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quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pelotas em inverno


Inspirado nos traços e na técnica do artista Leonid Afremov, o pelotense Mário Campello pintou uma vista da praça Coronel Pedro Osório. O ângulo é clássico para qualquer pessoa que conheça Pelotas, mas o olhar do pintor trouxe uma tonalidade europeia, talvez inusitada para quem fotografa nossas praças, a qual acentua e evidencia uma de nossas verdades locais: que nosso clima e nossa arquitetura têm algo a ver com a geografia e a cultura dos que nos colonizaram.

Enquanto os parapluies entristecidos mergulham no anoitecer, as árvores enrubescidas iluminam o Grande Hotel de Pelotas, este plantado aqui em 1928 para recordar a Europa do século XIX. Na época, os modelos e ideais urbanos eram esses prédios com sacadas, desvãos, sótãos e cúpulas. Contudo, nada tão pelotense como este jogo de lusco-fusco e umidade. Mesmo num conteúdo visual nada de surpreendente, o artista nos cativa com esses aspectos formais: viscerais, pegajosos e ancestrais.

De acordo à postagem consultada, a imagem está no Facebook desde setembro de 2012. No entanto, ela foi publicada em 26 de maio deste ano. Técnica: óleo espatulado sobre tela de 50x80 cm. Veja aqui o autor pintando, em março de 2015.
Imagem: Facebook

domingo, 29 de março de 2015

De Rio Grande a Pelotas, voo em 10 minutos


O consultor em informática Rodolfo Nützmann veio de São Paulo a trabalho e, no retorno, filmou o voo de Rio Grande a Pelotas, pela empresa NHT, a bordo de um L 410 UVP-E20, da fábrica tcheca LET Aircraft Industries. O percurso por terra é de 57 km, feitos hoje em dia em 40 ou 50 minutos. Neste caso, o voo foi realizado em 15 minutos, no dia 24 de fevereiro de 2012, das 18h17 às 18h33, com velocidade média de 220 km/h. Coisa rotineira para viajantes, mas uma aventura inusual para quem conhece estas cidades somente no chão ou nas águas.

O autor do vídeo incluiu comentários explicativos, ao modo de um guia turístico; no entanto, é preciso dizer que Pelotas não data de 1758, pois a primeira urbanização da freguesia somente foi autorizada em 1812. O ano referido é o da concessão das terras locais ao sesmeiro Thomaz Luiz Osório (v. histórico de Pelotas e da cidade de Rio Grande).

O rio que se vê no minuto 10 é o Canal São Gonçalo (historicamente denominado Sangradouro da Mirim, pois se acreditava que fosse o escoadouro das águas da Lagoa Mirim em direção ao mar). Seu principal afluente, visível na filmagem, é o Arroio Pelotas, patrimônio natural e cultural da região, antigamente conhecido como Rio das Pelotas.

Em um minuto, o avião sobrevoa todo o centro urbano e entra a seguir no grande bairro das Três Vendas, contornado em mais 4 minutos. O pouso é feito no Aeroporto Internacional de Pelotas, extraoficialmente conhecido como Bartolomeu de Gusmão. Em março de 2015, está em processo de aprovação no governo federal o nome oficial de Aeroporto João Simões Lopes Neto. Justamente no presente ano comemora-se o sesquicentenário do nascimento do escritor pelotense (1865-1916) e o centenário de sua morte.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Chover no molhado, chover no inundado

Fernando Osório e Guilherme Wetzel formam um amplo espaço, que raramente inunda.
Hoje a esquina do shopping Zona Norte ficou intransitável por um par de horas (fotos de S. Machado).
Como acontece com frequência na região de Pelotas, baixa e úmida, uma forte chuva de poucos minutos alagou ruas e calçadas. A expressão "chover no molhado" é verificada com frequência, inverno e verão. O diferente foi que, desta vez, mais casas se viram afetadas e os carros estacionados ficaram tapados até acima das rodas em áreas que raramente inundam. Não houve feridos nem desabrigados.

O Facebook foi fonte de muitas imagens e algumas gozações com o governo municipal (v. Diário Popular). Cidadãos de caiaque faziam um protesto mudo e risível (jornal registrou um deles); veja foto de um navegante não virtual no MetSul. No meio da tarde, num sobrado da Voluntários, foi o andar de cima que inundou primeiro, com a água vazando para o térreo (vídeo aqui).

Canalete da Argolo foi inundado pela rua (fotos F.Añaña).
As primeiras gotas caíram às 14h30 e o toró somente aliviou às 17h, com reinício após as 19h. A imensa nuvem negra que chegava pelo sul indicava que a quantidade de "recurso hídrico" seria abundante.

Um ponto que é raro ver-se inundado é o da chamada "curva da morte", ante o centro comercial Zona Norte (foto acima). Ali, o estacionamento da Guilherme Wetzel ficou um lago, evitado por carros e ônibus.

A ampla área da Marcílio Dias com Sete de Setembro era outro lago; mas o estacionamento nessa esquina era elevado e não molhou o interior dos carros (vídeo de Thiciane Gomes). Cenas semelhantes foram vistas em vários pontos, com pessoas ilhadas, precisando de barcos.

Pelo canalete da Argolo, a vizinha tentava atravessar a rua sem ver o chão (foto à direita), e quase sem ver o canalete, que, desta vez, estava sendo tragado pela rua, o canal maior. Leitores do jornal Tradição enviaram fotos dessa área, que inunda com qualquer chuva. Na Anchieta com Major Cícero, onde jamais alaga, a água começou a entrar na loja da esquina (ver mais).

Na esquina dos generais (Osório com Argolo), onde não há o canalete aberto, a água entrava pelas casas. Numa delas, com vedação da porta transparente, podia-se ver, desde dentro, que a altura do pequeno mar ia acima dos joelhos. Confira abaixo a impressionante e inédita imagem. Como desgraça pouca é bobagem, aqui não se chove mais no molhado, somente no inundado.

