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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Sovaco de Cobra visita o choro de Avendano


Em 2015 o trio de choro Sovaco de Cobra terminou uma pesquisa musical destinada a difundir a obra do cavaquinista Avendano Júnior. Desde 2011 houve um trabalho em comum do trio pelotense e do Regional Avendano. Nesse tempo também houve o fechamento do Bar Liberdade e a morte do líder e compositor do Regional (v. trecho do documentário O Liberdade), mas a pesquisa continuou, e ainda foi coroada com a participação estelar do Trio na reabertura do antigo Teatro Esperança, na cidade de Jaguarão, em 28 de novembro passado.

O projeto "Sovaco de Cobra Trio visita Avendano Jr", financiado pelo fundo Procultura, incluiu um documentário (Nota Azul Produções, 18 min, confira acima) que registrou a história do projeto e mostra duas músicas completas interpretadas ao vivo pelo conjunto, em Jaguarão: "Era só o que flautava" e "Mimoso" (ouvem-se também trechos de: "Não me queira mal", "Vim te ver", "Liberdade" e "Caramba"), todas de Avendano. Confira também o show do grupo em 29 de outubro de 2015, Rio Grande (59 min, vídeo abaixo),

Gil Soares (flauta), Jucá de León (pandeiro) e Silvério Barcellos (violão) formam desde 2006 o Sovaco de Cobra Trio, que soa como uma orquestra e bem poderia funcionar como um embaixador cultural do Brasil. O nome foi tomado do bar carioca Sovaco de Cobra, conhecido nos anos 60 e 70 como reduto de choro da Velha Guarda (v. histórico no Dicionário Cravo Albin e no artigo de Juliana Rabello). A estranha expressão alude a uma coisa que é difícil de ser achada (o bar era pequeno e ficava numa rua de subúrbio, numa ladeira da Penha).

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Bafômetro de caminhão deu prêmios a alunos do IFSul

O professor Igor deu orientação ao projeto dos guris (Jarbas e Augusto).
Jarbas Carriconde, Felipe Pinz e Augusto Silva, alunos de Eletrônica no Instituto Federal Sul-Rio-Grandense, criaram um mecanismo de bafômetro ligado a um motor de caminhão para melhorar a segurança do motorista. Se o grau de álcool é inadequado para dirigir, o veículo não funciona (v. notícia de ZH).

O projeto, que foi orientado pelos professores Rafael Galli e Igor Barros, denomina-se “Bafômetro como controle de ignição em veículos automotivos” (v. detalhes em nota do IFSul, junho de 2014). A proposta foi premiada  em março passado na 12ª FEBRACE (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, São Paulo) e estará em setembro próximo na 10º FENECIT (Feira Nordestina de Ciências e Tecnologia, Recife), informou o Diário Popular. Já havia estreado em 2013 na MOSTRATEC (Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, Novo Hamburgo), segundo notícia do Diário da Manhã.

Os jovens inventores no Caldeirão do Huck
No sábado 9 de agosto, a ideia ganhou nota dez (e um cheque de 30 mil) no quadro "Jovens Inventores" do programa de Luciano Huck e destaque no Jornal do Almoço da segunda 11 (v. vídeo da RBS, 5 min). A ABRIC (Associação Brasileira de Incentivo à Ciência) também deu à invenção o prêmio de excelência em iniciação científica.

Os três estudantes têm 19 anos, são nascidos em cidades da região de Pelotas, e têm pai ou avô caminhoneiro. Alguns empresários já mostraram interesse na invenção nacional.
Fotos: Diário da Manhã (1), GShow (2)

POST DATA
7-09-14
Leia no Diário Popular Os segredos do Laboratório 14.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Café Aquários, a referência de Pelotas

Às 11h deste sábado (05-07), no Café Aquários, o Projeto Pelotas Memória apresenta o documentário "Vítreo Habitat: Café Aquários e suas Histórias", gravado na esquina da Quinze de Novembro com Sete de Setembro. Trata-se de uma homenagem dessa Página do Facebook ao povo de Pelotas no aniversário nº 202 de fundação da Freguesia de São Francisco de Paula (07-07-1812). A expressão "vítreo habitat" foi cunhada por Vilmar Gomes em 2013 (confira o Soneto para o Café Aquários). Sobre a esquina da Quinze com Sete veja a postagem Esquina 22 há cem anos.

A publicação do vídeo foi anunciada hoje (04-07) por Leonardo Tajes Ferreira na página de Nauro Júnior, um dos entrevistados. Novo-hamburguense chegado a Pelotas nos anos 90, Nauro aprendeu no espaço do Café a relacionar-se com a cidade que o acolhe até hoje.

Eduardo Leite dá depoimento ante Leonardo Tajes.
A produção de Leonardo e equipe recolhe histórias do Café em entrevistas com frequentadores do estabelecimento. O objetivo do trabalho do Pelotas Memória é "relembrar a cidade de ontem e descobrir a Pelotas de hoje, suas personalidades, sua gente, seu cotidiano popular".

Este é o documentário visual que faltava fazer, para valorização visual e universal do Aquários, mas não é a primeira vez que estudantes universitários se interessam por uma descrição antropológica deste foco de políticos, poetas, especuladores e saudosistas.

Em outubro de 2009 realizaram-se em Pelotas o XVIII CIC (Congresso de Iniciação Científica), o XI ENPOS (Encontro de Pós-Graduação) e a I Mostra Científica (v. página da UFPel). Um dos trabalhos apresentados na área humanística foi: "Café Aquários: um espaço peculiar de sociabilidade", de Vinicius Schwochow Paiva (apresentador) e Renata Menasche (orientadora). Em 2011, os mesmos apresentaram trabalho semelhante sob o título "Gastronomia, memória e identidade em uma casa de café" (v. nota).

Os antropólogos estudam o comportamento urbanos nos cafés como espaços públicos de socialização, ambientes em que as pessoas praticam, repetem e renovam hábitos e valores ligados à memória social da cidade. No estudo de 2009, Paiva e Menasche tomaram o Café Aquários como ponto de observação (na época, ainda era permitido fumar no interior e o estabelecimento fechava às 22h). No dizer dos pesquisadores,
pode-se dizer que há, entre o lado de dentro e o de fora do Café, não apenas uma conexão, mas uma interação contínua, que por vezes tem seu fluxo invertido, devido às altas temperaturas das estações mais quentes da úmida cidade de Pelotas, quando a preferência da clientela é mesmo pelo lado exterior da mais famosa cafeteria pelotense. Neste contexto, constata-se que a parte exterior do Café faz parte do ambiente de sociabilidade tanto quanto a parte interior. [Leia resumo completo].
No início do século XX ali existiu o Cinema Ponto Chic, um dos primeiros da cidade. A partir dos anos 30 funcionaram cafés, que se transformaram em pontos de encontro social para homens e mulheres, inclusive jovens, mas sem incluir pessoas de etnia negra. Após a construção do edifício da Associação Comercial, manteve-se o café, mas com predomínio absoluto de público masculino. Mulheres, jovens e negros voltaram a integrar-se ao espaço com o passar das décadas. Proprietários sucederam-se, mas o ponto de encontro social foi conservado.

