segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Entre a arte e o vandalismo

Como se o graffiti já não fosse uma arte brincalhona, o grafiteiro fez duas autoalusões bem-humoradas: pintou-se a si mesmo(a) em posição enamorada e escreveu uma legenda com toque de ironia: "Vandalismo com Estilo". A pintura se encontra no portão do estacionamento da Odontologia, com entrada pela Félix da Cunha.
Foto de F. A. Vidal

domingo, 27 de fevereiro de 2011

As complicações do amor, para a psicanálise

Em junho de 2007, o psicanalista David Epelbaum Zimerman (dir.), conhecido psiquiatra gaúcho (leia uma biografia), foi convidado pela Sociedade Científica Sigmund Freud para falar sobre “As complicações do amor na clínica atual”. O título englobou dois encontros sobre o mesmo tema (a relação amorosa em geral), em alusão ao dia dos namorados segundo o costume latino (dia de Santo Antônio).

A primeira palestra foi a do dr. Zimerman — que veremos nesta nota — e a segunda foi conduzida por Marciara Centeno, psicóloga em formação psicanalítica, que falou das dificuldades do amor relacionando-as com a autoestima. As duas reuniões atraíram numeroso público jovem, principalmente da área profissional da psicologia e da psicanálise, e ambas duraram pouco mais de duas horas (sem evasão), indicador do alto interesse desse público.

Concentrando-se no psicanalista britânico Wilfred Bion (1897-1979), Zimerman abordou o tema à base de quatro emoções vinculadoras: Amor, Ódio, Conhecimento e Narcisismo. Essas tendências vêm sendo tratadas pela psicanálise desde Freud, passando por Melanie Klein e Bion. Sobre este tema, o próprio Zimerman publicou o livro "Os quatro vínculos" (ArtMed 2010, veja o sumário), escrito posteriormente a esta conferência em Pelotas (veja resenha de 2009), e anteriormente "Bion da teoria à prática" (ArtMed, 2003).

Sobre o primeiro elemento, o especialista disse que o amor é um vínculo recíproco, uma relação de ida e volta. Há vínculo amoroso entre a mãe e seu bebê, entre namorados, entre analista e paciente. Para Bion, vínculo é “toda relação de união entre pessoas ou entre partes internas de uma pessoa”. Freud estudou esse tipo de pulsões, as libidinais ou amorosas. Melanie Klein se deteve nas emoções negativas (ódio, inveja e culpa).

Por sua parte, Bion valorizou o desejo de conhecimento, que se manifesta como um amor à verdade, perseverante mas não rígido. Nas relações pessoais, essa “pulsão epistemofílica” (desejo de investigar e de saber) nos faz querer conhecer o ser amado — sem deixar de respeitá-lo — e querer que este nos conheça em nossa verdade interna.

A teoria de Bion inclui as outras duas tendências (amor e ódio), cada qual com seu lado bom e mau: o amor tem seu lado negativo na possessão asfixiante do objeto amado e o ódio tem expressão positiva na agressividade, necessária para defender-se, proteger, avançar, mudar, criar.

Como nossas emoções são construtivas e destrutivas, assim as dirigimos à pessoa amada: amando-a — na medida em que nossas partes internas estejam encontrando o amor próprio — e odiando-a, na medida de nossa raiva, dor, conflito, culpa. Se o amor predominar sobre o ódio, a relação evoluirá para bem; se o ódio predominar, a relação será destrutiva.

Também há pulsões narcisistas, conhecidas como “egoísmo” (lado ruim das tendências à autossatisfação). Sem uma dose certa de narcisismo (preocupação consigo mesmo) não poderíamos sobreviver nem gostar de nós mesmos. Um nome popular dessa tendência em grau bom é a autoestima.

Em cada pessoa, então, essas variáveis formam as configurações vinculares, os diversos modos de amar e ser amado. O amor considerado sadio joga com esses quatro elementos, analisados numa relação entre duas pessoas: cada uma delas amando, odiando e conhecendo a outra, e relacionando-se com as partes de si mesma (não só numa autoestimação pura, mas também com possíveis elementos negativos).

Quanto às complicações: há a relação narcisista, a configuração triangular, o sado-masoquismo, o vínculo “tantalizante”, eterna e desesperante frustração (assim nomeado por Zimerman a partir do mito de Tântalo). Outra complicação do amor é a chamada gamofobia ou evitação do casamento, por medo ao sufoco ou a ser adulto (veja reportagem).

Precisamos equilibrar-nos entre certo grau de idealização e as inevitáveis desilusões, seja na vida de casal, seja no âmbito da psicoterapia. A melhor relação amorosa será uma configuração vincular “suficientemente boa”, onde é preservada a admiração e as desilusões podem ser toleradas.
Imagens da web

Piquenique cultural na Baronesa

O domingo passado (20) foi um dia de sol em Pelotas, bastante adequado para atividades ao ar livre. Clima ideal para que o 3º Piquenique Cultural fosse um sucesso, pois tudo estava planejado para haver muita gente disposta ao encontro, no relax das férias.
O projeto foi lançado em outubro de 2010, na Praça Coronel Pedro Osório, e foi reeditado em novembro, no parque do entorno da Rodoviária. O 3º piquenique seria em dezembro no Parque da Baronesa, mas foi impedido pela chuva, e toda a organização teve que ser reformulada.
Os piqueniques culturais buscam o encontro comunitário diurno em torno à criatividade popular, em praças e parques da cidade. São reunidos parceiros que oferecem serviços e espetáculos, para que as pessoas vivam de modo positivo suas vinculações e seu lado criador e de lazer.
A iniciativa nasceu como uma derivação do fechamento da Casa do Joquim; esse projeto durou pouco mais de um ano como casa de cultura para exposições e palestras durante o dia e shows entre 19h e meia-noite.
Os mesmos objetivos foram redirecionados com imaginação, e tiveram ainda maior apoio, somente com as dificuldades climáticas (que em Pelotas não são poucas, mas são menores que as burocráticas).

