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quarta-feira, 19 de março de 2014

Curso de teologia para leigos

Sala quase lotada no curso de teologia para leigos
A Coordenação Arquidiocesana de Leigos e o Instituto de Teologia Paulo VI iniciaram, quarta passada (12-3), nova edição do Curso Intensivo de Teologia, agora em versão semestral. Cerca de 80 pessoas se inscreveram nesta primeira sessão, quase lotando o auditório do Campus II da UCPel.

Até 29 de junho, quatro módulos abordarão o tema geral: "A Palavra de Deus na Vida e na Pastoral", dirigido a agentes pastorais católicos, adultos e leigos (v. nota da Arquidiocese de Pelotas). Os temas foram pensados à luz da recente exortação apostólica Evangelii Gaudium (E.G., A Alegria do Evangelho), do papa Francisco, publicada em novembro de 2013.

Os únicos requisitos são uma taxa de 10 reais e uma carta de apresentação (assinada por um pároco, presidente de Conselho Paroquial ou coordenador de Movimentos).  O sentido desta carta é que os catequistas e outros agentes de serviço pastoral percebam que não vão aprender teologia por conta própria, mas para sua comunidade.

Coordenador anima os leigos a dar vida nova à Igreja.
Na primeira sessão, o coordenador de Pastoral da Arquidiocese de Pelotas, Padre Guilherme Panatieri, falou sobre a Prioridade Pastoral 2014-2015: revitalizar as comunidades paroquiais, dando força à iniciação cristã e à animação bíblica. A Arquidiocese, antes chamada "Diocese"

O presbítero também ministrou a 1ª aula do curso, explicando que, por problema no agendamento, o conteúdo da aula inaugural, que seria dada no dia 12 de março  pelo arcebispo Dom Jacinto (Prioridade Pastoral), será explicado mais amplamente daqui a duas semanas (v. programação abaixo).

Já entrando no 1º módulo (relação da Palavra de Deus com as experiências pessoais), foi explicado, com inspiração na experiência de Moisés, que precisamos tirar as sandálias com humildade e abrir-nos a ouvir e dizer as verdades como elas são, e assim será possível que tenhamos um encontro verdadeiro com Deus.

Veja a seguir os conteúdos destes 4 meses (programação corrigida), com os nomes dos professores e os trechos bíblicos tratados. Inscrições e informações no Secretariado Arquidiocesano (Sete de Setembro, 145).

Curso "A Palavra de Deus na Vida e na Pastoral"

1º Módulo:
Eu e a Palavra de Deus (Pe. Guilherme e Pe. Rômulo).
12/03 - Experiência de Deus - Êxodo 3, 1-6.
19/03 - A alegria do chamado - Lucas 1, 26-31.
02/04 - A escuta de Deus - 1ª Samuel 3, 2-10.
09/03 - Encontro com Cristo - Atos 9, 1-6.

2º Módulo:
A Palavra de Deus propõe uma ação (Maria Elizabete Gonçalves).
16/04 - Deus propõe ação - Êxodo 2, 16-18.
23/04 - Deus nos impulsiona ao serviço - Lucas 1, 39-45.
30/04 - Profetismo e discipulado - 1ª Samuel 3, 15-20.
07/05 - Deus nos chama a viver em comunidade - Atos 2, 42-47.

3º Módulo:
A Palavra de DEUS e o outro (Maria Beatriz Ferreira).
14/05 - Campanha da Fraternidade 2014 - Gálatas 5, 1.
21/05 - Dimensão Social da Evangelização - Atos 4, 32-35.
28/05 - Relacionamentos (ciúme, poder, sabedoria...) - Êxodo 4, 1-12.
04/06 - Família - Lucas 2, 41-52.

4º Módulo:
A Palavra de Deus e a Missão (Maria Suely Leitzke).
11/06 - A alegria do Evangelho" - João 16, 20-22.
18/06 - Discípulos Missionários da Palavra de Deus - João 4, 5,10, 34-41.
25/06 - Na crise do compromisso comunitário (E.G. Cap. 2) - Mateus 4, 1-4; 5-11.
02/07 - A transformação missionária da Igreja (E.G.) - Atos 3, 32-35.
09/07 - Avaliação e celebração de envio.

Encontro de Jesus com a samaritana e a descoberta da Água Viva (Evangelho de João, cap. 4) 
Fotos: F. A. Vidal (1-2), Living Water, pintura de Simon Dewey (3)

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ana Paula Maciel

Ana Paula gera discussão sobre o pacifismo verde.
O projeto cultural da UFPel "Quartas no Lyceu", inciado em 2013, aborda este mês o tema "Política e cidadania: em defesa do planeta". No módulo Ideias e Pensamentos, realizou-se anteontem (12-2) uma conversa entre a bióloga Ana Paula Alminhana Maciel (dir.), ativista gaúcha do Greenpeace, e a professora Ana Paula Nunes, responsável pela gestão ambiental na UFPel (v. artigo Quartas no Lyceu recebe ativista do Greenpeace).

