadores, arteterapeutas, terapeutas ocupacionais, psiquiatras, artistas, musicoterapeutas, orientadores espirituais. No Brasil, a oficina ainda não foi aplicada e está em fase de divulgação.
Além do jogo "O Caminho da Verdade", a galeria de arte JM. Moraes está com mais uma edição do Bazart, que oferece obras artísticas produzidas em Pelotas, de vários estilos, temáticas e técnicas, e alguns kits de materiais de arte, separados por técnicas. Os preços são acessíveis, e servem como sugestões para presentear, e para incentivar a criação.
A instalação "O Caminho da Verdade", premiada em 2008, deu origem a um jogo de autoconhecimento.
O naïf de Carmen Garrez, para um espectador brasileiro, tem traços europeus, como o geometrismo, a nitidez, a minúcia. Aos olhos europeus, no entanto, as cores tão vivas da natureza e a simplicidade colonial das construções evocam o modo de vida latino-americano. Essa fusão de características se faz possível porque nós, como pessoas, somos uma mescla de origens culturais e porque nossos campos e cidades são misturas de recortes do Velho Mundo dentro do Novo.
De fato, é no Morro Redondo, município gaúcho da Serra dos Tapes, que Carmen vem observar essas colagens visuais e humanas, para esboçar um tratado de antropologia sensível, ao modo da arte. O próprio nome do quadro, "Noite Gaúcha", vem reiterar que esta visão é brasileira, e mesmo tropicalista, pois só nos trópicos uma Noite pode ser tão brilhante e cheia de vida. O calor ambiental está sugerido pelo azul claro no céu, e a umidade, pelo halo lunar.
Carmen Garrez
Mas sabemos que o quadro é de Carmen, e não qualquer naïf, por algumas de suas marcas nestas paisagens: o pontilhismo que contrasta com a ingenuidade, a profusão de flores das árvores (como querendo combinar com as estrelas), a perspectiva na distância e a grande variedade cromática dos verdes.
Percebe-se também uma anotação que faz com bom humor: duas pessoas escondidas no declive da estradinha. É inevitável pensar que elas vão conversando e caminham lentamente.
De 20 a 30 de novembro, será realizada a 4ª Mostra de Desenho de Humor da UFPel, no prédio da antiga Laneira (av. Duque de Caxias 114). Conforme o Regulamento (v. Edital da 4ª Mostra Anual de Desenho de Humor da UFPel), a participação nesta mostra está aberta a toda a comunidade da Zona Sul. Cada pessoa pode inscrever até 3 trabalhos impressos, em uma ou mais categorias (Alberto Rosa 62, sala 106, 3284 5514), até esta sexta (14-11), das 9h às 17h.
Inscrições foram prorrogadas até 14 de novembro.
Foram definidas 7 categorias de Desenho de Humor:
Cartum: temática universal e atemporal.
Charge: atualidade.
Caricatura: sátira de traços físicos ou de personalidade.
Tira: sequência em poucos quadros.
História em Quadrinhos: sequência em uma, duas ou três páginas.
Desenho de Personagem.
Ilustração.
Mostras anteriores
O início das Mostras de Desenho de Humor foi em janeiro de 2010, no prédio ainda abandonado da antiga Cotada, defronte ao Porto de Pelotas. O espaço e a própria definição da mostra foram pioneiros naquele ano.
A segunda versão ocorreu em outubro de 2011 na Laneira, iniciando o esquema de destacar nomes especiais de artistas do humor. O quadrinista André Macedo foi o convidado especial; Renato Canini, então residindo em Pelotas, foi o homenageado.
Em 2013, o evento retornou, com um bom número de participantes. As inscrições foram estendidas para além do universo acadêmico, com cinco modalidades. Quanto ao "humor" do título, o professor Pellegrin disse que todos os trabalhos foram aceitos, sem qualificar a comicidade dos conteúdos.
O convidado foi o quadrinista e artista gráfico pelotense Odyr Bernardi, autor do painel de entrada, no qual revelava parte de seu processo criativo, com auxílio de desenhos e quadros. Como homenageado, foi escolhido o ilustrador e cartunista Edgar Vasques (v. reportagem no Diário Popular).
