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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Cartão telefônico homenageou Simões (2003)


Em 2002, o Instituto João Simões Lopes Neto propôs à Brasil Telecom a criação de um cartão telefônico alusivo ao mais importante escritor pelotense. Na época, o Instituto já havia adquirido a casa da rua Dom Pedro II nº 810, onde Simões havia morado entre 1897 e 1907, e que estava em reformas para sediar a instituição.

O cartão foi finalmente lançado na segunda-feira 24 de fevereiro de 2003, contendo, no anverso, imagem da fachada (dir.) e no verso, breve histórico do personagem (v. notícia do Diário Popular, 25-2-03). A data foi escolhida por proximidade com mais um aniversário do escritor, nascido em 9 de março de 1865.

A cada ano, os simoneanos comemoram esse aniversário com anúncios importantes e com homenagens como esta. Por exemplo, em 9 de março de 2006 o Instituto abriu suas portas ao público, na casa planejada para tal, e que foi recuperada ao longo de anos.

Ironicamente, o cartão telefônico que quis evocar a importância deste prédio tem, agora, somente valor histórico; seu uso e sua lembrança foram tão breves como a passagem do Capitão por esta casa (se bem seu espírito segue vivo e presidindo os bons resultados das iniciativas do Instituto). Os tempos mudaram rápido e, hoje, teria que ser criado algum aplicativo que divulgasse a vida e a obra do famoso autor.

Nos dez anos em que viveu neste prédio da rua Dom Pedro II (na época, rua Sete de Abril), João Simões Lopes Neto escreveu nove obras (v. notícia do Diário Popular, 9-3-03):
  • em 1900, "O Palhaço", cena dramática, e a comédia "Fifina";
  • as comédias teatrais "Jojô e Jajá e não Ioiô e Iaiá", "Querubim Trovão", "Amores e Facadas" e "O Maior Credor", todas em 1901;
  • "Por Causa das Bichas", comédia (1903);
  • em 1905, "A Cidade de Pelotas (apontamentos para alguma monografia para o seu centenário", que apareceu no segundo volume dos Anais da Biblioteca Pública, embrião da Revista do Centenário, de 1911 (v. cronologia);
  • a lenda "O Negrinho do Pastoreio", publicada primeiramente no Correio Mercantil de 26 de dezembro de 1906 (v. cronologia);
O Instituto João Simões Lopes Neto foi fundado em agosto de 1999, a partir do Núcleo de Estudos Simoneanos, que desde 1995 se reunia em diversos locais. Com o estabelecimento da entidade num local fixo, ligado à pessoa e à história do escritor, Pelotas ganhou uma verdadeira e completa instituição para o desenvolvimento de sua vocação intelectual e cultural.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O misterioso carnaval do Redondo da Praça

Luiz Carlos Marques Pinheiro escreveu um livro virtual de memórias, e o dedicou à cidade natal e a quem no futuro buscar testemunhos dos anos 30, 40 e 50. As lembranças pessoais do conterrâneo, hoje com 75 anos, despertam o sabor e o amor dos pelotenses por sua cidade e pela conservação de suas vivências coletivas (leia o livro completo "A Pelotas que eu vivi: crônicas existenciais", 199 p.).

Um dos 45 capítulos de L. C. Pinheiro (confira abaixo) evoca os antigos carnavais no interior da praça Coronel Pedro Osório. Em janeiro de 2012, José Gomes Neto, outro antigo pelotense, já havia publicado lembranças sobre o falado Redondo da Praça (ao parecer, influindo em parte o texto de Pinheiro, que saiu em 2013): 
      Quem nunca participou de um baile no Redondo da Praça Coronel Pedro Osório, durante o carnaval, não sentiu, ainda, alegria em grau máximo.
      O Carnaval em Pelotas acontecia na rua Quinze de Novembro, no pedaço entre as ruas Tiradentes e Voluntários. A Praça constituía um apêndice ao trecho citado. (...)

      E o Redondo? Bem, esse era um caso à parte. Lá não desfilavam as escolas nem os blocos organizados e sim grupos e indivíduos, que se deixavam tomar pela inacreditável animação com que os bailes transcorriam 
[v. artigo Redondo da Praça, de José Rodrigues Gomes Neto, e Redondo da Praça II, no Pelotas Treze Horas].

O Carnaval do Redondo

Ano 1956. Para quem não conhece, o Redondo é a parte mais central da Pça.Cel.Pedro Osório. Por sua vez, a praça é o ponto mais central da cidade de Pelotas. A praça apresenta oito entradas e no ponto central está o chafariz “As Nereidas”, um presente da França, inaugurado em 1873.

Este chafariz, originalmente, tinha a função de abastecer de água potável a população do seu entorno. Posteriormente, foi construído um tanque externo, em torno das “Nereidas”, para abrigar a água que jorrava da fonte. Esse tanque é chanfrado e, em cada esquina tem um poste. São oito postes ao todo. Esse tanque fica elevado e há três degraus de acesso.

Em torno desse tanque o projeto urbanístico disponibilizou uma área circular (daí o nome de Redondo dado pelo povo), bastante ampla, para o desfrute das pessoas. Em torno dessa área, foram colocados bancos de madeira, tornando o local um ponto muito aprazível e próprio para se reunir, para conversar. Por ser um ponto muito central na cidade, e uma novidade, era muito visado pelos moradores e atraía uma enorme freqüência de famílias.

Passada a fase da novidade pelo Redondo, as famílias começaram a se afastar, porque as prostitutas começaram a frequentar o local, na esperança de fazer conquistas amorosas. Chegou a um ponto em que elas dominaram o Redondo. Eu era menino e a minha mãe fazia recomendações para que eu não cruzasse pelo Redondo, que fizesse a volta na praça, porque era perigoso. Mesmo já rapaz, eu evitava de cruzar pelo Redondo. Cruzar seria mais prático, porque cortava caminho, mas a preocupação existia. Na realidade, as prostitutas não ofereciam nenhum risco. Elas ficavam sentadas nos bancos e nunca tomavam a iniciativa de uma abordagem.

Desenho satírico da Praça Dom Pedro II, reaberta ao público em 1879
(na época, já era usada a expressão "redondo da praça").
No Carnaval, o Redondo fazia o seu próprio Carnaval, característico, que não se confundia com o carnaval de rua da cidade. Incrivelmente, o Redondo não tomava conhecimento do carnaval de rua de Pelotas. Era como se não existisse. Como era um antro de prostitutas, no Carnaval atraía toda a classe baixa de Pelotas. E aqui é interessante fazer uma reflexão.

Quem era essa classe baixa? Os rapazes de Pelotas não era; tinham os seus amigos e, no Carnaval, era muito gostoso sair em grupo. Logo, não iam para o Redondo. Quem era ligado a um bloco, ou a uma escola de samba, também não ia para o Redondo, porque saía com a sua escola. As empregadas domésticas detestavam as prostitutas. A classe média, mesmo a baixa, não queria contato com as frequentadoras do Redondo.

Quem sobrava? Sobravam aqueles que não eram da cidade, geralmente colonos das redondezas que vinham para a cidade pela fama do Carnaval, os solitários, os caixeiros-viajantes de passagem pela cidade, e a rafuagem da cidade. Essa rafuagem eram verdadeiros párias sociais. Eram moradores pobres das periferias mais distantes, sem vínculos com ninguém. Eram chamados de varzeanos, porque moravam nas várzeas alagadas. Como se dizia em Pelotas, “atravessavam em ponte para entrar em casa...” Era a ralé. E todos se reuniam no Redondo. E então o Redondo se transformava num grande salão de baile.

Eu lembro de ir lá, por curiosidade, e o que eu vi foi um Carnaval muito diferente do que eu conhecia. Os homens abraçavam as mulheres por trás e saíam arrastando os pés, cantando, ao som das marchinhas. Todo mundo feliz! Formavam uma roda só, no entorno do Redondo, todos juntos, uma massa compacta, como num bloco de Carnaval. Não havia espaço para se passar...

