domingo, 30 de setembro de 2012

Divisão urbana e cultural: pedra e asfalto

Na composição de Roberto Dias, duas épocas de uma cidade que pavimenta as ruas para agilizar o trânsito de veículos. Tudo era de pedra, veio o asfalto atropelador e deixou sua faixa preta. Até mesmo o transeunte preferiu o caminho mais moderno e menos ecológico, como se este o pudesse levar mais rápido ao futuro.

O recorte fotográfico também eliminou a visão do cruzamento entre ruas (Princesa Isabel e Gonçalves Chaves) e remarcou a simplicidade da fronteira humana, verdadeira linha divisória entre mundos e tempos.

A uma quadra dali (Sete de Setembro com Gonçalves Chaves), um poeta de rua escreveu o seguinte sobre a mesma dicotomia de mentalidades:

Os homens vestiam-se de carro
e eu descalçava as sandálias
pra tentar sentir com os pés
a pele da cidade.

(Marchioro)

Fotos Facebook (1) e F. A. Vidal (2)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Tributo a Miles Davis


O trompetista e compositor de jazz Miles Davis morreu em 28 de setembro de 1991, aos 65 anos. Foi um dos mais influentes músicos no século XX. Hoje a homenagem é prestada por músicos pelotenses, no Bar João Gilberto, a partir das 21h.

Especialmente para esta ocasião reuniram-se Celso Krause (guitarra), Daniel Zanotelli (sax tenor), Ronaldo Régio (bateria), Eduardo Simões (contrabaixo) e os convidados João Ávila (sax alto) e Adão dos Santos (sax soprano).

O som do trompete não estará presente, mas o espírito de Miles Davis será a inspiração para revisar a obra de 50 anos de jazz. Ingressos antecipados a R$ 10 no local. Veja detalhes na matéria de Max Cirne para o Diário Popular.

A gravação musical no vídeo acima é do álbum de 1955 (esq.) Blue Moods, com Miles Davis (trompete), Britt Woodman (trombone), Teddy Charles (vibrafone), Charles Mingus (contrabaixo) e Elvin Jones (bateria).

O portal de vendas e-bay publicou a resenha para o disco de 2002 Blue Moods (abaixo a capa do CD).
Imagens da web

Vem aí a 8ª Quinzena Gastronômica


De 5 a 21 de outubro, a 8ª Quinzena Gastronômica de Pelotas vem com o lema da aniversariante: 200 anos de autênticos sabores! O evento foi idealizado em 2004 por Sady Homrich e Felipe Lang, com uma pausa em 2011 e volta agora com a organização da ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).

Em 2012, o festival pelotenses da boa mesa selecionou 22 restaurantes que representam a culinária do Sul do Estado, recolhendo as tradições das diversas culturas que colonizaram nossa região: portuguesa, africana, italiana, alemã, francesa, castelhana, oriental e outras.

Veja a lista dos pratos com seus preços na página Quinzena Gastronômica. Leia-se em cada um deles uma homenagem à riqueza cultural de Pelotas em seu segundo centenário.

A Confraria Pelotas -um boteco elegante onde se ouve música ao vivo e se comem pratos de bom gosto- criou o prato Taj (dir.): arroz frito com camarões, castanhas, uva passa, pedaços de abacaxi e especiarias. Servido dentro do abacaxi. R$ 40, para 2 pessoas. O sítio TrezeHoras elogiou a Confraria Pelotas.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O Paraíso é onde estivermos


A Banda DaRosa está formada por Maicon Rosa (voz), Gustavo Lessa (guitarra), Emília B. Rodrigues (bateria) e Leandro Ratto (baixo). O grupo lançará em outubro seu primeiro EP, que ganhou num concurso da Rádio Atlântida com a música "Paraíso", e participará na festa de 3 anos do sítio de notícias e-cult.

A emoção central parece inspirar-se na letra de Phil Collins Another Day in Paradise, acentuando mais na vivência adolescente (alegria, amizade, brincadeiras ao ar livre). As duas músicas nos fazem pensar que a vida pode ser vivida com prazer e produtividade, seja onde estivermos, sempre que nos conectarmos com nosso semelhante e com a natureza. O paraíso ideal será na outra vida, mas já pode ser preparado do lado de cá.

O videoclipe desta música foi filmado no Laranjal -um símbolo do paraíso para os pelotenses- por Natália e Camila Cabral (veja os créditos no YouTube). Ouça mais música da banda em sua página do sítio SoundCloud.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Falar palavras, ouvir ideias

Maurício Pons publicou hoje (26) um artigo (leia o texto em seu blogue), a propósito da educação do ouvir e do falar, neste Dia Nacional do Surdo. Veja lista de verbetes na Wikipédia sobre os surdos.

Cem mil palavras

Eddie Murphy foi um astro dos anos 1980. [...] Seu mais recente filme, A Thousand Words (As mil palavras), será lançado no Brasil em dezembro deste ano [trailer legendado).

Nele, Murphy faz um agente literário que nunca lê as obras que publica. É do tipo falastrão que acha mais importante falar do que ouvir. Sua vida transforma-se quando uma misteriosa árvore aparece em seu jardim e ele percebe que, para cada palavra que fala, uma folha cai da árvore e quando não restar mais nenhuma, ambos morrerão. Seu personagem passa, então, a economizar palavras até descobrir uma maneira de cessar o “encanto”. [...]

Reza a sabedoria popular que nascemos com duas orelhas e uma boca, portanto, deveríamos falar menos e ouvir mais. Imagine se cada um de nós tivesse uma árvore como essa do filme, não com mil folhas, mas, digamos, com cem mil. Teríamos, portanto, cem mil palavras para proferir até o nosso último dia de vida. Cem mil. Não são muitas. Só este texto tem quase 500.

Falar o quê
Como você as usaria? Guardaria algumas para injuriar o seu time de futebol quando ele perder para o rival, que nem é tão bom assim? Reservaria uma ou duas, dentre essas cem mil palavras, para espinafrar o motorista que anda devagar a sua frente, justo no dia em que vai passar o último capítulo da novela que você adora? Ou quem sabe sacaria dois ou três palavrõezinhos para praguejar contra seu vizinho só porque ele resolveu comemorar o aniversário e exagerou um pouco no volume da música?