A quarta mostra
Uma das novidades de 2014 são sete desenhos em grande tamanho, a serem reproduzidos nas paredes da antiga Laneira, prédio agora em reformas. A intenção é provocar o distanciamento do público – para conferir esses trabalhos maiores – e a aproximação – para perceber os detalhes dos menores. Um dos trabalhos gigantes é uma pintura em grafitagem, em homenagem póstuma ao gaúcho Renato Canini, que morreu recentemente em Pelotas.
O artista convidado deste ano é o desenhista pelotense Rafael Sica, 35 anos (v. apresentação), que em agosto passado teve a primeira exposição na cidade (v. reportagem). Ele desenha desde os 15 anos, já publicou em jornais e livros, e atualmente publica seus trabalhos na internet (v. seu sítio Rafael Sica e Friquinique).
O homenageado da 4ª Mostra é o cartunista gaúcho Santiago, apelidado por sua cidade natal, famoso por suas charges desde a década de 1970 e cujo nome de batismo ficou praticamente desconhecido: Neltair Rebés Abreu (v. Wikipédia).
A artista plástica e decoradora Patrícia Winkler apresenta alguns de seus trabalhos em pintura, em exposição que abriu dia 29-10 e fica até terça 18 de novembro. A mostra pode ser visitada no Corredor Arte, projeto de saúde mental do Hospital Escola, que acaba de completar 14 anos de realização ininterrupta.
A intenção desta pequena coletânea é montar o conjunto das possibilidades reais que Patrícia trabalha. Ela explica que suas obras têm como característica não rotular, e sim trabalhar com a flexibilidade, permitindo-se explorar diversas possibilidades.
Natural de Passo Fundo, Patrícia iniciou seus estudos em pintura em 1986 e seguiu aperfeiçoando-se em nível universitário: em 1993, concluiu o curso de Graduação em Pintura, Escultura e Gravura na UFPel. Já participou em quatro mostras coletivas e protagonizou pelo menos oito individuais, nos últimos 14 anos, sem incluir esta no Corredor Arte (v. Currículo).
Para esta mostra no Hospital da UFPel, ela selecionou telas de épocas diferentes de sua produção, que significam fases de criação distintas, como se pode ver pelas imagens desta nota. O suporte utilizado varia bastante (tecido, madeira ou metal) enquanto os materiais permanecem (pigmento em pó, cola e água).
Patrícia Winkler
A artista mora em Pelotas há cerca de vinte anos e expõe seu variado trabalho em pintura, escultura e decoração em seu sítio Patrícia Winkler, em sua página artística no Facebook e em seu blogue. Estes dois últimos permitem comentários dos visitantes e maior contato direto com a artista.
Essa exposição permanente na internet, espécie de vitrine mundial que muitos artistas usam, lhe permite vender trabalhos de pintura e decoração para colecionadores de todo o Brasil, e também receber encomendas para residências e escritórios de empresas do Uruguai, Argentina, Estados Unidos, Portugal, Espanha, Suíça, Inglaterra e Itália.
Sobre o Corredor Arte, a artista comenta que expor dentro de um hospital ajuda na recuperação dos pacientes, e amplia as possibilidades de que outras pessoas, que não teriam este contato com a arte, possam conviver com esse tipo de trabalho.
A arte se desfaz. Ficam os sentimentos, as palavras não ditas e os sonhos...
A primavera natural, no olhar conjunto de Zenilda e Claudenir
O Corredor Arte apresenta, até esta terça (28-10), trabalhos das Oficinas de Criação Coletiva, projeto de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFPel. "O olhar de primavera", título da exposição, alude à presença visual de flores e paisagens coloridas, como na imagem acima, utilizada para o convite aberto.
Por outro lado, o olhar da saúde e do humanismo também pode mostrar a primavera como a fase de renascimento do ser humano, de seus sonhos, de seus sentimentos mais profundos. O sol poderia simbolizar o resgate da figura paterna, ou a iluminação da consciência, enquanto as flores no gramado sugerem a fertilidade interna, ou a aceitação de mudanças afetivas.