A gaúcha de 31 anos graduou-se como bióloga em 2007 (v. nota da ULBRA) e desde 2006 atua como marinheira da ONG internacional Greenpeace (veja sua história em notícia do Instituto da Unisinos e em artigo do Greenpeace). Junto a outros ativistas, foi presa na Rússia em setembro de 2013 (v. notícia do Correio do Povo), retornou ao Brasil em 28 de dezembro (v. reportagem da chegada a Porto Alegre) e deu entrevista a Zero Hora no dia seguinte.

Ana Paula no Greenpeace 
Excepcionalmente, a atividade da UFPel foi realizada no auditório do Direito, devido à ocupação do prédio, desde quinta (6-2), por alunos que exigem melhores condições de estudo (v. notícia do Diário Popular e uma nota da UFPel de 11-2). A casa que foi doada pela família Antunes Maciel para que nela funcionasse o antigo Liceu Rio-Grandense não recebeu a senhorita Ana Paula Maciel, ironicamente devido a um protesto pacífico.

A moça gera polêmica, a seu favor e contra, e não para de manifestar-se em debates e na mídia (v. sua página pública no Facebook). O blogueiro "de esquerda" Luiz Afonso Escosteguy, que costuma se descrever como "chato", questionou Quem é Ana Paula Maciel? Agora a advogada Bianca Pazzini relata seu primeiro encontro com a ativista Ana Paula (artigo abaixo, exclusivo para este blogue). Bianca também é porto-alegrense, reside em Pelotas há três anos e é pesquisadora em Direitos Humanos e Meio Ambiente.



Ana Paula Maciel e o Ativismo de Embarcação
Bianca Pazzini – advogada

Nesta última quarta-feira (12) presenciei mais uma edição do “Quartas no Lyceu”, projeto criado e inserido dentro do glorioso programa “UFPel Cultural”. Na ocasião, apresentou-se uma conversa da professora Dra. Ana Paula Nunes, responsável pela Gestão Ambiental da Universidade, com a bióloga Ana Paula Maciel. Ativista gaúcha do Greenpeace, a última esteve presa pelo período de 62 dias em território russo, enquanto protestava em desfavor da exploração de petróleo no Círculo Polar Ártico. Tal acontecimento causou grande movimentação e comoção mundial, resultando em notoriedade para o movimento e status de celebridade para a ativista.

A causa defendida é de grande importância global, não há dúvidas. Assim como para outros movimentos de defesas de direitos (ambientais, animais, sociais, raciais, sexuais, etc.), o ativismo ostensivo trata-se de ferramenta de suma relevância na evolução social e jurídica dos povos. Nisso não há o que discutir. E ouvir a Ana Paula Maciel, nesse sentido, foi de grande valia. Por sua experiência de 10 anos de ativismo junto ao Greenpeace, ela narrou, além da experiência na Rússia, alguns episódios que sugerem a dimensão dos problemas ambientais do planeta.

Ocorre que, embora muito bem intencionada, pairou sobre sua fala certa superficialidade no conhecimento de causa. Além de um exagerado humor para abordar uma questão tão cara – o que comprometeu um pouco a seriedade de sua fala –, a ativista emitiu opiniões controversas sobre determinados temas, minadas do mais perigoso senso comum.

Isso transpareceu especialmente em momento final do evento, no qual tive a oportunidade de questioná-la acerca de suas posturas pessoais, pontualmente no que diz à questão do consumo ético [v. vídeo explicativo] e hábitos cruelty-free. A pergunta pareceu propícia ante às reflexões (até aí acertadas) sobre a necessidade de respeitarmos todas as formas de vida no planeta. Surpreendentemente, a resposta emitida, em sentido contraditório, revelou uma total desconsideração às vidas não humanas. A bióloga informou que, além de não se abster de qualquer produto de origem animal (especialmente do consumo da carne, por entender que se trata de uma iguaria “gostosa”), entende o uso de animais como conveniente para o homem.

A grande falácia em seu discurso transpareceu quando da afirmação de que consumir vegetais pode causar o mesmo sofrimento do que consumir animais. Segundo ela, é pretensão do homem pressupor que os vegetais não sofram. Ora, sabe-se que o discurso da “alface que chora” é tendencioso e não verdadeiro. Deveria ser evidente, especialmente para quem tem formação em ciências biológicas, que a existência de um sistema nervoso central é fundamental para ocorrer o sofrimento. Os animais ainda diferenciam-se dos vegetais pela potencial senciência, que é capacidade de sofrer ou sentir prazer.

Bianca Pazzini
O ativista não é um semideus, mas tem um importante papel na transformação social. A evolução de cada um de nós e do ambiente que nos rodeia só ocorrerá se agirmos, em todas nossas condutas, com o máximo de retidão de caráter que pudermos. A posição do formador de opinião requer uma revisão completa de valores, e não uma mera abstenção de jogar lixo pela janela do carro.

A própria Ana Paula Maciel, em seu discurso, aduz que não precisamos ser os melhores em tudo, mas devemos ser o melhor que pudermos. Logo, é contraditório afirmar que algo deve ser feito se não o praticarmos em nossas ações mais banais. Em suma, de nada adianta um ativismo midiático e “de embarcação” em detrimento de uma verdadeira racionalização e revisão de hábitos.
Fotos: P. Pires (DC), GreenpeaceCNPq

POST DATA
14-2-14

– Conforme a coluna de Hélio Freitag, os ocupantes do Liceu receberam quarta (12-2) a visita da ativista Ana Paula. Ela disse que apoia a manifestação dos estudantes a favor da qualidade de ensino e que a educação não está em primeiro plano no Brasil (Diário da Manhã, 14-2-14, p. 2).
– Veja também entrevista no programa Frente a Frente, na TVE gaúcha, em janeiro passado (4 segmentos totalizando 1h).