Ouvir o quê
Criticar é bem mais fácil do que elogiar, a gente sabe. Do mesmo modo que expressar a raiva, a malquerença e a cólera em palavras é tão mais simples do que manifestar o amor, a admiração e o afeto a um parente querido, a um amigo, um colega. Agora, difícil mesmo é saber ouvir.

Escola Alfredo Dub, Rua Zola Amaro 379 (Três Vendas)
Dia do Surdo
Há 155 anos foi fundada no Rio de Janeiro a primeira escola para deficientes auditivos no país (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Por isso, se instituiu o dia 26 de setembro como o Dia Nacional do Surdo, data que relembra a luta por melhores condições de vida, trabalho e educação para os deficientes auditivos.

Na quinta-feira (27) quem sopra velinhas é a Escola Especial Professor Alfredo Dub, aqui de Pelotas, a única em toda a região sul que atende essas pessoas que entendem que, muitas vezes, melhor do que falar é demonstrar.

Parabéns aos alunos, à direção, aos professores e funcionários da Escola Especial Professor Alfredo Dub pelos 66 anos de dedicação.
Maurício Pons 


Perucas e chapéus apoiam no tratamento do câncer

Para atender pacientes que passam por quimioterapia e sofrem perda dos cabelos, formam-se, em muitos hospitais, coleções que emprestam perucas, lenços e chapéus a quem não os possa comprar. Inclusive já existe no Brasil um banco online de perucas, da Fundação Laço Rosa.

Com a intenção de promover o bem-estar e a autoestima nos pacientes oncológicos, e minimizar os desconfortos causados pelo câncer e seu tratamento, o Hospital Escola da FAU criou o Banco de Perucas e Chapéus. A instituição ligada à UFPel possui o único Serviço de Oncologia habilitado na Região Sul do Estado com atendimento integral pelo SUS.

O serviço recém criado solicita à comunidade a doação de chapéus e perucas, a serem entregues diariamente no Serviço Social do HE, na rua Prof. Araújo, 439.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Voo Livre, a vida segundo Deogar Soares


Após anos de esforços editoriais, o livro Voo Livre foi lançado em junho de 2012 e vai ser novamente apresentado ao público pelotense esta terça (25), ao entardecer (18-20h), no Café Aquários (um lugar inusual para lançar livros, mas muito oportuno). A obra reúne crônicas que o jornalista Deogar Soares — falecido em agosto de 2003, aos 67 anos — lia na Rádio Alfa FM, no espaço de mesmo título.

Luiz "Minduim" Vasconcellos propôs a ideia do livro de crônicas em 2004, em artigo no Diário Popular (leia o testemunho) mas foi somente em 2010 que um grupo de familiares e amigos se reuniu para construir o projeto editorial. O trabalho concluiu em maio de 2012 e o livro foi apresentado em junho no SINASEFE (v. notícia e comentário de Clayton Rocha). A foto da capa é de Nauro Júnior.

Veja uma minibiografia do personagem — que foi vereador em Pelotas por um mandato — no artigo Deogar para sempre, do Pelotas Treze Horas.

Manoel Soares Magalhães também recordou, há poucos dias (artigo no blogue Cultive Ler), como conheceu o admirado colega de jornal, nos anos 80.

O governo pelotense prestou outros dois importantes reconhecimentos a Deogar Soares, após sua morte: seu nome batizou, em 2003, uma escola municipal de ensino fundamental (veja o blogue da Coordenação Pedagógica) e, desde dezembro de 2010, o atual espaço artístico da Câmara de Vereadores (Henrique Pires foi seu primeiro coordenador, à esquerda na foto acima).

Sobre o Deogar fotógrafo e artista, Minduim escreve o seguinte:
Seu trabalho [era] sempre denso, com os contrastes que ele ía buscar nos confins das almas de seus personagens e de sua mente profícua. Marcados por histórias pessoais e pela expressividade. Seu cenário predileto era o casarão semiabandonado onde hoje funciona a Secretaria Municipal de Cultura (Secult). Sua máquina não procurava os detalhes óbvios de enfeites "barrococós". As fotos mostravam toda a força da passagem e das consequentes marcas do tempo. 
Deogar não era um artista popular, sua obra tinha/tem a profundidade dos grandes mestres, que ultrapassam o aspecto estético e decorativo, mas percorrem caminhos complexos e cheios de expressividade e vigor. 
Dono de uma técnica apurada, fazia questão de se apossar de todo o processo, montagem do cenário, orientação dos personagens e figurino, direção, até a revelação e ampliação, sempre preocupado com a "qualidade do preto". 
Lembro de uma das nossas primeiras conversas, quando contei para ele que no eixo Rio-São Paulo era moda ser artista. Onde muito picareta se dizia artista só para aparecer. Ele custou a crer, pois aqui (propalada capital da cultura do Estado) o termo "artista" era pejorativo, coisa de desocupado ou de quem fazia algo errado.
Ainda sobre a atuação política de um artista como Deogar, Minduim tem opinião clara e terminante:
Me envolvi com sua eleição para vereador; tinha esperança que um sopro de cultura e arte pudesse dar alento e um pouco de reflexão à nossa Câmara. Qual o quê, aquele não é um local para pessoas sensíveis e com a liberdade escorrendo pelas veias.
Brincadeira fotográfica feita por Deogar , dando fogo a si mesmo.
Imagens: Coisa de Doido, Câmara (2) e Pimenta com Limão (3-4)

domingo, 23 de setembro de 2012

Nauro obteve a foto sonhada, antes do Bra-Pel

Os clubes Brasil e Pelotas existem há cem anos e formaram uma rivalidade local muito forte, até o ponto de violência entre os torcedores. Parecido a como irmãos dentro de uma família podem brigar e se odiar, mesmo tendo a mesma origem.

Hoje (23) se realizou o Bra-Pel nº 351 e antes do jogo o fotógrafo Nauro Junior pôde fazer a foto sonhada há anos, aquela que mostra espontaneamente como essa fraternidade pode ser vivida, até nos momentos de certa tensão. Abaixo da foto, leia o que ele mesmo comentou.