Em Pelotas, pode-se tomar café na barra em mais de um ponto comercial (Ponto Chic, Armazém, Feira), mas o Aquários é o maior e o mais antigo, é marca que identifica a cidade, uma verdadeira "grife de Pelotas", como diz Eduardo Leite na entrevista.

O nome do café é citado nas músicas Pelotas (Kleiton e Kledir), Doce Princesa (Alex Cruz) e Hino do Bicentenário (Marco Aurélio do Nascimento). No livro de ficção "Satolep", Vítor Ramil identifica o "Café Aquário" pelo nome e pelas suas características próprias (páginas 36-64). Veja neste blogue mais histórias do Aquários (35 postagens).


Foto: G. Mansur

POST DATA
5-7-14
Confira a reportagem do Diário Popular, com mais informações sobre o Café, incluindo artigo de Max Cirne.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Alunos de Conservação e Restauro concluem curso

Finalizando o segundo semestre de 2013, doze alunos de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis defenderam seus respectivos trabalhos de conclusão de curso, no passado dia 12 de fevereiro. Segundo o relato publicado sexta (22-2) no blogue Conservação e Restauro, a alegria e o entusiasmo dos acadêmicos contagiou o público presente. Acompanhe a seguir a diversidade dos temas estudados pelos futuros conservadores-restauradores.

Graduandos de Conservação e Restauro
defendem TCC de 2013 ( 12-2-14)
No trabalho “Políticas públicas patrimoniais: estudo dos instrumentos legais e estratégias de preservação na cidade de Pelotas”, Cláudia da Silva Nogueira pôs em evidência os instrumentos e as estratégias de preservação, como a legislação patrimonial e as estratégias de manutenção do patrimônio edificado na cidade de Pelotas.

Suélen Neubert trouxe o tema “A fotografia e sua preservação: uma análise sobre as políticas de conservação de acervo de instituições de guarda de memória no Rio Grande do Sul”, onde abordou as políticas de preservação de acervos fotográficos em instituições gaúchas e a influência do conservador-restaurador na aplicação do conhecimento técnico que este adquire ao longo de sua formação.

Em “Estudo dos valores patrimoniais e sua influência nas atividades do conservador-restaurador”, Caroline Peixoto Pires investigou como é considerado o conceito de valor patrimonial pelo profissional da conservação e do restauro e onde esses valores são aplicados durante o desenvolvimento de suas atividades profissionais.

Degli Márcia S. de Quevedo apresentou o tema “Leitura iconológica de obra funerária: monumento 'Oferenda', de Antônio Caringi”, em que evidenciou a interpretação iconológica desta obra funerária do artista pelotense (foto abaixo). A aluna estudou a trajetória de Antônio Caringi (1905-1981), pesquisou sobre o local onde se encontrava a obra e, como conclusão do estudo, relatou o estado de conservação da mesma.

"Oferenda" (Caringi, 1942), Cemitério São Francisco de Paula, Pelotas
No trabalho “Cemitério Pomerano: estudo da história de um povo em uma memória presente”, Bárbara Maria B. Borck apresentou o patrimônio cultural presente no cemitério de São Lourenço do Sul (RS) e a importância da imigração pomerana.

Igor de Freitas Ulguim apresentou "Diagnóstico da obra 'Descanso da Sagrada Família na Fuga para o Egito': levantamentos e exames preliminares à restauração". Neste trabalho, o acadêmico estuda a pintura de cavalete em um estado avançado de deterioração, localizada no acervo sacro do museu da cidade de Rio Grande (RS), e traz à tona a importância da documentação para futuros restauros.

No tema “O 'Retrato de Visconde da Graça': análise e restauro de uma pintura de cavalete”, Joana Andrea Brakling descreveu os procedimentos de restauro em uma pintura de óleo sobre tela que apresenta grande valor histórico e artístico, pois se trata de uma obra do século XIX que retrata o pelotense João Simões Lopes Filho (1817-1893), barão e visconde da Graça.

Limpeza de estuque lustrado (escaiola),
no prédio da antiga Escola de Belas Artes,
em Pelotas, 2010 (v. mais fotos aqui)
Rosaura Isquierdo Rocha apresentou o tema: “Procedimentos e reflexões em torno da conservação de fotografias históricas: a Coleção Clinéa Campos Langlois da Fototeca Memória da UFPel”.

A acadêmica explicou o processo de sistematização da Coleção Clinéa Campos Langlois, abrangendo sua conservação, o tratamento da informação e sua disponibilização, buscando a construção de uma narrativa memorial.

Os outros trabalhos apresentados foram:
  • "A preservação de revestimentos de interiores de edificações históricas: os estuques lustrados da cidade de Santa Vitória do Palmar (RS)", de Marina Perfetto Sanes.
  • “Procedimento de restauro em obra rara – Museu dos Capuchinhos, Rio Grande do Sul", de Bianca Servi Gonçalves.
  • “Proposta de tratamento do mobiliário expositivo da coleção arte sacra do Museu da Cidade do Rio Grande", de Bruna Lemos Lobato.
  • “Água como agente de deterioração: uma análise no Museu da Baronesa”, de Marcelo Hansen Madail.
Fotos: Conservação e Restauro (1, 3), Viva o Charque (2)

domingo, 7 de abril de 2013

Pesquisa sobre afrodescendentes peruanos


As pesquisadoras brasileiras Gabriela Watson e Danielle Almeida vinham estudando, por separado, a realidade dos afrodescendentes e decidiram reunir o material num documentário de 45 minutos (acima, nota do Jornal da Gazeta).

Denominado "Nosotros, Afroperuanos", o filme foi exibido ontem (6) em São Paulo, no Memorial da América Latina. Também houve um debate com as produtoras-diretoras, e uma apresentação musical de Danielle Almeida e o coletivo Insorama, com canções afro-peruanas (detalhes no anúncio à esq.).

O documentário estreou no 6º Encontro de Cinema Negro, em novembro de 2012, o único encontro brasileiro que reúne cineastas negros de toda a diáspora. Também foi exibido no Centro Cultural de España, em Lima, e na 2ª Muestra de Cine Independiente de Osorno, no Chile.

Após a apresentação em São Paulo, já existem outras em vista, sempre com o fim de estimular a discussão sobre a questão racial e sobre a aproximação entre as nações latino-americanas.