15-2-14
Ana Paula fala ao Diário Popular num corredor do Mercado Central (acima).


4-4-14
Ana Paula ganhou ensaio fotográfico na Playboy brasileira de abril (v. notícia). Ela aparece nua entre árvores, como Eva num paraíso solitário, mostrando uma coerência entre natureza que ela defende, o naturalismo que ela aceita e a naturalidade que ela vive. 
Se bem as fotos divulgadas hoje (dir.) são bem comportadas, ela maliciou com a própria nudez dizendo "a gente vai ver se o desmatamento é zero" (nota de Zero Hora), mostrando aí outra coerência: entre liberdade mental e liberdade corporal, uma antiga bandeira feminista. 

domingo, 14 de julho de 2013

Debates sobre Pelotas e sua identidade

Precedendo a publicação do segundo volume do Almanaque do Bicentenário de Pelotas, prevista para novembro de 2013, a Confraria do Almanaque promove, de julho a outubro, um ciclo de quatro debates com o título Pelotas, uma outra história. Uma terça-feira por mês, sempre às 19h, no térreo da Biblioteca Pública, com entrada franca.

A série de encontros busca discutir sobre as origens, as características históricas e a contemporaneidade da cidade de Pelotas. Na mesa, sempre com a mediação do professor de Filosofia da UFPel Luís Rubira, debatem historiadores, professores, reitores, artistas, intelectuais e agentes culturais.

Adão F. Monquelat em novembro de 2012
Esta terça (9-7), no primeiro debate (Como surgiu a cidade de Pelotas?), o tema foi a pré-história dos Campos das Pelotas e da Freguesia de São Francisco de Paula, com os pesquisadores autodidatas Adão Fernando Monquelat e Jarbas Rosa Lazzari. A reunião não lotou a sala, mas o debate de duas horas foi muito intenso, cheio de informações e de emoções.

Monquelat apresentou um mapa de 1781, ainda inédito, posterior à libertação da Vila de Rio Grande, mostrando o Sangradouro da Mirim (São Gonçalo) e o Rio das Pelotas (Arroio Pelotas); nesta zona, que seria posteriormente a freguesia pelotense, já havia charqueadas e viviam açorianos e casais de Maldonado.

O palestrante mostrou que a charqueada de Pinto Martins não foi a primeira em Pelotas nem na região e que o charque produzido na época era de má qualidade, sendo necessário adquirir técnicas europeias e dos saladeros castelhanos, que vendiam o produto ao Império do Brasil a melhor preço que os charqueadores brasileiros. As origens de Pelotas ligam-se, portanto, aos movimentos bélicos militares entre portugueses e espanhóis e ao desenvolvimento capitalista das charqueadas numa geografia propícia.

Lazzari enfatizou que a presença de mais de 700 mil africanos trazidos à força para a América foi uma grande operação clandestina, que a lei não permitia, mas teve a aceitação de toda a sociedade, incluindo os próprios governantes. O dano humano realizado no Brasil ao longo de séculos ainda não foi reparado, e até se menospreza hoje em dia a importância da contribuição da cultura africana. Em Pelotas, a sociedade dominante valorizou somente a riqueza à europeia, de saraus em palácios onde só os ricos entravam, e formaram-se nos bairros "pequenas áfricas", onde se cultivou o nosso carnaval, a força do nosso futebol, do samba e do chorinho.
  • Em agosto, agentes culturais discutem o tema: PELOTAS, CAPITAL CULTURAL? (até agora estão convidados a professora Renata Requião, ex-secretária de Cultura, a professora Paula Mascarenhas, ex-diretora do Instituto J. Simões Lopes Neto e atual vice-prefeita, e o psicólogo Francisco A. S. Vidal, editor deste blogue.
  • Em setembro o tema será: PELOTAS, CIDADE HISTÓRICA?
  • Em outubro, reitores debaterão sobre a pergunta: PELOTAS, CIDADE UNIVERSITÁRIA?
O primeiro volume do Almanaque, lançado em novembro de 2012 no Instituto J. Simões Lopes Neto, contém a Revista do Centenário de Pelotas (está disponível no sítio do Almanaque). Na ocasião, mil exemplares foram entregues gratuitamente a personalidades, escolas e entidades locais (veja reportagem em vídeo e uma descrição do projeto da GAIA Cultura e Arte no blogue do Instituto J. S. Lopes Neto).
Imagens: Facebook

POST DATA
27 de agosto
Ontem (26) a mesa do encontro incluiu 5 debatedores (nenhum dos anunciados em julho): Secretária de Cultura Beatriz Araújo, teatrólogo Valter Sobreiro Jr., Paulo Gaiger (UFPel), Fernando Keiber (Produtora Haia) e Herberto Mereb (ONG Amiz). 

sexta-feira, 1 de março de 2013

Schlee conta como foi preso em 1964

Em 6 de dezembro de 2012, a Faculdade de Direito da UFPel prestou homenagem a dois ex-alunos que contribuíram à ética desta profissão em Pelotas: Aldyr Garcia Schlee, distinguido como Professor Emérito, e Clayr Lobo Rochefort, jornalista falecido há um ano, que recebeu postumamente a Medalha do Mérito Universitário (veja notícia). 