Também hoje Sérgio Cabral escreveu em sua coluna Bola pra frente sobre o caso dos namorados que torcem pelo Brasil ele (Pablo) e pelo Pelotas ela (Amanda), com a foto dos dois juntos, na edição impressa. Estes exemplos parecem pouco significativos fora de nossa cidade, mas são um modelo de convivência, em geral, para torcidas, partidos políticos e grupos religiosos.

Esperamos que este dois torcedores tenham saído do jogo na mesma paz, pois desta vez o placar foi um a zero (para o lado rubro-negro). Assim como a foto de costas sugere igualdade na esperança, a de frente mostraria alegria e tristeza, uma emoção em cada rosto.
Sempre pensei em fazer uma foto como esta em um BraPel; hoje eu consegui.
Penso que este deveria ser o espírito do BraPel. Mas não é bem isto que a gente vê.
Se alguém compartilhar, não esqueça que esta foto tem um autor e que levei 16 anos para ver esta cena.
Foto: Nauro Jr.


POST DATA
25-09-12
Nauro Júnior reporteou um caso de sã convivência de torcedores rivais dentro de uma família, em Bra-Pel e respeito sobre duas rodas. Veja o relato bem-humorado do filho mais novo:

Em casa, somos 4, sendo, meu pai e meu irmão mais velho Pelotas, minha mãe Farroupilha e eu Xavante. Juntando a parentada toda, a maioria são xavantes e, sempre existiu a rivalidade sadia entre nós. A cornetagem sem fim antes do jogo e, principalmente depois, por parte de quem ganha. Agora, meu irmão mora em São Paulo, então, só eu e meu pai acompanhamos os times de perto.  
No domingo, dia do jogo, começou a provocação logo cedo, por volta das 10h, quando acordei, abri minha casa (que é ao lado da do meu pai) e coloquei o hino do Brasil a toda altura no rádio. Em questão de 2 minutos, ele respondeu, colocando o hino do Pelotas no rádio dele. Dali em diante, foi só corneta, um sacaneando o outro. Quando saímos em direção a casa de minha avó, onde almoçamos, já estávamos fardados. Lá, brincamos mais um pouco e, na hora de sair, ele também já estava de saída, então, ofereci carona pra ele, pois ainda iria buscar uma amiga que foi pra torcida xavante comigo. Então, só levei ele até lá e retornei pra buscar minha amiga.  
O que me impressionou, conforme postei no face, foi a grande quantidade de pessoas que apontavam, mostravam uma pra outra a cena, infelizmente estranha, de dois rivais juntos. Alguns simplesmente olhavam, outros faziam cara feia, e teve um casal de idosos que nos viu na sinaleira da JK com Domingos de Almeida e o senhor nos aplaudiu, fez sinal de positivo e, ao atravessar a rua na minha frente, nos parabenizou.  
Isso me deixou um pouco chocado, porque as pessoas, de modo geral, ainda vêem rivalidade como sinônimo de inimizade. Mas minha relação com meu pai e com vários amigos torcedores do Pelotas sempre foi de brincadeira. Não há situação mais gostosa que a de provocação, aquela brincadeira sadia entre rivais. A corneta, as críticas ao adversário, se feitas e aceitas de maneira sadia, em tom de brincadeira, dão um sabor único a um clássico como esse. Bom seria se todos pensassem assim.  
Imagina como é na minha família, onde há bastante torcedores do Pelotas e do Brasil. É um frege só, um "caindo" na cabeça do outro. É esse clima que tem que existir no futebol. Meu pai é meu ídolo, mas é humano; então, tem esse defeito de torcer pro time errado. kkk Grande abraço Nauro!

O trapiche visto desde dentro

Foto: Leonardo Tajes Ferreira, Projeto Pelotas Memória

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Cem anos dos Contos Gauchescos

O Correio do Povo Memória informa que em 21 de setembro de 1912 publicou a nota seguinte (confira na imagem o mesmo texto com a grafia de um século atrás):

O escritor rio-grandense J. Simões Lopes Neto acaba de publicar, em volume, uma série de contos de costumes gaúchos, dos quais teve a gentileza de nos oferecer um exemplar.

O volume intitula-se "Contos gauchescos" e foi editado pela livraria Universal, dos srs. Echenique & C., de Pelotas. 

A edição é elegante e cuidadosamente impressa. Agradecemos a oferta do exemplar.

Na edição de hoje (21), o jornal acrescenta a esta notícia antiga o seguinte texto atual:
A obra literária de Simões Lopes Neto, lançada em 1912, assinala um momento decisivo na tradição regionalista brasileira justamente porque, ao ultrapassar a documentação da realidade aparente, impõe uma visão do mundo que exige o contraste, o paradoxo, o símbolo e a metáfora como seus fundamentos e leva-nos à fronteira da linguagem. 
O livro "Contos Gauchescos" nomeia uma região, seus tipos característicos, seu código social, a tradição e o folclore; ao fazê-lo, confrontam permanentemente o homem e o mundo da natureza. Neste processo, os traços regionais transpõem seu condicionamento particular e geram uma expressão única, definem uma linguagem e um estilo.
"Pode-se dividir a literatura do Rio Grande do Sul entre antes e depois de Simões Lopes. Antes, não havia, de fato, literatura. Depois, tudo passou, justamente, a sempre se referir a ele, que se tornou um marco, como Shalespeare para a literatura inglesa. E isso não é nenhum aumentativo, não, é a mais pura verdade".   
Antônio Hohlfeldt, Doutor em Letras, PPG Letras da PUCRS.
Imagens: F. A. Vidal (1), Correio do Povo (2)

Até dezembro de 2012, o Instituto Simões Lopes Neto promove o ciclo de palestras sobre os Contos Gauchescos, um a cada duas quintas-feiras (confira na Agenda Cultural deste blogue).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Águas da lagoa recuaram 250 metros


A intensa ventania de ontem (19) causou, no sul do Estado, caídas de árvores e cortes de luz, e fez as águas do Laranjal recuaram entre 200 e 400 metros. Os ventos chegaram a 111 km/h em Rio Grande (segundo o jornal Agora) e 120 segundo o MetSul, mas somente a 45km/h em Pelotas (veja nota do Diário Popular) [dados incorretos, segundo um dos comentários deste post]. Segundo as previsões, a frente polar traz mais frio para os próximos dias.