A porta transparente vedada permitia ver o nível das águas lá fora (foto J. Machado).
Fotos: Facebook

POST DATA
20-02-15
Veja mais 19 fotos do aguaceiro de ontem nas ruas do Rincão das Pelotas.
21-02-15
A informação (v. notícia) é que caíram 156 mm em sete horas da quinta-feira, mais que o normal para fevereiro (147mm). O momento mais forte da chuva teve 86mm em 45 minutos.
22-02-15
Vídeo de Débora Ramos no Facebook.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Novo projeto do Capitólio, o cine finado

Os organizadores do primeiro Noitão no Capitólio (2011) levaram 3 anos para retomar o projeto, e descobriram que não seria mais possível fazê-lo no antigo cinema, pois o dono daria, em novembro de 2014, uma nova finalidade à estrutura (a antiga Sala 2), sucata abandonada do mais longevo cinema de Pelotas, inaugurado em 1928, reformado em 1967 e fechado em 2007.

Quais seriam os "outros planos para a estrutura"? A expressão foi usada na reportagem de sexta (31-10) no Diário Popular que anunciou o segundo e último Noitão, exatamente no amanhecer de Finados (2-11).
O clima será de despedida. Após as sete horas de exibição, a sala não estará mais apta para o uso. Os organizadores adiantam que o aluguel do prédio retornará para o proprietário, que possui outros planos para a estrutura.
Se a antiga Sala 1, com 900 poltronas, virou estacionamento de carros, o mezanino teria vocação de estacionamento de motos? Uma lan house, talvez? Locadora de celulares ou de pen drives?

Teria que ser algo lucrativo, pois o prédio é imenso. Mas nada de livros ou filmes, pois a cultura somente traz prejuízo e desequilibra as finanças. Tampouco sonhos idealistas, por muito elevado que seja o 2º andar.

De um lado, a entrada de carros; de outro, o acesso à fantasia. No meio, o velho guichê desativado.
A resposta está à vista de quem passa pelo "Estacionamento Capitólio" (a ex-sala para 900 pessoas). Esta semana devem começar as obras para instalar o tal projeto (na ex-sala 2), que é precisamente financeiro, destinado a não dar prejuízo.

A expressão "Lotérica Capitólio" esconde duplo eufemismo metafórico. Dois enganos ao consumidor desavisado: uma loteria sem ganhadores e um cinema sem filmes.

Na Agência Lotérica, não haverá muitas apostas ou esperanças de uma vida melhor (a loteria da vida); o nome Capitólio não despertará aventuras ou fantasias de luxo (evocação do finado cinemão). Simplesmente, um guichê bancário recolherá o pagamento de dívidas, disfarçado com cores e, ainda por cima, em desajuste com as normas de acesso para idosos e cadeirantes. Quem quiser estacionar o carro terá a oportunidade de pôr em dia as contas, e quem precisar ir ao banco também poderá estacionar.

A mesma escada que antigamente despertava a imaginação agora servirá para expiar culpas. Ronnie Von poderá cantar sua letra dos anos 60, em paródia: o mesmo cine, a mesma sala, a mesma escada, o mesmo mezanino, tudo é igual, mas estou triste, porque não tenho você perto de mim...

Humilde sugestão: para não descaracterizar o projeto, o eufemismo poderá ser adornado com a venda de pipocas, cartazes de filmes e ar condicionado. O público saberá da falsa promessa, mas não haverá quem resista a uma pitada de fantasia.
Fotos: F. A. Vidal

terça-feira, 17 de junho de 2014

Laranjal, dois pontos de vista


Na visão do morador, o Laranjal é um bairro semirrural de Pelotas, esquecido pela Prefeitura, com ambiente tranquilo a maior parte do tempo, animais pelas ruas de terra, falta de iluminação, buracos e lamaçal. Em junho de 2014, Maria Bonita Comunicação gravou a fala da uruguaia Nancy Balbiani, há dez anos morando no Laranjal (acima).

Na visão do turista, o Laranjal é uma orla cheia de gente no verão e nos domingos de inverno e vazia no resto do tempo. Quando lotada, é um viveiro de sensações de prazer; quando vazia, um deserto que desperta as saudades dos tempos bons. Em junho de 2013, o porto-alegrense Paulo César Ribeiro reuniu fotos e vídeos da orla, elogiando o Laranjal como sendo um orgulho para uma cidade (abaixo).


Um terceiro ponto de vista, não representado aqui, é o do pelotense urbano, que visita a praia como turista, servindo-se dele como lugar de espairecimento, geralmente indo de carro, e em boa companhia. Conhece desde o Pontal da Barra até a Colônia Z-3, cultivando fetiches como o antigo Bar da Figueira, o Trapiche do Valverde e o calçadão de 2 km.

Todos gostam do Laranjal mas, desde suas visões diversas, não conseguem unir-se para fazer dele um ponto turístico de valor nacional. A foto de Fly Camera Pelotas mostra a rótula do Mar de Dentro, neste início de inverno, balizando a lagoa da natureza, a orla dos turistas e a cidade de tantos habitantes.

domingo, 23 de março de 2014

Travessias e travessuras nos bondes


Na segunda-feira 24 de fevereiro, na coluna LINHA DIRETA meu amigo Hélio Freitag fez uma referência aos bondes em Pelotas, associando tal lembrança à minha pessoa [v. post Saudosismo dos anos 50].

Eu, por conotação, associei o citado veículo a uma das casas onde morei quando menino. Vou falar um pouco dos bondes aqui, mas comecemos com a casa, que ficava na Rua Marquês de Caxias (hoje, Santos Dumont), quase esquina Voluntários.

* * * * * * * * * * * * *

Um belo dia, pedi para entrar naquela residência, identificando-me, e contando minha curiosidade em rever aquela moradia onde eu fora criança um dia. A senhora que me recebeu foi muito gentil e apreciou a minha vontade de rever o cenário de tantas “artes”.

Entrando na casa, a primeira coisa que fiz foi verificar como tinha ficado a cicatriz que eu fizera aos sete anos. Eram duas letras que escrevi com um ferro de soldar, quente, sulcando a porta de madeira do quarto da tia Dorina.
As letras eram DB, de Dorina Bastos, minha querida e inolvidável tia, que, um dia, mesmo sabendo que tinha sido eu que marcara a madeira da porta de seu quarto a fogo, ante a inscrição perguntou-me se havia sido eu que fizera aquilo. Saltei logo: “Não, não fui eu”. 
Depois me arrependi de ter mentido, mas já era tarde. Titia não ficou brava comigo e disse que aquilo era coisa de algum espírito. Na época, pensei que ela estava acreditando no tal “espírito”. Mas aquilo ficou em mim. 
Anos depois, eu já adulto, confessei-lhe. Ela disse-me que sabia quem era o autor, mas, como eu ia todos os dias buscar o pão na Padaria Industrial e ia no Armazém do seu Rosinha, defronte, ela me perdoou.
A Padaria Industrial ocupava este enorme prédio,
na esquina da Santos Dumont com Major Cícero.
Passando a mão na porta, no lugar, lá estavam, em discreto relevo, as letras DB que algum pintor procurara disfarçar, mas que só EU sabia o local ...e quem tinha feito aquele monograma.