O primeiro discurso foi da viúva Iracema Rochefort, que agradeceu a distinção, o segundo foi a apresentação de Schlee por parte de Pedro Moacyr Pérez da Silveira (veja o discurso) e a fala mais esperada e tocante foi a do segundo homenageado, que se referiu à perseguição durante o regime militar. 

Quase 50 anos depois, professor aposentado, ex-pró-reitor da UFPel, escritor premiado, verbete da Wikipédia, Schlee revelou aos 78 anos, por primeira vez em público, que seu nome esteve numa lista de subversivos observados pelo SNI e como o Exército o prendeu em três ocasiões. Leia a seguir o seu relato da primeira vez. 

Schlee recebeu o diploma de Professor Emérito da Faculdade de Direito.

Tudo começou no dia 7 de abril de 1964, quando um funcionário de uma revendedora de motos me telefonou, adiantando-me que uma patrulha saíra do quartel do 9º para me prender; e advertindo-me que seria melhor que eu me apresentasse o mais rápido possível no QG da Infantaria Divisionária 3, que estava aquartelado no casarão 8 da Praça, na esquina da Butuí.

Eu não pude acreditar naquilo. Era secretário de redação do Diário Popular e, sorrindo, fui consultar o Clayr − à memória do qual, hoje, por feliz coincidência se confere aqui a medalha do Mérito Universitário. Pois o meu saudoso e queridíssimo amigo Clayr Lobo Rochefort, com o qual trabalhei por quase quinze anos, na inesquecível A Opinião Pública e no velho Diário, tendo-o como irmão e paizão... pois o Clayr, incrédulo, conferiu o telefonema; e soube que, sim, que vinham me prender. Não vieram; porque eu fui.

O QG era mais perto. Três capitães, um R2, me receberam sem palavras e me levaram para o grande salão da esquina da Butuí. O salão estava fechado, no escuro e aparentemente vazio. Colocaram-me num sofá de palhinha, com um rangente gravador de fita, embaixo. Sentou-se um à minha direita e apertou-me o outro, à esquerda. O terceiro, com jeito de sargentão de cinema ficou bem à minha frente, respirando fundo a minha falta de ar e aprisionando-me com as dele minhas pernas. Eu fazia força para não bater o queixo e não conseguia falar, trespassado de susto e intimidação. O resto é o resto. E não preciso contar.

Schlee na visão do Treze Horas
No mais, comecei a lecionar Direito Internacional quando fui aprovado em concurso para professor dessa disciplina na Universidade do Rio Grande do Sul, em 1962.

Fora para Porto Alegre, em 1960, como fundador e planejador gráfico do jornal Última Hora, atendendo um convite de Samuel Weiner e Andrés Guevara. Botamos na rua o jornal, a turma era ótima, o salário melhor, mas nunca me entenderia bem com o Samuel como sempre me entendi com o Clayr, e − por razões éticas − acabei pedindo demissão.

Como a nossa Faculdade de Direito pertencia à URGS, fui convidado a lecionar aqui, e continuei fazendo jornalismo em Pelotas, com o Clayr, no Diário Popular, além de dar aulas de Português, Literatura e Retórica no Colégio Municipal Pelotense.

Na noite de 31 de março ocorreu o Golpe Militar que rasgaria a Constituição da República. Dia 6 de abril houve a volta às aulas e eu ofereci aos meus alunos uma prova de retórica, anotando os sofismas que poderiam ser usados para sustentar e fundamentar a ruptura da ordem constitucional.

Naturalmente, nada justificaria minha prisão; mas o que os três capitães me esfregaram na cara e quase me fizeram engolir, entre palavrões e ameaças, foi uma folha de caderno escolar com o texto daquela minha prova (leia o discurso completo de Schlee).

Fotos: UFPel e 13Horas

segunda-feira, 21 de março de 2011

Coragem para as mulheres

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a Secretaria Municipal de Igualdade Social (SIS) organizou, para esta quinta-feira (24), das 14h às 18h no Clube Caixeiral, o seminário Coragem para Recomeçar, consistente nas seguintes palestras:

Maria Angélica Gentilini da Silva,
titular da Delegacia para a Mulher
  • “Coragem de iniciar tudo novamente, com obstinação, sem fantasmas ou medos...”, com Júlia Frio, coordenadora do Programa de Prevenção à Violência.

  • “Coragem de não mais calar, de gritar para o mundo a sua realidade...”, com a delegada Maria Angélica Gentilini da Silva (dir.), da Delegacia da Mulher.

  • “Coragem para enfrentar o novo de frente, com determinação e esperança”, com Carla Andiara Kalaitzis, pedagoga coordenadora da Casa da Acolhida.