Nas fotos da artista plástica Norma Alves, tomadas ontem ao entardecer, a lagoa parecia começar do outro lado do trapiche do Valverde (foto maior acima), que foi reaberto ao público em 1 de setembro passado.

No entanto, estudantes de Meteorologia da UFPel caçavam ventos ontem, quando mais forte sopravam (video abaixo), confiantes em que não se tratava de um furacão que os levasse junto com o cais de madeira (como levou Dorothy ao país de Oz). O registro máximo foi de 77 km/h.

As ondas que habitualmente vêm à orla já mostravam a fuga das águas, como se saíssem da terra em direção ao mar. Essa evasão permitiu que alguém caminhasse por baixo das madeiras do trapiche (foto à direita).

Se o público chegou a ver este panorama, deve ter-se atemorizado (recolhimento das águas do mar sugere proximidade de tsunami). Mas aqui foi totalmente por ação do vento.

No Uruguai, ao contrário, rajadas de até 172 km/h levaram a areia da orla para o meio da rua, na praia Brava de Punta del Este (notícias do jornal El Observador e MetSul), causando o fechamento total do trânsito (foto abaixo do vídeo).

Fotos: N. Alves (1-3) e Twitter (4)



Poemas de Mario Osorio Magalhães

Mario Osorio Magalhães amou tanto sua cidade que quase toda sua produção literária versa sobre História de Pelotas. Sem esconder o orgulho pelas virtudes desta terra nem negar as manchas e feridas históricas, em seus escritos o resultado é otimista e amoroso, desde "História e Tradições da Cidade de Pelotas" (1979) até "Pelotas Princesa" (2012).

Seus conhecimentos e suas opiniões sobre a Princesa do Sul são referência para quem estuda Pelotas, mas sobretudo seu amor pela comunidade-família, como mãe, como irmã ou como filha, são uma luz orientadora também para o trabalho deste blogue (veja os posts em que escreve).

No entanto, bem antes de escrever sobre História, Mario compunha versos que revelavam de modo puro esse mesmo amor pela vida e pelos seus. Veja alguns significativos poemas de sua coletânea "Um resto de sonho ainda" (1993).



Velho Guasca
Agosto 1963
Guasca tão velho,
tristonho, enrugado,
pensando, sentado
num pobre ranchinho;
sem paz nem carinho
tão velho, coitado!
lembrando o passado,
chorando baixinho.

Guasca: me conta
o que tens na memória;
me conta a história
aqui, meu velhinho;
não chora sozinho,
relembra comigo
o que passou, velho amigo
sem paz nem carinho.

Guasca tão velho,
tristonho, enrugado,
que lembra o passado
num pobre ranchinho:
não chores baixinho
que o tempo que choras
ninguém vive agora
mas jamais morrerá,
pois este piá,
este guasca largado,
que te vê despilchado,
tão triste, nervoso,
sem paz nem repouso,
num rancho chorando,
morrerá peleando
pra lembrar teu passado!


Poema de Ninar
Agosto 1977
O ovo que era branco
amarela quando cai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Só mama quem chora,
só volta quem vai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Estranho não entra,
fiado não sai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Pelotas ataca,
Brasil se retrai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Anos se completa,
núpcias se contrai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Entrada se esgota,
tempo é que se esvai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Se alguém nos protege,
Calabar nos trai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Em terra de cego,
caolho sobressai.
Dorme, Diogo, querido do pai.

Quem vence na vida,
nunca se distrai.
Acorda, Diogo, querido do pai.


Felicidade
Janeiro 1985
Eles achavam que era só namoro
e foi amor.
Exigiram de nós o máximo decoro
(Filhinha, te comporta,
fica perto da porta
e não passa da calçada...)
Mas mesmo assim eu te roubei um beijo.
Tu foste mais que ladra:
sequestraste um coração,
pedindo de resgate
algum carinho, uma dedicação...

Não só te paguei nota por nota
como passei da conta
— e nem pedi de volta o coração.
Puseste tudo no banco
e não consegues gastar este talão de cheques...

Em compensação
um dia eu me vinguei e fiz em ti dois filhos
lindos e moleques.
Te pus alguns cabelos brancos
— alguns poucos fios...
Hoje não digo que estejamos velhos:
estamos mais maduros
— estamos mais pra Tancredo Neves
que pra Rock in Rio....

Só nosso amor não se deu conta disso
(ainda pensa que é o começo)
e a cada dia está mais vivo e mais travesso...
Não vou dizer, categórico e definitivo
(seria pretensão, e eu não tenho esse vício),
que a felicidade se comporte assim
...mas ela é quase isso.

POST DATA
20-09-12
TrezeHoras tem a última entrevista de Mario Magalhães.
Clayton Rocha recordou o poema Um Rastro.
21-09-12
Veja a homenagem de Márcio Ezequiel: Mario Osorio Magalhães.
Editorial do Diário Popular: O homem que amou Pelotas.
22-09-12
A jornalista Raquel Bierhals escreveu Sua história continua.
Mário Gayer do Amaral agradece a seu professor em O adeus de um mestre.
23-09-12
O ex-aluno Egídio Pizarro dedica Ao Mestre, com Carinho.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Corredor Arte faz 12 anos e mostra artista italiano

A arte existe para que a realidade não nos destrua
— Friedrich Nietzsche.

Nietzsche acreditava que somente a arte poderia oferecer aos homens força e capacidade para enfrentar as dores da vida. "A arte é a grande possibilitadora da vida, a grande aliciadora da vida, o grande estimulante da vida", escreveu o filósofo alemão.

Diferente dos lugares tradicionais, onde os indivíduos se interessam e buscam a arte por conta própria, no Hospital Escola UFPel/FAU ela exerce um papel muito importante, pois geralmente as pessoas estão no espaço por algum outro motivo e acabam se deparando com ela.

Criado em setembro de 2000, o Corredor Arte nasceu com a finalidade de humanizar o ambiente e, com o tempo, passou a ter infinitos objetivos, como ser considerado uma espécie de remédio (efeito terapêutico), levar cultura a um público que não costuma frequentar galerias de arte, além de se tornar um espaço de refúgio para os que estão dentro do hospital.