A atual apresentação das Oficinas traz, além das paisagens, algumas expressivas figuras humanas, como a introspectiva mulher com a boneca (esq.) e a mulher de preto com chapéu (abaixo). Cada artista projeta na produção gráfica os traços que ela mesma precisa recuperar: a maternidade, a sensibilidade, a subjetividade.
Como tem sido costume anual, uma exposição do Corredor recorda o Dia Mundial da Saúde Mental, o 10 de outubro, com a participação dos integrantes das Oficinas, tanto em trabalhos coletivos como em alguns individuais.
Direcionado a pessoas com transtornos mentais, o projeto busca restabelecer nelas o sentido de cidadania, mediante ações artísticas com apoio de equipes interdisciplinares, em nível de prevenção. Este ano, as oficinas tiveram a coordenação da artista Marta Fehn Fiss e das assistentes sociais Nilza Bertoldi, Lenara Stemalke, Anete Bertoni e Marlete Araújo.
Sem relação aparente com a primavera,
o preto sugere morte e eventual renascimento.
As sessões de trabalho nas Oficinas são acompanhadas por psiquiatras, que nas pinturas buscam identificar sentimentos e analisar traços de personalidade dos artistas-pacientes. Sobre a inclusão nestas ações artísticas, o residente em Psiquiatria Matheus Copi explica em que sentido elas são benéficas:
As oficinas possibilitam o convívio social dos pacientes, que muitas vezes ficam isolados em casa, e desta forma eles podem trabalhar em atividades diferenciadas.
As pesquisas apontam que a expressão artística, tradicionalmente realizada de modo individual, aumenta a realização pessoal e ajuda a melhorar e conservar a saúde mental. O uso da arte mostra que o processo criativo pode tanto reconciliar conflitos emocionais, como facilitar a autopercepção e o desenvolvimento humano.
No modo de criação coletiva, os participantes são estimulados a manifestar seu íntimo de diversas formas, e isto faz com que o grupo confraternize. Não só o diálogo de subjetividades, mas a necessidade de acordo para a expressão do sentimento comum, são fatores que levam a uma renovação mental e espiritual, que faria muito bem a qualquer ser humano, são ou enfermo, criança ou adulto.
Quando a força das cores se impõe por sobre a nitidez das formas,
a pessoa está mostrando que suas emoções não se submetem ao controle racional.
O Grupo Superfície está formulando um novo projeto, para o qual requer captação de recursos. Para levantar fundos, as artistas estão pondo à venda seus últimos trabalhos com descontos nos preços, o que pode ser oportuno na época de fim de ano, quando é costume dar presentes e renovar ambientes (v. a página Esvaziando o Atelier).
O grupo nasceu em setembro de 2010, com 9 integrantes, na época estudantes de artes na UFPel e professora orientadora. O coletivo artístico tem participado em diversas exposições com suas obras, em cidades gaúchas e no Uruguai, sempre aperfeiçoando seus métodos e ampliando a criatividade.
Há um ano, as seis integrantes completaram o projeto de pintura externa da escola Alfredo Dub, usando grafitagem à base de seu método de criação (veja fotos). Em 2013, exploraram também a criação coletiva na área gastronômica, no projeto Jantar com Arte, do Espaço Ágape.
As telas ora à venda, pintadas principalmente com tinta acrílica, têm dimensões de cerca de um metro de altura e largura, mas também existem obras em tamanhos menores. Sobre o novo projeto, as "superficianas" ainda não revelaram detalhes (veja neste blogue algumas notas sobre atuações do grupo).
Detalhe da obra Itinerantes III (2013), criada à base do método exclusivo do Grupo Superfície
Capa do Diário Popular, 20-21 setembro 2014
Luís Alberto Elste revela a verdade sobre a foto de 1957.