Fui revisitando a casa, cheio de saudade de minha avó, que todos os dias fazia um bife na chapa para mim. Lembrei Mamãe. E depois cheguei ao pátio. Na soleira que dava para esse espaço, onde plantavam chuchus, e muitos cartuchos (copos-de-leite), tudo estava praticamente como era.

Mas naquela soleira havia outro segredo meu.

Com um martelo, eu havia pregado um parafuso enorme, que depois dobrei e bati até ele entrar na madeira da soleira, que era de lei. Pois lá estava ele enterrado ainda ali, gasto, havia dezenas de anos e só EU sabia daquele parafuso ali. Passei-lhe a mão, e naquele momento me senti a criança que fez aquela outra “arte”.

Senti-me emocionado. Feita a visita, agradeci a gentil senhora e retirei-me.


* * * * * * * * * * * * *
Bondes e ônibus na rua Aquidaban com General Canabarro (Rio Grande, 1957)
Agora entra o Bonde e minha convivência com eles. Safety (segurança) era como se chamava também aos bondes. Fui contemporâneo deles.

Eles nunca faziam a volta. Quando chegavam ao fim da linha, o motorneiro puxava e prendia a alavanca que deslizava no fio de alta tensão, por uma roda, dando energia para os “elétricos”, como também se os chamava. Então o motorneiro liberava a da outra ponta, virando todos os assentos para o lado oposto.

Naquele tempo, não havia muito automóvel e o bonde era o grande veículo popular. Eu gostava de andar de bonde. Custava duzentos réis a passagem. Brancas, escritas em azul, com original e canhoto. A “tripulação” constava do motorneiro, o vendedor das passagens, e às vezes subia o fiscal (quepe diferenciado por linhas douradas), que via se tudo estava certo. Era então a Light and Power (Luz e Força) que explorava o serviço. A empresa ficava onde hoje é a CEEE. Inclusive lá está ainda o grande galpão onde os bondes eram recolhidos após determinada hora da noite.

Abrigo de bondes na Praça Sete de Julho, entre a Prefeitura e o Mercado
(esquina em que um médico foi atropelado) 
No início dos anos quarenta, circulou um único bonde de cor marrom (os outros todos eram amarelos), que era de dois andares, tipo a maioria dos ônibus londrinos que ainda hoje lá circulam. Eu ia para as regatas nele, ano 39.

Dificilmente havia acidentes com os bondes. Mas mesmo assim, certa manhã, cedo, uma zorra (bonde-socorro, que carregava ferramentas para reparos), atropela e mata o competente e respeitado médico Dr. Paulo Campelo, entre a Prefeitura e o Banco do Brasil, então defronte.

A política (contra os americanos) foi que acabou com aquele serviço magnífico, que ao ser desapropriado, deixou muita gente rica com a compra e posterior venda daqueles trilhos, que eram as veias de nossa cidade. Vou contar-lhes um episódio que vivi com meu pai num daqueles “elétricos”.

Bondes vinham pela Santa Tecla, parando na Voluntários.
Eu tinha meus 8 anos de idade. Costumava jogar futebol defronte ao Armazém Furão, logo quem entra na Cerquinha, passando a Professor Araújo – ou brincava com a turma ali da Paysandú (hoje Barão de Santa Tecla).

Alguns mais ousados da turma costumavam se pendurar atrás dos bondes quando estes paravam na Santa Tecla com Voluntários e iam umas duas ou três quadras, “gozando”, dependurados. Só faziam isso os moleques de rua, mas nós os estávamos copiando.

Até que um dia resolvi também me pendurar num daqueles bondes por duas ou três quadras, e depois voltava a pé com outro amigo, para recomeçar tudo de novo. Passava as tardes fazendo isso, coisa que só moleques de rua costumavam fazer com grande destreza. Pois um amigo de Papai contou-lhe o que eu andava fazendo: me pendurando nos bondes!

O meu pai ficou bravo comigo e me disse que eu nunca mais fizesse aquilo porque, além de feio, era muito perigoso. Eu poderia me machucar – e, dramático, acrescentou – e até morrer!

Meninos pendurados (Rio Grande, 1957)
Fonte: The Tramways of Rio Grande
Claro que prometi que não subiria mais. E, tal como hoje – em relação à droga – os perversos fazem com os mais fracos, os mais velhos me diziam: “Tá com medo! Tá com medo”. Em verdade eu temia era o meu pai, mas tanto eles me gozaram que resolvi: dei um pulo, me agarrei na traseira do primeiro bonde que parou na Paysandú com Voluntários, desobedecendo a ordem que me tinha sido dada.

Mal o bonde arranca e pega velocidade – me lembro das pedras do calçamento correndo ante meus olhos – ouço alguém batendo nos vidros, por dentro, bem forte. Era o meu pai com um jornal na mão gritando:

– Só desce quando o bonde parar!

Assim fiz. E como era comum naquele tempo, meu pai me pegou por uma orelha e me conduziu por duas quadras até nossa casa, eu com a cabeça o mais alto possível, de lado, para aliviar aquele corretivo.

Não levei algumas palmadas. Mamãe impediu. Ainda sinto aquele “puxão de orelhas” e o compreendo. Só sei que nunca mais me pendurei em nenhum bonde para dar uma “gozadinha” por duas ou três quadras, copiando os moleques de então.

Mas confesso-lhes que gostaria de fazer tudo de novo, só para ter ao meu lado todas aquelas figuras que eu amei e que, junto com os anos que já vivi, foram como que se apagando, só voltando de vez em quando, como agora, com a feliz lembrança do Hélio Freitag.
Rubens Amador



Fotos: F. A. Vidal (1, 4), The Tramways of Pelotas (3)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Rua abandonada, moradores dinâmicos

João Jacob Bainy fica quase intransitável com a chuva, mesmo sendo ligação entre importantes avenidas.
Inusual protesto de vizinhos por buracos na Vila Silveira está movimentando a imprensa, tem página no Facebook e organizou interrupção do trânsito para esta quinta (6-3). A notícia está saindo em jornais e televisão (v. reportagem do Diário Popular Comunidade protesta por asfaltamento), como forma de chamar a atenção do poder executivo e dos vereadores em sua função fiscalizadora.