É nele que as pessoas, tanto pacientes, acompanhantes quanto os próprios trabalhadores, podem por um momento se desligar do ambiente hospitalar, contemplar obras de arte e ter suas próprias impressões sobre os trabalhos, sem serem influenciados ou julgados.

Para comemorar o sucesso do projeto, que hoje (18) completou 12 anos de existência sem nunca ter parado as atividades, o Corredor Arte recebe pela primeira vez a exposição de um artista internacional: Michele Iannarella (veja a nota neste blogue).

Helena Schwonke

Dep. de Comunicação do Hospital Escola FAU-UFPel

Michele Iannarela em mostra individual


O artista italiano Michele Iannarella está há 9 anos radicado em nossa cidade, e seguiu dedicado à arte da pintura, criando e expondo suas obras. Em 2010 foi destacado seu trabalho aqui no blogue (leia o post Sonhos dedicados aos sonhadores). Agora o vemos em exposição individual, por primeira vez no Corredor Arte, no momento em que este projeto completa 12 anos de funcionamento no Hospital Escola da FAU-UFPel.

Michele nasceu na cidade de Valva, em 1958. Ainda adolescente mudou-se para a cidade de Eboli, onde frequentou o Liceu Artístico; lá começou a expor suas obras em 1974, aos 16 anos.

Em 1997, juntamente com outros artistas ebolitanos, fundou a associação artística “Liberart”, ainda atuante naquela cidade. Em 2003 transferiu-se para o Brasil, para a cidade de Pelotas, onde deu continuidade a sua atividade artística. Possui extensa participação em exposições coletivas e individuais na Itália. Já recebeu dois prêmios  em seu país e uma premiação em Pelotas, no Salão da Primavera de Artes Plásticas, em 2010.

Nesta mostra, intitulada “Fragilidades”, o artista traz 15 obras, que ficarão expostas até a segunda-feira 8 de outubro (dia seguinte ao primeiro turno das eleições municipais). Ele aparece na foto acomodando um dos quadros, junto à coordenadora do espaço cultural, Ana Lúcia Brod.

Em suas grandes telas, que representam o que se poderia chamar de "paisagens semiabstratas", Michele inclui objetos do cotidiano, formas lúdicas, elementos oníricos, coisas do imaginário pessoal e coletivo, provocando o espectador a fazer associações concretas e simbólicas. Sobre o tema referido pelo título, a artista pelotense Giane Casaretto explica que as fragilidades seriam o modo em que as relações se estruturam na sociedade.
Imagens: Comunica

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Fazenda Guadalupe integra pessoas e animais

O centro de recuperação Nossa Senhora de Guadalupe é uma fazenda para dependentes químicos que funciona há dois anos na colônia Santa Eulália, distrito da Cascata. Este domingo (16) houve a graduação de Joselito Machado, que há 12 meses internou-se e seguiu os passos indicados para superar a drogadição e abrir o caminho a uma vida melhor. A alegria era enorme entre os seus colegas e entre os responsáveis da fazenda, pois é a primeira graduação que chega a bom termo nesta fase em que o centro ficou a cargo de Rafael Padilha, interno da fase anterior.

Para internar-se é preciso o desejo de superar o abuso de drogas e contribuir com uma pequena mensalidade. Alguns usuários podem obter auxílios-doença do governo federal, mas além disso o centro pede doações da comunidade (material de construção, alimentos, combustível, livros, dinheiro).

Os métodos usados incluem a laborterapia, orações cristãs, alguns medicamentos, a reflexão pelo programa dos Doze Passos, junto à intensa amizade mútua dos que vivem na fazenda: os homens em recuperação e muitos animais. Boa parte destes últimos são cães e gatos recolhidos das ruas de Pelotas por voluntários que os levam à fazenda, onde se adaptam a um ambiente natural e estabelecem vínculos com a comunidade humana.

Em março passado, a reportagem da TV Nativa apresentou a fazenda Guadalupe pela notícia Luta contra as drogas e apoio dos animais (vídeo abaixo).

Conversa sobre a cultura haitiana

Esta terça (18), mais uma conversa na Biblioteca Pública sobre culturas de outros países. Neste caso, o encontro é com o escritor haitiano James Noël, que fala sobre sua própria obra e sobre aspectos da cultura do Haiti, país de fala francesa (o créole também é idioma oficial).

O poeta e ativista cultural James Noël, de 34 anos de idade, é considerado uma das principais vozes da atual literatura haitiana e viaja pelo mundo falando da situação de seu país (leia tradução ao espanhol de seu poema La Bonne Bouvelle). Seu nome está na Wikipédia.

Nesta atividade em Pelotas, que o escritor visita por primeira vez, a professora da FURG Normélia Maria Parise fará a mediação e tradução do francês e apresentará um painel sobre a literatura do Haiti.

Doutora em estudos francófonos e especialista em literatura haitiana, Normélia é gaúcha, morou no Haiti, onde vivenciou o terremoto de 2010 (leia notícia).

domingo, 16 de setembro de 2012

Izídio, o jogador que nunca marcou

Izídio Osório nasceu em 13 de janeiro de 1935, em Pelotas. Conhecido como Cascudo, começou jogando no Brasil de Pelotas, onde participou em 80 jogos, ao longo das temporadas de 1954, 1955, 1956 e 1957 (veja no portal do Grêmio Esportivo Brasil). Aos 25 anos de idade, transferiu-se para o time rival, o Esporte Clube Pelotas.

Escreve Paulo Gastal Neto (leia nota) que o jogador nunca marcou um gol em mais de uma década de carreira. A informação provém da Enciclopédia do Futebol Gaúcho.

Cascudo também atuou vários anos no Farroupilha, onde pendurou as chuteiras. Seguiu ali como treinador, e nessa função teve melhor desempenho. Segundo registro do jornalista Augusto Santos (leia reportagem), Izídio era o técnico do Farrapo em 1980 quando este venceu em casa o Grêmio de Porto Alegre. Foi homenageado em 2001 como ex-atleta do Farroupilha (veja notícia), não voltando a ser notícia.

Izídio passou por três times da mesma cidade e nunca marcou um gol. Mudou de camiseta e não teve frutos com nenhuma? Se isso foi verdade, que explicação terá? Quando Manoel Soares Magalhães soube do fato, ficou sem saber o que pensar. Confira a seguir sua crônica.