Em plena ascensão do nazismo, o dirigível alemão Graf Zeppelin realizava viagens da Europa à América, e na tarde do dia 29 de junho de 1934 sobrevoou Pelotas, rumo a Buenos Aires, onde chegou pela manhã do dia seguinte (v. relatos em espanhol). Nosso cronista Rubens Amador, menino na época, presenciou o fato e veio relatá-lo na década de 1970. Ele lembra que o aparelho surgiu do nordeste, passou por sobre a praça, fez um longo círculo ou curva e seguiu em direção oeste (v. artigo neste blogue O dia em que o Zepelim sobrevoou Pelotas). Naquele tempo havia fotógrafos em terra mas não conseguiram uma boa foto, e a notícia foi divulgada, na imprensa escrita, sem uma boa imagem como aquela que se fez famosa 23 anos depois do fato (abaixo). Em 1957, a nova foto surgiu do nada, sem maiores explicações, e ganhou enorme aceitação. Inclusive até hoje era tida como um registro histórico, mesmo com aparente distorção de luminosidade, distâncias e dimensões, e com aquela dúvida que ninguém considerou (pois o Zepelim realmente tinha passado perto do Clube Caixeiral e a foto até mostra um ajuntamento de pessoas no meio da praça):
Se a viagem era do norte ao sul, por que o dirigível parece vir desde Buenos Aires? O dirigível alemão teria feito um rodopio sobre a praça de uma cidade do interior brasileiro?
Pois o Diário Popular acaba de revelar o que o fotógrafo Luís Alberto Elste fez com as imagens que tinha em mãos na época, e por que guardou silêncio desde 1957, há portanto 57 anos. Na reportagem de Diego Queijo, Elste foi fotografado por Paulo Rossi, que também escreveu uma opinião, como especialista em fotojornalismo, sobre a questão das montagens ("Photoshop não é vilão"). Todo o seguinte texto escrito e o vídeo foram tomados do Diário Popular de ontem (20-09), segundo a matériaA farsa que entrou na história.
Na imagem divulgada em 1957, o dirigível aparece rumando para o leste.
O dia 29 de junho de 1934 começou com alvoroço. O telefone do jornal tocava incessantemente. A população queria saber o horário exato da chegada da grande aeronave. Ao longo da tarde, a redação ia recebendo boletins da Companhia Telefônica Rio Grandense e repassando as informações aos leitores. O zepelim LZ 127 esteve em Tapes às 14h50min, no Passo da Pacheca, em Camaquã, às 15h35min e em São Lourenço às 15h52min.
"E num frenesi crescendo de entusiasmo e viva expectativa, os minutos foram correndo até que, precisamente, às 16 horas e 40 minutos, surge majestoso o 'Graf Zeppelin' do lado nordeste", descreveu o DP na edição do dia 30. O dirigível de 236 metros de comprimento "deslizou sobre a cidade" a cerca de 600 metros de altura. Trazia na cauda duas cruzes suásticas, então símbolos da Alemanha comandada por Adolf Hitler.
Fotos não manipuladas do Zepelim
sobre o centro de Pelotas (1934),
cedidas pelo pesquisador Guilherme de Almeida
A história da visita foi ouvida diversas vezes pelo pelotense Luis Alberto Elste, mas durante muito tempo ele preferiu esconder sua relação com o fato. Procurado pela reportagem, este senhor de 82 anos decidiu que seu legado sobre o assunto não seria o silêncio.
Elste começou a trabalhar no Diário Popular aos 19 anos [ao redor de 1951], como auxiliar do fotógrafo Ramão Barros [...]. Um dia, em 1957, ele viu Barros conversando sobre a passagem do dirigível e reclamando por não ter conseguido fotografá-lo direito, pois estava muito alto.
Depois disso me deparei com uma revista com uma fotografia do zepelim impressa, com o céu branco atrás, e pensei: vou fazer uma sacanagem com o Ramão.
Assim, ele colocou a aeronave no céu de uma foto da praça, feita por Barros, e mostrou ao fotógrafo. "Eu disse pra ele que a foto era minha, ele não acreditou, mas achou muito boa."
Mesmo surpreso e incrédulo, Barros decidiu expor a imagem na vitrine de uma ótica na rua Quinze de Novembro. A partir daí, começaram a surgir as encomendas. [Somente] duas pessoas sabiam dessa história: Ramão Barros e o pesquisador Nelson Nobre Magalhães.
Era todo mundo comprando cópias. Se vendeu horrores, aí eu fiquei constrangido de dizer que era uma montagem. Nunca falei porque nunca dei bola para isso, mas hoje a foto é o marco de uma época, e isso foi importante.
O acervo de Luís Elste se perdeu com o tempo. A umidade estragou muitos negativos e ele nunca mais viu a tal revista com o dirigível. [...]
