Foto de F. A. Vidal
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Passarinhos na festa aquática
Foto de F. A. Vidal
Conchas na areia - em busca da mãe boa
O nome se inspira em dupla vertente: o simbolismo feminino das conchas e do mar, e os textos psicanalíticos de Melanie Klein sobre as vivências de amor e ódio nos primeiros anos de vida. Eduardo é médico epidemiologista, com especialização em psicoterapia psicanalítica, e fotógrafo amador.
As 22 obras foram apresentadas por primeira vez no anfiteatro da Sociedade Sigmund Freud, onde ficaram de 9 de junho a 14 de julho, e têm convite para serem expostas em Curitiba.
Devens (pronúncia francesa: devã) batizou as imagens com especial carinho, ingrediente principal de sua criatividade e de seu trabalho terapêutico. Elas se chamam como mulheres (Mirela, Gisele, Luiza, Julia, Monique) ou têm descrições sugestivas (Menina, Avó, Branca, Negra, Cabocla, Índia, Gordinha, Envergonhada). Outros nomes passam pela visão do profissional (Mastectomia, Câncer, Silicone). Daí que ouso dizer que Eduardo é também um médico "amador", pois ama o que faz e ama as pessoas que trata, como um artista ama sua obra.
Ivana Nicola Lopes, Doutora em História da Arte, escreveu a seguinte análise deste trabalho de Eduardo Devens.
"As fotografias de Eduardo Devens são impregnadas de realidade e fantasia. Formas sonoras, pois em seu ventre trazem o som do mar, elas nos provocam... O que dizem? Qual o seu som? Formas sensuais, arredondadas, pontiagudas, em relevo, todas em seu habitat: o mar azul, o céu límpido, a areia molhada.
(...) Desde os primórdios de nossa civilização, em tempos atávicos, as deusas e suas imagens servem para pedir que tanto a terra e o mar dêem seus frutos quanto o próprio ventre da mulher permita o milagre da vida. A mulher dá ao mundo uma criança que precisa de alimento e ela própria o fornece. A terra juntamente com o mar e a areia criam as conchas que nascidas, lembram os seios femininos, com seus mamilos inchados para oferecê-los em um gesto de amor. É o seio-concha bom.
Algumas fotografias de Eduardo Devens com as conchas recortando o céu delicadamente azul, parecem mamilos pétreos apontando para o infinito. Mamilos duros e inchados, prontos para receber aquele que saiu de suas entranhas. Amor e dor se mesclam neste gesto. Será uma dor de concha?...
A forma concha também pode fazer alusão à posição fetal, enroscada em si, arredondada.
Outras imagens nos mostram conchas em estado de erosão, em ruínas, devido às intempéries naturais. O ar, o sal, a vida mesmo, as transformaram. Com estas mesmas imagens, o fotógrafo as intitula de mastectomizada. É a concha-dor. Pedaços que não voltam. Esta é, sem dúvida, o seio mau.
Ainda há o seio-concha envelhecido e desgastado pela ação do tempo e da gravidade. E aqui reside, além do tema conchas associado aos seios, um outro aspecto muito importante na obra de Eduardo e que subjaz com a mesma intensidade: o fator tempo. Caetano Veloso já o homenageava dizendo que ele é o senhor de todos os destinos. Não há como escapar da ação do tempo que a tudo e a todos afeta. O tempo nos aniquila, mas também enobrece, o tempo é o senhor dos destinos"...
Imagens: E. Devens
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Sete Imagens abriu 2010 com dois curtas
Foto de divulgação (DP)
terça-feira, 27 de julho de 2010
CAPS Escola ameniza o sofrimento psíquico e social
Fotos: Wilson Lima (UCPel)
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Poética do vazio na Praça Osório
Uma dessas fotos mostrava a roda de brinquedo, na Praça Coronel Pedro Osório, sem criança alguma ao redor.
Em si mesma, a roda solitária faz pensar em nosso passado ou em nossas crianças de hoje. Onde brincamos, na infância? Ficamos com vontade de brincar mais? Deixamos as crianças brincar? Por que esta fotografia teria sido colocada logo ali, dentro da Prefeitura Municipal?
O fotógrafo deve ter visto a roda ainda em funcionamento, em 2009, ou já estragada. Não é incomum os brinquedos públicos ficarem deteriorados, pois não são usados somente por crianças pequenas, mas também por adolescentes e até por adultos. Parece legítimo recuperar a criança interna, mas é preciso achar formas adequadas ao corpo adulto.