Um dos recursos publicitários usados é a criação de personagens, seja os que humanizam o problema (Dona Poeira e Senhor Buraco), seja a sátira política ao prefeito (Dudu Pescador) que supostamente já poderia tirar peixes das crateras inundadas. A campanha informal tem apoio de moradores da Vila Silveira e de pelotenses que simplesmente precisam de jipe para chegar à Francisco Caruccio.

Vizinhos ironizam com o ex-vereador.
A rua João Jacob Bainy tem uma parte asfaltada, em más condições (área residencial), e uma parte de chão batido, historicamente esburacada, tida como zona semirrural, fora dos mapas urbanos (acima). Esta via liga importantes avenidas, como a Francisco Caruccio, como opção de escoamento para a Fernando Osório, mas ainda não recebeu maior atenção do governo municipal.

Com a proximidade da instalação do grande Bairro Quartier nesta área da cidade (v. o post Bairro de primeiro mundo), é provável que este caminho semiabandonado ganhe, nos próximos anos, aspecto também de cidade progressista. Se depender da movimentação dos vizinhos, o asfalto será antes do próximo inverno.

Personagens pelotenses esperam exoneração.
Fotos: Facebook

POST DATA
7-3-14
Leia a reportagem Comunidade fecha rua João Jacob Bainy e promete novos protestos.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Rua General Osório em 1860


Este quadro ("Rua Augusta") representa uma cena da rua General Osório, entre Tiradentes e General Teles, há 153 anos. Trata-se de um óleo sobre tela (53 x 64 cm), pintado em 1950 por Francisco de Paula Faria Rosa Sobrinho numa recriação de outro, de 1860, de autoria de seu tio Francisco de Paula Faria Rosa. O sobrado à esquerda, de traços coloniais (na época, Rua Augusta nº 511), era a casa onde morava Faria Rosa, conhecido na família como Tio Paulo.

Segundo informação de Roberto Moura Bonini, descendente desta família de artistas, a obra original tinha tons mais escuros e maior riqueza de detalhes. O teatrólogo pelotense Abadie Faria Rosa, falecido em 1945, era outro sobrinho do pintor, que deste recebia grande inspiração e levou o quadro do tio para o Rio de Janeiro. Veja outros quadros de Faria Rosa no álbum Pelotas na arte, de Roberto Bonini.

domingo, 26 de maio de 2013

Rua Pelotas, no centro do Brasil

Asfaltada e arborizada, em bairro tranquilo de uma capital — assim é Pelotas (SP).

Desci a rua
Adentrou em mim ... melancolia

Geminados sentimentos
Asfaltados seus ladrilhos pavimentados
Revi a infância ... o ir e vir de um dia

Uma Pelotas que é periférica dentro da metrópole
A rua estava lá
Ar ... argúcias e amarguras
Continuei descendo em mim

Assim me revi correndo nela
Nu ... infância nua de saudades
Perspicaz ... amor por onde se nasce

E se vê toda a lembrança virar um nome
Essa nomenclatura faz sentido
Pois sinto o coração em clausura

Um vício de olhar para uma Pelotas que vivi
E desço deixando placas para trás
E aquele lar continua lá

Hábitat habitado ... habitual
Nossa Pelotas conceitual
Nossas janelas ...

Do lado de cá, uma Pelotas em construção
No coração da Vila Mariana, aqui em São Paulo, há uma rua. Dentro da selva de concreto e aço há uma pequena rua chamada Pelotas. Arborizada, calma e com traços de cidade pequena.

Nessa rua de casas antigas contrastando com prédios que arranham o céu existe uma linha tênue entre modernidade e casas geminadas. As pessoas andam a pé e sorriem quando se diz:

— Bom dia!

E os dias parecem bons na dinâmica da Rua Pelotas.

O novo trama-se à arquitetura antiga como plantas que cobrem fachadas de casas do século passado. Nada de mais nesse choque temporal, pois tudo condiz, tudo se ajusta e coabita.

Mesmo longe, paulistanos sabem de Pelotas.
No final da alameda ainda vemos os paralelepípedos originais que o asfalto não cobriu por inteiro. Isso em específico lembrou-me algo que qualquer pelotense nato lembraria.

Ao perguntar ao dono de uma banca de jornais, nas esquinas Pelotas com Humberto I, se ele já ouvira falar da Pelotas que deu nome à rua, ele sorriu.

— Todo o Brasil já ouviu falar sobre aquela cidade — ele disse.

Também contou-me sobre os filhos dos fazendeiros e seus frufrus. E rimos juntos sobre isso e outras histórias dessa cidade que se faz conhecer e nomeia uma rua muito simpática, encravada no meio da maior metrópole da América Latina.

É fato que Pelotas habita o imaginário Brasileiro e sua cultura permeia com elegância a cultura nacional.

Nathanael Anasttacio (SP)

O asfalto metropolitano nunca recobre totalmente as ruas de pedra.
Fotos: N. Anasttacio

Foto do Mercado antes do incêndio de 1969

Em 1968 o Mercado funcionava e o relógio marcava a hora certa.
Numa tarde de 1968, a torre do Mercado apareceu com propaganda de refrigerante. Eram tempos de guerra de colas multinacionais. Também era época de protestos em nome da liberdade de expressão.

Raul Gomes Nunes enviou a foto anteontem (24) ao Projeto Pelotas Memória (álbum Olhares sobre Pelotas). Ele conta que Flaubiano Santos e outros funcionários da Coca-Cola pintaram os painéis, subiram na torre e, mesmo sem autorização, afixaram a publicidade à tardinha.

No dia seguinte veio a ordem para retirar o anúncio. Mas o golpe publicitário fora conseguido: fazer a foto e deixar a imagem gravada para sempre.

Na guerra das colas (v. na Wikipédia), todo espaço vazio era ambicionado. Para chegar mais alto (no tempo e no espaço), a Coca hegemônica podia invadir um ponto tão emblemático como o Relógio do Mercado, içar sua bandeira e gritar ao mundo: "Pelotas é nossa!". A tomada da torre sintetiza como a cultura ianque ocupa os territórios de todo o planeta mediante o inocente domínio comercial.