Sem exagero, o carnaval do Redondo tinha mais características de carnaval de salão do que propriamente de carnaval de rua. Qualquer lugar servia para descansar, a começar pelos degraus da base da Fonte das Nereidas, que ficavam completamente lotados. A sorte é que a praça dispunha de um banheiro público... Jogavam confete e serpentina uns nos outros, mas também era só. Ali muito poucos tinham dinheiro para comprar um lança-perfume. Mas o confete e a serpentina já eram suficientes para deixar forrado o chão da praça. Quando aparecia um lança-perfume, chovia de lenços na volta... para um cheirinho.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Veterano relembra guerra, 70 anos depois

O pelotense de 91 anos João Pereira da Silva é veterano do Exército brasileiro na Segunda Guerra Mundial. Em 1941, com 19 anos de idade, ele se inscreveu para o combate e foi enviado de trem para Rio Grande, de navio para o Rio de Janeiro e depois até a Itália. Diz que não matou ninguém, mas viu muita gente morta (v. reportagem de Diego Queijo para o Diário Popular, com fotos de Jô Folha; abaixo, vídeo de Leandro Lopes).

Dois conterrâneos nossos morreram nos combates de 1944, um dos quais foi homenageado com o nome da rua Pracinha Hortêncio Rosa, no bairro Areal (v. blogue da Academia Pelotense de Letras). De acordo ao jornal acima citado, Rosa era natural de Canguçu.


Na hierarquia militar, os "praças" são os suboficiais ou tropa sem graduação (v. Wikipédia); antigamente, a expressão se referia aos soldados que lutavam por contrato, fora da carreira militar (talvez por estarem ligados a uma zona ou "praça"). Os 25 mil brasileiros enviados à Segunda Guerra Mundial foram apelidados com o diminutivo "pracinha" (que fora daquele contexto poderia parecer pejorativo). A maioria eram simples recrutas, jovens, pobres e sem formação militar alguma.

Já finalizada a guerra, Vicente Celestino compôs a canzonetta romântica em dois idiomas "Mia Gioconda" (v. letra e música), dedicada aos pracinhas que haviam servido em território italiano, relatando o caso de um brasileiro que se apaixonou por uma loira da Toscana (e não napolitana como diz a letra). Em 1946 a música foi sucesso nacional, reeditado em 1996 como o tema de Jeremias (Raul Cortez) da novela "O Rei do Gado" (v. Wikipédia). Na vida real, o soldado apaixonado era o gaúcho João Pedro Paz, a noiva chamava-se Iole e o casamento já dura 70 anos (v. reportagem de Zero Hora em 2014).

A rendição da Alemanha em 8 de maio de 1945 nos lembra que o Brasil há 70 anos não participa em guerras com outros países. Desde então, só tem aumentado a violência interna, seja por motivos sociais, econômicos ou políticos.

POST DATA
29 maio 2015
O filme "Estrada 47", de Vicente Ferraz, tem como protagonistas (fictícios) alguns soldados brasileiros lutando na Itália, em episódio real nunca antes filmado. A estreia foi ontem (28-5) em Porto Alegre, no contexto dos 70 anos do fim da Guerra. Houve pré-estreia no Festival de Gramado 2014, onde obteve Kikito de melhor filme (v. nota de ZH).

terça-feira, 31 de março de 2015

Música pela Música celebra 25 anos

Detalhe de apresentação da Orquestra Filarmônica e Coro Música pela Música, dirigidos por Sérgio Sisto.
A Sociedade Pelotense Música pela Música apresentou, esta sexta (27-3), a programação para 2015, inaugurando as comemorações dos seus 25 anos. É a única entidade privada que difunde a música erudita em nossa região, mantendo para isso uma orquestra e um coro sinfônico.

A data precisa do aniversário da Sociedade é 30 de outubro, que marca a fundação em 1990. Nesse dia e no seguinte (sexta e sábado), no Teatro Guarani, a agrupação apresentará por primeira vez a ópera completa L'elisir d'amore. Confira no vídeo abaixo a interpretação de Luciano Pavarotti para Una furtiva lagrima, a ária mais famosa dessa ópera de Gaetano Donizetti, estreada em maio de 1832, em Milão, Itália.

A data tem uma curiosa aproximação com nossa cidade e com o Teatro Sete de Abril, pois justamente em 7 de abril de 1832 a Freguesia de São Francisco de Paula passou a denominar-se Vila de Pelotas, e o seu primeiro teatro já se encontrava em obras (seria oficialmente inaugurado em 1834). Confluem, portanto, três aniversários: do município de Pelotas, do seu teatro mais antigo e desta ópera italiana.

A maioria das seguintes 22 atividades da SPMM em 2015, ao ritmo de duas por mês, será realizada na Fábrica Cultural Música pela Música (Félix da Cunha 952, 3227 6601). Será um ano para estar atento e desfrutar da melhor música. Horários e locais serão anunciados pela imprensa.

Programação dos 25 Anos [links atualizados]

27-3 Lançamento para convidados (v. notícia oficial).

2-4  SESI Catedrais: Arroio Grande. No Centro Cultural Basílio Conceição, 19h (v. imagens)
25-4 Vozes Brasileiras: Elisa Machado (recital de canto).
26-4 Vozes Brasileiras: Elisa Machado (oficina de canto).

21-5 SESI Catedrais: Rio Grande.
24-5 Café com Arte.
30-5 Festival Doce Cultura (FENADOCE).

28-6 SESI Catedrais: Rio Grande.

12-7 SESI Catedrais: Canguçu.
18-7 Vozes Brasileiras: Juremir Vieira (recital de canto).
19-7 Vozes Brasileiras: Juremir Vieira (oficina de canto).
26-7 Almoço Musical.

10-8 SESI Catedrais: São Lourenço do Sul.
14-8 Clássicos Rio-Grandenses.
15-8 Clássicos Rio-Grandenses.

12-9 Vozes Brasileiras: Lício Bruno (recital de canto).
13-9 Vozes Brasileiras: Lício Bruno (oficina de canto).

30-10 Ópera L'Elisir d'Amore. Dia do aniversário da SPMM.
31-10 Ópera L'Elisir d'Amore.

14-11 SESI Catedrais: São Lourenço do Sul.
20-11 Recital de canto: Fernando Montini e Sérgio Sisto.

5-12  SESI Catedrais: Pelotas.
11-12 Concerto de Natal.

Para contato com a SPMM existe o sítio Música pela Música e uma página interna no Facebook (grupo para membros e amigos).

Atualização em 2 de abril:
Ontem foi criada no Facebook a página aberta Sociedade Pelotense Música pela Música, e já tem mais de 400 seguidores.


Foto: Facebook

domingo, 29 de março de 2015

De Rio Grande a Pelotas, voo em 10 minutos


O consultor em informática Rodolfo Nützmann veio de São Paulo a trabalho e, no retorno, filmou o voo de Rio Grande a Pelotas, pela empresa NHT, a bordo de um L 410 UVP-E20, da fábrica tcheca LET Aircraft Industries. O percurso por terra é de 57 km, feitos hoje em dia em 40 ou 50 minutos. Neste caso, o voo foi realizado em 15 minutos, no dia 24 de fevereiro de 2012, das 18h17 às 18h33, com velocidade média de 220 km/h. Coisa rotineira para viajantes, mas uma aventura inusual para quem conhece estas cidades somente no chão ou nas águas.

O autor do vídeo incluiu comentários explicativos, ao modo de um guia turístico; no entanto, é preciso dizer que Pelotas não data de 1758, pois a primeira urbanização da freguesia somente foi autorizada em 1812. O ano referido é o da concessão das terras locais ao sesmeiro Thomaz Luiz Osório (v. histórico de Pelotas e da cidade de Rio Grande).

O rio que se vê no minuto 10 é o Canal São Gonçalo (historicamente denominado Sangradouro da Mirim, pois se acreditava que fosse o escoadouro das águas da Lagoa Mirim em direção ao mar). Seu principal afluente, visível na filmagem, é o Arroio Pelotas, patrimônio natural e cultural da região, antigamente conhecido como Rio das Pelotas.