Dizer o quê de um atleta que jogou profissionalmente e jamais fez um gol. 
Até hoje não havia pensado nessa possibilidade. Achava impossível existir um jogador que não tivesse feito pelo menos um golzinho. Um meio gol, talvez, com a ajuda do goleiro, do montinho artilheiro, de um deus de plantão, cuja benevolência extrapolou. 
Folheando o excelente livro escrito por Marco Antonio Damian, escritor e historiador, e de Luiz Cesar Freitas, comentarista e cronista esportivo, chamado Enciclopédia do Futebol Gaúcho – Vol. Ídolos e Craques, lançado em 2009, descobri que houve esse jogador. 
Chamava-se Isídio Osório, conhecido como Cascudo. Sim, Cascudo é o nome do jogador que jamais marcou um gol jogando profissionalmente. [...] Encerrou sua carreira sem nunca ter marcado um gol. Sem jamais ter experimentado na alma a quentura de um gol, revolvendo suas entranhas, arremessando-o às alturas. 
Não sei dizer se o ex-atleta já morreu. Acaso isso tenha ocorrido, que terá pensado no instante do passamento? Que procurou tratar bem a bola, porém, caprichosa como solista de ópera, frustrou suas expectativas? Difícil saber o que terá imaginado o velho lateral-direito Cascudo, cujo profissionalismo e dedicação aos clubes que defendeu fora grande. Isso são coisas intangíveis, inimagináveis. 
O fato é que o velho Cascudo jamais balançou a rede. Não teve esse gosto. Por uma estranha e infeliz ironia.
Manoel Soares Magalhães
Leia o artigo completo.
Foto do time 1956:
Colecionador Xavante

POST DATA: 21-09-12
O Sebo GN tem fotos deste jogador com times do Pelotas, do Brasil, do Farroupilha e do Bancário, em diversos tamanhos e boa nitidez (R$ 10). Fica defronte ao Mercado Central, pelo lado da Quinze, e está por mudar-se. O vendedor me informou que Izídio ainda vive mas se encontra muito doente.

sábado, 15 de setembro de 2012

Previsão de chuvaradas e ventanias

O blogue da empresa MetSul Meteorologia resumiu com sobriedade a previsão do tempo para o Rio Grande do Sul em setembro: Setembro não repete agosto e vem chuva para os gaúchos. No entanto, as imagens da Argentina central inundada, no jornal La Nación, assustam quem mora em terreno baixo como Pelotas e região. Lá a planície virou lagoa e houve grandes perdas para a economia. E a frente fria que alagou milhões de hectares no país vizinho ainda tem água para extinguir a seca que afeta o sul do Brasil até hoje.

Para o Diário Popular, o panorama é espantoso e a Defesa Civil não está prevenida (veja a notícia). Em termos práticos, a partir deste fim de semana o anúncio é de muita chuva, vendavais, baixa de temperatura, inundações e caídas de árvores.
Fotos blog MetSul

POST DATA: 
18-09-12 O blogue MetSul advertiu hoje: Ciclone traz cenário muito perigoso.
19-09-12 O jornal El Observador mostrou efeitos da tempestade em Montevidéu. Abaixo, imagens tomadas por um repórter hoje (19). Veja outro no mesmo canal de vídeo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Gambás em campanha (conto)

Nesta campanha eleitoral, o cronista Rubens Amador traz um novo conto alusivo à baixa consciência política do brasileiro. Há dois anos publicou neste blogue a história de outro candidato fictício: Opção pela Vida. O convite implícito é a optar, nas urnas, pelos candidatos mais conscientes de seu papel e mais ciosos do bem comum.

A turma da caipirinha no bar do Evaristo estava em “sessão de trabalho”. É que Dimas Ross, filho de inglês com brasileira, era candidato a vereador.

Havia sido escolhido pelo Partido XPTO, não tanto por suas qualidades cívicas, mas por sua capacidade oratória — quando sóbrio. Dimas Ross era o que se chama de “bom de gogó”, e a cúpula do partido logo imaginou engrossar sua bancada com aquele “potencial de boa conversa”, como dizia o presidente da agremiação partidária.

Lá estava o staff eleitoral de Dimas: o Juca era carteiro e entregaria os santinhos junto com a correspondência; o Celestino, haltero-copista (levantador de copos), meio jornalista, conhecido como “Pulitzer de bares e assemelhados”, ficaria com a divulgação.

Em compensação, tinha o Jeremias, o intelectual do grupo, e ainda o Almeida, que, por desenhar razoavelmente bem, seria o homem das faixas e pichações.

A reunião ia animada e a caipirinha corria solta naquela mesa de políticos improvisados. Nisto entram em pauta o retrato e o slogan do candidato!

— Para mim a foto tem que ser tirada de baixo para cima, a fim de sugerir imponência e autoridade — opinou o carteiro.

— Pois eu penso exatamente o contrário — falou Jeremias, sem a menor cerimônia. — Deve ser de cima para baixo, para enfatizar a pouca altura do Dimas! Isso vai mobilizar o instinto maternal do mulherio. Ele será como que “adotado” pelo eleitorado feminino em geral, e em particular pelas mães solteiras — filosofou.

Dimas apenas balançava a cabeça, como dizendo: “Pode ser”... Etilicamente anulado, ficava caladão quando as octanagens subiam.

— Peço a palavra! — atalhou o Celestino, balançando, pois as inúmeras caipirinhas já haviam produzido efeito. — Su-gi-ro... disse, com certa dificuldade devido àquele “g” no meio da palavra. — Su-gi-ro”... repetiu, lábios em forma de bico — que a foto seja com gravata. Isso dá identidade com a classe média. E melhor ainda se botarmos no candidato um casaco maior, e sem passar a ferro.

— E o que vocês acham de uma foto dele com os braços abertos, sugerindo um grande amplexo? — foi a ideia do Almeida, enquanto Dimas Ross, os olhos apequenados pelos vapores etílicos, balançava a cabeça, ora concordando, ora não.

— Não, vão conotar logo nosso candidato com um dos ladrões do Calvário —fulminou o Celestino. E se traindo no jogo de palavras: — Um deles também era Dimas!