O registro também é histórico para quem viveu os anos 60 e lembra os ônibus da empresa Esperança, os velhos fuscas e os Simca Chambord.

domingo, 19 de maio de 2013

Outro ex-cinema virou estacionamento


O antigo salão do Cine Rádio Pelotense converteu-se em estacionamento neste mês de maio de 2013. Com a próxima implantação da Zona Azul (estacionamento rotativo), esse espaço será muito mais requerido por quem quiser estacionar no perímetro central, bastante movimentado de segunda a sexta.

O antigo cinema de calçada já recebeu um supermercado [v. nota O Penúltimo Moicano (1962-1997)]. Logo uma igreja pentecostal esteve ali por uns poucos anos (v. Nova igreja em velha sala).

Segundo minha lembrança, antes de cada sessão as cortinas do Pelotense se abriam ao som do Tema do Êxodo, de Ernest Gold, que ganhou Oscar e Grammy de melhor trilha sonora em 1961 (ouça, no clipe abaixo, a gravação de 1962 para dois pianos). Com a orquestra, acendiam-se as luzes; logo, com a entrada do solo em piano, o mecanismo abria as imensas cortinas, lenta e solenemente, sugerindo que viria uma grandiosa sessão de cinema. Em alusão ao relato bíblico, "Êxodo" era um filme de guerra envolvendo forças israelitas.

Versão para dois pianos, de Ferrante e Teicher,
foi usada pelo Cine Rádio Pelotense desde a inauguração.

O Cine Capitólio, único cinema de Pelotas de 1997 a 2007, vem sendo usado há seis anos para acomodar veículos durante o dia (v. nota "O John Wayne dos cinemas"). Agora ele não está mais só como "ex-cinema que virou estacionamento" e Pelotas passa a ter duas dessas patéticas e grotescas "joias urbanas".

O que os dois prédios ainda têm e poderiam explorar (cultural, turística ou comercialmente) é um mezanino desocupado, sem serventia para estacionamento. Prefeitura e universidades poderiam interessar-se em ter um cinema de propriedade pública. Por única vez, a Sala 2 do Capitólio voltou à vida em setembro de 2011, quando estudantes da UFPel organizaram um Noitão de Cinema, exibindo três filmes para 300 pessoas (v. notícia no Diário Popular e nota com fotos no E-Cult).
Foto: F. A. Vidal

domingo, 10 de março de 2013

A cidade das ruas infinitas

O jornalista Emílio Pacheco é de Porto Alegre – cidade cheia de morros – e abriu seus olhos a uma especial característica de nossa cidade, que os pelotenses ou não percebem ou consideram monótona demais: a retidão e longitude de suas ruas. Em fevereiro de 2010 ele publicou a crônica "As ruas de Pelotas".


Em 1972, na 5ª série, tive uma professora de Português – aliás, "Língua Nacional", que era o nome da disciplina no primeiro ano da Reforma do Ensino – que sentia um orgulho imenso de sua cidade natal. Era a Dona Constança. Acho que não havia uma só aula com ela em que não ouvíamos falar de Pelotas. O assunto podia ser pronomes, verbos, objetos diretos e/ou indiretos, que invariavelmente entrava Pelotas no meio.

Certa vez ela pediu que escrevêssemos sobre a localidade onde havíamos nascido, abrangendo vários itens. Um deles era se a cidade em questão era bem traçada. Uma colega que vinha de São Paulo comentou em voz alta que iria responder "sim" a essa pergunta. A professora contestou na hora. São Paulo não é bem traçada, imagina! Nem Porto Alegre é, que dirá a capital paulista. Cidade bem traçada é Pelotas! Aí ela falou uma frase que eu nunca esqueci:

– Em Pelotas a gente olha para uma rua e enxerga o fim!

Eu tinha estado em Pelotas rapidamente no ano anterior, mas não observei essa característica. Voltei lá em 1974 e desta vez resolvi conferir. Espichei o olho em uma das ruas e, dito e feito, enxerguei o final. Não é possível! Dona Constança não exagerou! Guardei mais essa recordação por todos esses anos, mas prometi a mim mesmo que, se voltasse a Pelotas, faria mais uma verificação.

Pois no sábado passado, mais uma vez, pus-me a conferir o prumo das ruas de Pelotas. E constatei que elas não empenaram nem um milímetro. Continuam tão retas quanto em 1974.

Quando estávamos para ir embora, pedimos orientação de como chegar à saída para a estrada. Disseram-nos que deveríamos pegar a mesma rua do nosso hotel e ir em frente "até o fim". Foi o que fizemos. Seguimos por várias quadras em linha reta. Quando terminou a rua, terminou Pelotas. Dona Constança tinha razão. É por isso que a letra de "Pelotas", de Kleiton e Kledir (veja o post, penúltima estrofe), diz:

– O meu amor não tem fim / como uma rua infinita.



Fotos: F. A. Vidal e R. Marin

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Arquiteto opinou sobre pórtico grego

Antes da construção do pórtico grego defronte à sede da Academia Pelotense de Letras, o arquiteto Pedro Luís Marasco da Cunha escreveu O Portal da Discórdiaem agosto de 2012, opinando sobre argumentos contra e favor da colocação do monumento dentro do Parque. 

Pedro Marasco da Cunha
Sem se referir ao sentido do pórtico (homenagear a tradição cultural pelotense), Marasco da Cunha assegura que as colunas gregas têm tudo a ver com a arquitetura da cidade, mas não com o Parque. O mais adequado ali seria um projeto paisagístico. Ao longo desta postagem, transcrição de seu artigo, veja imagens de alguns pórticos gregos de prédios em Pelotas, construídos no século XIX e XX. 

Em novembro, o pórtico da Academia foi inaugurado (v. o post Um pórtico polêmico). Em dezembro, Marasco se elegeu membro do ConCult para o período 2013-14. 


O modelo é o mesmo desta fachada de 1887
 (Asilo de Mendigos, defronte à Academia)
Refleti, relutei antes de escrever, porém não me contive e aqui estou dando a minha opinião e, espero, contribuição para o polêmico tema. Como arquiteto e envolvido na cultura pelotense, sinto-me habilitado para tal.

Desde 2007 os membros da Academia Pelotense de Letras (APL) tentam homenagear, presentear Pelotas com uma obra – conhecida como Portal Grego – em frente à sede da entidade, cuja construção já foi iniciada, suscitando controvérsias e, mais uma vez, contestada pelo Conselho Municipal de Cultura (Concult).