Danielle Almeida, que é bacharel em Música pelo Conservatório da UFPel, está há mais de nove anos estudando sobre cultura negra latino-americana, com foco no aspecto musical. Em 2011 ela foi pesquisar no Peru, sem saber que, meses antes, Gabriela havia abordado a realidade da população negra nesse país do ponto de vista jornalístico. Formada em Comunicação Social, desde 2006 ela produz reportagens sobre a cultura afro-brasileira, e desde 2008 visita cidades afro-peruanas. 

Gabriela Watson e Danielle Almeida
Inicialmente, em 2011, Gabriela pretendia fazer uma reportagem curta, mas a grande quantidade de filmagens que as duas pesquisadoras geraram permitiu preparar um documentário mais longo.

Em 2012 e 2013 elas voltaram ao Peru, com recursos próprios, e ampliaram sua pesquisa, agora com apoio de ONGs e do Consulado do Peru no Brasil. Veja mais informações sobre este trabalho no portal Afro Press.
Imagens: Rose/Pérola Negra (1) e G. Watson (2)

sábado, 16 de março de 2013

UCPel pesquisa sobre qualidade psicológica de vida

Os psicólogos Karen Jansen e Luciano Dias de Mattos Souza apresentaram dados da pesquisa sobre depressão e qualidade de vida de jovens, que eles vêm realizando há anos no Laboratório de Saúde Mental da Universidade Católica de Pelotas. A exposição foi feita na Aula Inaugural do curso de Psicologia, nesta quarta (13), no auditório do Campus I (v. notícia do portal da UCPel).

Hoje doutores em sua área, Karen e Luciano obtiveram licenciatura e mestrado na Católica de Pelotas e atualmente são professores do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento.

Conforme Karen, o objetivo do encontro com os estudantes foi aproximá-los do Programa de Pós-Graduação, que tem os níveis de mestrado e doutorado. Luciano destacou a importância da pesquisa nos projetos de saúde que atendem a população e a contribuição dos alunos na formação do conhecimento.

Dra. Karen Jansen
Estes estudos geram publicações em revistas nacionais e internacionais (leia um dos recentes artigos). Karen ainda explicou à reportagem da UCPel que esta ampla pesquisa suscitou outras demandas e novos projetos vinculados com o Serviço de Psicologia (leia outro artigo dos mesmos autores). Daí a importância de que mais psicólogos participem nesse trabalho de equipe, em benefício da população e do avanço científico.

O mestrado em Saúde Mental foi o primeiro da Universidade Católica, fundado em 1995 por professores do Curso de Psicologia, e dele derivou em 1999 o mestrado em Saúde e Comportamento. Na época, todo o projeto foi reformulado, buscando integrar diversas áreas da saúde, aumentando a procura por parte de médicos, nutricionistas, fonoaudiólogos. No início, psiquiatras e psicólogos eram uns dois terços dos que buscavam o curso; hoje são a outra porção: cerca de um terço.
Fotos: UCPel

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Mestranda contribui à história de Pelotas

Simone X. Moreira
A jovem professora Simone Xavier Moreira vem pesquisando sobre autores literários gaúchos desde a graduação em Língua Portuguesa na UFPel, passando por duas especializações (v. currículo). Na mesma universidade, ela iniciou em 2010 o projeto em Linguística Aplicada "De Princesa do Sul a Satolep: as construções discursivas de uma cidade imaginada".

Agora que ela conclui seu mestrado na FURG, o tema segue aprofundando em Pelotas: A formação da Princesa do Sul: primórdios culturais e literários. A defesa é às 14h desta quarta (20), na sala 3106 do Campus Carreiros (Avenida Itália, km 8).

Seu grande mérito como pesquisadora científica é a consulta em fontes primárias, ou seja, documentos de época que revelam dados diretos (não de outros pesquisadores) sobre a realidade estudada: as origens literárias de Pelotas na primeira metade do século XIX. Seu orientador de mestrado, o professor Dr. Artur Emílio Alarcon Vaz destacou a importância desta pesquisa em 4 pontos, destacados abaixo.


Almanaque registra dados tradicionais, baseados em Simões Lopes Neto.

Dissertação modifica dados sobre a história da cultura em Pelotas

A mestranda do PPG “História da Literatura” Simone Xavier Moreira obteve acesso a diversas fontes primárias sobre os primeiros passos da cultura em Pelotas, modificando alguns dados que se tinha sobre essa cidade.

O trabalho de Simone é um dos resultados parciais do projeto "Formação e consolidação do sistema literário no extremo sul brasileiro", coordenado pelos professores Artur Emilio Alarcon Vaz e Mauro Nicola Póvoas, ambos da FURG. A pesquisa analisava o processo pelo qual se formou e consolidou o sistema literário da cidade de Pelotas. Para tanto, foram verificados os primórdios da leitura e produção cultural e literária da região.

Sobre a expressão “Princesa do Sul”

Tradicionalmente, o cognome atribuído à cidade pelotense era atribuído a um poema de 1863. Embora Mário Osório Magalhães  já indicasse que tal expressão seria de uso comum e que o poema deveria ser somente o primeiro registro escrito [v. artigo de 2006 no Diário Popular], tal versão não havia sido confirmada.

Outro pesquisador, Adão Fernando Monquelat, igualmente já advertia que a expressão usada no poema citado era "princesa dos campos do sul". Com o acesso ao acervo da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), a pesquisadora obteve um exemplar do jornal pelotense O Brado do Sul, de 6 de janeiro de 1860, em que já se usava a expressão “Princesa do Sul” para a cidade de Pelotas.

Acesso direto a dois livros antigos pouco citados por pesquisadores locais

  • Exposição dos elementos d'arithmetica para o uso dos estudantes do collegio de Santa Barbara na cidade de Pelotas, de Antônio Luís Soares (1805-1875), publicado em 1848. Trata-se de um manual didático cujo único exemplar encontrado em bibliotecas brasileiras está no acervo na Biblioteca Rio-Grandense (Rio Grande, RS).
O achado antecipa duas datas consideradas marcos históricos por outros pesquisadores: a da publicação do jornal O Pelotense em 1851, tida como o início da imprensa pelotense, e a do “mais antigo livro editado em Pelotas”, o Resumo da história universal, em 1856 [v. citação de 2010 por Mário O. Magalhães].
Embora outros pesquisadores já tivessem citado a existência deste livro de Antônio Luís Soares, ainda não se haviam obtido dados biográficos sobre o autor.
  • A dama de Veneza, de Carlos de Koseritz [1830-1890], publicação de 1858. Novela curta de menos de cem páginas, deve ser considerado o primeiro romance publicado em Pelotas.
A véspera da batalha, outra novela de Koseritz, também foi publicada em 1858, mas não se conhece nenhum exemplar em bibliotecas públicas brasileiras ou estrangeiras. Assim como o livro didático de 1848, citado acima, A dama de Veneza já havia sido citada e analisada no livro Breviário da prosa romanesca em Pelotas, de Luís Borges (2007), que, porém, não marca o ineditismo dessa obra.
3 Poema de um pelotense em 1834

Um outro marco do trabalho de Simone Moreira é a divulgação dos poemas de Mateus Gomes Viana (1809-1839), provavelmente o primeiro pelotense a publicar seus poemas, ainda na década de 1830, no jornal rio-grandino O Noticiador, como o publicado em 15 de dezembro de 1834, em comemoração ao aniversário de D. Pedro II.