O piquenique cultural na Baronesa trouxe cerca de vinte atrações, entre elas as seguintes:
  • uma exposição de fotos de Adriane Santi (acima),
  • um documentário da mesma Adriane, com bate-papo,
  • oficina de nanquim com Janete Flores,
  • coreografia para crianças com Brenda Furtado,
  • percussão e canto dos Anjos e Querubins,
  • Rádio Poste com Paulo Celente,
  • Feira ao Quadrado,
  • poemas urbanos com Daniel Moreira,
  • roda de grávidas com Isane D'Ávila,
  • feira de adoção de filhotes (dir.).
O Diário Popular, que iniciou há dois anos um tipo parecido de feiras populares com o nome de Estação DP, deu um inédito apoio jornalístico ao Piquenique Cultural, publicando uma crônica após o evento, com uma foto muito emblemática do espírito familiar da iniciativa (o inédito é que o jornal dá cobertura posterior a pouquíssimas atividades culturais).
A matéria de André Amaral terminava assim (leia completa):
Preparados com uma toalha e uma cesta repleta de gostosuras, Diego da Luz, Márcia Espig e Carolina Tecchio chegaram acompanhados da pequena Rafaela.
Eles reconhecem a qualidade do espaço e acreditam que a realização deste tipo de evento proporciona ainda mais segurança aos que frequentam o local.
“A iniciativa acaba se tornando um programa muito bom”, opinou Diego
Fotos: Piquenique, Beatriz Rodrigues (3), Marcel Ávila (DP)
POST DATA (28 fev) Veja nos comentários um esclarecimento sobre a história e os objetivos do Piquenique Cultural.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Tia Yolanda Nunes faz 100 anos de vida

A professora Yolanda Nunes completou esta quinta-feira (24) cem anos de vida e foi homenageada por seus entes queridos mediante um testemunho no Diário Popular. Na verdade, é toda a comunidade pelotense que lhe deve uma homenagem em vida. Leia a seguir uma parte do texto.
Precisaríamos reunir rolos e rolos de filmes para poder rodar tanta aventura, tanta luta, trabalho e - principalmente - amor, amor às crianças. Quantas e quantas pessoas passaram por sua vida... Qual é o segredo dessa longevidade, dessa sabedoria, de ter tanto espaço em seu coração para amar tanta gente que foi chegando: uns nascendo, outros se agregando à família, outros trazendo amizade.

Nós, seus familiares e admiradores, queremos agradecer por toda a educação que por ela nos foi dada e pela lição de vida e de respeito que continuamos a ter o prazer de aprender por meio de tão especial pessoa.
Tendo dedicado toda a vida a seu trabalho como professora e alfabetizadora, a Tia Yolanda criou, após sua aposentadoria, a primeira escola infantil particular de Pelotas, o Recanto Infantil.

A história conta que o início foi em 10 de março de 1952, numa sala no Colégio São José. As crianças faziam, em cada um dos cantos, uma atividade diferente, daí o nome “Recanto Infantil“. Começou pequeno e se foi ampliando ao longo do tempo, sem nunca mais desaparecer.

Como escola pré-primária, o Recanto Infantil funcionou num casarão da rua Anchieta, esquina Almirante Tamandaré. Na época, o trecho ao sul da Praça Osório chamava-se Rua General Vitorino. A escolinha funcionava com níveis pré-escolares e algumas turmas do então Curso Primário, hoje Ensino Fundamental. Hoje ali se encontra um condomínio de apartamentos.

Em 1988, Dona Yolanda se "autoaposentou" como diretora - aos 77 anos de idade, depois de 36 anos do primeiro "recantinho" - passando seu empreendimento à professora Clarinda Wieczorek Coutinho, que dirige a Escola até hoje.

Os níveis superiores foram sendo oferecidos gradualmente, para que as crianças seguissem no "Recanto", até que em 1998, já completada a estrutura do Ensino Fundamental, os alunos adolescentes pediram a mudança do nome “Recanto Infantil“ para outro mais significativo para eles. Em votação de toda a comunidade escolar foi escolhido o nome de Castro Alves (veja uma biografia do Poeta dos Escravos).

Há treze anos, portanto, o que foi "Recanto Infantil" se denomina Escola de Ensino Fundamental Castro Alves, sob a mesma direção. A entrada principal (dir.) é pela Rua General Osório 366 (entre Gomes Carneiro e Três de Maio), com acesso aos níveis pré-escolares pela Gomes Carneiro (acima) e berçário Recanto Infantil pela Andrade Neves (informações disponíveis no Histórico da Escola Castro Alves).

Em março de 2012, a iniciativa da Tia Yolanda completará 60 anos. Caberia uma homenagem oficial do Município de Pelotas a sua querida educadora.
Fotos de F. A. Vidal

POST DATA
9-5-2013
Yolanda Nunes faleceu ontem (8), aos 102 anos.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Satolep de olhos cerrados

A galeria de arte JM. Moraes apresenta até esta sexta (25) a exposição “Satolep de Olhos Cerrados”, da artista plástica formada na UFPel Kelly Wendt. Será o último dia para apreciar esta série de imagens em diversos formatos sobre as casas semirruinosas de Pelotas ou, em seus termos, das arquiteturas lacradas que se encontram no centro e em todo o bairro do Porto.

Nesse mesmo dia às 18h, a artista conversará com o público, falando de seus trabalhos e do processo de criação, que ela desenvolveu no curso de especialização sobre patrimônio cultural.

Kelly contará, por exemplo, que desde 2009 realiza a pesquisa "Deolhoscerrados: Visões sem lembranças", construindo uma espécie de inventário desta falsa modalidade arquitetônica, fruto do acaso e do abandono.
Dezenas de casas desocupadas - e não sabemos se é um costume característico daqui ou se ocorre em outros lugares - são fechadas em portas e janelas com tijolos e cimento. A entrada fica impedida até o momento da demolição, para que vândalos e ser humano algum possa entrar (e não há nada lá dentro). O aspecto da construção é o de máscaras sem aberturas, lembrando personagens sem vida.
A artista mapeou essas ex-casas e armou vários jogos que semelham obras de adorno ou coleção, ao modo de catálogos de lembranças fenecidas. Os formatos são variados: vídeos, fotografias em diversos suportes, um mapa urbano (ironias à difusão turística) e até mesmo um álbum de figurinhas colecionáveis (R$ 20).

Várias exposições com este tema já foram realizadas por Kelly, uma das quais apresentada e analisada aqui no blogue (veja o post). Como ela é paranaense radicada em Pelotas, seu trabalho de pesquisa também se configura como um testemunho pessoal.
Temos o privilégio de ver a percepção da forasteira - não de sua primeira visita turística, mas uma elaborada, sutil e profunda visão, que talvez nenhum pelotense acostumado possa desenvolver, nem muito menos um turista deslumbrado se interessaria em fotografar.