Em um minuto, o avião sobrevoa todo o centro urbano e entra a seguir no grande bairro das Três Vendas, contornado em mais 4 minutos. O pouso é feito no Aeroporto Internacional de Pelotas, extraoficialmente conhecido como Bartolomeu de Gusmão. Em março de 2015, está em processo de aprovação no governo federal o nome oficial de Aeroporto João Simões Lopes Neto. Justamente no presente ano comemora-se o sesquicentenário do nascimento do escritor pelotense (1865-1916) e o centenário de sua morte.

sábado, 28 de março de 2015

Assalto a automóvel foi repelido (1915)

Notícia publicada pelo Correio do Povo, de Porto Alegre, no domingo 28 de março de 1915 foi reeditada este sábado (28-3). O relato mostra que as más intenções de alguns e a tendência a fazer justiça com as próprias mãos são questões humanas ainda sem solução, especialmente num país que não dedica grandes investimentos nem à educação nem à justiça. A tecnologia pode e deve ser usada para o bem, não só por quem tenha dinheiro para comprá-la, mas por toda pessoa educada.
Os irmãos Dodge em seu primeiro carro, fabricado em 1914
(cidade de Detroit, estado de Michigan).
Em Pelotas, o automóvel nº 52, da Garagem São José, e de que é chauffeur [motorista] José Martins de Oliveira e ajudante Fructuoso Blasco, regressava de uma viagem ao Passo do Salso e, aquém da encruzilhada das estradas do Passo do Salso e dos Carros, foi intimado a parar por um grupo de três desconhecidos, armados de facão e revólveres.

Como não fossem atendidos, os desconhecidos resolveram assaltar o veículo, tendo [um deles] saltado no estribo do auto.

Oliveira e Blasco, que estavam armados, fizeram com que o ousado assaltante baixasse e assim viram-se livres do grupo. Travou-se tiroteio, não havendo porém nenhum ferimento.
Fonte: CP, 28-3-15.

Caminho interno na Granja Progresso, em 1915 (Cachoeirinha, RS).
Fotos: sítio Dodge, blogue de R.M.Bastos

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Raízes uruguaias em Pelotas

No vídeo abaixo, da agência Maria Bonita Comunicação, Eduardo María Pereira Gozalbo apresenta o Setor de Literatura Uruguaia, criado em 2014 na Biblioteca Pública Pelotense (v. postagem neste blogue). Pereira coordena o projeto América & Pampa — também ligado à Biblioteca e fundado em 2003 — e preside o conselho da AURPAGRA em Pelotas, órgão ligado ao Ministério do Exterior uruguaio. Falando em espanhol, ele se refere à cidade de Pelotas, onde ele é parte da assim chamada colônia uruguaia, estimada hoje em 2500 pessoas. Há dez anos, a estimativa era de 1500 uruguaios em Pelotas, incluindo os não legalizados.

Em 2007, o cônsul Paulo Scheiner propôs oficialmente, ao prefeito Fetter Jr., a fundação de uma Casa de Cultura Uruguaio-Pelotense (v. notícia). O projeto era de uma equipe do curso de Letras da UFPel e deu origem ao blogue Casa de Cultura Uruguaya.


As ligações entre o Uruguai e Pelotas existem desde 1777, pelo menos, quando muitos portugueses vieram desde Colônia do Sacramento (hoje cidade uruguaia) à região que hoje é Pelotas. Naquele ano, o Tratado de Santo Ildefonso (v. Wikipédia) determinou a saída de todos os portugueses da Colônia. A vila nasceu em 1680 como um forte português e foi bombardeada pelos espanhóis durante quase um século, mas sempre resistiu (v. história de Colônia). A fronteira entre as possessões de além-mar não estava claramente definida e os portugueses a levaram ao ponto mais próximo de Buenos Aires, a margem oposta do Rio da Prata.

Com o tratado que os obrigava a sair do território espanhol (incluindo o lado oriental da Colônia e o lado ocidental de Buenos Aires), a maioria dos portugueses preferiu radicar-se em região próxima e pacífica, não afeta a ataques (em 1776, a Vila do Rio Grande havia sido reconquistada, após ocupação espanhola de uma década). No chamado Rincão das Pelotas já existiam famílias que se haviam refugiado nas proximidades de Rio Grande, aproximadamente desde 1766.

Fazendas e charqueadas no Rincão das Pelotas determinaram, desde o ano do tratado, a existência de habitantes "pelotenses" antes da criação da zona urbana . Assim, os primeiros colonizadores do Uruguai foram portugueses, e os primeiros colonizadores de Pelotas vieram da região uruguaia (quase todos, portugueses nascidos em território espanhol).

O plano de urbanização da futura cidade foi autorizado 35 anos depois, com a fundação da Freguesia de São Francisco de Paula por parte do rei português, então residente no Rio de Janeiro, em 7 de julho de 1812 (v. história de Pelotas).
Vídeo: Maria Bonita Comunicação

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A ideia de criar o PT foi de um pelotense

O advogado pelotense Huberto Luiz Paiz Machado, atualmente com 68 anos e morando em Santa Maria, afirmou no Facebook que a ideia de fundar um partido do movimento sindicalista brasileiro surgiu das bases gaúchas em 1978, mais precisamente de um funcionário do BANRISUL em Porto Alegre: um pelotense, o sindicalista Felipão Nogueira, então colega de Huberto no Direito da UFRGS. E cita testemunhas ilustres.

Leia abaixo a nota de Machado, escrita esta semana (não pública), e outra sobre corrupção e pragmatismo na política, escrita em outubro passado, antes do Segundo Turno Aécio x Dilma (Facebook, 14-10-14).

Petismo é coletivismo

Lula não é o PT. Ele divulgou a ideia e deu a impressão que era o mentor dela. Eu testemunhei os fatos e um dia vou contar essa História em detalhes.

Sábados de outubro de 1978:  7, 14, 21 e 28.
A ideia de criar o PT foi do LUIZ FELIPE DA COSTA NOGUEIRA (nascido em Pelotas, funcionário do Banrisul e falecido em 2006).

No Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, ele propôs em reunião, num sábado – outubro de 1978 – para que se fundasse o Partido Sindicalista e se evitasse a manipulação do povo por Políticos Tradicionais, na reorganização partidária. Aprovamos a ideia, éramos uns 15 bancários.

Olívio Dutra, presidente do Sindicato, soube no sábado seguinte. Gostou da idéia e a levou para a INTERSINDICAL (Reunião de outros Sindicatos de Porto Alegre), onde foi aprovada. Logo surgiram os núcleos dos Jornalistas, Vigilantes, Pedreiros, Advogados, Estudantes, Tecelões...

Então, nos cotizamos para que Olívio levasse a ideia a uma reunião de Sindicalistas convocada por Almino Afonso (que voltara do exílio). Era início de 1979. Almino Afonso e os Sindicalistas Paulistas ouviram a idéia. No dia seguinte, Lula falou à mídia na primeira pessoa:

– Para mim, só se resolve a questão dos trabalhadores criando um partido semelhante ao Partido Trabalhista Inglês.

As TVs noticiaram que a idéia era do LULA , e o mito ficou até hoje.

Lembro Velhos Companheiros dessa época: Antônio Sanzi (v. reportagem), Nilton Azevedo, o escritor Airton Ortiz (Porto Alegre), o José Fortunati (ex-bancário e atual Prefeito de Porto Alegre, que hoje está no PDT). Eles confirmarão o que digo. Assim, Dilma faz bem em não render-se ao Culto à Personalidade do Lula, pois Petismo é Coletivismo e PT não é Lulismo.