No verão passado, esta roda foi retirada da praça, para conserto, e ainda não voltou. A Prefeitura deve ter outras compreensíveis prioridades.
As crianças não entendem o porquê da demora. Quando passam correndo, ocupam o lugar que a roda deixou, até mesmo correndo risco de se ferirem. Os adultos falam de uma roda que existiu ali, um dia.
No inverno, o espaço foi preenchido pela chuva. Ficou a ausência daquela ausência.
Voltará a roda a girar? Será uma roda que só funciona no verão? Para onde vão as rodas que não giram mais? Para onde vai nossa alegria da infância?
Fotos de F. A. Vidal
sábado, 24 de julho de 2010
A cidade coisificada no espelho
Victor autografa participação no livro "Blog Amigos de Pelotas" (7-11-09) |
O jovem geógrafo sugere que o pelotense vê sua cidade... sem enxergar-se a si mesmo dentro dela. Uma crítica certeira e até dolorosa, que os leitores não pareceram entender na essência.
Fica a ideia positiva: uma cidade são as pessoas que a habitam, suas vivências e suas criações. Os prédios ficam iguais; nós é que fazemos a história, com nossas mudanças. Se Glória cresceu e brilhou fora, então não é parte de Pelotas. O melhor de uma cidade somos nós, alegres ou tristes, repetidores ou artistas, modernizadores ou saudosistas.
Glória Menezes visita Charqueada São João |
É preciso ter em mente que muito do que se vende como “preservação da história, das tradições” não é mais do que um produto. Pelo simples fato de que a história é humana, feita de momentos, sentimentos; mesmo os prédios possuem uma alma dada por aqueles que o habitam.
Os casarões antigos nunca simbolizarão o que fomos, pois quem foi na verdade foram aqueles que viveram naquela época. São preservados – e precisam ser – como memória importante, embora incompleta, do passado, de um momento somente possível naquele instante. [...]
É de impressionar a “descoberta arqueológica” feita no Mercado Público, do início do século XX [ladrilhos hidráulicos da reforma anterior]. Não são os originais, já que o primeiro Mercado Público, lá do século XIX, foi destruído.
Se o amigo leitor foi aluno do Colégio Gonzaga, como eu, olhe bem para os ladrilhos e faça força. Sim, aqueles ladrilhos com desenhos de cubos, fazendo uma espécie de ilusão ótica, são os mesmos que eu e você ficávamos olhando durante as aulas de Religião. E eles continuam lá no Gonzaga.
Glória Menezes também é do início do século XX. Daqui a pouco será tombada também.
Soprano Luísa Kurtz e sua mãe, Sílvia |
Sorrisos de criança,
amores de namorados,
cheiro de café fresco,
tarde ensolarada com um mate:
o que realmente faz Pelotas, não se tomba.
Extratos de comentários ao post
Leitor 1 Desde que cheguei a Pelotas procuro entender por que o jovem tem horror às homenagens. Gasta-se muita energia homenageando o velho; por que o pelotense não tem condições de escolher seu futuro e dizer para os que lhe sugam as energias: "não mais"!!
Leitor 2 O progresso não passa nem pela negação autofágica do passado nem pela sua mitificação. Mas também não passa pela glorificação messiânica do futuro. Mas de novo o patrimônio histórico sempre será eleito como bode expiatório. De fato, as casas têm alma e para muitos a fúria iconoclasta se justifica porque já não se pode voltar ao passado e punir os charqueadores (pelo jeito os eternos vilões). Vamos deixar ruir a cidade e as casas "assombradas" por estas almas penadas de nossa história vergonhosa, a fim de exorcizar seus fantasmas e assim, livres, caminharemos rumo ao futuro nos braços do progresso.
Leitor 3 Victor: Concordo plenamente contigo quando falas sobre valorizar o presente e tentar fazer AGORA o futuro, mas não culpe a preservação da história por isso. Sorte a nossa que pelo menos o passado é valorizado, há bem pouco tempo nem ele era.
Victor Obviamente não sou contra a preservação do patrimônio. A mensagem é que ações podem ser melhores homenagens aos pelotenses do passado do que APENAS preservar casarões.
Fotos: F. A. Vidal (1; 4), Nauro Jr. (2), Cadernos do Cetres (3)
Medusas no entardecer
Água, areia, oceano, medusa, mãe-d'água são elementos ligados à simbologia feminina. Outros nomes populares das medusas no Brasil são: água-viva, chora-vinagre, mãe-joana, urtiga-do-mar, vinagreira.