4 Documentos prévios ao surgimento da imprensa

Por fim, destaca-se a consulta aos inventários – a partir do Perfil do leitor colonial, de Jorge de Araújo (1999) – de alguns moradores de Pelotas também nessa primeira metade do século XIX, antes do advento da imprensa. Nesse material, poucas obras podem ser consideradas literárias, revelando um leitor muito mais preocupado com os acontecimentos políticos e sociais, do que direcionado a leitura como lazer.

Imagens da web

domingo, 4 de dezembro de 2011

Bolaxa, o palhaço que pesquisa


O projeto Boca de Cena entrevistou o ator pesquisador Lóri Nelson, para conhecer seus métodos na arte da cena e sua trajetória com o "Palhaço Bolaxa" (veja nota neste blogue). O artista tem uma agenda repleta de apresentações e participações em congressos de teatro, em diversas cidades gaúchas, do Brasil e em países vizinhos.

O projeto Boca de Cena é uma ação de extensão da UFPel que busca ensinar aos alunos de Teatro o uso comunicacional de mídias digitais, com diversos fins: documentar as ações de teatro em Pelotas, fazer pesquisa transdisciplinar, aplicar novas possibilidades às artes da cena, e divulgar os trabalhos dos cursos de Teatro e Dança.

POST DATA (13-02-12): Veja nota sobre o Palhaço Bolaxa.

domingo, 2 de outubro de 2011

Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas

O Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPel) busca preservar a história do município e levar o conhecimento à comunidade. Seus principais objetivos são conservar a memória étnico-cultural da Zona Sul e desenvolver pesquisas genealógicas e geográficas que revelem fatos marcantes no desenvolvimento da cidade.

Maria Roselaine Santos, atual presidente, informa que o IHGPel foi criado em julho de 1982 por um grupo de pessoas que identificou a necessidade de preservar a documentação da história de Pelotas. O instituto recebe o material por doações e o orçamento provém de 60 associados.

O local (esq.) abriga 80 anos da história de Pelotas, em 4 tipos de acervo: biblioteca, hemeroteca, arquivo histórico e núcleo de genealogia. Há 1500 documentos originais da Câmara Municipal e cinco mil livros que retratam a história da cidade, alguns da época imperial (1822-1889), quando o município investia no patrimônio arquitetônico e na expansão das artes.

A sede do IHGPel recebe visitas de pesquisadores, com agendamento de segunda a sexta (13:30 -17:30), fone (53) 3227 9009 ou na Casa dos Conselhos, Rua Três de Maio, 1060.
Texto tomado da nota IHGPel resgata memória da cidade (17-5-11)
Foto de Marcel Ávila (DP)

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Itamar contribuiu à integração de fronteiras

Na próxima sexta-feira (30), será lançado o livro “Itamar Franco: Homem público democrata e republicano”, uma coletânea organizada pelo historiador Ivan Alves Filho e pelo jornalista Francisco Inácio de Almeida, da Fundação Astrojildo Pereira. O lançamento será na sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro.

A obra traz uma série de reconhecimentos à figura do ex-presidente Itamar Franco (falecido em julho passado), escritos por autoridades públicas, personalidades políticas e intelectuais de várias partes do Brasil.

Num dos textos (transcrito abaixo, na íntegra), o atual reitor da UFPel, Antônio César Gonçalves Borges, agradece as decisões do governo de Itamar (1992-1994) referentes ao Tratado Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim (leia o texto, assinado em 1909).

Na década de 1990, a Universidade foi pioneira nas ações de integração com o país vizinho, criando a Agência para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim e do Centro de Integração do MERCOSUL (leia nota da UFPel, de 22-9-11). Em 2010 (Governo Lula), a UFPel fundou, em Santana do Livramento, o Núcleo de Estudos Fronteiriços, único no Brasil em suas características (leia nota).

Itamar Franco e a Fronteira Brasil-Uruguai
Antonio Cesar Borges, Reitor da UFPel

A recente perda de Itamar Franco conduz à singela homenagem de quem, havidos quase vinte anos, conheceu, através da atitude decisiva do ex-Presidente da República, o seu amor pelo Brasil.

Reporto-me aos idos de 1993, quando, a partir da extinção da SUDESUL, órgão pertencente ao antigo Ministério do Interior, a UFPEL recebia as atribuições de administrar o lado brasileiro do Tratado Brasil-Uruguai da Lagoa Mirim, firmado há pouco mais de um século, consolidando os vínculos históricos e culturais entre as duas nações.

O decreto 1148, de 26 de maio de 1994, tornou a UFPEL uma instituição pioneira nas ações de integração fronteiriça com resultados imediatos: foi criada a Agência para o Desenvolvimento da Lagoa Mirim e, no ano seguinte, foi inaugurado o Centro de Integração do MERCOSUL na área histórica da cidade de Pelotas. Deste modo, era materializado o Tratado de Assunção, além dos interesses aduaneiros, ao situar a educação superior voltada para a integração regional.

Com aquele gesto simples do Presidente foi plantada a semente para o desenvolvimento regional, pois professores e alunos passaram a vislumbrar na fronteira as possibilidades de transformar o cenário empobrecido do sul do Brasil e do norte do Uruguai. Afinal, era preciso unir a educação e outros campos do conhecimento, a fim produzir riquezas e outras ações integradoras.

Então, em julho de 2005, o reitor da UFPEL, autoridades do MEC e o prefeito de Bagé se reuniram para dar início ao projeto de uma nova universidade na região da fronteira, que mais tarde recebeu o nome de UNIPAMPA, a qual firme e independente, passou rapidamente a desempenhar seu papel na região.

Era também necessário fazer com que, nas águas da Lagoa Mirim, viessem trafegar gentes e produtos. Este ideal deu origem ao primeiro estudo sobre a viabilidade econômica e social da Hidrovia do MERCOSUL através da Lagoa Mirim, cujo trabalho foi concluído e entregue pelo reitor da UFPEL ao Ministério dos Transportes em 2007.

Desde aquela época até os dias de hoje, as relações entre a universidade, os prefeitos e os intendentes das cidades uruguaias da fronteira foram gradativamente se consolidando. Esta salutar e continuada convivência mostrou problemas comuns da fronteira e soluções viáveis a partir de entendimentos recíprocos. Em consequência disso, em 2010, foi criado o Núcleo de Estudos Fronteiriços da UFPEL, próximo à linha divisória de Livramento e Rivera, para estudar e apoiar o processo de integração do MERCOSUL e da América Latina.