O Álbum SatolepCromos é um trabalho paralelo à exposição e ao mesmo tempo faz parte dela como uma de suas obras. Trata-se de um livro para colecionar e colar as fotografias da Satolep De Olhos Cerrados, que podem ser baixadas da internet. A pesquisa foi realizada junto a Universidade Federal de Santa Maria sob apoio da CAPES.

O Ágape Espaço de Arte está localizado na rua Anchieta 4480 (telefones 3028 4480 e 8416 6762). Pesquise mais fotos e vídeos no blogue de Kelly De Olhos Cerrados e no do Espaço Ágape.
Imagens: K. Wendt (1), F. A. Vidal (2) e D. Meine (3-4)


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Pierre Dutot inclui Pelotas no mapa

O trompetista francês Pierre Dutot (dir.) esteve no Brasil por quarta vez, por ocasião do Festival Internacional de Música, em Pelotas. Ele já havia estado em eventos similares em Porto Alegre, São Leopoldo e Curitiba.

Por que sempre no sul do Brasil? Porque seu contato é seu ex-aluno Evandro Matté, regente da Orquestra UNISINOS e diretor do Festival de Pelotas.

O visitante não esconde seu contentamento por ter vindo a este curso internacional em Pelotas:
— Pelotas é uma cidade agradável; saio nas ruas e vejo que as pessoas estão felizes de estar aqui. Ver o teatro sempre cheio é maravilhoso.
Segundo Dutot, que leciona no instrumento há 23 anos, os alunos ganham muito na formação quando conhecem outras pessoas e outros lugares: trocando experiências, desenvolvem autonomia e descobrem seu próprio método (leia a notícia do SESC). Numa frase, ele resumiu o sentido deste evento:

— O Festival coloca Pelotas no mapa mundial da música e traz a oportunidade para esta cidade conhecer o melhor da música e ajudar na formação de seus jovens.

Dutot foi entrevistado por Brigida Sofia, para o Jornal do Comércio (leia a reportagem). Para ele, o Brasil é um daqueles países que vem dedicando maiores espaços à cultura, ao lado de México e Venezuela. “Bem diferente de Inglaterra, Alemanha e mesmo a França, infelizmente”, opina.

O esforço e a motivação dos estudantes também são pontos positivos nestes cursos internacionais, pelo qual ele anima seus alunos a irem à França. Vencida a barreira dos custos da viagem, o professor acredita que as chances de sucesso são altas, pois os brasileiros que chegam ao seu país (ele leciona no Conservatório de Bordeaux) veem oportunidades que os franceses não aproveitam tanto.

— O Brasil tem uma imagem muito boa na França. Sempre digo a meus alunos franceses: "Vão ao Brasil porque lá as pessoas estão sempre sorrindo”.

No vídeo abaixo, Pierre Dutot interpreta Lazy Trumpeter, do norte-americano Edrich Siebert (1903-1984), acompanhado pela Orchestre d'Harmonie de Lannilis, dirigida por Claude Maine (fevereiro de 2010, em Milizac, Bretanha francesa).


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Notas sobre o I Festival SESC

O primeiro Festival Internacional de Música de Pelotas fechou duas intensas semanas com sucesso na docência e na extensão: muitos alunos interessados nas aulas, muito público interessado nos recitais e professores de 24 modalidades vindos do centro do Brasil e de seis outros países (Uruguai, Argentina, EUA, França, Itália, Alemanha).

O Campus I da UCPel foi sede de cursos e viu seus corredores se encherem de música, como se ali houvesse um conservatório permanente. Acostumada com equipamentos químicos, a laboratorista Rosimeri de Souza (abaixo à dir.) pôde ver e ouvir por primeira vez uma tuba (esq.).

O paulista Luke Faro, que lecionou bateria de jazz, disse que o evento superou suas expectativas, tanto quanto ao público como aos alunos, com grande riqueza de trocas de experiência entre os participantes (leia a reportagem da UCPel).

No vídeo abaixo, uma apresentação dele com Nicola Spolidoro na guitarra e Lucas Esvael no baixo (2º Batukeiros do Sul, Porto Alegre, dezembro de 2010).

O sítio do SESC-RS foi fonte informativa sobre o Festival e as personalidades, muito mais que outros veículos. Em suas notícias informou que uma das violinistas do Festival era Camille Gomes Foletto (abaixo), integrante da Orquestra Sinfônica de Santa Maria. A jovem de 16 anos começou a tocar aos 4, e já foi aprovada para estudar música na UFSM. Veio a Pelotas com sua mãe e, assim como os demais músicos, participou de aulas, ensaios e apresentações com grupos formados no evento (leia a nota).

As irmãs Gabriela e Juliana Roehrs - respectivamente flautista e violinista da Orquestra da UNISC - vieram de Santa Cruz do Sul para este evento. Juliana veio para assistir a participação da irmã, mas não podia perder este Festival, mesmo como espectadora.

São somente uns poucos exemplos humanos de como este evento musical, que já nasceu grande, envolve artistas, educadores, comunicadores e um grande público que aprecia a boa música, transformadora da alma e da vida das pessoas.

Confira o post Versos para o I Festival SESC de Música e outras notas no marcador Festival SESC.



Foto: W. Lima (1-2) e Fecomércio (3)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

"Bastien e Bastienne" estreia em Pelotas

Francisco Dias da Costa Vidal redigiu o seguinte comentário sobre a apresentação de Bastien und Bastienne, KV 50 (ou 46b) de Mozart, por primeira vez em Pelotas, dentro do I Festival SESC de Música. O cronista de arte não menciona o lado fraco deste grande encontro musical: o pobre material de divulgação para imprensa, que por certo dificulta também o trabalho de um crítico.

No Diário Popular, que não destina espaço à crônica de arte nem à crítica especializada, somente a colunista social Marina fez um relato do concerto, em um parágrafo (leia).

É interessante destacar que esta miniópera cômica foi filmada com crianças, em 1979, pelo diretor francês Michel Andrieu (dir.). No vídeo abaixo, veja o trecho inicial do filme (105 min em total).


Deste concorrido, movimentado e exitoso Festival Internacional de Música, por certo o genial Mozart (1756-1791) não poderia estar ausente e a mostra de sua criatividade ocorreu no breve transcurso de sua picaresca ópera Bastien und Bastienne, posta em cena e intensamente assistida em nosso Theatro Guarany.