Meu pedaço de universo é aqui
Mas também pode aplicar-se a qualquer amor, inclusive ao da terra natal. Para quem gosta dela, esse é seu melhor pedaço de universo. Ouça aqui a inesquecível versão original com voz e orquestra, remasterizada.
Eu desisto: não existe essa manhã que eu perseguia,
Um lugar que me dê trégua ou me sorria,
Uma gente que não viva só pra si.
Só encontro gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi.
Por uns velhos vãos motivos,
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor.
E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso;
Não me deixe um só minuto sem amor.
Vem comigo:
Meu pedaço de universo é no teu corpo.
Eu te abraço, corpo imerso no teu corpo,
E em teus braços se unem versos à canção
Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo,
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo - amante, amigo - em minhas mãos.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Primeiras pinturas de Henrique Amaral
Henrique Almeida Amaral é um pintor autodidata que, desde esta segunda (26) e até 13 de agosto, apresenta sua primeira exposição, “Da Forma à Forma”, na Galeria de Arte da UCPel. Ele começou desenhando segundo padrões formais, tomou as tintas em 2003, e desde então seus traços se libertaram das correções e retidões – segundo ele, ligadas à influência paterna.
Nesta nova fase, cores e formas sem lógica não parecem deixar uma mensagem clara, num ar de ingenuidade psicodélica, talvez misturando surrealismo com impressionismo. Sua mão é fisicamente muito firme, treinada com instrumentos duros e formalistas como o lápis, mas seus conteúdos são voláteis e desconectados como os sonhos, convidando o espectador não a pensar, mas a voar, fugir, enlouquecer, imaginar o impossível.
Diz Henrique criar suas obras a partir de uma visão crítica da sociedade, "procurando transpor angústias e reflexões frente ao cotidiano, transformando-as em um reflexo da complexa forma de vida que levamos”. Ele espera instigar o público da Galeria, segundo disse à reportagem da UCPel.
A Galeria de Arte fica no saguão do Campus I e está aberta nos horários da Universidade: de segunda a sexta das 8h às 22h, e sábados até 13h.
Fotos: Wilson Lima (UCPel)
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Fotografando e sentindo ausências
“Fotografando ausências: uma poética do vazio” era o título de sua proposta, que parecia mostrar, basicamente, imagens de lugares vazios ou com ausências evidentes, como uma praça sem pessoas ou uma bicicleta abandonada. No entanto, seu objetivo foi mais poético e filosófico: pensar e fazer pensar, mediante as imagens.
Segundo ele, a ausência não é um simples componente visual, mas uma condição existencial, um ponto de vista humano - seja individual ou coletivo - ou até mesmo uma escolha pessoal.
Para ele, as ausências atuam de modo transformador, pela subjetividade, sobre os sentimentos e as realidades do ser e do estar. Fotografar ausências, que é a essência de seu projeto, busca que os espectadores possam pensar e perceber o caos de possíveis vazios na vida, a maioria deles inconscientes.
De acordo ao portal de notícias da UFPel, Vinícius cursou as disciplinas de Fotografia e de Projeto Fotográfico do IAD e está no quarto semestre do curso de graduação em História.
Vendo a nave central do saguão, não pude deixar de relacionar a mensagem do artista com o contexto da mostra. O espaço continha um grande vazio no meio, e a falta de pessoas sugeria que as ausências estivessem ali mesmo, na assim chamada casa do povo. Um grupo de visitantes, em vez de passar pela nave central, já vazia, circundou a exposição e se dirigia à escada (esq.).
Por outro lado, a imagem da bicicleta (acima) lembra o trabalhador no chão, e a casa do salva-vidas, o posto alto de um político. Estas associações confirmam a intenção do artista, de chamar a atenção sobre a força subjetiva e a mobilidade das ausências.
Hoje, esta exposição não mais ocupa a Sala Frederico Trebbi, mas parece ser uma presença na memória de quem lá esteve.
Imagens de F. A. Vidal
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Grupo de câmara de Rio Branco, Acre
Após concluir um mestrado no Rio de Janeiro, Marcelo foi trabalhar em Rio Branco e, por convite de uma universidade peruana, montou uma orquestra de câmara, com os músicos que encontrou na Universidade.