Foi então que surgiu o consenso: a fotografia seria de cima para baixo, “lembrando grandes decisões”, como aventou o Juca, “sério, que a situação nacional não se presta a sorrisos”, como dissera o Almeida, “e casaco surrado e largo, identificando-se com a classe média”, por sugestão do Celestino.

— Agora passemos à divisa, que essa é imprescindível, pois sumariza toda uma existência num raciocínio breve e positivo, onde os defeitos são varridos para baixo do tapete — disse com convicção o Jeremias, mais pra lá do que pra cá. — Que tal esta?: Dimas Ross, o candidato pequeno mas que irá resolver nossos grandes problemas!

A frase era um grosseiro pastiche da publicidade das Pílulas Ross, que ficaram famosas desde os primeiros comerciais do rádio, nos anos 40. Eram pequeninas como um sagu mas resolviam com eficiência meteorismos, dispepsia e prisão de ventre.

A esta altura, o candidato dormia a sono solto. E se o item "fotografia" tinha sido meio controverso, chegara-se logo-logo a uma unanimidade na questão do slogan.

— Aprovado! — balbuciaram todos. Que qualquer conjunto de palavras mais extenso já estava se tornando difícil. Dimas despertara mas seguia longe dali, batia palmas, olhar vazio. Levantaram-se; Vicente amparado pelo Juca e o Almeida.

— Ao fotógrafo! E depois à tipografia!

Dois ou três da turma arriscaram, braços erguidos para o alto:

— Dimas Ross! Dimas Ross! Dimas Ross! — Mas ninguém no bar acompanhou aquele entusiasmo repentino. Gritaram quase em coro para seu Evaristo: — Debita! Depois a gente acerta! — e saíram, nada bem das pernas.

Quando o grupo saiu, seu Evaristo piscou o olho para o freguês da mesa 4, e comentou sobre aquele candidato de terceira categoria, aclamado pelos gambás:

— A divisa apropriada para o baixinho deveria ser: Vote em Dimas Ross e puxe a descarga! — e ainda completou:

Para o bem da cidade e do Brasil! — e ambos caíram na gargalhada.

Dimas perdeu feio a eleição, o que foi mais uma desculpa para nova carraspana no bar do seu Evaristo. Tudo na base do “debita”!
Rubens Amador


III Arte de Arteterapeutas

A “III Arte de Arteterapeutas” é uma exposição coletiva de artistas de Pelotas, Rio Grande, Porto Alegre e São Paulo, os quais dedicam parte de suas atividades à Arteterapia e parte a sua pesquisa individual artística.

Hoje (14) às 20h, a abertura será feita pela arteterapeuta Angélica Shigihara, de Porto Alegre, que falará sobre o tema “Criatividade e Arteterapia, um encontro: quando a intervenção vira arte”.

A Arteterapia é um serviço terapêutico que utiliza recursos artísticos. O uso da Arte como terapia implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais como de estimular a autopercepção e o crescimento pessoal.

Angélica Shigihara de Lima (esq.) é artista plástica, educadora infantil, arteterapeuta, pesquisadora em educação especial e mestranda em docência universitária pela Universidad Tecnológica Nacional, de Buenos Aires. Veja mais sobre seu trabalho nos blogues Arte, Ressignificações do Criar e Arteterapia Creatividad.

A exposição pode ser visitada desde as 19h30min do dia 14 de setembro até sábado 13 de outubro: de segunda a sexta (9-12h e 14-19h) e aos sábados (10-14h), na Galeria JM Moraes (Anchieta 4480). Veja o novo blogue do Ágape.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Casarão Trápaga está fechado novamente

Quinta (6) a direção do Instituto de Ciências Humanas da UFPel decidiu interditar o prédio da antiga Escola de Belas Artes, na Marechal Floriano esquina Barão de Santa Tecla, também denominado "Campus 2 do ICH" (leia a Portaria 149).

O local era usado para atividades do Mestrado em Memória Social e Patrimônio Cultural, do curso de Museologia e do curso de Conservação e Restauro, as quais foram encaminhadas para outras sedes. A informação e as imagens provêm do DACORE (v. Facebook).

O casarão foi construído em 1881 e doado em 1963 por Dona Carmem Trápaga Simões para a Escola de Belas Artes. Desde sua fundação em 1949, a entidade não tinha uma sede própria; após a criação da UFPel (1969), o velho casarão ficou incluído no patrimônio federal.

A Universidade reformou o palacete em 2009 (veja nota deste blogue), mas tudo evidencia que esse trabalho não ficou terminado.

Em 2010 o Laboratório de Conservação foi interditado, mas a Universidade não tomou as medidas necessárias e a estrutura do prédio inteiro ficou em pior estado, até o ponto de não ser recomendável seu uso. A foto abaixo mostra o casarão quando era a residência da família espanhola (provavelmente, década de 1920).

Ironicamente, alunos e professores não podiam restaurá-lo, e deverão passar mais uma longa temporada à espera de uma decisão superior.


Fotos do Facebook: DACORE (1-2) e Fábio Zündler (3)

POST DATA: 
12-09-12
Momentos após a publicação desta nota, o Diário Popular deu a mesma notícia em seu portal (leia), a qual saiu também na edição impressa, do dia seguinte (12).
Para entender a complexidade da situação, é preciso considerar que a cidade está no último mês da campanha eleitoral municipal, as universidades federais se encontram em greve há meses, e a reitoria deve -dentro deste ano- convocar o Conselho Universitário para definir a sucessão interna, processo no qual uma chapa opositora já se definiu como a mais votada.

25-09-12
Os alunos dos dois cursos desta unidade estão em greve para divulgar seu problema e buscam soluções junto à reitoria. O diretório acadêmico emitiu hoje um comunicado de greve.

domingo, 9 de setembro de 2012

A estética do calor de agosto

Hoje pela manhã, a Sofia e eu fomos até a Praia do Laranjal comprar um filé de peixe para o almoço. O seu Fonseca, tradicional pescador da Barra do São Gonçalo, estava chegando com jundiás e traíras bem fresquinhos. Pedi para ele "filetar" as traíras para comer fritas. Os jundiás levei inteiros, para fazer muqueca.