De início se tornou notório o excelente ritmo da peça, tão bem musicada pela Orquestra Unisinos e simultaneamente traduzida em legível e imediata divulgação, sem prejuízo nem do texto original, nem de sua musicalidade, aliás belamente vocalizada pelo disposto e bem ensaiado elenco.

Ao compor esta ópera, o talento do jovem Mozart recém dava demonstração de uma enorme amplitude e qualificação. Nesta quinta-feira 10 de fevereiro, essa “artística brincadeira” (Singspiel) captou a atenção dos presentes e, a muitos de nós, incluso o cronista, por primeira vez nos possibilitou: assistir com curiosidade, admirar e apreciar o primeiro trabalho de iniciante a um trabalho difícil, abrangente e sutil em seus detalhes e arremates. Assim, pudemos aplaudir longamente o gênio de um autor que, vindo ao mundo há mais de dois séculos, sempre será alvo de merecido festejo e valorização por sua ampla e qualificada obra, profundamente marcada por um talento inato, mas pelas adversidades que soube enfrentar e vencer com coragem e fé inabaláveis!

A curiosa aparição (na abertura desta obra de Mozart, de 1768) de um trecho melódico da Sinfonia nº 3 de Beethoven, de 1804, deve-se ao acaso (e não a um plágio de Beethoven, que não a conheceu), diz o verbete em inglês da Wikipedia.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Bravo pelo Festival

Transcrevo do Diário da Manhã de hoje (19) este artigo sobre o Festival SESC de Música. Foi escrito por Flávia Reis, Procuradora do Estado em Pelotas, antes dos concertos, mas é uma boa descrição geral do que aconteceu durante esta escola de verão, a primeira que acontece em Pelotas, inspirada nos antigos cursos internacionais de férias. Por duas semanas, estivemos presenciando excelente qualidade musical, daquela a que não estamos acostumados.

Na foto, o trombonista argentino Pablo Fenoglio, dando aulas na Fábrica Cultural Música pela Música. Abaixo, a Orquestra UNISINOS, dirigida por Evandro Matté.

Pelotas merece

É com imensa alegria e orgulho que vejo Pelotas sediar o 1º Festival Internacional SESC de Música, transformando-se em palco de exímios instrumentistas, músicos do mais alto gabarito, que nos engrandecem com seu talento e sua virtuosidade.

Transformando-se não seria expressão correta. Pelotas é, por natureza, morada de grandes artistas, valorosos músicos, poetas, maestros. Não é à toa, certamente, que foi a cidade escolhida para sediar este tão importante evento, e acolher outros mestres.

Estética perfeita: músicos e seus instrumentos circulando por esta linda cidade, que guarda história e beleza, e reverencia arte diuturnamente.

Creio que estes quatorze dias de Festival hão de suscitar em cada pelotense (de nascimento ou por adoção)este elevado sentimento: esta cidade faz eco ao que há de mais sofisticado (no sentido da pureza e preciosidade) e termos de arte, em todas as suas formas de expressão.

Por isso, cala em mim o sentimento de que a vivacidade demonstrada pelo público em cada BRAVO! há de guiar esta cidade para a promoção da cultura, especialmente para a recuperação de nossos teatros (S.O.S. Teatro Sete de Abril), enfim para o aplauso sempre de pé às iniciativas de levar arte a todos, como um direito irrenunciável.
Fotos do Festival: M.Vasconcellos (1), R. Stoduto (2)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Festival de Música SESC seguirá em Pelotas

Hoje à tarde o Diário Popular anunciou na internet (leia a nota) que o SESC estava planejando a segunda edição do Festival Internacional de Música, tendo em vista o sucesso da primeira, que termina amanhã (19).

A boa notícia foi confirmada esta noite pelo gerente de Educação, Assistência e Cultura do SESC/RS, Silvio Bento. Ao finalizar o concerto na Catedral, ele anunciou que o evento seguirá sendo realizado em Pelotas, e já tem data marcada: a começar na segunda-feira 9 de janeiro de 2012 e terminando no sábado 21 desse mês. O público que até com cadeiras de praia lotava a Catedral aplaudiu e gritou com entusiasmo.

A parceria entre o SESC, a Prefeitura Municipal, UFPel, UCPel e empresas deu certo, mas a aceitação do público - disse Bento - foi fator crucial para seguir realizando o encontro em nossa cidade. O êxito evidenciado nos teatros cheios levou a confirmar essa decisão, já esboçada nos dias prévios como uma possibilidade.

Maestro da Orquestra UNISINOS e diretor artístico do Festival, Evandro Matté foi o grande incentivador de que o evento se fizesse em Pelotas e agora é um dos partidários de que sua continuidade seja também aqui: a cidade tem as condições físicas e a comunidade deu pleno apoio. "O Rio Grande do Sul estava precisando de um festival assim. Desde 1982, não havia um evento deste porte no Estado", disse à reportagem da UCPel (leia nota).

Mais um presente para o Bicentenário de Pelotas, a ser comemorado durante o ano de 2012.
Foto de F. A. Vidal

Versos para o I Festival SESC de Música

Como é harmônico ver Pelotas repleta de notas musicais

Em cada esquina, um instrumento

Em cada quadra, uma clave de sol

Em cada rua, uma nova melodia

Em cada bairro, um show!

Durante 14 dias a cidade é mais musical, cultural e artística

Com música de Concerto, Instrumental e Jazz para resgatar nossa história

São sete países, com violino, clarinete e saxofone

Aprendizado e intercâmbio de experiências, com contrabaixo, trombone e canto lírico

São recitais, com sonhos e desejos

A música de câmara vem acompanhada de trompa, flauta e piano

Os concertos, com violoncelo, fagote e oboés

São apresentações de música instrumental, com alma e vibração

São sonatas de entrada franca

Onde o som se propaga e a música se espalha

Do Conservatório de Música para a Arena do Laranjal

Da Catedral São Francisco de Paula para o salão do Clube Brilhante


Viva intensamente, se entregue para esta sinfonia

Faça parte desta imersão musical

Participe desta orquestra, dance este tango

Entre neste jazz, toque nesta banda

Seja aluno, professor, espectador, músico

Permita-se viver esta frequência que no ar se propaga

Sinta esta onda entrar em suas veias

Venha flanar nesta escala musical pelotense

Faça sua própria música!