De pronto, várias atividades foram empreendidas com o apoio e a participação de diversos segmentos da população fronteiriça, que, observada pela academia, tem buscado mostrar no Núcleo de Estudos Fronteiriços que todos juntos podem promover o desenvolvimento desta extensa região e minimizar as assimetrias dos nossos povos, sem, contudo, perder sua identidade e sua soberania.

As Unidades Fronteiriças de Saúde para atendimento médico-assistencial de usuários de ambos os países e a Escola Binacional de Restauração de prédios históricos, dedicada a jovens em situação de vulnerabilidade social, são novas metas a serem desenvolvidas pela UFPEL nas cidades gêmeas, com início em Livramento e Rivera.

Finalmente, vale dizer que ao atender o pedido do reitor, o então presidente Itamar Franco transferiu para a UFPEL as barragens da Lagoa Mirim, não somente para que aquela instituição abrisse e fechasse comportas. Foi mais longe! Ele permitiu que essa instituição federal de ensino superior ultrapassasse limites convencionais de sua atuação e propusesse a hidrovia do Mercosul e projetos inovadores na área da saúde e meio ambiente, com benefícios marcantes para as populações.

Certamente nossos governantes apoiarão os anseios de nossas fronteiras, onde continuaremos a honrar a memória do grande e simples Presidente que há pouco tempo nos deixou!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Viver, lembrar, esquecer

A questão do esquecimento nas sociedades atuais será o tema central do 5º Seminário Internacional em Memória e Patrimônio, organizado pela UFPel. Os interessados já podem inscrever trabalhos, até 16 de junho, pelo sítio do SIMP, que este ano será realizado de 5 a 7 de outubro.

O Esquecimento vem sendo estudado no século XX em relação com o genocídio judaico. As revelações sobre o Holocausto mostraram à humanidade um “dever de lembrar”, especialmente quando há crimes considerados imprescritíveis, ou seja, cujo julgamento nunca deveria ser arquivado.
Mesmo quando as recordações chegam à consciência com agrado, é possível que o esquecimento tenha também sua função mental. Os vazios da memória são na verdade defesas que ajudam a tirar do pensamento aqueles momentos que não foram aceitos ou compreendidos.
Portanto, a pessoa não lembra o que aconteceu e não consegue desenvolver-se na vida e construir um futuro. Trata-se de um tema a ser integrado com a psicologia e os estudos sobre a dor e a felicidade.
Na foto maior, reproduzida do Quiosque Nelson Nobre, o Laranjal nos anos 50. Hoje, vemos carros bem diferentes, pavimento, calçadão novo, mais artifícios. A areia será a mesma? E as palmeiras? Algumas pessoas podem ainda estar vivas; talvez várias já faleceram. Terão sido esquecidas?
Alguns dos painéis temáticos do V SIMP e seus coordenadores:
  • Literatura, memória e trauma - Aulus Martins
  • Fotografia e Esquecimento ou a “imagem sem imaginação” - Francisca Michelon
  • Lembrar, esquecer, narrar - Carla Gastaud
  • A conservação e restauração do patrimônio cultural como resgate da memória - Andréa Bachettini
  • Museus e acessibilidade: ser visto para não ser esquecido - Francisca Michelon e Nóris Pacheco Leal
  • Memória e esquecimento: por entre traços, rastros, cicatrizes e sombras - Denise Busoletti
  • Arte e memória: visualidade entre-silêncios - Ursula Rosa da Silva

sábado, 13 de novembro de 2010

Analisando a filosofia de Nietzsche

Este sábado (13) às 18h, o professor Luís Rubira autografa o livro “Nietzsche: do eterno retorno do mesmo à transvaloração de todos os valores”, primeiramente lançado na USP, em setembro (leia notícia).

O livro explora a relação entre dois conceitos filosóficos cuja conexão não foi desenvolvida nos textos de Nietzsche nem de seus analistas: "o eterno retorno do mesmo" e a "transvaloração de todos os valores". Rubira se debruçou sobre todos os escritos do pensador alemão, todas suas ideias e de outros estudiosos de sua filosofia.

Na ficha do livro, a editora disponibilizou um texto de release mais completo e um espaço para comentários (veja a ficha técnica).

Luís Eduardo Xavier Rubira nasceu em Porto Alegre em 1970. É graduado, mestre e doutor em Filosofia(UFPel, 1995; PUC-RS, 2000 e USP, 2009), com estágio de um ano na França. Atualmente é professor do Departamento de Filosofia da UFPel e coordena o ciclo “A Filosofia e o Cinema Político” (sextas-feiras às 20h), onde se analisam filmes sobre a história da política à luz da filosofia.

Em dezembro, um Café Filosófico em Pelotas debaterá sobre este e outros temas relacionados ao filósofo, tendo como convidado outro especialista em Nietzsche: o professor da UFPel Clademir Araldi. Um evento parecido em Porto Alegre terá como convidada a escritora Kathrin Rosenfield (uma das candidatas ao prêmio Fato Literário, a ser entregue nesta segunda 15 de novembro).
Imagens: Barcarolla e F. A. Vidal (2)

domingo, 31 de outubro de 2010

Livro sobre arte portuguesa em Pelotas

A artista pelotense Rejane Botelho idealizou um livro que registra parte do legado português em Pelotas, mediante uma centena de fotografias (todas em cores) de azulejos, esculturas e detalhes arquitetônicos encontrados em nossa cidade. Os objetos são ilustrativos da arte lusitana dos séculos XIX e XX, e representam a influência cultural portuguesa não política, posterior à independência brasileira.

O texto é de autoria da pesquisadora portuguesa Ana Margarida Portela Domingues, com apoio de José Francisco Queiroz, especialista em arquitetura portuguesa do século XIX (veja seu currículo). Os estudiosos foram contatados por Rejane através da internet e a comunicação deu como resultado este pequeno tratado internacional de história da arte.

A imagem de capa do livro (abaixo) é descrita como um painel de azulejos de alegoria à amizade luso-brasileira; encontra-se na fachada de uma casa em Pelotas. Na Rua Barão de Santa Tecla, proximidades da Avenida Bento Gonçalves, algumas residências apresentam adornos especiais nas fachadas (veja nota).

Duas meninas em fraterno abraço envolvem-se nas bandeiras de cada país. Atrás da portuguesa, vê-se a Torre de Belém, situada em Lisboa, e do outro lado aparece o Pão de Açúcar, símbolo brasileiro. Segundo a pesquisadora portuguesa, o painel foi fabricado em Aveiro ao redor de 1950, mas não lhe parece claro o motivo de que as meninas apareçam identificadas como enfermeiras. O título do livro é "Fotos contam uma história de Portugal em Pelotas" (Botelho e Portela, 2010). A ficha catalográfica contém dois pequenos erros: o ano de nascimento da primeira autora (que é 1961) e o número de páginas (178).