Como o curso de Licenciatura em Música era muito novo (nasceu em 2007), ainda não tinha alunos formados, e muitos músicos eram autodidatas e não contavam com professores para seus instrumentos (atualmente, a UFAC somente tem aulas formais de piano e de violão). Assim, a camerata ficou de início com um violonista, um flautista, um violoncelista, um percussionista, cantores e pianista. E o que começou de improviso hoje é um projeto que segue ampliando-se em alcance, exigência e qualidade (leia descrição da turnê).
O jornal rio-grandino Agora registra hoje a apresentação feita ontem (20) na Escola de Belas Artes (leia artigo), onde o grupo deu a partida de sua turnê pelo sul do Brasil. O próximo espetáculo em Pelotas será neste sábado (24) no I.A.D.
Eles viajaram mais de 4 mil km para chegar aqui (não 40 mil, como saiu no Diário Popular de hoje). O professor Marcelo Brum (esq.) falou sobre este projeto na TV acreana (veja entrevista).
O recital desta fria noite preencheu metade do auditório Milton de Lemos, com um público que ficou impressionado com a dedicação, criatividade e amor dos músicos pelo seu ofício.
Na primeira parte (dir.), quatro integrantes da agrupação (que conformam o Subtilior Ensemble, fundado em 2008) apresentaram música renascentista europeia: um trecho para alaúde e seis canções antigas (séculos XIV-XVII, de Tromboncino, do Cancioneiro de Elvas e do Llibre Vermell), com acompanhamento de percussão histórica.
Fotos: Talita Oliveira (1) e F. A. Vidal (3-4)
Vídeo: Pinga com Limão (Coral da U. F. de Viçosa, MG)
terça-feira, 20 de julho de 2010
Campello, um talento expandido
Campello homenageou a bela princesa da Fenakiwi, de Farroupilha (RS) |
Einstein, por Campello |
Campello cresceu no bairro Nossa Senhora de Fátima, saiu de Pelotas aos quinze anos, rodou por diversos países e hoje, aos 54 anos, está radicado em Porto Alegre.
Em busca do passado e da cidade natal, chegou por acaso a este blogue e comentou a nota sobre Os Velascos (leia), grupo musical que ele conheceu em suas origens, nos anos 60.
Autocaricatura de Campello |
- Foi justo em Pelotas que comecei a acreditar que tinha talento. Em minha primeira aula de artes com dona Maria, lembro que desenhei a figura de um índio de perfil e o mesmo foi muito elogiado. Fui pego pela mão por dona Maria e junto com o desenho fui levado de sala em sala e sendo anunciado como um aluno supertalentoso.
A partir daí os pedidos de trabalhos nunca mais pararam, pelos colegas e pelas professoras. Trabalhos no quadro-negro e desenhos para mimeógrafo eram muito solicitados.
Painel de Campello para a Pousada Brisa, em Gramado |
Caricatura para um convite de casamento |
A resposta está dentro da pessoa:
— se temos asas no coração, produzimos muito mais na conexão segura com o cordão umbilical, na rede de apoio mais conhecida, que pode ampliar-se como uma copa de árvore;
— se temos asas nos pés, preferimos respirar ares diferentes, evitando a asfixia e a fixação, para não ficarmos como "as pedras que choram sozinhas no mesmo lugar" (medrosas, segundo Raul Seixas).
Francisco Campello parece que tem asas no coração e nos pés.
Os do primeiro grupo se alimentam da chuva; os outros a ignoram, em busca de sóis e ventos. Todos têm talentos, mas as suas vocações se separam. A cidade natal, onde chove muito e há muitas pedras, sairia ganhando se uns e outros se conectassem e se unissem.
Imagens do orkut
A Última Ceia, do ângulo especial de Francisco Campello |
Fotos de Chico Madrid
Seu último trabalho foram registros na Patagônia argentina, no verão passado. A série "Viagem ao fim do mundo" estará em exposição de 21 de julho a 18 de agosto, na sala que levará seu nome artístico, na Sociedade Sigmund Freud (leia nota).
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Descuidos com a arte, desde 2005
A expressão "contra-a-cultura" é uma ironia ao projeto de financiamento, de autoria da gestão do prefeito Fetter Jr. O Procultura foi criado, como disse Henrique Pires em maio passado, como uma conta no banco, aberta mas sem fundos. Recentemente, uma emenda do deputado Marroni obteve 100 mil reais para financiar projetos no município de Pelotas.
Aos 39 anos, o pelotense Alexandre Lettnin, formado em Artes na UFPel, onde já foi professor, tem experiência em ateliês de cidades brasileiras e europeias (veja seus blogues Lettnin e Alex Ilustra).