Jornalista (com graduação e mestrado), Taciane Corrêa não é de Pelotas mas viaja pelo mundo e escreve em jornais de várias cidades, com muita imaginação, graça poética e alegria de viver (veja sua autodefinição no blogue Pedagogia Criativa). Segundo seu perfil no Facebook, nasceu em Jaguarão e mora hoje em Porto Alegre.

O escrito acima saiu domingo passado (13) no Diário Popular (leia o texto completo), à base de dados de divulgação do Festival Internacional SESC de Música.

Fotos: M. Vasconcellos (1), W. Lima (2-3), T. Corrêa (4)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O retrato da Presidenta

No dia de São Valentim (14) o pintor Romero Britto dedicou uma tela à Presidente Dilma (veja a notícia). A respeito, o cronista Rubens Amador recorda uma homenagem que não deu certo, feita pelo inglês Graham Sutherland para os 80 anos de Churchill, em 1954. Na época, o quadro foi ao fogo, literalmente, só restando um esboço (abaixo à direita).

No Salão Nobre da Prefeitura (esq.), os prefeitos de Pelotas não renunciam a seus retratos fotográficos, nos últimos 120 anos (veja o post). Já para um retrato mais autoral se requer maior compreensão da linguagem das linhas e das cores.


Quando Sir Winston Churchill era um dos mais destacados membros do Parlamento Britânico, no auge da sua popularidade, certo pintor de relativo nome desejou homenageá-lo oferecendo-lhe uma pintura alentada em dimensões, a qual, no entender do artista, seria uma obra que ficaria como uma espécie de logotipo de Churchill. Foi preparada uma sessão especial para o descerramento da pintura ante todos os pares de Sir Winston. A expectativa era enorme.
Chegado o momento da retirada do manto que envolvia a pintura, Sir Winston, como mandava o protocolo, puxa a referida cobertura e surge a figura imponente de um varão.
Nota o homenageado que passa um frisson pela seleta platéia. Há um certo desconforto, pois - pela quase unanimidade - a pintura não revelava em nada os traços marcantes do grande estadista. Este, ante o quadro, olhando-o, e virando-se para os demais presentes, ele também decepcionado e indignado, britanicamente falou (ele, Churchill nas horas vagas tinha na pintura o seu hobby preferido):
— Meu caro pintor e colega, devo confessar-lhe que sinto que não me pareço com o retrato feito pelo ilustre pintor. Desagradou-me tanto, devo confessá-lo, que não pretendo levá-lo para casa, menos ainda permitir que seja exposto numa parede do Parlamento, como aventaram alguns generosos colegas. Penso nos tempos em que meus pósteros não venham a me reconhecer, tal como eu neste momento e, parece, todos os meus colegas. Agradeço a homenagem, mas declino dela.
A sessão foi encerrada e do pintor nunca mais se ouviu falar.
Lembrei esse episódio a propósito de um fato ocorrido esta semana no Brasil: um artista que nunca ouvi falar, chamado Romero Britto, pernambucano, para publicar o quadro que pintou da presidenta Dilma Rousseff, pagou de seu bolso, como matéria paga, 20 mil dólares, como noticia a imprensa (Correio do Povo, terça-feira 15-02-11).
Pois este jovem pintor, amante das cores berrantes, sem a arte de um Andy Warhol ou de uma Frida Kahlo, trajando um terno verde-limão, esquisito para nossos padrões, solicitou uma audiência e fez pessoalmente a entrega da pintura feita por ele, que, cá para nós, em nada se parece com a retratada: num estilo plano único, como as fotos bizantinas, cabelo lembrando um turbante da Carmem Miranda, na face sorridente há marcas em cada bochecha que, para mim, não traz nada de arte e nada representam.
É bem verdade que a foto do Correio do Povo (dir.) mostra uma Dilma dizendo algo para o pintor (ameaçando-o? — pois traz um dedo erguido em situação que lembra um proctologista). Desculpem a comparação, mas achei tão ruim a oferenda, de tão má qualidade — apesar das amizades apregoadas de S. Sª, o pintor, na nota — que fiquei pensando: Onde será que a Presidenta vai colocar tal retrato?
Juro que nessa hora não desejava ser o secretário da Presidenta...

Imagens: F.A.Vidal (1), BBC News (2), Evaristo Sá-AFP (4)
Veja aqui a foto oficial do "Dilma Pop"

Leonardo D´Ávila, um feliz início no pincel

Leonardo Betancurt Cardoso D´Ávila, jaguarense residente em Pelotas, foi um dos premiados no 1º Salão da Primavera, realizado em novembro de 2010.

A obra apresentada foi o óleo "Tarde com amigos" (dir.), que obteve o terceiro lugar e chamou a atenção de Orayl Barcellos de Araújo, um dos curadores do Salão.

Com 35 anos de idade, era a primeira vez que Leonardo participava num concurso artístico, após somente dois anos de pintura como hobby, exercido num canto da sala, em seu apartamento no centro da cidade.

Foi logo incentivado pelo produtor artístico a fazer uma exposição individual, e o convite foi para o Espaço de Arte do Hospital São Francisco de Paula. Assim, por todo este mês de fevereiro, sete pinturas de Leonardo D'Ávila podem ser apreciadas no corredor de entrada do hospital universitário (Marechal Deodoro 1123). O portal da UCPel não mencionou, mas o Diário Popular deu destaque a esta mostra, com meia página no Caderno Zoom (edição impressa de 2 e 3 de fevereiro). A matéria destaca os elogios de Orayl :

— Ele é autodidata, mas muito maduro. Quando vi o quadro, percebi seu potencial, principalmente na questão das cores. Pelotas não pode perder esse artista.

Leonardo trabalha como acupunturista, já estudou engenharia, e vem descobrindo seus modos e técnicas de expressar-se pela arte: esboça com carvão e pinta somente a óleo. Como exercício de exploração e autodescobrimento, ele reelabora quadros de pintores reconhecidos.

Um exemplo dessa técnica de inspiração é "A fonte" (dir.), uma releitura que Leonardo fez do quadro "O Hussardo" (abaixo) de Carl Spitzweg (1808-1885).

Se o mestre alemão se concentrou na expressão realista e contrastante das luzes e sombras matinais, o aprendiz gaúcho mostra mais sua amabilidade e otimismo, evitando as asperezas e preferindo os traços curvos.