Huberto Machado, 4-1-15
De acordo ao Sindicato dos Bancários, o pelotense Luiz Felipe Nogueira foi militante do movimento estudantil (na UFRGS), depois funcionário do BANRISUL e protagonista do sindicalismo bancário nacional. Desde os anos 70, ocupou cargos diretivos no Sindicato de Bancários de Porto Alegre e Região (foi presidente 1987-1990), na Federação dos Bancários (FEEB-RS) e na Confederação Nacional (CNB-CUT). Na greve nacional de 1979, foi preso e cassado, junto a Olívio Dutra e outros dirigentes bancários. Aposentou-se em 2004, e morreu em Porto Alegre aos 55 anos, de uma parada cardíaca, em 14 de janeiro de 2006.
Sobre a criação do Partido dos Trabalhadores, Marisa Z. Godoy (UFRGS, 2014, leia aqui) sustenta que o PT nasceu de três vertentes, sendo a primeira e mais forte "o grupo dos sindicalistas, articulado pela Intersindical, que toma a iniciativa de propor a criação de um Partido dos Trabalhadores e passa a aglutinar as outras duas vertentes" (p. 17). Isto ocorreu em janeiro de 1979, quando o IX Congresso dos Metalúrgicos de São Paulo aprovou a tese do Sindicato de Santo André (p. 23-24). A referência é a pesquisa de Marta Harnecker "O sonho era possível" (1994). A Wikipédia sintetiza que o PT "surgiu da organização sindical espontânea de operários paulistas".
Por outro lado, o Instituto Lula reconhece que a fundação do PT foi fruto de muitas ações coletivas ao longo do Brasil: « A legenda é resultado de dois anos de articulações, desde as greves de 1978, quando surgiu pela primeira vez a proposta de criar um partido do povo, e não apenas para o povo: "de baixo para cima", na definição de Lula » [clique em Leia Mais, em fevereiro de 1980]. 
Assim, se a ideia deu certo porque um líder (nordestino) a reconheceu e a levou à prática (em São Paulo), parece não mais importar onde nasceu a primeira proposta (no Sul), pois já teria nascido com o caráter de coletiva. O Brasil é uma construção coletiva, ainda no embrião.
Foto: Portal PT 

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Uma corte nos pampas", a burguesia monarquista

O Mercado Central de Pelotas era assim
no século XIX. Foi mandado construir
logo após a visita do Imperador em 1866.
Em seu mais recente livro, a pesquisadora Zênia de León relata o lado humano dos titulados da nobreza pelotense do século XIX. De acordo ao blogue da Academia Pelotense de Letras, a escritora apresentou em outubro passado "Uma Corte nos Pampas", em primeira mão, no Museu Imperial no Rio de Janeiro, e em Petrópolis, onde se encontrou com descendentes do Imperador.

Posteriormente a obra foi apresentada, na Feira do Livro de Pelotas, pela Livraria Mundial, que está reeditando alguns livros de Zênia. Leia abaixo trechos do Prefácio, escrito pela pelotense Arita Cheuiche Godoy.

O governo de Dom Pedro II designou como barões e viscondes alguns de seus fiéis seguidores no extremo sul, homens que atuaram como empresários e políticos, benfeitores do Império, especialmente entre 1845 e 1888. Por seu baixo número e por sua proximidade com o poder, esse grupo de milionários, muitos deles sem linhagem nobre, constituía uma verdadeira "corte real". A ausência de um rei ou rainha nesse ambiente de opulência permitiria denominar esse grupo como "corte irreal". Em linguagem de hoje, os chamaríamos jet set ou "classe A".


Prefácio

A autora Zênia de León já nos apresentou inúmeros trabalhos em algumas linhas de produção escrita. Entretanto, é na área da pesquisa histórica que reside todo um potencial importante. É o gosto que tem por descobrir novidades históricas, episódios. Como este que agora nos brinda: saber um pouco mais sobre a nobreza em Pelotas.

Porque a cidade teve tantos titulados do Império e que atuaram como economistas, industriais, guerreiros, beneméritos, políticos, que representaram uma parcela influente na comunidade, aqui está sua presença. O que mais destaca neste trabalho é a ideia de uma corte quase autêntica. Só não autêntica por não ser real no sentido de existir. Mas real pelos aspectos comuns a uma corte. Vejamos:

A formação social no sul da antiga província era diferenciada. Corria paralela à “grande corte”, no Rio. Era absurda, antagônica, servil. Pensava-se na liberdade escrava, mas tinham-se escravos. Dessa ambiguidade nasceu o apogeu financeiro, o progresso, o refinamento, e nasceu também o próprio desejo de liberdade do gentio. Se “o rei de Portugal se estabeleceu no país em 1808 para criar um poderoso império no Brasil”, poucos anos depois se estabeleceria uma “corte fictícia” em Pelotas.

A corte em Pelotas, embora fictícia, é reveladora, merece ser contada por ter feito parte de um ciclo importante, o das charqueadas, da opulência e da cultura, e seu legado está aqui para se ver. A opulência arquitetônica como um bem inigualável da monarquia, a fundação de liceus, fábricas de azulejos, vidros coloridos, chapéus, carruagens...

Aspecto interior do Solar do Barão de Três Serros,
hoje restaurado e conhecido como Museu da Baronesa.
Homens pardos e mucamas iam ao mercado fazer compras, mas sinhazinhas acompanhadas lá compareciam para dar um toque da presença de cortesãos ao local. No mais, a “corte dos Pampas vivia esquecida, tranqüila, escondendo nas senzalas por mais de setenta anos uma mercadoria encalhada a trabalhar sob a chibata.

E era no subsolo dos casarões que se escondiam os obreiros da cidade. Em cima, uma biblioteca de causar inveja. Na economia, o apogeu das charqueadas; nas senzalas, o cansaço do escravo; nos salões, as luzes dos lustres acesos e nos porões, a escuridão dos catres.

A escritora está sendo corajosa ao tratar de um sistema extinto e sumariamente desprezado. Mas a História precisa de um registro. Este registro está sendo marcante. Abrem-se novos horizontes e novos olhares depois da leitura deste livro, temos certeza.

Na verdade, o livro que a escritora e pesquisadora Zênia de León nos apresenta é um retrospecto de informações, com fatos históricos vistos por olhos perspicazes que analisam o lado humano de uma geração extinta, os monarquistas. Foram quase dois anos de investigação sobre o tema para resgatar de forma acessível o que se passou há duzentos anos, no papel de seus figurões, protagonistas de uma história ainda não de todo explorada.

A verdade é que dificilmente se poderá encontrar um escritor, sobretudo no século XXI, que não reflita sobre tudo no século XX, de maneira a julgar com justiça e parcimônia os prós e os contra de um sistema.
Arita Cheuiche Godoy

Casa 2: Barão de Butuí. - Casa 6: Barão de São Luís. - Casa 8:  2º Barão de Cacequi
Imagens: APEL (1), ASCOM (2), 19&20, fig.01 (3)

sábado, 1 de novembro de 2014

Genealogia dos Souza Soares, portugueses no Brasil

Livro de Carmen Souza Soares Reis
Capa de Rafael Silveira Casado
A genealogista Carmen Souza Soares Reis pesquisou, durante anos, a história da sua família materna, a rama pelotense dos Souza Soares, com apoio nos recursos da Genealogia e à base de fotografias, testemunhos e documentos familiares. O resultado desse trabalho aparece ao público na 42ª Feira do Livro de Pelotas, com o título "Souza Soares: a Saga de uma Família Portuguesa no Brasil". A sessão de autógrafos é neste sábado (1-11), das 18h em diante.

A venda dentro do Brasil é feita pela Livraria Mundial de três formas: em seu estande na Feira do Livro, na loja da Quinze de Novembro 564 (fone 53-3222 2699) e pela internet (R$ 95).

A autora 

Carmen Reis é psicóloga formada na PUC-RJ, com pós-graduação nos EUA. De pais pelotenses, nasceu em Porto Alegre em janeiro de 1940, criou-se no Rio de Janeiro, e atualmente reside em West Palm Beach, Estado da Florida. Depois de aposentar-se como professora universitária, dedicou-se totalmente à Genealogia, especializando-se em famílias portuguesas. Seu primeiro livro é esta grande pesquisa sobre os Souza Soares, que agora apresenta em Pelotas. A obra tem edição limitada e foi autoeditada por Carmen, ao modo de uma missão de vida, que toda a comunidade agradece.