Enquanto ele preparava os peixes, eu e minha filha pequena ficamos nos deleitando com o dia de verão que acontece em pleno mês de agosto. Sei que no final de semana voltamos à nossa realidade, com a chegada de uma frente fria. Mas enquanto o frio não chega, vamos aproveitando este dia de temperatura tropical na nossa linda Praia do Laranjal.

Confira o post completo, de 24 de agosto passado, no blogue de Nauro Júnior Retratos da Vida.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Seminário de Estudos Literários inscreve até próxima quarta (12)

O I Seminário de Estudos Literários de Pelotas será realizado de 25 a 28 de setembro de 2012, com atividades centralizadas na Biblioteca Pública Pelotense. A organização está sendo feita pelos grupos de pesquisa "Literatura em Pelotas", da FURG, e "ÍCARO", da UFPel.

Nesta sua primeira edição, o encontro se inspira no tema "Pelotas: da formação à contemporaneidade”, em comemoração aos 200 anos da Freguesia de São Francisco de Paula. Seu objetivo principal é debater sobre autores, obras, histórias e memórias que fizeram parte do desenvolvimento cultural e intelectual da cidade, na história em geral e na literatura em particular.

O evento se dirige a estudiosos da literatura, história e áreas afins, mas inclui a toda pessoa que se interessar por esses temas. Veja quais serão as 8 linhas temáticas. Além dos trabalhos, haverá apresentações de música, teatro e artes plásticas.

O prazo para apresentar trabalhos foi prorrogado até quarta-feira que vem (12). As inscrições de mesas, minicursos e comunicações podem ser feitas pelo blogue do Seminário (veja as orientações para inscrições) ou pelo endereço: contato.semel@gmail.com.

Para inscrever-se como ouvinte, o limite é a data de início do Seminário: 25 de setembro (ou enquanto houver vagas). Será fornecido certificado de 40 horas.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Escritora recria a vida familiar do Casarão 8

A escritora Elizabeth Stockler (dir.) descende dos Antunes Maciel que, na segunda metade do século XIX, construíram os casarões da Praça Coronel Pedro Osório nº 6 e 8. Ela acaba de publicar seu segundo livro, "Chiquinha & Eu: reinventando o passado", em que resgata, mediante relatos e crônicas poéticas, a vida familiar no Casarão 8.

Atualmente em restauração (veja nota) e rodeado de mistérios, esta residência tão tradicional esperava há décadas por este livro, escrito por Beth com grande admiração pelos antepassados e com algum distanciamento, recolhendo tradições familiares de mais de um século, menos com objetivos documentais do que afetivos.

De forma parecida, a escritora gaúcha Sílvia Meirelles Kaercher pesquisou no romance "Carola" (2011) sobre a família de seu tataravô
Carlos von Koseritz, jornalista alemão que morou anos em Pelotas. Em seu blogue No tempo dos Koseritz, Sílvia postou ontem (3) a seguinte resenha sobre o livro de Beth Stockler.

Como contar a história de uma casa? Como resgatar a vida das pessoas que ali viveram, há um século? Quanto de tudo isso está em seus descendentes, no inconsciente/consciente de cada familiar?

Abençoada e amparada por recordações vivas e um grande volume de objetos, cartas e documentos, Beth Stockler atirou-se a esse desafio: trazer à vida os Antunes Maciel, proprietários do Casarão 8, hoje em restauro, Patrimônio da Cidade de Pelotas.

Sua narrativa nos cativa no primeiro capítulo, repleto de amor, daquele amor inexplicável que se tem por alguém que sequer conhecemos, fruto da tradição oral da família e da curiosidade de criança. A volta da bisneta amorosa ao casarão que abrigara sua família por gerações, desperta histórias esquecidas, emoções guardadas, descobertas.

Francisca Antunes Maciel, a Chiquinha, entrelaça suas lembranças de outrora com as histórias que a autora ouviu e forma uma narrativa repleta de nuances espirituais, testemunhando que a vida segue e que os laços familiares amorosos se perpetuam.

O senhor da casa, Francisco Antunes Maciel, proeminente de seu tempo, deputado provincial, político e Ministro de Estado, abre-nos seus salões onde figuras como Gaspar Silveira Martins e Gumercindo Saraiva são figuras frequentes. Algumas das maiores figuras da vida pública rio-grandense no final do século XIX, passam por nós através de documentos, fotos, cartas telegramas, e é admirável como a autora reconstrói o dia-a-dia da família, nas menores nuances.

O livro não é um romance, não é regido por um fio condutor que trama uma história. São como flashes, momentos, acontecimentos corriqueiros ou importantes, narrados por diversas vozes. Um excelente livro para quem gosta de História, para quem admira a escrita bem delineada, para quem quer conhecer os costumes e os hábitos do século XIX. Mas, acima de tudo, Chiquinha & Eu é um livro de amor, uma homenagem que Beth Stockler faz a toda a sua família. Recomendo.
Sílvia Kaercher

LIVRO: Chiquinha & Eu – Reinventando o passado
AUTORA: Beth Stockler (visite seu blogue Voleta)
EDITORA: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2012.
À venda na Livraria Mundial (R$44).

domingo, 2 de setembro de 2012

Novo ciclo de epigramas e início dos folhetins

Durante um ano e meio, 85 pensamentos breves do cronista Rubens Amador estiveram sendo aqui publicados semanalmente (veja no post Epigramas de Rubens Amador). Nosso colaborador inaugurou em janeiro de 2011 um espaço dentro do blogue, paralelo às postagens: o das frases de microblogue.
O lugar dos epigramas seguirá sendo ocupado por frases de outros autores pelotenses, e agora iniciaremos um ciclo com o cronista esportivo Airton Leite de Moraes, atualmente editor do periódico Vida Norte e colunista do Diário da Manhã, que assina também como Autor Próximo.
Rubens Amador seguirá trazendo-nos suas crônicas e relatos, e já vem inovando com uma proposta pouco comum na imprensa de hoje, mas muito socorrida na época em que não existiam ainda as telenovelas nem os rádio-teatros: a publicação em capítulos de contos longos ou novelas curtas, também conhecidas como folhetins.
Nos próximos dias, neste blogue, uma história em capítulos, de Rubens Amador.