  • “Coragem de resgatar a autoestima, o respeito, a dignidade”, com Marcos Garcia, secretário de Igualdade Social.

  • “Coragem de ser única, num universo tão plural”, com o professor Jander Monks (UCPel e Curso Veiga).

  • “Coragem de lutar pela conquista de seus sonhos, pelo simples direito de ser feliz”, com Mateus Casanova dos Santos, representante da Secretaria da Saúde.
Como complemento cultural, vão apresentar-se a tecladista Joaquina Porto e o Coral da Escola Louis Braille. O evento é gratuito e aberto à comunidade. Mais informações na SIS (3921 6143).

domingo, 27 de fevereiro de 2011

As complicações do amor, para a psicanálise

Em junho de 2007, o psicanalista David Epelbaum Zimerman (dir.), conhecido psiquiatra gaúcho (leia uma biografia), foi convidado pela Sociedade Científica Sigmund Freud para falar sobre “As complicações do amor na clínica atual”. O título englobou dois encontros sobre o mesmo tema (a relação amorosa em geral), em alusão ao dia dos namorados segundo o costume latino (dia de Santo Antônio).

A primeira palestra foi a do dr. Zimerman — que veremos nesta nota — e a segunda foi conduzida por Marciara Centeno, psicóloga em formação psicanalítica, que falou das dificuldades do amor relacionando-as com a autoestima. As duas reuniões atraíram numeroso público jovem, principalmente da área profissional da psicologia e da psicanálise, e ambas duraram pouco mais de duas horas (sem evasão), indicador do alto interesse desse público.

Concentrando-se no psicanalista britânico Wilfred Bion (1897-1979), Zimerman abordou o tema à base de quatro emoções vinculadoras: Amor, Ódio, Conhecimento e Narcisismo. Essas tendências vêm sendo tratadas pela psicanálise desde Freud, passando por Melanie Klein e Bion. Sobre este tema, o próprio Zimerman publicou o livro "Os quatro vínculos" (ArtMed 2010, veja o sumário), escrito posteriormente a esta conferência em Pelotas (veja resenha de 2009), e anteriormente "Bion da teoria à prática" (ArtMed, 2003).

Sobre o primeiro elemento, o especialista disse que o amor é um vínculo recíproco, uma relação de ida e volta. Há vínculo amoroso entre a mãe e seu bebê, entre namorados, entre analista e paciente. Para Bion, vínculo é “toda relação de união entre pessoas ou entre partes internas de uma pessoa”. Freud estudou esse tipo de pulsões, as libidinais ou amorosas. Melanie Klein se deteve nas emoções negativas (ódio, inveja e culpa).

Por sua parte, Bion valorizou o desejo de conhecimento, que se manifesta como um amor à verdade, perseverante mas não rígido. Nas relações pessoais, essa “pulsão epistemofílica” (desejo de investigar e de saber) nos faz querer conhecer o ser amado — sem deixar de respeitá-lo — e querer que este nos conheça em nossa verdade interna.

A teoria de Bion inclui as outras duas tendências (amor e ódio), cada qual com seu lado bom e mau: o amor tem seu lado negativo na possessão asfixiante do objeto amado e o ódio tem expressão positiva na agressividade, necessária para defender-se, proteger, avançar, mudar, criar.

Como nossas emoções são construtivas e destrutivas, assim as dirigimos à pessoa amada: amando-a — na medida em que nossas partes internas estejam encontrando o amor próprio — e odiando-a, na medida de nossa raiva, dor, conflito, culpa. Se o amor predominar sobre o ódio, a relação evoluirá para bem; se o ódio predominar, a relação será destrutiva.

Também há pulsões narcisistas, conhecidas como “egoísmo” (lado ruim das tendências à autossatisfação). Sem uma dose certa de narcisismo (preocupação consigo mesmo) não poderíamos sobreviver nem gostar de nós mesmos. Um nome popular dessa tendência em grau bom é a autoestima.

Em cada pessoa, então, essas variáveis formam as configurações vinculares, os diversos modos de amar e ser amado. O amor considerado sadio joga com esses quatro elementos, analisados numa relação entre duas pessoas: cada uma delas amando, odiando e conhecendo a outra, e relacionando-se com as partes de si mesma (não só numa autoestimação pura, mas também com possíveis elementos negativos).

Quanto às complicações: há a relação narcisista, a configuração triangular, o sado-masoquismo, o vínculo “tantalizante”, eterna e desesperante frustração (assim nomeado por Zimerman a partir do mito de Tântalo). Outra complicação do amor é a chamada gamofobia ou evitação do casamento, por medo ao sufoco ou a ser adulto (veja reportagem).

Precisamos equilibrar-nos entre certo grau de idealização e as inevitáveis desilusões, seja na vida de casal, seja no âmbito da psicoterapia. A melhor relação amorosa será uma configuração vincular “suficientemente boa”, onde é preservada a admiração e as desilusões podem ser toleradas.
Imagens da web

domingo, 30 de janeiro de 2011

A intensa semana acadêmica da Psicologia

A 28ª Semana da Psicologia foi, provavelmente, a mais intensa em conteúdo e extensa em atividades, entre todas as semanas acadêmicas da UCPel, em 2010.