Vemos, assim, que o curador teve bom olho para detectar um artista em potencial e aqui o apresenta em fase de preparação para dizer com autonomia própria suas futuras mensagens.
Imagens: F. A. Vidal (1-2) e da web (Der Usar)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Comentando Shakespeare em filmes

Em 2007, os debates sobre filmes vinham tendo um crescente uso em Pelotas: estudantes de Filosofia da UFPel, professores do novo curso de Cinema, o recentemente criado cineclube Fanopeia do CEFET (hoje IFSul) e um grupo de estudos da Sociedade Sigmund Freud se baseavam nesse recurso audiovisual. Também o Instituto Simões Lopes Neto vinha usando com frequência esse método. O recurso audiovisual serve para estimular o pensamento e a afetividade, e dá frutos na educação, na psicoterapia e no trabalho artístico.

No segundo semestre daquele ano, o Instituto Profícere apresentou o ciclo de encontros mensais “A obra de Shakespeare no cinema-tragédia”. Foram projetados 4 filmes sobre textos de Shakespeare e a professora de inglês Flávia Adriana Andrade palestrou sobre cada livro e filme (Hamlet, Otelo, Rei Lear, e Romeu e Julieta).

Realizadas em sextas-feiras de agosto a dezembro, das 19h às 22h, as reuniões tiveram participação da palestrante e quatro pessoas como público espectador-debatedor. As versões de cinema escolhidas para análise estavam modernizadas, não dando a impressão de terem sido escritas há 400 anos. Um quinto filme (Macbeth) estava no programa mas terminou sendo cancelado.

O preço de 15 reais por sessão (destinado a cobrir a vinda da professora desde Porto Alegre) pôde ter causado o baixo número de interessados, mas nos anos seguintes novos ciclos foram realizados no Profícere de forma gratuita, com maior público. A experiência de 2007 foi positiva para os poucos participantes, mesmo tendo evidenciado a diferença socioeconômica e cultural que ainda temos com a capital.

No passado, Pelotas pôde estar em bom nível cultural, mas hoje não passa de uma cidade do interior que se esforça para acompanhar o ritmo moderno. Estaremos pensando em caveiras de mortos ilustres por ser desenterrados e vingados? É possível escolher entre ser ou não ser quem se é? Viver ou não viver?

O Shakespeare multivariado

Cada livro do dramaturgo inglês (1564-1616), é uma obra-prima que admite múltiplas leituras: literária, histórica, filosófica, psicológica, política. No cinema, a primeira filmagem de um texto seu foi em 1899 e até hoje se produzem novas versões de suas obras, inclusive transpondo-as a vários gêneros. Várias óperas e balês já se basearam em peças suas.

O filme “Planeta Proibido” (1956) se baseou em “A Tempestade”. O musical “Amor, Sublime Amor” (1961) revive a história de Romeu e Julieta no bairro West Side de Nova Iorque. A história do “Rei Lear” foi transportada ao oriente por Akira Kurosawa no filme "Ran" (1985) e trazido à época moderna por Jean-Luc Godard (King Lear, 1987). “A Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) inspira-se em “Sonho de uma Noite de Verão”, obra shakespeariana que também Woody Allen reciclou a seu modo, em "Comédia Sexual de uma Noite de Verão" (1982).

Hamlet, uma tragédia edipiana

Baseada numa lenda da Dinamarca do século V, a história de “Hamlet” começa com a notícia da morte do rei desse país. Seu irmão Cláudio ocupa o trono e desposa a rainha viúva, mas o príncipe Hamlet acha que foi Cláudio quem matou seu pai para ficar com o poder (e com sua mãe). Cria-se um ódio mútuo e um tenta matar o outro.

A peça admite uma leitura política, mas se estrutura como um dramalhão familiar, e nesse sentido Sigmund Freud a comparou com o Édipo de Sófocles ("A Interpretação de Sonhos" e “Um Estudo Autobiográfico”). Ernest Jones desenvolveu o tema no livro "Hamlet e o complexo de Édipo" (Hamlet and Oedipus, 1949). Para assumir o poder (ao lado da rainha), Hamlet e Édipo, cada qual em seus contextos, se enfrentam à figura paterna, assim como cada um de nós precisa ocupar o lugar do genitor do mesmo sexo, para passar da infância à maturidade — é o que explica Freud.

Escrito cerca do ano 1600, “Hamlet” já inspirou uns 70 filmes dramáticos, desde 1907 até hoje. Os mais recentes são o de Kenneth Branagh (1996), situado no século XIX mas bem apegado ao texto original, e a versão de Michael Almereyda (2000), ambientada na neurótica vida americana dos dias atuais. Este último “Hamlet” foi o escolhido para abrir este Ciclo de Filmes Comentados, no Instituto Profícere.

Veja abaixo a cena em que a namorada Ofélia (Julia Stiles) devolve cartas que Hamlet (Ethan Hawke) lhe escreveu, enquanto os dois são espiados por Cláudio e pelo pai dela. Nesta modernização, a espionagem é feita mediante um microfone oculto, e tudo está rodeado pelos vertiginosos arranha-céus de Nova Iorque, inclusive as ainda existentes Torres Gêmeas.
Imagens da web


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Carmen Garrez vê Frida Kahlo

Carmen Garrez formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela UFPel, em 1986, e desde então vem dedicando-se às artes plásticas, especialmente à pintura naïve e aos conteúdos femininos (leia nota deste blogue).

Com seu próprio sítio como vitrine virtual (link aqui), mantém-se produzindo, vendendo e comunicando-se com seu público no Brasil e em outros países.

Em 1990, Carmen foi premiada pela Bienal de Arte Mística (Governador Valadares, MG) e pelo Concurso para a capa da Listel da CTMR (Companhia Telefônica Melhoramento e Resistência), em Pelotas. Também ilustrou as capas de 3 livros de Manoel Magalhães: “Guerra Silenciosa" (1992), “Dois Textos Marginais" (1995) e “O Abismo na Gaveta” (1999).

Desde 1988 até 2007, a artista participou em mostras coletivas no Brasil, EUA e Europa (a próxima é em agosto de 2011, no México). Por outro lado, conta em seu currículo, no mesmo período de 20 anos, seis exposições individuais: Espaço de Novos na Prefeitura (Pelotas, 1989), Centenário da Revolução Farroupilha (Piratini, 1989), Espaço de Arte do Banco do Brasil (Pedro Osório, 1997), Sociedade Científica Sigmund Freud (Pelotas, 2000), Corredor Arte da FAU-UFPel (Pelotas, 2002) e Galeria da CliArte (Pelotas, 2007).