Carmen Souza Soares Reis
A pesquisadora encontra-se em Pelotas por alguns dias, até 4 de novembro, para fazer o único lançamento desta obra, de grande interesse para os pelotenses e para as centenas de descendentes espalhados pelo Brasil, Estados Unidos e Europa. Alguns desses parentes já estão em Pelotas para encontrar-se com a pesquisadora e comprar exemplares.

Um desses familiares é o genealogista português Francisco Manuel de Souza Soares da Gama. Ele nasceu em 1962 em Bonfim, Porto. Ao mesmo tempo, vai realizar um antigo sonho: conhecer a cidade natal do seu falecido avô, o Dr José Alvares de Souza Soares, conhecido médico pediatra da cidade do Porto, que foi o filho mais moço do primeiro casamento do Visconde de Souza Soares. Também viajou desde Portugal José Antônio Andrade de Souza Soares, primo de Carmen, nascido em 1943 em Ataíde, Amarante.

José Álvares de Souza Soares (1846-1911),
o Visconde de Souza Soares (título português)
Para a aquisição do livro no exterior, os primos e amigos residentes fora do Brasil receberam um comunicado e, mediante o sítio virtual de Carmen, encomendaram o livro em outubro, antes da impressão, que foi terminada, há poucos dias, pela Gráfica Pallotti, de Porto Alegre. Por estes dias, estão recebendo seus exemplares pelo Correio. Novas compras poderão ser feitas por contato com a autora ou com a Livraria Mundial.

Este primeiro livro de Carmen resgata a história da sua família materna, os Souza Soares. O próximo livro, “A Casa da Rua Quinze: memórias de uma família pelotense”, conta a história da sua família paterna, originária de Portugal, com raízes nos Açores e na Colônia do Sacramento (Uruguai). Seus ancestrais foram os primeiros moradores do rincão que deu origem à cidade de Pelotas.

A obra

“Souza Soares: a saga de uma família portuguesa no Brasil" conta a história de um grupo de irmãos portugueses que foram separados pelo destino e conseguiram reunir-se no Brasil, como imigrantes. José, um dos irmãos, transferiu-se de Pernambuco para o Rio Grande do Sul, montou uma indústria de produtos farmacêuticos na cidade de Pelotas, o Laboratório Souza Soares, e tornou-se rico e famoso. Outra de suas criações foi o Parque Souza Soares, a primeira área de lazer aberta à população pelotense. Seu gênio empreendedor valeu-lhe o título de Visconde de Souza Soares, concedido pelo rei de Portugal.

Parque Souza Soares (Pelotas, 1900)
Ao longo das 640 páginas do livro, Carmen analisa, por um lado, 7 gerações de descendentes ao longo de dois séculos, desde 1795 até os dias atuais, listando centenas de pessoas,  e, por outro lado, mais 26 gerações de ascendentes, desde 1795 até 11 séculos antes.

Na Primeira Parte do livro, a autora conta a história dos irmãos Souza Soares que emigraram para o Brasil no século XIX e das famílias que formaram. Na Segunda Parte, apresenta a genealogia das famílias de que os Souza Soares descendem, e das famílias que se uniram a eles por casamento: Magalhães Queirós, Teixeira Leite, Monterroio, Brochado e Silva Ramos.

Carmen e Rafael N. Casado,
autor da capa do livro
A publicação tem o apoio cultural do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas e da Junta da Freguesia de Vairão, o governo municipal da cidade de origem da família Souza Soares em Portugal.

A capa é de autoria do designer gráfico Rafael Nodari Silveira Casado, primo de Carmen pelo lado paterno. Os dois se reuniram em Porto Alegre, semana passada (dir.). Ele mora em Concórdia (SC) e fez este trabalho graciosamente.

Como parte das pesquisas sobre os parentes Souza Soares que nasceram e viveram em Pelotas, Carmen Reis cita um texto de Mario Osorio Magalhães sobre dona Gilda Litran de Souza Soares, publicado neste blogue em 2011. Na época, o historiador que se dedicou a estudar as origens de Pelotas dedicou generosamente essa colaboração especial ao nosso blogue. Confira o post Gilda de Souza Soares, citado pela autora no rodapé 292 (página 193).
Imagens: Carmen Reis (1-2), Geni (3), Flickr (4), R. Casado (5)

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O Caso do Pênalti: o jogo que demorou 15 dias

O Estádio Boca do Lobo ganhou o nome por causa da esquina nordeste (acima à esq.), onde o ângulo das vias
(Gonçalves Chaves e Domingos de Almeida) formam uma "boca de lobo" (foto: F. L. Fonseca, agosto de 2006).

80 anos do pênalti mais longo de Pelotas

Diz um dos mais famosos clichês futebolísticos que o pênalti é tão importante, que até o presidente do clube deveria batê-lo.

Imagine agora essa cena inusitada: um estádio lotado, com juiz e bandeirinhas [mas sem os times em campo], e onde todos aguardam pelo pênalti a ser batido. E não havia nenhuma decisão por pênaltis naquele dia; [era uma única penalidade]. Parece surreal, mas isso realmente aconteceu aqui em Pelotas, 80 anos atrás [30-09-34].

O pré-jogo

1934 foi um ano muito agitado pelo mundo. No Brasil, Getúlio Vargas assumia de fato a presidência constitucional e, na Alemanha, Adolf Hitler acabava de concentrar o poder total em suas mãos após a Noite dos Longos Punhais e o falecimento do presidente Hindenburg. Ali perto, na Itália, a seleção italiana acabara de ganhar a Copa do Mundo de futebol, que foi marcada pela constante intervenção do fascismo, representada pelo seu líder Benito Mussolini.

Aqui em Pelotas, o campeonato citadino daquele ano era disputado com ardor pelos clubes locais, com todos buscando o tão sonhado título.

O Farroupilha (então chamado 9º Regimento de Infantaria) e o Pelotas (v. história do clube) logo se destacaram de todas as outras equipes no campeonato, e toda a cidade, especialmente os torcedores das duas equipes, aguardava ansiosamente esse duelo.

A partida

Grêmio Atlético Farroupilha (1926), o Fantasma
Esporte Clube Pelotas (1908), o Lobão
A 15 de setembro, o jogo foi realizado na Boca do Lobo (então chamada de Estádio da Avenida Bento Gonçalves). Parecia um jogo como tantos outros, eletrizante e emocionante a cada jogada de ambos os lados.

Cardeal estava numa jornada irrepreensível ao marcar os dois gols que dariam a vitória ao time do Regimento.

Foi então que a história começou a ser escrita. No último lance do jogo, Celistro cometeu um pênalti desnecessário e o juiz preparava-se para marcar a infração. Porém, naqueles tempos, havia a figura do cronometrista, que deu por encerrada a partida um pouco antes da hora.

Nesse instante, os torcedores das duas equipes invadiram o campo e o jogo foi suspenso até resolver o impasse que se seguiu. E uma pergunta ecoou por toda a cidade: o pênalti deveria ser batido ou não?

O desfecho

Alguns dias depois, a Liga Pelotense determinou que o pênalti seria mesmo batido e marcou para 30 de setembro a data da cobrança. Na cidade, não se falava outra coisa a não ser o “Caso do Pênalti” e todos aguardavam com entusiasmo o desfecho dessa história.

Veio então o grande dia. O estádio estava praticamente lotado, com todos querendo ver a dita cobrança de pênalti.

De um lado, o ponteiro do Pelotas, João Pedro, conhecido como o “Canhão Pelotense” devido ao chute potente que tinha e, do outro, o goleiro Brandão, um dos destaques da equipe do Regimento.

O vento soprava levemente no estádio e, em todos os cantos, os torcedores prendiam a respiração.

Para aumentar ainda mais a expectativa, o vento soprou a bola para fora da marca de cal e João Pedro arrumou a bola pra bater. Brandão saiu rápido do gol e foi cumprimentar o ponteiro pelo gesto.