Eu gostaria de registrar, com pesar, o descaso com que a prefeitura municipal trata os artistas visuais pelotenses nestes seis anos de governo.
Galeria extinta A primeira grande humilhação sofrida pela categoria foi o fechamento da sala Sete ao Cubo [2003-2005, na Quinze de Novembro 560; veja vídeo abaixo] descumprindo o devido edital, o que revoltou não somente a mim, mas todo o grupo de artistas selecionados: amargamos a devolução dos portfólios sem nenhuma explicação plausível, sendo que a secretária de cultura jamais tivera a delicadeza de providenciar uma sala com intuito de cumprir o edital (um total desrespeito)!
Sala semifechada Na época, a cidade, após passar mais de 12 meses sem espaços de arte, viu surgir uma precária sala no Grande Hotel, repleta de pilares, portas e janelas: qualquer indivíduo que entenda um mínimo sobre arte contemporânea sabe que isso interfere demais no trabalho exposto (como expor arte em um prédio tombado, onde não se pode pôr um prego na parede nem conceber obras com materiais perecíveis?). É claro que os primeiros artistas a expor nesta sala eram todos amigos de integrantes da Secretaria da Cultura, pois o novo edital sairia somente quase um ano depois de a sala estar aberta ao público (corrigindo: quase aberta, pois, por vezes, era necessário bater na porta e esperar alguém abrir, para finalmente fazer a visitação).
Espaço sem edital No hall do Grande Hotel foram dispostas paredes de madeira preta que serviram, durante alguns anos, a exposições itinerantes vindas de Porto Alegre, através de uma parceria com o MARGS. Ou seja, o melhor espaço era proibido aos artistas da casa. Antes de este espaço ser extinto, foi feita uma parceria com o IAD e alunos formandos expuseram.
Desavenças Observando a nebulosa ocasião em que a secretária da cultura e sua equipe (SECULT) abandonaram seus cargos após desavenças, se tem ideia de o quanto este governo está em dissonância com o tema da arte. O atual secretário parece que pouco sabe sobre a arte contemporânea. Logo, tudo continua de mal a pior: novas salas foram adaptadas em prédios tombados, onde é impossível expor com liberdade a arte atual! (...) Será que em alguma época desta cidade a Secretaria da Cultura tinha sido tão invisível e sem criatividade? Cabe pesquisar.
O cidadão atento que presenciou o intenso fomento cultural da década de 80, as boas iniciativas da década de 90 e o esforço dos governos anteriores, em prol da arte nesta cidade, assiste a tudo triste e desiludido.
Pinturas sobre Pelotas, fora do óbvio
Nesta ocasião, algumas das artistas souberam sair do típico, como Maria Helena Braga, que pintou a Colônia Z3 (acima) e Edy Bezerra, que se inspirou em bares noturnos como o Depósito Gomes Carneiro e imprimiu à pintura uma interessante atmosfera, delirante e apaixonada (dir.), bem longe dos estereótipos que se têm da cidade.
Fotos de F. A. Vidal
domingo, 18 de julho de 2010
Dicas sobre pousadas rurais
A iniciativa pertence a Izair de Vasconcelos Leal e Ana Cristina Berne, e a ideia surgiu na disciplina de Projeto Experimental I, do primeiro semestre do curso de técnico em Turismo, sob orientação da professora Cristina Porciúncula.
De início, a página apresenta o Restaurante Gruppelli e três pousadas: do Monte (dir.), do Moinho e Águas Claras (abaixo).
As estudantes constataram a falta de informação sobre restaurantes e pousadas rurais de Pelotas e a necessidade de promover o turismo neste nicho pouco explorado. Elas visitaram e fotografaram as pousadas, organizaram a informação e executaram o projeto do sítio virtual. Segundo o portal da UCPel, as acadêmicas sentiram a falta de patrocinadores para a iniciativa.
Há poucos anos, existe em Pelotas uma publicação impressa específica do esporte e lazer rural: a Revista Trilhas (ainda não está na internet). Seu diretor dispôs alguns dados sobre pousadas no blogue Fé na Trilha e Pé na Estrada.