A obra foi lançada em abril deste ano, ante a comunidade portuguesa em Pelotas. Em julho seguinte, na semana de aniversário da cidade, apresentou-se uma exposição de fotos pertencentes ao livro.

No primeiro dia de autógrafos da Feira do Livro 2010, sábado (30), Rejane (esq.) deu nova divulgação a este material, editado pela UFPel (R$ 30).

Rejane Botelho Portela é pelotense, formada como técnico contábil e artista autodidata. Trabalha como fotógrafa publicitária (veja galeria no Flickr) e dirige o ateliê Agência da Arte. Como pesquisadora, já publicou - além da obra aqui comentada - postais fotográficos de Pelotas (2008), o livro “Detalhes de uma Princesa” (2009) e um Catálogo Fotográfico da cidade de Rio Grande (2010). Imagens: A. Portela, R. Botelho e F. A. Vidal

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Imagens sonoras

Até 28 de outubro, o saguão do Centro de Integração do MercoSul expõe cerca de vinte banners sobre uma pesquisa musicológica realizada no Rio Grande do Sul.

Somente com recursos visuais, o trabalho relata como a população gaúcha, especialmente a de ascendência teutônica, fazia e ouvia música, desde o século XIX até meados do século XX. O título da exposição: "Imagens sonoras: Iconografia e transações musicais na cultura imigrantista teuto-brasileira" (veja notícia).

Os elementos reproduzidos em grande tamanho (mais de 2 metros de altura) são: fotografias desde 1871 até 1950, partituras impressas, manuscritos e até um disco antigo (de 78 rotações por minuto).

Na foto superior à esquerda, dois registros de como se fazia música em casa, e à direita: homens tomando mate enquanto ouvem o gramofone e um grupo de músicos jovens em São Leopoldo. Outro exemplo é uma página manuscrita do Hino Nacional Brasileiro, publicado num livro alemão (dir.).

Cada figura tem um texto explicativo, feito por um professor do Conservatório de Música da UFPel e dois estudantes. Visitação das 8h às 22h.
Foto de F. A. Vidal

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Artigo sobre a pesca na Lagoa dos Patos

Solano Ferreira formou-se em Jornalismo com o trabalho “A pesca da tainha na Lagoa dos Patos: um relato fotoetnográfico”, com orientação do professor Carlos Leonardo Recuero, coordenador do curso na UCPel. O relatório será apresentado no 7º Fórum Latino-Americano Memória e Identidade, a realizar-se em outubro (28-31), em Montevidéu.

O projeto (chamado “Ilha dos Marinheiros”) foi realizado com pescadores em Rio Grande, e a ideia nasceu enquanto Solano participava do jornal da comunidade da Colônia Z-3 (O Pescador). O trabalho tem a forma de um artigo jornalístico, contendo um relato em imagens e um texto escrito, sobre o lado humano da pesca na Lagoa dos Patos.
O Fórum Latino-americano "Memória e Identidade" (em espanhol: Foro Latinoamericano Memoria e Identidad) é muito mais um espaço de troca cultural do que um congresso. Desde 2004, reúne representantes indígenas e de organizações culturais e étnicas, comunicadores e pesquisadores da América, Caribe e Europa.
Após anos participando no encontro uruguaio, professores e estudantes da UFPel deram origem em Pelotas ao Fórum Internacional de Contadores de Histórias (FICH), realizado no Instituto Simões Lopes Neto, em setembro e outubro de 2009, com inspiração especial na cultura afro-brasileira. A revista TEIAS de janeiro/abril publicou um relato sobre a criação do FICH: "Fronteiras da Cultura e da Oralidade", de Bussoletti, Pinheiro e Gill (veja o sumário da edição).
Fotos de Solano Ferreira (UCPel)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Os livros como objetos de amor e de arte

A artista plástica Adriane Hernandez, professora de Artes Visuais da UFPel, preparou uma exposição de seus alunos, em parceria com o Instituto João Simões Lopes Neto. Os estudantes deviam elaborar criações não tradicionais em torno ao livro - como conceito e como objeto - e à casa do escritor.

Em visita ao Instituto, as ideias apareceram e foram feitos os projetos de acordo aos lugares da casa. Assim, a exposição "A casa, as estantes e os livros", com pouco mais de uma dúzia de surpreendentes trabalhos, foi aberta na quinta 22 de julho, e se prolongou até 30 de julho. Aqui vou me referir a metade deles.

O "Chocolivro" de Etiene Rosa foi devorado pelos visitantes da inauguração, aos pedacinhos, pois tinha páginas de chocolate. Nos dias restantes, só ficou a capa para contar a sua história.
"Sobre escritores e vinhos" (acima) despertou muitas associações entre os livros e as garrafas. Garrafões e garrafas contendo páginas escritas, colocados em estantes, lembravam uma adega de mensagens conservadas no tempo (quanto mais idade, mais sabor), ou uma biblioteca de náufragos.

Dê Duarte pensou "O livro como um corpo sedutor" (dir.), transpondo o texto a uma forma humanoide. A sedução estaria nas curvas, ou em certas zonas erógenas, ou na sugestão indireta de uma alma feminina. A palavra corpo foi aqui literal demais, pela eliminação de cabeça e membros.

Duas bíblias de bolso, cravadas com pregos de 20 cm, pareciam gritar que a Palavra de Deus fora crucificada ("Rompendo paradigmas", de Douglas Veiga). Os livros ficaram inutilizados, como uma pessoa condenada à morte por imobilidade. Seria possível uma ressuscitação, uma reutilização após a pena ser levantada?

Um livro-espelho, intitulado "Leia Você" (esq.), ficou aberto na altura dos olhos, em posição de refletir mutuamente suas páginas e de enviar reflexos ao espectador de si mesmo. Alessandra BB nos recordava, sem sutilezas, que a leitura tem a função do autoconhecimento.

O nome da obra também jogava - como um espelho - com a regência do verbo (sinônimo de "palavra"). Se lido como intransitivo, "você" seria sujeito. Sendo "ler" transitivo, "você" seria objeto direto. Em ambos casos, fosse sujeito ou objeto, o leitor leria a si mesmo. O livro também poderia chamar-se "Reflita você".