Então João Pedro correu, soltou a bomba... e Brandão defendeu magistralmente, garantindo a vitória e abrindo o caminho para o título local, que o Regimento ganharia no final daquele ano, o primeiro título citadino de sua história.

E assim, o “Caso do Pênalti”, como ficou conhecido esse episódio, entrou para a história como um dos acontecimentos mais pitorescos do futebol pelotense, brasileiro e mundial.

Mário Gayer do Amaral
Professor e Historiador
Fonte: Cultive Ler

O "Nono Regimento de Infantaria" foi campeão gaúcho em 1935, por única vez.
Em 1934, havia sido campeão citadino, sempre com o goleiro Brandão.
A mudança de nome veio em 1941, honrando o título estadual de 1935 (centenário farroupilha).
Fotos: Unidos por Uma Paixão (1) e Museu Virtual do Futebol (3)

domingo, 21 de setembro de 2014

Foto do Zepelim foi montada em 1957

Capa do Diário Popular, 20-21 setembro 2014
Luís Alberto Elste revela a verdade sobre a foto de 1957.
Em plena ascensão do nazismo, o dirigível alemão Graf Zeppelin realizava viagens da Europa à América, e na tarde do dia 29 de junho de 1934 sobrevoou Pelotas, rumo a Buenos Aires, onde chegou pela manhã do dia seguinte (v. relatos em espanhol). 

Nosso cronista Rubens Amador, menino na época, presenciou o fato e veio relatá-lo na década de 1970. Ele lembra que o aparelho surgiu do nordeste, passou por sobre a praça, fez um longo círculo ou curva e seguiu em direção oeste (v. artigo neste blogue O dia em que o Zepelim sobrevoou Pelotas)

Naquele tempo havia fotógrafos em terra mas não conseguiram uma boa foto, e a notícia foi divulgada, na imprensa escrita, sem uma boa imagem como aquela que se fez famosa 23 anos depois do fato (abaixo). 

Em 1957, a nova foto surgiu do nada, sem maiores explicações, e ganhou enorme aceitação. Inclusive até hoje era tida como um registro histórico, mesmo com aparente distorção de luminosidade, distâncias e dimensões, e com aquela dúvida que ninguém considerou (pois o Zepelim realmente tinha passado perto do Clube Caixeiral e a foto até mostra um ajuntamento de pessoas no meio da praça): 
Se a viagem era do norte ao sul, por que o dirigível parece vir desde Buenos Aires? O dirigível alemão teria feito um rodopio sobre a praça de uma cidade do interior brasileiro?
Pois o Diário Popular acaba de revelar o que o fotógrafo Luís Alberto Elste fez com as imagens que tinha em mãos na época, e por que guardou silêncio desde 1957, há portanto 57 anos. Na reportagem de Diego Queijo, Elste foi fotografado por Paulo Rossi, que também escreveu uma opinião, como especialista em fotojornalismo, sobre a questão das montagens ("Photoshop não é vilão"). Todo o seguinte texto escrito e o vídeo foram tomados do Diário Popular de ontem (20-09), segundo a matéria A farsa que entrou na história.

Na imagem divulgada em 1957, o dirigível aparece rumando para o leste.
O dia 29 de junho de 1934 começou com alvoroço. O telefone do jornal tocava incessantemente. A população queria saber o horário exato da chegada da grande aeronave. Ao longo da tarde, a redação ia recebendo boletins da Companhia Telefônica Rio Grandense e repassando as informações aos leitores. O zepelim LZ 127 esteve em Tapes às 14h50min, no Passo da Pacheca, em Camaquã, às 15h35min e em São Lourenço às 15h52min.

"E num frenesi crescendo de entusiasmo e viva expectativa, os minutos foram correndo até que, precisamente, às 16 horas e 40 minutos, surge majestoso o 'Graf Zeppelin' do lado nordeste", descreveu o DP na edição do dia 30. O dirigível de 236 metros de comprimento "deslizou sobre a cidade" a cerca de 600 metros de altura. Trazia na cauda duas cruzes suásticas, então símbolos da Alemanha comandada por Adolf Hitler.

Fotos não manipuladas do Zepelim
sobre o centro de Pelotas (1934),
cedidas pelo pesquisador Guilherme de Almeida
A história da visita foi ouvida diversas vezes pelo pelotense Luis Alberto Elste, mas durante muito tempo ele preferiu esconder sua relação com o fato. Procurado pela reportagem, este senhor de 82 anos decidiu que seu legado sobre o assunto não seria o silêncio.

Elste começou a trabalhar no Diário Popular aos 19 anos [ao redor de 1951], como auxiliar do fotógrafo Ramão Barros [...]. Um dia, em 1957, ele viu Barros conversando sobre a passagem do dirigível e reclamando por não ter conseguido fotografá-lo direito, pois estava muito alto.
Depois disso me deparei com uma revista com uma fotografia do zepelim impressa, com o céu branco atrás, e pensei: vou fazer uma sacanagem com o Ramão.
Assim, ele colocou a aeronave no céu de uma foto da praça, feita por Barros, e mostrou ao fotógrafo. "Eu disse pra ele que a foto era minha, ele não acreditou, mas achou muito boa."

Mesmo surpreso e incrédulo, Barros decidiu expor a imagem na vitrine de uma ótica na rua Quinze de Novembro. A partir daí, começaram a surgir as encomendas. [Somente] duas pessoas sabiam dessa história: Ramão Barros e o pesquisador Nelson Nobre Magalhães.
Era todo mundo comprando cópias. Se vendeu horrores, aí eu fiquei constrangido de dizer que era uma montagem. Nunca falei porque nunca dei bola para isso, mas hoje a foto é o marco de uma época, e isso foi importante.
O acervo de Luís Elste se perdeu com o tempo. A umidade estragou muitos negativos e ele nunca mais viu a tal revista com o dirigível. [...]
Foto não manipulada do Graf Zeppelin sobre o Parque Centenario, Buenos Aires, manhã do dia 30-06-1934

Ao saber da história da montagem, a coordenadora do Núcleo de Patrimônio Cultural da UFPel, Francisca Michelon, se mostrou surpresa, mas salientou a importância do registro e a beleza da fotografia. [Ela conclui com uma pergunta, que fica pairando em pleno ar].
Nesta foto há uma circunstância curiosa, o paradoxo se afirma: de fato ela parece uma montagem; mas todas as demais fotos de dirigíveis parecem, também. Será que é porque agora, no presente, o dirigível, em si, é uma história e uma coisa singular?
Luís Elste montando uma foto a partir de duas pré-existentes, na arte de Bruce William (DP)
Procedimento de manipulação analógica

1. Havia duas imagens impressas: uma da praça Coronel Pedro Osório (de Ramão Barros, 1955) e outra do dirigível sobre Buenos Aires (impressa em rotogravura nas páginas da revista "O Mundo Ilustrado").

2. As duas imagens foram fotografadas em separado para obter o negativo de cada uma.

3. Depois, no laboratório, ele ampliou uma nova foto através de dupla exposição no papel fotográfico. Primeiro, ele expôs o papel, sensível à luz, ao negativo da foto da praça. Depois, trocou os negativos no ampliador e, no mesmo papel, ainda sem revelar, expôs o negativo do dirigível.

4. Com o mesmo papel exposto aos dois negativos, ele revelou e obteve a imagem do Zepelim sobre a praça.

5. Ao fotografar o resultado, ele obteve um negativo "matriz" da montagem para reproduzir quantas vezes fosse necessário.




Photoshop não é vilão
Paulo Rossi, repórter fotográfico

Para mim a fotografia tem três momentos marcantes. Primeiro, claro, sua descoberta, com a primeira foto fixada por Niépce em 1826. Depois, sua popularização em 1888, quando George Eastman, fundador da Kodak, desenvolve o filme fotográfico e lança o slogan "Você aperta o botão, nós fazemos o resto". E por último, até então, a sua digitalização.