Como num congresso de estudantes, profissionais de Pelotas e de Porto Alegre palestraram a alunos daqui sobre assuntos que a Universidade não cobre, sob o título geral "As Novas Perspectivas da Psicologia".

Na semana de 18 a 22 de outubro, o Diretório Acadêmico programou 8 horas por dia — das 14h às 22h, com um curto intervalo às 19h.

Foram 26 palestras e duas oficinas com profissionais de fora da UCPel, mais uma apresentação musical (com o grupo Feliz Arte, do CAPs Escola). O auditório do Campus II ficou lotado e muitos interessados ficaram de fora, pois o salão sequer comporta a totalidade do corpo de estudantes de Psicologia.

O encontro foi acompanhado pela Assessoria de Comunicação (leia notícia), que divulgou a notícia para outros meios de comunicação; no entanto, esta foi considerada somente de interesse interno, já que as inscrições eram poucas e destinadas aos alunos do curso.

Uma aluna de terceiro ano que assistia por primeira vez a uma semana acadêmica garantiu que em nenhum momento sentia sono ou cansaço:

— É muito produtivo. Vemos assuntos que em cinco anos não conseguiríamos ver. A partir da Semana, tenho certeza de que esta é a profissão que quero. Só tenho dúvida em qual área, pois a psicologia está em tudo.

É verdade que alguns temas foram bastante específicos, destinados a quem trabalha ou deseja desenvolver-se na área "psi":
  • "A Psicologia Clínica em Hospital Psiquiátrico” (com a psicóloga Beatriz Mechereffe),
  • “Abordagem Clínica de Pacientes Borderline, Perversos e Psicóticos” (com o psicanalista Jorge Velasco),
  • “Pré-entrevista diagnóstica” (com o psiquiatra Paulo Kelbert),
  • “A interdisciplinaridade da Neurologia e Psicologia” (com a neurologista Denise Medina).

Por outro lado, assuntos de interesse mais amplo — que toda a comunidade extrauniversitária ganharia muito em conhecer — também foram tratados:

  • “A sexualidade nas relações” (com a psicóloga Marlise Flório Real),
  • “Psicoterapia nos relacionamentos amorosos” (com a psicanalista Marciara Centeno),
  • “Processo da Doação de Órgãos” (com a assistente social Aline Winke),
  • “Oficina de Arteterapia” (com a artista plástica Daniela Meine),
  • “A Função Paterna” (com o psiquiatra Eduardo Méndez).

A reportagem da UCPel citou especialmente o trabalho do psicólogo Ricardo Valente, que acompanha dependentes de crack na Comunidade Terapêutica Renascer, no Monte Bonito. Ele falou aos estudantes sobre “Os desafios da dependência química no universo Psi”.

Em conclusão, os benefícios desta Semana Acadêmica teriam repercutido positivamente se, com melhor planejamento e abertura, tivesse sido disposto o auditório principal da Universidade, pelo menos para os temas de maior interesse comunitário. Afinal, Pelotas é a maior cidade da Metade Sul e suas lideranças merecem aprender com os conhecimentos universitários que aqui se desenvolvem.
Fotos: W. Lima (UCPel)

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Dificuldades e benefícios do perdão

Na reunião de hoje do ciclo de Encontros com a Filosofia, o professor Osmar Schaeffer (esq.) falou sobre o tema do perdão em Paul Ricoeur (abaixo), pensador francês contemporâneo, falecido em 2005. O palestrante trouxe notas mas não se limitou a uma simples leitura, para benefício dos ouvintes.

A reunião teve uma plateia menor que de costume, e pouco participativa no momento das perguntas. O dia lá fora teve ventos impiedosos, que derrubaram árvores e até casas, em Pelotas. Já de início houve um breve corte de luz, mas que não suspendeu o aúdio.

Ricœur era cristão calvinista e diferenciou o perdão de baixo nível - que comercia com as culpas e penitências - do perdão elevado, que repara os males e faltas num verdadeiro "hino sapiencial", que pacifica as relações e concilia os seres humanos numa corrente unitária.

Segundo o mesmo autor, o perdão é parente próximo do amor e, como este, apresenta três enormes dificuldades: de ser concedido a outros, de ser aceito quando ofertado, e de ser definido conceitualmente. Possivelmente haja outros obstáculos para perdoar, psicológicos e sociais, mas a conferência se concentrou somente no filósofo francês.

Para terminar a segunda edição deste ciclo, que é organizado por professores do mestrado em Filosofia da UFPel, o professor Robinson dos Santos exporá sobre "Albert Camus e o homem revoltado" (terça 21-09) e João Hobuss tentará esclarecer "o que Maistre tem a dizer sobre Rousseau" (terça 28-09), sempre às 17h30min em ponto.
Imagens da web (2) e F.A. Vidal (1)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Explicação das festas juninas

Na última quarta-feira de junho (30), o padre Adelar José Rosa (dir.) falou sobre as origens e significados das festas juninas, ante psicólogos da Sociedade Sigmund Freud, em sua maioria colegas da especialização em terapia psicanalítica.