Ironicamente, em Pelotas, orgulhosa de seus valores culturais, há uma falta de sintonia entre uma academia de intelectuais e um órgão municipal, ambos voltados à preservação e divulgação do nosso bem maior – a cultura – e que, por isso mesmo, deveriam trabalhar em perfeita harmonia.

Existem, a meu ver, equívocos dos dois lados, tanto dos defensores como dos contestadores do questionado pórtico ou portal.

Similar pórtico protege a entrada
da antiga Escola Eliseu Maciel (1883)
A imprecisão já começa pelo nome, visto que não aparenta se tratar de um simples portal, mas de uma construção arquitetônica de consideráveis dimensões, inclusive com estrutura de micro-estacas de concreto armado. Construção contígua à sede da APL que, se não altera as características daquele tradicional prédio, pode comprometer o visual e ser um elemento fora do contexto, segundo o Concult.

A argumentação para a não aprovação da obra, justificada por critérios tais como: "inadequada aos padrões da cidade" ou "não pertinência de um modelo com referencial exógeno e sem conexão com o padrão de nosso patrimônio histórico", soa como sentença surreal, fruto de um conceito (talvez preconceito) ou gosto pessoal dos membros do Concult e em desacordo com as evidências da realidade pelotense.

É óbvio que uma decisão de um conselho municipal responsável pela cultura não pode, singelamente, basear-se no que os seus membros – por mais qualificados que sejam – entendem por "bom gosto" ou "mau gosto", atitude mais condizente com o júri do Programa do Faustão. Imaginem se nós, arquitetos, ficássemos dependendo do gosto pessoal dos encarregados da aprovação dos nossos projetos na prefeitura, quantas e quantas obras espalhadas pela cidade não seriam construídas! Estaríamos à mercê dos humores dos burocratas de plantão; coisa de regimes totalitários.

No prédio moderno, o imenso e solene portal se inspira na Grécia Antiga.
Desta incoerência arquitetônica os pelotenses não reclamam.
Basta uma simples observação de qualquer leigo nas fachadas dos nossos prédios históricos – neoclássicos ou neorrenascentistas – para se constatar a presença de cariátides, frontões, arcos, colunas jônicas, dóricas, coríntias..., enfim, referências greco-romanas, nas quais não só a arquitetura, mas toda a nossa cultura ocidental tem origem.

Casa de loja maçônica
mescla diversos elementos
Portanto, o argumento de que o portal possui referencial "exógeno", desconexo com o padrão de nosso patrimônio histórico é algo absurdamente falso, além de ser uma afronta aos membros da APL, homens e mulheres cultos, professores, historiadores, escritores e poetas com obras publicadas, que muito contribuem à cultura de Pelotas.

Não simpatizo com a construção do portal da Academia, no entanto jamais utilizaria uma justificativa baseada numa argumentação inverídica e insustentável. Outros motivos poderiam ser apresentados, como o excesso de construções numa área onde deveria prevalecer o verde – no caso, o Parque Dom Antônio Zattera, antiga Praça Júlio de Castilhos (nome que, aliás, deveria ter sido preservado).

Minha sugestão seria, ao invés da APL gastar R$ 20 mil em mais uma construção no Parque, um projeto paisagístico no local com árvores e bancos. Uma iniciativa bem menos custosa, simpática e ecológica, evitando toda essa polêmica em torno de um portal, considerado por alguns como um "presente grego" à Princesa do Sul.

Pedro Luis Marasco da Cunha

Pórtico da Academia Pelotense de Letras, após a inauguração em novembro de 2012

Fotos: Facebook (1) e F. A. Vidal (2-6)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A escada que não quer calar

Esta foto apareceu no Facebook esta noite e em poucas horas conquistou os leitores. O Pop Center Pelotas, nome próprio do novo shopping popular (que tem um só andar), também tem conquistado a simpatia dos compradores. A pergunta despertou criativos comentários (selecionei metade).

Qual seria a intenção da pessoa que projetou esta escada no novo camelódromo?

Matheus: é pra quando dá enchente neguinhu se salva

Monica: Se o projeto incluir um segundo pavimento,ta explicado. A escada daria para um corredor/passarela.

Fabiane: eu já descobri...vc me deixou curiosa e eu fui la perguntar...kkkkk

João: Talvez está no papel ainda uma saída de emergência..

Felipe: Isto é uma plataforma para saltos ornamentais! Para pular na piscina que se forma ali quando chove. Jogos Olímpicos Pelotas 2050!

Gabriela: escada para o céu

Rosângela: levar um tombo.....kkkkk

Tania Nicolette: ficar alguem de guarda ? aahahahaha

Núbia: Tentar suicídio?!?

Lessandro: Simples!!! Na parte de cima vai ser futuramente um estacionamento (além do outro que será construído no antigo local onde eram as bancas). Assim sendo, ali na parede onde aparece os tijolos em cinza, será aberto e colocado a plataforma de concreto de acesso ao interior do estacionamento, bem como, por lógica, também será aberta a outra parede de tijolos cinzas na parte de baixo, e peloo visto a escadaria vai além, dando a opção das pessoas irem direto para a rua (pois podem apenas querer estacionar no local mas ñ irem ao camelódromo). Bem lógico quando se olha com atenção.

Ane E Carlos: Nada é por acaso!!! Mas aqui a primeira opção é sempre uma critica.

Fernanda: Deve ser sua tese de conclusão do curso de Engenharia...não, Desenho Técnico...não,brinquedo de construir casinhas....ops! aguardemos,vem mais construção do lado direito !!!

David: é uma escada de acesso ao segundo pavimento provavelmente é lógico

Vinicius: Claro, David, é uma escada de acesso sim, vem de brinde uma marreta para derrubar a parede do 2º pavimento para poder entrar, provavelmente, é lógico!

Othavio: pode ser que o estacionamento possua mais de um andar, e essa escada dê acesso à ele. Sabendo que o estacionamento será construido ao lado, essa é uma hipótese lógica. E sobre a parede fechada, pode ser que quando construirem o estacionamento, botem portas nas paredes.

Clovis: é escada para incêndio ou para enchente por ali tem ok

Liliane: A escada que vai pro nada...

Samuel: construções pelotenses

Tania: é para quando os funcionários estiverem estressados, subirão as escadas e ao chegar no ultimo degrau de joelhos levantam as mãos para o céu e pedirão perdão por todos os votos equivocados que deram ao longo de sua vida.