Este processo tecnológico, combinado com os avanços da internet, inundou de imagens nossos computadores. Todos nós temos ou conhecemos alguém com um celular ou uma câmera digital pronta para disparar a qualquer momento e atualizar seu Facebook ou até mesmo captar um flagrante para o jornal local.

O domínio das ferramentas acontece naturalmente. Por que então não usar o Photoshop, que baixei no meu notebook e deixar minha selfie mais atraente? Ou eliminar aquela ruguinha que incomoda tanto? Assim, vemos surgir na rede milhares de fotografias manipuladas digitalmente, com as mais variadas intenções: tornar as pessoas mais bonitas, as paisagens mais interessantes, formular sátiras e brincadeiras, como a do Elste, fazer trabalhos artísticos e até mesmo favorecer interesses.

A mais antiga manipulação: ao redor de 1860,
a cabeça do presidente eleito A.Lincoln foi posta
na foto do ex-vice John Calhoun, morto em 1850.
Mas engana-se o leitor pensando que isso é novidade. Muito antes de existirem os arquivos digitais e softwares de manipulação, fotos já eram adulteradas nos laboratórios fotográficos. Imagens históricas e mesmo fotos jornalísticas atuais são adulteradas visando a diversos fins. Há um grande número delas na internet: de Mussolini em 1942, Mao Tsé-Tung em 1936 e Abraham Lincoln em 1860 [v. 9 montagens históricas no Retronaut e 26 modernas no CNET].

Penso que muitas dessas imagens, principalmente as jornalísticas, menosprezam o valor informativo e são retocadas visando meramente à projeção da imagem, do profissional ou de algum grupo. A foto irá vender mais, publicarão mais, chamará mais atenção.

Por isso é importante que repórteres-fotográficos se questionem diariamente, e mais ainda quando estão no front, no dia-a-dia, naquele momento diante da dor de alguém: o que fazem com a câmera pendurada no pescoço?

E a resposta sempre deve ser: estou aqui cumprindo um papel social, estou aqui denunciando, estou aqui contando uma história, como esta de 80 anos.

Fonte: Diário Popular
Fotos: 
DP impresso, Fábrica de Mosaicos, CaballitoTeQuieroRetronaut 

domingo, 7 de setembro de 2014

Desfile da Pátria na Avenida


Em 2014, a Parada da Juventude em Pelotas não ocorreu devido ao mau tempo no sábado (6), mas o Sete de Setembro foi preservado pelo comando do céu e do clima, e as representações civis e militares puderam desfilar normalmente. No vídeo acima, breve resumo da parada cívico militar de hoje em Pelotas (veja aqui a abertura, em 1 de setembro).

A exceção foram os Centros de Tradições Gaúchas, cuja participação foi previamente restringida a dois membros por centro, motivo pelo qual a coordenação destes optou por não desfilar (v. notícia de sexta 5 no Diário Popular e reportagem de hoje domingo). A tradição entre nós é que os cavalarianos gaúchos mostrem o patriotismo ante a nação brasileira desfiles de 2012 e 2013 podem ser vistos no canal do programa Esportes e Cia, da TV Cidade (v. vídeos de 2012 e 2013 aqui).

Exército Brasileiro tem armas leves e pesadas,
ainda pensando em guerras convencionais.
Nosso patriotismo ainda recorda os 192 anos da independência política brasileira em relação a Portugal, e de forma parecida se mantém vivo, no âmbito dos costumes, o tradicionalismo regional que se apoia, ideologicamente, nos feitos da Revolução Farroupilha (1835-1845), que pretendia a emancipação do Rio Grande do Sul.

Até o século XVIII, nosso inimigo mais imediato ainda era a invasão espanhola, quando as armas eram espadas e carabinas. O mais moderno que se observa em nossos desfiles de Sete de Setembro é a defesa militar empregada na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como tanques, bazucas e granadas.

Nossa realidade atual pertence a um mundo diferente desse museu de lembranças que desfila. Hoje os inimigos do Brasil não estão mais em Portugal, nem no governo imperial, nem nos países vizinhos, mas se encontram internalizados em nossa sociedade e em nossa mentalidade. Para desfilarmos com orgulho, precisamos de defesas civis e militares contra esses perigos insidiosos, de forças heroicas e unidas que possam nos levar a um país melhor que o que recebemos, e de uma educação para a paz, que nos faça ser pessoas mais construtivas e solidárias. O Brasil ainda não organizou esses recursos em nível nacional.

Clube dos Desbravadores, equivalente escotista do adventismo (v. descrição),
anuncia um futuro de paz, em desfile na Avenida Bento Gonçalves.
Fotos: Paulo Rossi (DP)

domingo, 31 de agosto de 2014

A Espanhola e o Ebola, epidemias mortais

Nosso colaborador cronista Rubens Amador publicou no Diário da Manhã impresso de domingo passado (24-08-14) a crônica seguinte, onde sugere que a gripe espanhola e os recentes surtos da febre ebola poderiam ter em comum um mesmo fator de risco: a exposição ao ar livre de cadáveres de vítimas de guerra.


Fonte: SlidePlayer
A terrível influenza não tem origem certa, mas se associou à Espanha porque naquele país, neutro na 1ª Guerra Mundial, a imprensa noticiou abertamente sobre a epidemia, enquanto os demais países (afetados pela guerra e pela doença) estavam sob censura. Na Espanha, era chamada "russa"; na Rússia, era "siberiana".

A gripe espanhola foi a pior pandemia da história da humanidade (v. slide à dir.). Também chegou ao Rio Grande do Sul, e a Pelotas, como menciona nosso cronista. Em 1918, nossa cidade tinha uns 78 mil habitantes (v. artigo de L. A. Gill) e Porto Alegre, 192 mil.

A historiadora Janete Abrão informa em palestra (v. vídeo 34 min., slide 33) que, em 1918, houve somente em Porto Alegre 1316 óbitos pela gripe espanhola (12 mil na cidade do Rio, 5 mil em São Paulo), estimando-se em 300 mil mortos em todo o Brasil, em todos os Estados (entre 1 e 2 % da população morreu). Em Pelotas pode ter sido entre 800 e 1000 pessoas, comparável a 4 mil mortos em 2014. 

Um novo vírus apareceu em 1976 perto do Rio Ebola, no Congo, ganhando o nome ebolavírus. A grafia ébola é do francês, idioma oficial do Congo, e sua pronúncia é eboláSobre esta epidemia surgida na África, v. a nota de Médicos sem Fronteiras, o artigo Ebola e a falência moral do capitalismo e a reportagem da Revista Veja.


Cuidado com a pandemia

Curiosamente, pelo que leio sobre o Ebola, não encontrei até agora nenhuma conotação com algo muito importante que deve ser pensado, acho eu. Refiro-me à famosa Gripe Espanhola, de 1918. Foi atribuída àquela tragédia universal, como causa, os corpos insepultos durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Milhões de seres se putrefizeram na atmosfera, contaminando-a seriamente, tal como acontece com a branda e lenta poluição de hoje pelas chaminés das fábricas e dos automóveis.

"Gripe A" de 1918 matou, em todo o planeta,
mais que a 1ª Guerra (que teve 16 milhões de mortos)
A Gripe recebeu esse nome porque falsamente surgiu na Espanha (leia um resumo). Foram considerados mortos pela gripe “espanhola”, no mundo daquela época, de 20 a 100 milhões de pessoas!

Os sintomas eram terríveis: a pele da pessoa assumia uma coloração castanha arroxeada, os pés ficavam pretos, o doente começava a tossir sangue, deixando a saliva tingida. Sobrevinha uma sufocação por falta de ar, e a vítima entrava em agonia até a morte, por ter seus pulmões inchados por um muco sanguinolento.