O estudioso começou explicando que não se trata de festas nascidas no Brasil, mas trazidas pelos portugueses, sendo de origem pagã e milenar. Os europeus comemoravam há muitos séculos o solstício de início do verão no hemisfério norte e a Igreja Católica cristianizou a data, centrando-a em São João Batista, o primo de Jesus, que teria nascido em 24 de junho. Ficou com o apelido de festa joanina, que derivou para "junina", como se fosse pelo mês de junho (veja na Wikipédia).

No Brasil, os santos "juninos" mais recordados são, além de João Batista: Antônio de Pádua (dia 13) e os apóstolos Pedro e Paulo (dia 29). Antônio nasceu em Portugal, fez-se frade agostiniano e se radicou em Pádua, na Itália, passando à ordem franciscana; é conhecido como santo casamenteiro e solucionador de conflitos e coisas perdidas (no entanto, as simpatias para arranjar marido são superstições populares).

O apóstolo Pedro era pescador, discípulo de Jesus (nosso Estado leva seu nome, desde que era a Província de São Pedro). No Rio Grande do Sul, os brigadianos - por policiar a cidade em duplas - ficaram com o apelido popular de "pedripaulo".

A Igreja recorda Pedro e Paulo no mesmo dia, como líderes da evangelização no primeiro século, mas eles não foram martirizados juntos, como poderia supor-se. Nem são os únicos santos do mês; o catolicismo recorda vários (média de oito) em cada dia do ano.

Nas festas juninas brasileiras não há traços paulinos (do santo chamado Paulo), mas elas foram mais fortes no interior do Estado de São Paulo, o que marcou as datas como se fossem somente caipiras.

No Brasil, as crenças e tradições tomaram elementos europeus (como a quadrilha francesa) e se renovaram segundo cada zona. O folclore nordestino foi mais forte que os costumes paulistas, e aqui no sul nossas tradições se mesclaram com elementos caipiras e europeus.

Para não esquecer a psicanálise, o palestrante mencionou o sentido fálico da brincadeira do Pau Ensebado, que nas festas juninas os homens mais ousados trepam, à cata de um prêmio (não citou a função masturbatória masculina, representada nesse ato). Se o mastro fosse um monumento, talvez se pudesse falar de um signo de poder falocêntrico.

O Casamento na Roça é uma encenação em que um par de namorados é forçado a casar-se, por uma gravidez inesperada. Na palestra, tal costume foi relacionado com o sentido pró-familiar do famoso Santo Antônio, que também patrocina o dia dos namorados no Brasil. No entanto, como qualquer católico sabe, a Igreja não valida casamentos por força.

O interesse popular estaria focado, segundo Freud, no ato sexual dos pais, cuja visão é proibida à criança. O riso nervoso se faz prazeroso quando o padre autoriza e o delegado, com rifle na mão, obriga os noivos a assumir, em público, o papel dos pais.

O casamento caipira entre a ex-BBB Gyselle Soares e seu namorado francês (dir.) foi justamente no dia de São Pedro e São Paulo, em junho de 2008, mas parece que na ocasião não houve rifles nem pedripaulos.

Ao longo da reunião aqui comentada, Adelar ilustrou os conceitos com exemplos em imagens e música, obtendo a atenção e a motivação de todos. O momento de maior silêncio e concentração foi quando no fundo musical se ouviu um canto gregoriano - elemento genuinamente religioso e não festivo. No vídeo abaixo, o Intróito Spiritus Domini, com os monges espanhóis de Santo Domingo de Silos.
Imagens da web e F. A. Vidal (1)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Super-heróis: caricaturas ou sintomas?

Nesta quarta-feira (14), o psiquiatra Nei Guimarães Machado palestrou na Sociedade Sigmund Freud sobre os heróis dos quadrinhos à luz da psicopatologia.

Mesmo com somente uma dúzia de participantes, o encontro recordou, por momentos, a época em que o criador da psicanálise se reunia em Viena com discípulos interessados em conhecimentos novos e reveladores. Neste caso, o doutor trouxe uma proposta de fácil compreensão, cheia de arestas emotivas e útil para a discussão de aspectos mentais, sociológicos e artísticos.

O próprio Freud abordava todos os temas humanos de seu tempo, desde os mais teóricos - como a religião, a arte e a antropologia - até os mais cotidianos, como espetáculos, publicações de atualidades, tradições, anedotas e contos de fadas. Escreveu um par de livros sobre Moisés, um dos maiores heróis bíblicos. Se vivesse hoje, não teria deixado de analisar os super-heróis, os ídolos de moda e os personagens de filmes e telenovelas.

Fã dos quadrinhos que surgiram nos anos 40, Nei Machado mencionou uma dezena de figuras heroicas, passando pelas biografias deles, suas façanhas, inimigos e traços patológicos ou do desenvolvimento psíquico. Observou que os traumas de infância são decisivos na aparição de certos "heroísmos", as vinganças e até de patologias mentais.

A bipolaridade do Super-Homem (triste versão do ideal de Nietzsche) e a do Incrível Hulk (reedição do Médico e o Monstro) contrastam com a falta de superpoderes do esquizoide Fantasma.

O Capitão América teve um sentido político durante a Segunda Grande Guerra: no número 1 da revista - relatou o palestrante - "o marmanjo aparecia dando uma sova em Adolf Hitler", vilão da realidade, muito recordado como personificação de desajuste mental e social (imagens acima). Chaplin representou esse conflito, mais elegantemente, no filme "O Grande Ditador".