Anahí: a escada misteriosa FPDSLFJKLKSDJFLÇDJF impossível não rir disso... rir pra não chorar

Marlene: Mas bah tchê, o que é isto ?

Adilson: Gente, pode ser o que quiser, mas que ficou ridiculo antecipar esse trecho, isso ficou. kkkk

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

O epigrama do poeta se cumpriu entre nós

O Supremo Castigo
Em todos os aeródromos, em todos os estádios, no ponto principal de todas as metrópoles, existe – quem é que não viu? – aquele cartaz..
De modo que, se esta civilização desaparecer e seus dispersos e bárbaros sobreviventes tiverem de recomeçar tudo desde o princípio - até que um dia também tenham os seus próprios arqueólogos - estes hão de sempre encontrar, nos mais diversos pontos do mundo inteiro, aquela mesma palavra.
E pensarão eles que Coca-Cola era o nome do nosso Deus!
Mário Quintana (Caderno H).

Ponto zero do Fragata. O cartaz sugere que todo o bairro pertence a um grande patrocinador (foto 2010).
Foto: F. A. Vidal

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Mercado, um postal para Pelotas


O Mercado Central, em reformas há três anos, será apresentado à população por segunda vez hoje (20), a partir das 18h, com uma solenidade (às 19h 30min) que incluirá discursos, apresentações artísticas e Papai Noel. O momento marca o fim do processo de restauração, mas sem que ainda as bancas estejam ocupadas, o que ocorrerá depois de fevereiro, em data que dependerá da decisão do futuro prefeito.

No dia dos 200 anos (7 de julho de 2012), o prédio foi aberto à visitação por um par de horas, sem estar terminado nem ter oficializado seu mix comercial. O processo iniciou em 2008 e foi pensado para um ano e meio, ficando os comerciantes distribuídos em locais provisórios, até 2010, segundo se calculava. A reforma anterior foi feita há cem anos, quando se instalou o Relógio, trazido da Alemanha. No fim da década de 1960, um incêndio destruiu totalmente o Mercado, mas o prefeito Alves da Fonseca decidiu recuperá-lo.

Após décadas de usar um espaço em franca decadência, a saída deles em 2009 gerou resistências e protestos, e muitos deles voltarão a instalar-se em 2013, mas em condições bem mais exigentes. A comunidade espera ter um Mercado ao mesmo tempo tradicional e moderno. Leia a notícia oficial publicada ontem (19).
Foto: Rafa Marin

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Um pórtico polêmico

Foto de Carlos Queiroz sugere união entre a casa e sua "entrada".
Um pórtico é o espaço de entrada de uma grande construção (como um templo ou um palácio) que soleniza o conjunto e o ingresso a ele. É um elemento arquitetônico da Grécia Antiga que se disseminou pelas demais culturas.

Modernamente se aplica também a cidades; temos, por exemplo, o impressionante portão de Gramado, o pórtico com farol em Santa Vitória do Palmar, o pórtico de entrada a Rio Grande.

Ainda hoje Pelotas é uma das tantas cidades que não têm um pórtico especial que assinale a entrada a seu perímetro urbano.

Com sede própria há uma década, a Academia Pelotense de Letras sentia a falta de uma entrada digna. A antiga construção, que já foi escola, não conta com vestíbulo nem com cercas de proteção: quem chega de fora já entra ao salão, sem preâmbulos (veja nota com imagens da casa).

Presidente reeleita mais de uma vez nestes anos, a escritora Zênia de León propôs há uns cinco anos um pórtico grego para esta casa. O projeto foi questionado (notícia de julho passado) — e ainda é — mas obteve as licenças formais e foi inaugurado este sábado (10), sem que a polêmica diminua. Tem relação com o parque? Tem relação com a Academia? Tem relação com os 200 anos de Pelotas? Deveria ficar na entrada da cidade ou em outro logradouro público?

Prefeito e acadêmico Fetter Jr. inaugura o monumento.
O prefeito Fetter Júnior, que como escritor é também integrante da Academia, recebeu simbolicamente o pórtico como um monumento dedicado à tradição pelotense e o descreveu como um novo ponto turístico da cidade (notícia do Diário Popular, no mesmo sábado). Mais exato seria dizer que o ponto turístico é o parque Dom Antônio Zattera e este pórtico, um de seus tantos monumentos.

O portal da Prefeitura na internet também não esperou a segunda-feira e emitiu a notícia este domingo, com fotografias (veja a nota).

A estrutura superior contém o lema Per aspera ad astra (literalmente, "pelas asperezas às estrelas"), em letras análogas ao nome que está na fachada, "Academia Pelotense de Letras".

Crase com acento agudo usava-se até os anos 40.
Abaixo de cada par de colunas que sustenta essa estrutura, há uma placa:
  • a da esquerda diz "Á Tradição Cultural de Pelotas em seu Bicentenário" (com acento agudo no A), como se vê na foto (dir.);
  • no da direita se lê "Academia Pelotense de Letras, Zênia de León, 2012".
Alguns veem o pórtico como um monumento bonito e significativo, enquanto outros o consideram irrelevante e até sem sentido estético, histórico ou urbanístico — opiniões que eram emitidas e publicadas antes que fosse construído. Agora que a ideia saiu do papel e ocupa o espaço público, pode e deve ser avaliada pela população.

O novo apêndice arquitetônico tem a virtude de chamar a atenção visual e de suscitar discussão na comunidade, mas ainda uma quantidade de falhas entorpece os seus bem-intencionados objetivos:
  • o pórtico foi pensado para a sede da Academia, mas não serve de abrigo nem facilita a entrada ao visitante, deixando a casa com o mesmo problema estrutural,
  • os encontros que se realizavam na sombra das árvores passarão a ser feitos sob o rigor do sol,
  • a estrutura destaca muito mais a Academia como entidade (com inspiração na Grécia Antiga) do que a tradição da cidade (identificada com a Europa renascentista e ainda com elementos africanos), ambas fortemente ancoradas no passado,
  • o destaque à Academia fica ainda mais evidenciado pela "assinatura" da presidente como autora do pórtico (na placa da direita) e pelo uso do lema em latim (sem clara relação com Pelotas),
  • Pelotas tem vários prédios com colunas gregas, mas construí-las em 2012 é extemporâneo, e ainda mais em desacordo com o estilo da casa para o qual foi feito,
  • uma cidade com consciência turística poderia sim ter um pórtico de entrada, e o debate sobre sua construção, desenho e lema deveria ser feito por todos os segmentos sociais,
  • a gafe da crase com acento agudo (foto acima) não fala bem da função linguística da Academia; fica talvez como anacronismo, lembrando que era nesse formato (Á) que se escrevia há cem anos (veja notícia de 1912 no Correio do Povo).
Restará à comunidade pelotense incorporar este novo elemento em seus costumes e sua vida cultural, relacionando-se mais intensamente com esta associação literária que pretende conscientizar nosso passado e acompanhar-nos, mesmo com asperezas no caminho, às altas estrelas do futuro.