Veja, por exemplo, algumas distâncias a partir do Centro de Eventos da Fenadoce:
- Pousada do Monte - 11,6 km pavimentado + 5 km de terra
- Sitio e Pousada Águas Claras - 11,6 km pavimentado + 7 km de terra
- Cachoeira do Paraíso - 11,6 km pavimentado + 18 km de terra
- Templo das Águas - 31 km pavimentado + 6 km de terra
- Restaurante Gruppelli - 31 km pavimentada + 12,5 km de terra
Fotos: Pousadas Rurais
sábado, 17 de julho de 2010
Telas pintadas para bordar, de Túlio Oliver
Túlio obtém efeitos de luz e sombra até mesmo no bordado (antiga Igreja da Luz). |
POST DATA
Veja comentários sobre outros trabalhos do artista: Amanhecer, pinturas de Túlio Oliver (2009) e Grandes ideias em pequeno formato (2013).
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Explicação das festas juninas
O estudioso começou explicando que não se trata de festas nascidas no Brasil, mas trazidas pelos portugueses, sendo de origem pagã e milenar. Os europeus comemoravam há muitos séculos o solstício de início do verão no hemisfério norte e a Igreja Católica cristianizou a data, centrando-a em São João Batista, o primo de Jesus, que teria nascido em 24 de junho. Ficou com o apelido de festa joanina, que derivou para "junina", como se fosse pelo mês de junho (veja na Wikipédia).
No Brasil, os santos "juninos" mais recordados são, além de João Batista: Antônio de Pádua (dia 13) e os apóstolos Pedro e Paulo (dia 29). Antônio nasceu em Portugal, fez-se frade agostiniano e se radicou em Pádua, na Itália, passando à ordem franciscana; é conhecido como santo casamenteiro e solucionador de conflitos e coisas perdidas (no entanto, as simpatias para arranjar marido são superstições populares).
O apóstolo Pedro era pescador, discípulo de Jesus (nosso Estado leva seu nome, desde que era a Província de São Pedro). No Rio Grande do Sul, os brigadianos - por policiar a cidade em duplas - ficaram com o apelido popular de "pedripaulo".
A Igreja recorda Pedro e Paulo no mesmo dia, como líderes da evangelização no primeiro século, mas eles não foram martirizados juntos, como poderia supor-se. Nem são os únicos santos do mês; o catolicismo recorda vários (média de oito) em cada dia do ano.
Nas festas juninas brasileiras não há traços paulinos (do santo chamado Paulo), mas elas foram mais fortes no interior do Estado de São Paulo, o que marcou as datas como se fossem somente caipiras.
No Brasil, as crenças e tradições tomaram elementos europeus (como a quadrilha francesa) e se renovaram segundo cada zona. O folclore nordestino foi mais forte que os costumes paulistas, e aqui no sul nossas tradições se mesclaram com elementos caipiras e europeus.
Para não esquecer a psicanálise, o palestrante mencionou o sentido fálico da brincadeira do Pau Ensebado, que nas festas juninas os homens mais ousados trepam, à cata de um prêmio (não citou a função masturbatória masculina, representada nesse ato). Se o mastro fosse um monumento, talvez se pudesse falar de um signo de poder falocêntrico.
O Casamento na Roça é uma encenação em que um par de namorados é forçado a casar-se, por uma gravidez inesperada. Na palestra, tal costume foi relacionado com o sentido pró-familiar do famoso Santo Antônio, que também patrocina o dia dos namorados no Brasil. No entanto, como qualquer católico sabe, a Igreja não valida casamentos por força.
O interesse popular estaria focado, segundo Freud, no ato sexual dos pais, cuja visão é proibida à criança. O riso nervoso se faz prazeroso quando o padre autoriza e o delegado, com rifle na mão, obriga os noivos a assumir, em público, o papel dos pais.
O casamento caipira entre a ex-BBB Gyselle Soares e seu namorado francês (dir.) foi justamente no dia de São Pedro e São Paulo, em junho de 2008, mas parece que na ocasião não houve rifles nem pedripaulos.
Ao longo da reunião aqui comentada, Adelar ilustrou os conceitos com exemplos em imagens e música, obtendo a atenção e a motivação de todos. O momento de maior silêncio e concentração foi quando no fundo musical se ouviu um canto gregoriano - elemento genuinamente religioso e não festivo. No vídeo abaixo, o Intróito Spiritus Domini, com os monges espanhóis de Santo Domingo de Silos.
Imagens da web e F. A. Vidal (1)
terça-feira, 13 de julho de 2010
Inovações fotográficas de Tânia Bellora
Tânia tem uma sensibilidade perceptiva que nunca se havia expressado em atividades artísticas, até 2009. Ela começou produzindo imagens de modo arrojado e sem preocupação maior com a técnica. A exposição foi na Galeria de Arte da UCPel (veja nota).
Imagens: T. Bellora