"Luz e sombra" (dir.), o impressionante livro-janela de Karen Campos, foi construído com papel paraná, craft, celofane e lâminas de retroprojetor. O tamanho da obra, adaptado à realidade física da casa, também dizia que ser escritor (ou encadernador) envolve bastante trabalho, na concepção e na confecção. Pequenos nos sentimos ante certos livros.
O livro com forma e funções de janela, além de ser parte da casa de um escritor, permite olhar o mundo lá fora, iluminar o interior, trocar de ar e escrever nos vidros.
As várias folhas podiam ser folheadas e lidas sem dificuldade, e em cada uma havia mensagens epigramáticas como esta (do poeta português Arlindo Mota):
Quem controla o desejo: a emoção ou a ternura?
- A paleta, responde o pintor.
- A palavra, atalha o poeta. Juntos, distribuem a luz que inunda de cor o planeta.
Fotos de F. A. Vidal

A arte abre nossos olhos para ver o outro

Lorena Cunha Prado é um caso bem-sucedido de como a arte e os afetos positivos podem incluir uma pessoa nas vinculações sociais e no caminho de suas próprias potencialidades.

Portadora de necessidades especiais, aos 24 anos ela realiza sua primeira exposição, enquanto segue cursos de alfabetização e de artes plásticas (leia nota). Entre as obras expostas (até amanhã terça-feira) há pinturas, desenhos e bonecos artesanais em técnica mista.

Estimulada por sua mãe, a psicóloga Maria de Fátima Cunha, Lorena (esq.) participou no projeto "Novo Olhar para Especial Arte", realizado na UFPel de 2006 a 2008. O Instituto de Artes pesquisou como o tratamento da síndrome do autismo poderia ser enriquecido pela educação artística (leia artigo), mas suspendeu o projeto por ajustes internos da Universidade, na mesma época em que retirou a participação do Instituto do projeto do Corredor Arte.

Aliadas ao amor, as ciências podem reabilitar os seres humanos necessitados, e não simplesmente observar friamente como eles buscam seus caminhos. Educadores e médicos também são pessoas com talentos e com carências, assim como seus alunos e seus pacientes. A sociedade tem feito uma separação entre os que sabem e podem e os que não. Mas novos caminhos têm sido descobertos.

Na arte e na psicologia, também novas visões precisam enriquecer e complicar o entendimento dos mundos que permaneceram nos porões e nos sótãos da humanidade. No século XX, rompemos o preconceito de considerar as crianças como seres inferiores; já estamos entrando na compreensão da arte de esquizofrênicos e pessoas com diversas síndromes mentais e físicas. Precisaremos de novos rótulos, não pejorativos, para referir-nos às "especialidades" do ser humano e aos tipos de expressão plástica, cognitiva e emocional.
Imagens: Corredor Arte (1) e F. A. Vidal (2)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Capela central da Universidade Católica

Nesta segunda-feira (3 de maio) concluí o trabalho escrito para o pós-graduação que iniciei em março de 2008 na Universidade Católica. O curso de mestrado em Saúde e Comportamento tem uma década de existência e minha dissertação teve o número 141.

Durante dois anos estive pesquisando em torno a como apresentar a análise fatorial de uns resultados do WISC-III, a 3ª escala Wechsler de inteligência para crianças. Pelotas é o principal centro nacional de estudo desse teste, coordenado por minha orientadora, a doutora em psicologia Vera Lúcia Figueiredo.

No exame oral, expus 25 minutos (tinha direito a 30) e logo os professores da banca usaram mais 50 minutos para suas avaliações (também tinham direito a 30, quinze minutos cada). A decisão deles foi aprobatória, com exigência de modificações no texto escrito. As contribuições críticas da doutora Elizabeth do Nascimento, pesquisadora do WAIS-III em Belo Horizonte, foram muito valiosas para melhorar o meu trabalho, que a Católica exige publicar em revista especializada.

Às 18h, assisti à missa na capela do campus I, convidado por minha irmã Maria Eliana, religiosa que colabora na pastoral da universidade. O padre Germán Varela (dir.), que conduz estas missas, faz atendimento espiritual e é professor na UCPel de disciplinas sobre psicologia religiosa. Há duas missas por semana: segundas-feiras 18h e quartas 8:15.
Sendo recinto católico, a capela tem altar e sacrário, mas a única imagem é uma escultura do Cristo crucificado. A pequena construção foi feita há cerca de uma década, com os bancos colocados em forma circular, o que facilita a proximidade sonora e visual. No entanto, a aparência externa é quadrada (abaixo).

A capelania universitária tem serviços pastorais - como atendimento espiritual, minibiblioteca e aulas de violão - e funciona num prédio vizinho à capela.
Excepcionalmente, fiz esta autoalusão para explicar o parêntese que abri nestas semanas, deixando o blogue sem informação - mesmo estando a cidade em várias atividades culturais.
Fotos: UCPel (3) e F. A. Vidal (1-2)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Grilhão Negro, livro lançado antes da Feira

Em outubro passado, um livro teve lançamento modelo: editado em Passo Fundo por uma equipe de professores universitários, o trabalho foi apresentado sucessivamente em quatro cidades brasileiras: Passo Fundo, Porto Alegre, Pelotas e Campo Grande (leia o relato de Carlos Cogoy).

Os historiadores Mário Maestri e Helen Ortiz organizaram trabalhos de onze autores e intitularam o livro Grilhão negro: ensaios sobre a escravidão colonial no Brasil, constituindo-se em novo exemplar da coleção Malungo (Editora da Universidade de Passo Fundo), coordenada pelo professor Maestri, toda ela dedicada à escravidão negra no Brasil e nas Américas.

Em Pelotas, a atividade de lançamento consistiu numa mesa redonda em que três dos autores (foto abaixo) falaram de aspectos de suas pesquisas: Mário Maestri (organizador), Hemerson Ferreira e Ester Gutierrez, professora da UFPel e patrona da Feira do Livro em 2005.

O volume, de 330 páginas, traz os seguintes artigos:
  • “O centenário da Abolição: comemoração e protesto”, de Adelmir Fiabani, da U. Federal de Tocantins;
  • “Arquitetura e escravidão em Corumbá”, de Elaine Cancian, da U. Federal do Mato Grosso do Sul;
  • “Arquitetura pelotense: charqueada e cidade”, de Ester Gutierrez, da UFPel;
  • "Entre a história e o mito: narrativas apologéticas da escravidão no Brasil”, de Hemerson Ferreira, mestre em História pela UPF;
  • “Demografia escrava das charqueadas pelotenses”, de Jorge Euzébio Assumpção, mestre em história pela PUC;
  • "Sob as sombras do passado: histórias escravistas no noroeste sulino”, de Leandro Daronco, mestre em História pela UPF;
  • “Os cativos do Botucaraí”, de Maria Beatriz Eifert, mestre em História e professora da UPF;
  • “Rompendo grilhões: insurgências de negros escravizados nos sertões do Mato Grosso”, de Maria do Carmo Brazil, professora da U. Federal da Grande Dourados;
  • “A reabilitação historiográfica da ordem escravista”, de Mário Maestri, professor da UPF;
  • “Estância das regiões de Rio Pardo, Bagé e Vacaria (1819-1889)”, de Setembrino Dal Bosco, mestre em história pela UPF; e
  • “Exploração do trabalho indígena no Mato Grosso – séc. 18 e 19”, de Zilda Alves de Moura, doutoranda em História pela UFSC.