O ritmo das exposições individuais de Carmen (uma a cada 3 anos, em média) é bem mais baixo que o das participações coletivas (uma anual), e não por falta de produção, mas exatamente pelo contrário: sua criatividade está sempre gerando ideias e entregando obras, sem que reste muito tempo para montar exposições.

Um de seus quadros recentes mostra uma Frida Kahlo no estilo de Carmen Garrez, tropical por fora e melancólica por dentro. Belas cores rodeiam a imagem da mulher, como se a própria natureza quisesse adorná-la, com aves, flores e fundos celestes. Talvez para compensar a dor que a deixa amarrada a um corpo limitado e limitante; talvez para que a tristeza não a imobilize totalmente.

Nesta imagem, no entanto, é só a alma que se vê frustrada e constrangida, pelo menos em seu lado feminino. Será o seu lado masculino que se sente menos inibido para agir? As mãos não estão bem visíveis, e aparecem debilitadas (pendurando das orelhas). Os olhos pensativos não enxergam longe nem veem coisas tão belas; precisam de lágrimas, e a lua é que chora por eles.

Assim como a maioria dos bons e verdadeiros artistas, Carmen mostra como é possível e liberador transformar em limonada os limões que a vida nos dá. Mas as limonadas de Carmen nos parecem mais doces. Será indicativo de uma doçura interna maior, ou de um maior talento para processar a amargura que a vida nos apresenta? Um dia talvez saibamos.
Foto de Carmen: F. A. Vidal

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Perda de substância

A seguinte crônica de Rubens Amador é ilustrada por um quadro hiper-realista do pintor iraniano Iman Maleki (n. 1976).

A todo instante relendo sobre o caráter e o saber dos grandes homens do passado, sentimos que a humanidade vem perdendo também em substância.
Por que não surgiu nunca mais um Beethoven, um Liszt? Um Mozart? — para falarmos no mundo dos sons. E na escrita, por que não mais alguém parecido, literariamente, com um Vítor Hugo? Um Voltaire? Um Shakespeare? Por que os pósteros desses homens — nós — ficamos, como certos psicanalistas, rodeando, rodeando, em torno das descobertas de Freud há 100 anos, acrescentando muito pouco às idéias do genial pensador?
Temos que reconhecer que a qualidade do ser humano perdeu muito, na esteira do tempo. No lugar das criações imortais, como a estátua do David, de Miguel Ângelo; das pirâmides do Egito, e de outros monumentos imortais, criamos a cibernética, capaz de colocar um míssil a milhares de quilômetros, mas absolutamente incapaz de evitar a simples destruição dos mananciais de água indispensáveis à vida humana.
Quando me lembro que vivemos uma fase social em que grassa a corrupção, o tóxico, a violência de todos os matizes, penso em Goethe, por exemplo, paradigma de homem decente, além da genialidade que portava.
Ocorreu-me contar-lhes a passagem que li, um dia destes, sobre Frederico da Prússia, o ínclito morador de Sanssouci, o maravilhoso palácio de Potsdam.
Frederico era ávido da convivência dos grandes homens de seu tempo e quis atrair para si outro formidável espírito daquela época. Escreveu a Jean-Jacques Rousseau, oferecendo-lhe “casa, comida e liberdade”. Com tal convite, Frederico, o Grande demonstrou que era um mau psicólogo: Rousseau, homem misantropo de caráter e rebelde em seu apostolado, não era o homem indicado para compartilhar da corte prussiana. O autor do “Contrato Social” — livro que deveria semear os germens da maior revolução de todos os tempos, com ar respeitoso e ao mesmo tempo galhardo, respondeu ao convite que lhe fazia o formidável Frederico nos seguintes termos:
— Majestade, ofereceis-me asilo e prometeis-me liberdade. Mas V. M. se esquece de que tem uma espada e de que é Rei. Ofereceis-me uma pensão, quando eu nunca vos prestei um serviço. Haveis feito o mesmo com os bravos que perderam pernas e braços por vossa causa?...
Agora eu lhes pergunto, para terminar: “Ainda se fazem homens como os de antigamente?”

Renato da Flauta falece aos 75 anos

O jornalista Sérgio Cabral informa hoje (13) a morte do músico Renato da Flauta, ocorrida dia 25 de janeiro, aos 75 anos, e não noticiada na imprensa, nem sequer numa nota fúnebre. Após longo tempo hospitalizado, não resistiu aos problemas de saúde.

O colunista do Diário Popular recorda: Renato começou a tocar com Avendano Júnior, nos tempos antigos do Johnny Drinks, bar na Voluntários da Pátria. Depois passou pelo Perdidos e Achados, do irmão Nadir Curi. Também tocou muito no Bar Liberdade (Marechal Deodoro 753).

Na foto tomada do blogue Avendano Junior, o primeiro elenco do regional, na década de 1960: Renato Pereira (flauta), Aloin e Milton (violão sete cordas), Carlos Nogueira (surdo), Avendano Júnior (cavaquinho), Roberval Silva (voz e cavaco centro), João Carlos (pandeiro).

A Moviola Filmes está preparando um curta-metragem sobre o Bar Liberdade, e obteve o financiamento no fundo municipal Procultura em 2010 (leia notícia). No vídeo abaixo, o trailer do documentário, filmado em 2008 — na ocasião sem a flauta de Renato.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Pinturas de André Winn no MAB

O artista plástico André Winn está expondo três pinturas na MAB Gallery, uma das iniciativas culturais do Centro de Idiomas MAB.

As obras pertencem à série "Gente" e levam os números VII, VIII e IX (dir.).

Em junho de 2010, este blogue destacou o trabalho de André em duas exposições que então realizava (veja os dois posts). Ao propor o "cubismo urbano" na pintura, ele se aproximava ao conteúdo humano, que nesta mostra é o tema principal.

Diríamos que as pessoas - esboçadas entre linhas aparentemente caóticas e cores fortes e contrastantes - estão todas em situação de encontro e querendo expressar intensidade de emoções.

A exposição começou em fevereiro, no andar superior da escola (onde André estuda), e segue mais alguns meses, pelo menos até abril próximo.
Foto de F. A. Vidal

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Fragata Futebol Clube associa-se à UCPel

Em janeiro passado, na segunda-feira 17, a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e o novo Centro de Treinamento Fragata Futebol Clube (FFC) assinaram contrato de parceria.