Foto não manipulada do Graf Zeppelin sobre o Parque Centenario, Buenos Aires, manhã do dia 30-06-1934
Ao saber da história da montagem, a coordenadora do Núcleo de Patrimônio Cultural da UFPel, Francisca Michelon, se mostrou surpresa, mas salientou a importância do registro e a beleza da fotografia. [Ela conclui com uma pergunta, que fica pairando em pleno ar].
Nesta foto há uma circunstância curiosa, o paradoxo se afirma: de fato ela parece uma montagem; mas todas as demais fotos de dirigíveis parecem, também. Será que é porque agora, no presente, o dirigível, em si, é uma história e uma coisa singular?
Luís Elste montando uma foto a partir de duas pré-existentes, na arte de Bruce William (DP)
Procedimento de manipulação analógica
1. Havia duas imagens impressas: uma da praça Coronel Pedro Osório (de Ramão Barros, 1955) e outra do dirigível sobre Buenos Aires (impressa em rotogravura nas páginas da revista "O Mundo Ilustrado").
2. As duas imagens foram fotografadas em separado para obter o negativo de cada uma.
3. Depois, no laboratório, ele ampliou uma nova foto através de dupla exposição no papel fotográfico. Primeiro, ele expôs o papel, sensível à luz, ao negativo da foto da praça. Depois, trocou os negativos no ampliador e, no mesmo papel, ainda sem revelar, expôs o negativo do dirigível.
4. Com o mesmo papel exposto aos dois negativos, ele revelou e obteve a imagem do Zepelim sobre a praça.
5. Ao fotografar o resultado, ele obteve um negativo "matriz" da montagem para reproduzir quantas vezes fosse necessário.
Photoshop não é vilão
Paulo Rossi, repórter fotográfico
Para mim a fotografia tem três momentos marcantes. Primeiro, claro, sua descoberta, com a primeira foto fixada por Niépce em 1826. Depois, sua popularização em 1888, quando George Eastman, fundador da Kodak, desenvolve o filme fotográfico e lança o slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto". E por último, até então, a sua digitalização.
Este processo tecnológico, combinado com os avanços da internet, inundou de imagens nossos computadores. Todos nós temos ou conhecemos alguém com um celular ou uma câmera digital pronta para disparar a qualquer momento e atualizar seu Facebook ou até mesmo captar um flagrante para o jornal local.
O domínio das ferramentas acontece naturalmente. Por que então não usar o Photoshop, que baixei no meu notebook e deixar minha selfie mais atraente? Ou eliminar aquela ruguinha que incomoda tanto? Assim, vemos surgir na rede milhares de fotografias manipuladas digitalmente, com as mais variadas intenções: tornar as pessoas mais bonitas, as paisagens mais interessantes, formular sátiras e brincadeiras, como a do Elste, fazer trabalhos artísticos e até mesmo favorecer interesses.
A mais antiga manipulação: ao redor de 1860,
a cabeça do presidente eleito A.Lincoln foi posta
na foto do ex-vice John Calhoun, morto em 1850.
Mas engana-se o leitor pensando que isso é novidade. Muito antes de existirem os arquivos digitais e softwares de manipulação, fotos já eram adulteradas nos laboratórios fotográficos. Imagens históricas e mesmo fotos jornalísticas atuais são adulteradas visando a diversos fins. Há um grande número delas na internet: de Mussolini em 1942, Mao Tsé-Tung em 1936 e Abraham Lincoln em 1860 [v. 9 montagens históricas no Retronaut e 26 modernas no CNET].
Penso que muitas dessas imagens, principalmente as jornalísticas, menosprezam o valor informativo e são retocadas visando meramente à projeção da imagem, do profissional ou de algum grupo. A foto irá vender mais, publicarão mais, chamará mais atenção.
Por isso é importante que repórteres-fotográficos se questionem diariamente, e mais ainda quando estão no front, no dia-a-dia, naquele momento diante da dor de alguém: o que fazem com a câmera pendurada no pescoço?
E a resposta sempre deve ser: estou aqui cumprindo um papel social, estou aqui denunciando, estou aqui contando uma história, como esta de 80 anos.