Monumento em forma de pórtico, dedicado à tradição cultural de Pelotas

POST DATA
3 fevereiro 2013

Em agosto de 2012, o arquiteto Pedro Marasco da Cunha emitiu uma opinião profissional sobre a localização do monumento, que ilustrei com imagens de outros pórticos na arquitetura pelotense (veja o post).


Após a publicação da presente nota, ainda no mês de novembro de 2012, a Academia fez a correção no acento do "A" que contrai preposição e artigo. 


Fotos: C. Queiroz (1), R. Marin (2-3), F. A. Vidal (4-6)

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Kenzo Tanaka, artista benfeitor de Pelotas

A Assessoria de Comunicação da Prefeitura Municipal acaba de informar a morte do professor Kenzo Tanaka, ocorrida sexta (26) na cidade de Tsuyama, Província de Okayama, no Japão (veja nota). Natural de Osaka, completou 94 anos em julho passado, afetado pelo mal de Alzheimer.

Artista plástico e ensaísta, Tanaka concebeu o projeto da Praça Jardim de Suzu, que inicialmente ficaria ao lado da Rodoviária de Pelotas, depois seria no aeroporto, e hoje se localiza na avenida República do Líbano (dir.). Por burocracias municipais, o projeto ficou parado e foi sofrendo alterações, sem chegar a realizar as ideias originais. Vinte anos depois, ainda não se concretiza plenamente.

A praça homenageia a irmandade entre Suzu e Pelotas, primeiramente firmada por um acordo da Assembleia de Suzu em 1963. Era a primeira cidade japonesa a ser irmã de uma brasileira.

O professor universitário japonês visitou Pelotas pela primeira vez em 1969 e posteriormente voltou em 1993, quando concebeu o projeto da praça, que teria inclusive árvores trazidas do Japão (veja uma minibiografia escrita em 2008 pelo pelotense Luiz Carlos da Lessa Vinholes).

Tanaka foi condecorado pelo Governo do Distrito Federal em 5 de novembro de 1994, com a Medalha do Mérito Cultural. Em dezembro desse ano, obras suas foram expostas na Sala Frederico Trebbi, da Prefeitura de Pelotas. Em 2008, quando do centenário da imigração japonesa ao Brasil, outra comitiva visitou Pelotas, liderada pelo também professor e artista Eishun Tanaka (veja a notícia).
Foto ASCOM

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A roda fazia nossa infância girar

Todos os dias eram para nós Dia da Criança se conseguíssemos ir brincar na praça. A roda centrífuga nos dava a magia de viajar no mesmo ponto do espaço, girando com outros astronautas na mesma espiral. Hoje ela seria para nós a máquina do tempo, se pudéssemos ver outras crianças ocupando ali nosso lugar. Éramos felizes e não sabíamos.

Mas, como vimos há dois anos (v. Poética do vazio na Praça Osório), a roda saiu da pracinha de brinquedos, para não voltar mais. Quando Mara Braga era criança, sua felicidade foi fotografada e agora essa imagem nos serve como máquina do tempo, para voltar aos anos 60, e recordar (ou descobrir) a época em que o Edifício Embaixador (esquina norte da Barão de Butuí) ainda estava em construção.

sábado, 7 de julho de 2012

Chove na Princesa

Engana-se quem pensa que, numa cidade chuvosa, a água simplesmente cai na vertical e encharca o terreno. Além da pluviometria científica, há ampla e profunda subjetividade neste fenômeno da natureza.

Com o vento, as gotas se espalham e molham na horizontal tudo o que encontram. Mesmo caindo pura, a água exige às pessoas enorme trabalho de limpeza, secagem e conservação de paredes e janelas. A chuva complica a vida dos outros.

Quando vem como garoa imperceptível, a chuva fica sendo um pranto do céu ou um choro das almas que sofrem. Se chega furiosa, é um castigo que aprisiona os viventes, seja no interior das casas ou ao relento das esquinas inundadas. A chuva é emocionante e exasperante.

Como habitantes de zona chuvosa, os pelotenses têm vasta experiência com a invasão aquática. Nossa água até se deixa navegar; mas ela penetra os tetos das casas e as roupas nos armários, como fantasmas possuindo corpos. Por consequência, também invade nossos pensamentos - que não podem ser enxugados de tristezas e angústias inconscientes - e nossas percepções da realidade, que vivem embaçadas de gotículas homeopáticas que nos tapam a visão da paisagem.

A umidade é a única praga que foi expulsa do deserto egípcio (pior que mosquitos, gafanhotos, chuva de cinzas e o mundo em trevas) e ficou ligada a certos lugares, os focos de umidade. Com ou sem essa maldição, Pelotas leva o nome de uma embarcação cujo fim não é tanto cruzar distâncias maiores, mas impedir o afundamento de quem navega.

A véspera do aniversário de Pelotas teve forte chuva, mas ela se retirou à noite e deixou o ar gelado para as celebrações. Hoje (7) o sol apareceu, mas de casaco grosso. Após a chuva de ontem, o poeta decifrou a umidade pelotense em poucas linhas.

Princesa
Nos dias sombrios,
a umidade se espalha nos muros
e nas casas velhas da Princesa.
 

Em alguns pontos chora;
vê-se suas lágrimas escorrerem parede abaixo.
 

No tracejar da umidade,
vislumbro antigas ruas cujo som,
apurando os ouvidos,
pode ser percebido.
 

Lá fora, agora, chove.
Nos cantos sombrios a cartografia de sempre,
meio à selva de liquens.
 

O manto da Princesa é feito de liquens.
E de caramujos fosforescentes.
Caramujos que caminham;
por isso o andar da Princesa é tão lento.
Manoel Soares Magalhães
Foto: F. A. Vidal [Deodoro esq. Voluntários]
Texto poema: Cultive Ler