Imagens da web (3º Milênio)

sábado, 31 de outubro de 2009

Dicionário Histórico de Pelotas, um presente para os 200 anos

Nunca imaginei encontrar uma notícia cultural inserida num currículo Lattes. Na verdade, foi a autora desse currículo, Fernanda Oliveira da Silva, que me deu a informação, quando lhe perguntei sobre o andamento do Dicionário Histórico de Pelotas, cujo projeto ela ajudara a coordenar em 2005 (leia uma versão), quando aluna de História na UFPel (hoje ela cursa mestrado na PUC-RS, já afastada da equipe do Dicionário).

A tal notícia era que o livro estava agora no prelo, com o texto pronto e esperando publicação, talvez para a próxima Feira do Livro, que começou ontem (30), na Praça Coronel Pedro Osório.

O projeto (leia o relatório inicial) teve uma equipe de colaboradores que produziram verbetes para uma pequena enciclopédia sobre a história de nossa cidade desde o século XVIII até 1960, compilando informação até então dispersa. Além de Fernanda, identificavam-se os seguintes integrantes: Juliana Cabistany Marcello, Emmanuel de Bem, Caroline Meggiato. Como professores coordenadores: Lorena Almeida Gill, Beatriz Ana Loner e Mário Osório Magalhães.

O problema

A riqueza econômica e a importância política de Pelotas durante todo o Império (1822-1889) prolongou-se pela primeira República (1889-1930), produzindo uma sociedade culturalmente avançada, com artistas, cultores das letras e das ciências. A produção histórica sobre todo esse desenvolvimento focou aspectos ou fases precisas, sem nunca abranger toda a evolução da cidade.

Como resultado, a informação sobre Pelotas não era facilmente encontrável ou continha incongruências não estudadas, ocasionando perda de tempo para quem buscasse apenas uma referência pontual.

Objetivo

O Dicionário Histórico de Pelotas procura sanar esta falta, apresentando com rigor científico, numa obra única, uma visão sintética da cidade ao longo do tempo: sobre suas instituições e associações, por um lado, e seus acontecimentos, etnias, características econômicas, culturais e sociais, por outro.

Métodos

Para o fichamento de temas, a pesquisa começou em fontes secundárias (textos de história já existentes), discutindo depois em equipe as semelhanças e diferenças da informação, para homogeneizar a linguagem.

Elaboraram-se modelos de verbetes e uma lista com possíveis verbetes, divididos em eventos, povoamento e instituições; a redação foi entregue à equipe (estudantes e professores) ou a especialistas em cada tema. Foram detectados assuntos ainda não estudados pelas fontes secundárias, como associações extintas e de cunho estritamente popular ou a formação dos bairros.

Identificaram-se quais assuntos requeriam o uso de fontes primárias: fotos e documentos dispersos em cartórios, bibliotecas, jornais diários ou quinzenais. No cartório Rocha Brito, por exemplo, foram pesquisadas 115 instituições, muitas das quais já extintas.

Ao ver aumentar sem medida o número de verbetes, a equipe decidiu restringir a pesquisa, deixando de lado a elaboração de biografias. À medida que o trabalho avançava, os estudiosos sentiam a grande receptividade por parte de quem conhecia o projeto, tanto da comunidade científica como de instituições de preservação da memória da cidade.

Além da pesquisa de dados nas fontes e da redação dos resultados em cada assunto, a unificação dos verbetes foi uma tarefa complexa, pois deviam ter simplicidade, profundidade, correção histórica e uma homogeneidade de estilo.

Antes mesmo da publicação, alguns verbetes serviram de base para os programas de rádio do projeto Patrimônio Pé de Ouvido, financiado pelo Ministério da Cultura, UNESCO e BID. Um foi feito para a Casa da Banha (leia), prédio que já foi Quartel Farroupilha e sede de lojas como "Ao Novo Papagaio" (dir.).

A última versão do projeto do Dicionário é de 2008 (leia) e inclui um exemplo de verbete (abaixo) e a lista dos 186 temas escolhidos.

Hino. O Hino de Pelotas, cuja música é de autoria do maestro Romeu Tagnin e letra de Hipólito Lucena, foi composto para as comemorações do centenário de elevação à cidade, em 1935. A letra e a música foram escolhidas mediante concurso, sendo que no tocante à letra exigia-se que resumisse o assunto de forma acessível aos alunos das escolas primárias, possuindo para tal uma linguagem simples e não extenso número de versos. Concorreram 21 candidatos, e o resultado foi divulgado em 1º de junho de 1935. Teve início, então, o concurso para escolha da música que melhor se adaptasse à letra classificada. Concorreram 13 composições, escolhendo-se, em 5 de junho, o trabalho musical de Romeu Tagnin por unanimidade da comissão julgadora.

Esse júri era composto pelo Dr. Francisco Simões, pelo professor Milton de Lemos e pela professora Lourdes Nascimento. Sob a regência do maestro Romeu Tagnin e acompanhamento da banda do 9º Regimento de Infantaria, o hino foi cantado, pela primeira vez, em 7 de julho de 1935, por um coro composto de alunos da rede de ensino, previamente selecionados pelo referido maestro e pelo professor Milton de Lemos. Em conjunto com a bandeira do município, foi oficializado através da lei nº. 1.119, sancionada em 30 de Abril de 1962.

Fontes.─ BPP- Fundo DIV- 001. Diário Popular, 23 de maio de 1935; 25 de maio de 1935; 31 de maio de 1935; 1º de junho de 1935; 7 de junho de 1935.


(Fernanda Oliveira da Silva)
Imagens:
Blog Pelotas Vip (1-3)
POST DATA (5 nov 09)
A professora Beatriz Ana Loner, coordenadora do Núcleo de Documentação Histórica da UFPel, órgão que realiza o Dicionário de História de Pelotas, escreveu ontem para esclarecer o seguinte:
  1. Os responsáveis do projeto desde o início são os professores Beatriz Ana Loner, Lorena Almeida Gill e Mario Osório Magalhães, que em equipe assinam a concepção e a execução do Dicionário Histórico de Pelotas.
  2. Fernanda Oliveira da Silva atuou como bolsista até 2008, desempenhando atividades de auxílio formal aos organizadores. Sua participação na obra é como autora de alguns verbetes.
  3. A publicação não está em vista para esta Feira do Livro, mas sim para o primeiro semestre de 2010, em data que será divulgada. Ainda falta que os redatores concordem com a versão final dos seus verbetes e a fase final de captação de recursos.