Agora questiono o seguinte: Lá na Nigéria, Libéria, Serra Leoa, Guiné, Monróvia e adjacências, está acontecendo um terrível morticínio por questões políticas terroristas, de onde resulta também ficarem milhares de corpos insepultos. Há poucos dias, vi na televisão o depoimento de um homem que fugia do pavor pelas mortes praticadas por guerrilheiros islamitas fanáticos, que ele e sua mulher conseguiram vencer a fadiga, em difícil fuga, com fome e sede, mas que sua mãe morrera no caminho, e ele teve de abandonar seu corpo na estrada. E que essa via estava juncada de cadáveres. Naquele setor da África, há enormes condições pró-vírus, por enquanto uma epidemia, com já quase dois mil mortos, tal a miséria que lá impera.

E aqui venho perguntar: não terá o Ebola certa similitude com a Gripe Espanhola? Só que agora manifestando-se com outro vírus peculiar? Face ao perigo de outra pandemia, vários países estão tentando circunscrever o foco do vírus (já morreu um médico espanhol, e dois colegas seus americanos que, contaminados, já foram recambiados em câmaras muito especiais para serem tratados nos EUA), mas o resto da humanidade teme que possa acontecer outra pandemia como a trágica Gripe Espanhola.

Ebola mata 90% dos contagiados,
entre estes alguns médicos e cuidadores.
Em Pelotas, milhares de pessoas morreram com a “espanhola”. Não havia caixões suficientes, nem médicos, nem hospitais. Os corpos eram transportados em carroças para sítios distantes, pois não havia lugar no cemitério local de então.

Foi uma tragédia universal. Tudo – se afirma – uma trágica decorrência da guerra de 1914-18, quando as condições sanitárias ainda eram muito precárias e pouco se sabia de como enfrentar uma agressão virótica daquela magnitude, com milhares de corpos insepultos.

Para se ter uma idéia da letalidade do vírus da chamada Gripe Espanhola, ele só pôde ser tratado 77 anos depois de aparecer, quando o Dr. Jeffrey Tautenberg – um norte americano – o isolou no ano de 1995, tornando possível uma vacina. O mundo agora conhece o vírus da terrível Gripe Espanhola, que leva a sigla H1N1.

Para concluir estas considerações de um leigo no assunto, baseado apenas em leituras, insisto: O vírus Ebola, no meu entender, surgiu devido aos corpos insepultos e a uma precária higiene, o que aconteceu também na 1ª Guerra Mundial de 1914-18. Na miséria dos países africanos onde hoje o Ebola nasceu e prolifera, reina pouca sanidade, e os corpos se espalham pelas ruas e estradas, ante as mortes abundantes de contaminados.

O ebolavírus é tão letal e contagioso que os
pesquisadores devem usar proteções especiais.
O perigo é enorme, um dos maiores deste século, pois se tal vírus ganhar o resto do mundo, neste momento em que se desconhece tudo sobre ele, talvez ainda leve outros 2 anos para se chegar à etiologia do vírus em laboratório.

Enquanto isso, por certo, milhões de pessoas serão infectadas, em outra pandemia, apesar do progresso científico de hoje.

Rubens Amador

Imagens da web

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Conservatório de Música precisa de conservação

O músico, compositor e diplomata pelotense Luiz Carlos Lessa Vinholes escreveu o artigo abaixo, com algumas recordações do Conservatório de Música na década de 1950. A Casa fundada em 1918, municipalizada nos anos 30, e depois gradualmente incluída na UFPel, se encontra hoje como uma unidade menor, dependente do Centro de Artes, e com aulas espalhadas por quatro sedes da Universidade.

Também está negligenciado o tradicional prédio do século XIX onde já por 96 anos funciona este símbolo cultural em Pelotas e bastião da música erudita. Há seis anos, a Universidade adquiriu piano novo e iniciou reforma do auditório (v. postagem); há cinco, comprou novas cadeiras (leia postagem de 2009) e, há quatro, a Prefeitura repintou as fachadas (v. postagem de 2010).

Faltou, no entanto, restaurar a estrutura do velho casarão e o Salão Milton de Lemos teve que ser interditado, em 2012. A nova reitoria tenta manter atividades no local, mas a propriedade ainda é do município e os custos de conservação são muito altos. Veja recente reportagem da RBS sobre o Conservatório de Música da UFPel.

Salão Milton de Lemos em 2011, antes da interdição, já com as novas cadeiras
(hoje estas cadeiras se encontram no auditório da Lobo da Costa, sede Canguru).

O Conservatório de Música é ícone de Pelotas

Tiro da estante pequeno álbum que há décadas guarda parte da história de 1952 do Conservatório de Música de Pelotas. Suas páginas têm fotos, programas e dedicatórias de intérpretes que se destacaram no cenário mundial de meados do século 20.

Para mim este álbum é muito especial, pois, com minha ida definitiva para São Paulo em 1953, ele passou a ser, sem que eu quisesse, testemunha da despedida de minha cidade natal.

Folheando suas páginas, entre tantos outros, vejo e recordo a:
    Conservatório ficou com um dos seus 3 pianos de concerto
    e nenhuma cadeira no auditório (foto de 2014).
  • Anselmo Zlatopolsky, violinista nascido na Rússia, que veio “em tenra idade para o Brasil, onde mais tarde obteve sua naturalização” tornando-se spalla do Quarteto Haydn, que Mário de Andrade criou quando fundou o Departamento de Cultura de S. Paulo; 
  • Nicanor Zabaleta, o harpista espanhol considerado “o primeiro harpista do mundo” (v. biografia) depois de apresentar-se aos nove anos de idade, estudar em Paris com Marcel Tournier e ser solista das mais experientes orquestras do Velho Continente; 
  • o pianista Sebastian Benda, nascido na França, “descendente da dinastia de músicos iniciada no século XVIII, incluindo Franz e George Benda, compositores da corte de Frederico o Grande” (leia neste blogue crônica sobre Benda, escrita em abril de 1953;
  • Guido Santorsola, italiano de nascimento, exímio executante de viola da gamba (v. Wikipedia), que no Brasil foi aluno de violino de Zaccaria Autuori e de composição com Agostinho Cantú, no Conservatório Dramático e Musical paulista, falecendo em Montevidéu, depois de desenvolver intensa atividade como compositor e regente no Teatro Sodre
  • o Trio Pró-Arte formado por Maria Amélia de Resende Martins, piano, George Retyi-Gazda, violino, e Jacques Ripoche, violoncelo, ela uma das responsáveis pela fundação, na década de 1940, da Sociedade Pró-Arte, no Rio de Janeiro, que, empresariando grandes artistas, promoveu recitais e concertos de parceria com instituições das principais cidades do Brasil; 
  • Walter Gieseking, pianista francês nascido em 1895, aluno de Eugenio Gandolfo, que viu sua carreira interrompida com a guerra de 1914 e que mais tarde, embora contra sua vontade, teve que tocar para Adolfo Hitler (v. Wikipedia).
De Sebastian Benda vale lembrar que foi diretor do Departamento de Música da Universidade Federal de Santa Maria e, mais tarde, do mesmo departamento da Universidade Federal da Bahia. Também em 1952, sob a regência de H. J. Koellreutter, conhecido mestre de compositores brasileiros, tais como Claudio Santoro, Edino Krieger e Guerra Peixe, Benda foi solista da orquestra da Sociedade Orquestral de Pelotas. Koellreutter, por sua vez, regeu o Coral do Conservatório apresentando a singular cantata “Negrinho do Pastoreio”, para vozes femininas, de Eunice Catunda, anos depois regida por Lourdes Nascimento, mestra de gerações de cantoras e cantores pelotenses.

Lendo notícias recentes, tomei conhecimento das tratativas que visam retirar o Conservatório do local que ocupa. Preocupa-me, pois se não levarem em consideração o seu passado, destruirão parte da história de Pelotas, em prejuízo das gerações futuras. O Conservatório, no prédio em que se encontra há quase um século, é ícone da Princesa do Sul.
Luiz Carlos Vinholes

Projeto PROFORMUS, do Conservatório, promove recital esta quarta (27-08), 19h, na Biblioteca Pública.
Texto: Diário Popular
Fotos: ASCOM (1), RBS (2), Facebook (3)

POST DATA
3-09-14
Leia reportagem Conservatório recebe apoio da Câmara.