O convênio foi assinado pelo Reitor da UCPel, Alencar Mello Proença, e pelo diretor do Clube, o ex-futebolista pelotense Émerson Ferreira da Rosa, conhecido como capitão da Seleção Brasileira em 2002 (na foto, com o microfone).

Émerson aposentou-se do futebol em 2009, após carreira profissional de 15 anos, e se dedica hoje a fomentar o esporte, a inclusão social e escolar, e a formação de valores esportivos e humanos.

Há poucos meses, o novo clube começou a selecionar adolescentes interessados em participar em seleções sub 13, sub 15 e sub 17, tendo em vista a participação já em 2011. A sede se encontra na Avenida Herbert Hadler, 1875 (setor do Distrito Industrial próximo à BR 116).

Nesta cerimônia, 60 jovens já foram apresentados e conheceram o centro de treinamento, que conta com três campos, alojamento, refeitório, vestiários, academia de ponta, departamento médico e diversas outras dependências (veja notícias de 2010).

Com esta parceria, a Universidade colocará estudantes e professores de Medicina, Fisioterapia, Psicologia e Direito, que farão prática na área esportiva. As negociações, que começaram em 2010, ainda pretendem ampliar a participação dos universitários de outros cursos.

— A ideia é aliar a UCPel com a imagem do atleta, e dar apoio a crianças para a área esportiva — disse a coordenadora de Extensão, Maria Clara Salengue (veja notícia da UCPel).

Além da formação técnica no esporte, os futuros jogadores terão também apoio de psicólogo, dentista e médico, acompanhamento e conscientização com os pais, palestras sobre drogas e programa de proteção ao meio ambiente.

— Nosso objetivo está baseado na formação de atletas profissionais de futebol, e mais ainda de cidadãos, porque o cidadão chega aonde quer — explicou Émerson.

O vice-presidente do Clube, Valdomiro da Silva, ressaltou:
— O nosso trabalho está a serviço dos outros clubes, pois ele atua como trabalho social. Émerson está dando um retorno à comunidade de Pelotas, onde tudo começou (v. Diário Popular de 2003 sobre sua história).

Imagens: UCPel (1) e FFC (2-3)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Padroeira de navegantes, Rainha do mar

A religiosidade popular confunde divindades e costumes rituais de origens diferentes. No caso de Nossa Senhora dos Navegantes, o costume de fazer procissão pelas águas chegou com os portugueses, no início do século XVIII, e no Brasil juntou-se às religiões africanas. Na Bahia, a equivalência católica é com Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Boa Viagem; no Paraná, a padroeira é Nossa Senhora do Rocio; em outros lugares, a denominação é "da Boa Esperança".
Cada 2 de fevereiro, em Porto Alegre e no litoral do Rio Grande do Sul, os católicos caminham e navegam com a imagem de um templo a outro, e os africanistas fazem oferendas diretamente nas águas a Iemanjá (o que não impede que alguns de um lado participem da festa do outro).

São tantas as semelhanças entre uma Orixá que preside o mar e uma Senhora que protege navios e pescadores que é mais difícil pensá-las como duas separadas do que como uma única figura com duas manifestações. Estudiosos da cultura encontram nelas uma só percepção da Mãe arquetípica, com traços divinos de amor e onipotência.

Além dessa duplicidade que se dilui no sincretismo, é maravilhoso ver como a romaria se conserva ou se transforma segundo seja terrestre ou aquática. Todos somos caminhantes/navegantes e temos a esperança de que a boa viagem não seja interrompida e sim aproveitada, como a vida deveria estar protegida de angústias. Essa esperança fica depositada na figura da Boa Mãe, o lado feminino de Deus.
Fotos de Norma Alves

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Canto para Giamarê

A compositora e intérprete Ligiamar Brochado de Jesus, a popular Giamarê, está hospitalizada, com um quadro clínico ainda não diagnosticado (afetada a visão, mas não a audição nem a fala).

A artista aceita com alegria visitas das 14h às 16h na Santa Casa de Misericórdia; para vê-la é só identificá-la pelo nome (Ligiamar), quarto 605 leito 34.

Cerca de vinte músicos organizaram shows especiais para arrecadar fundos para o tratamento da amiga cantora. Serão duas ocasiões, no Restaurante Ruella, Benjamin Constant 2036: sexta (4) e sábado (5), das 21h30 até depois da meia-noite (considerando somente 20 minutos por artista).

Sexta 4: Ana Mascarenhas, Janete Flores, Sônia Porto, Luciane Casaretto, Marco Primo, Alex Cruz, Possidônio Tavares e Maria Conceição.

Sábado 5: Daniela Brizolara, Dena Vargas, Biba Torres, Zé Ricardo, Celso Krause, Popó, Sulimar Rass e Ronaldo Pedra.

Uma noite: R$8. Duas noites: R$10. Informações e reservas: 9126 5202, 3278 3350.

No vídeo abaixo, produzido pela Moviola Filmes, trechos de ensaio do projeto "Giamarê e Odara: Tambores do Sul", com a voz de Giamarê e o grupo de dança e percussão africana Odara (todos de Pelotas).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Fotos refrescantes de Nauro Jr.


Retratos da Vida é o blogue de Nauro Júnior, fotógrafo da Zero Hora em Pelotas, que viaja pela região em busca de boas imagens. Há uns dias ele esteve no Parque Esportivo Recreativo Lobão, que é a sede campestre e centro de treinamento do Esporte Clube Pelotas. Ali ele inventou uma forma diferente de fotografar um dia de calor. Mergulhou sua máquina na piscina e tentou focar, ao mesmo tempo, em dois ambientes naturais separados.
O normal é mover-se só num deles, de cada vez, mas quando se tenta ver dois mundos com o mesmo olho ocorrem dificuldades para o fotógrafo: ajustar a distância dos objetos para um foco único, observar um visor tapado de água, comunicar-se com modelos que não ouvem, não perder a linha do horizonte, não engolir água. Cada foto do Nauro faz pensar nessas e noutras questões; o blogue dele está cheio delas, cada dia.
Superados esses probleminhas, vem o prazer para o espectador da foto: a sugestão de movimentos verticais e de oscilação horizontal, a umidade que refresca ou que afoga, luminosidades e cores que bailam, e a forte divisão dos dois mundos: o visível a olho nu e o subterrâneo, invisível para amadores. Somente com óculos especiais se pode ver debaixo d'água, debaixo do óbvio, debaixo do que a razão ensina.