Sobre o Homem-Aranha, o dr. Machado escreveu em 2002 - quando saiu o primeiro filme - que se tratava de uma simbolização do despertar sexual da adolescência (leia o artigo). Por outro lado, Batman tem características depressivas, paranoides e homossexuais. A Mulher Maravilha representa a liberação da mulher nos anos 60, e assim por diante.

Os diversos super-heróis podem ter significados políticos - construídos com diversas características de anormalidade mental ou com superpoderes simbólicos (as cores americanas no uniforme do Super-Homem) - ou simplesmente psicológicos, com a idealização ou exagero de traços de personalidade ou de momentos do desenvolvimento humano. O mesmo pode ocorrer nos personagens dos contos, dos quadrinhos, da TV e do cinema.

O primeiro livro sobre o assunto foi "Psicanálise dos Contos de Fadas", de Bruno Bettelheim (Ed.Paz e Terra, São Paulo). Existe um livro mais amplo, com personagens modernos e alguns brasileiros (nenhum super-herói): "Fadas no Divã", de Mário e Diana Corso (Ed. Artmed, Porto Alegre).
Imagens da web (2-3) e F. A. Vidal (1)

segunda-feira, 22 de março de 2010

Vinícius ao som de Freud

A temporada de palestras 2010 na Sociedade Sigmund Freud foi aberta por Catherine Lapolli, psiquiatra que cursa a formação no Instituto de Psicanálise de Pelotas.

Quarta-feira passada (17), ela expôs o tema "Vinícius ao som de Freud, Bion e Winnicott", ante uma plateia de umas trinta pessoas, principalmente psicólogos e psiquiatras. Sempre ao som de um CD de Toquinho e Vinícius, a palestrante falou uns 50 minutos e depois abriu para perguntas e comentários.

O trabalho de Catherine saiu em forma de artigo na coletânea de trabalhos "Construções" (na foto), representando Pelotas. A obra foi editada em 2009 pela Associação Brasileira de Candidatos (a analistas) e será apresentada em nossa cidade em abril próximo.

A ideia de analisar esta personalidade artística surgiu em 2008, com os 50 anos da Bossa Nova, e se realizou em 2009, quando a ABC fez 15 anos. Com apoio na biografia de José Castelo "O Poeta da Paixão", a psiquiatra relatou a história de vida de Vinícius de Morais (1913-1980, registrado como Marcus Vinitius Cruz de Moraes) e a deteriorada relação com a mãe adolescente. Aos 9 anos de idade retirou o sobrenome materno (Cruz), suas mulheres foram 9, e as horas que ficava na banheira (onde morreu, num dia 9) eram um modo de voltar aos 9 meses uterinos. A filha mais velha Susana Moraes mantém um sítio na internet sobre Vinícius (veja), oficial mas não completo.

Sem destacar demais as virtudes do admirado "analisando" mas respeitando profundamente as autodefinições do artista, Catherine situou Vinícius entre as personalidades melancólicas e adornou o poético sofrimento com arranjos dos psicanalistas Freud, Bion e Winnicott. Podendo ter usado a ocasião para dar uma aula sobre os três autores à luz de um poeta, preferiu deixar que o caso clínico falasse por si próprio, como o faz no Samba da Bênção, escrito com Baden Powell em 1968 (ouça, abaixo, a gravação em Mar del Plata, 1970).

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O que é o mickeymousing?

Na aula desta terça (23), no curso "Entendendo a música no cinema", o professor Jorge Meletti ilustrou dois conceitos de composição musical com trechos de sete filmes.

Textura musical

Em composição musical, o termo "textura", proveniente da física, se refere à organização e complexidade das vozes instrumentais. Uma "voz musical" pode ser um instrumento solista, uma voz humana ou todo um naipe (conjunto de instrumentos ou de vozes humanas). Considerando as linhas melódicas como o material da música, este se agrupa e se entretece formando o resultado final que ouvimos.

A textura musical se avalia, geralmente, em termos de densidade: as texturas menos densas contêm poucas vozes, geralmente solistas, em formas rítmicas simples; as mais densas têm um arranjo complexo, com vários instrumentos em grande variação rítmica. Foram apresentadas cenas de 3 filmes para exemplificar a baixa ou alta densidade da música: Sangue Negro (compositor: Jonny Greenwood, 2007), Matrix (Don Davis, 1999) e Apocalypto (James Horner, 2006).

Mickeymousing

Assim como a música de concerto pode ilustrar sentimentos, movimentos da natureza ou até situações visuais, no cinema a música tem uma função essencialmente descritiva. Quando ela é sincrônica com a imagem, a marcação imitativa - adequada para ações cômicas - às vezes fica óbvia demais, podendo incomodar tanto como alguém que relata em voz alta, aos espectadores de um filme, as ações que todos já estão vendo.


A sincronização de música e imagem começou - fora do cinema mudo - quando alguns pianistas improvisavam o fundo musical olhando a ação na tela. Foi desenvolvida nos desenhos animados de Walt Disney (1901-1966), onde cada nota musical era feita para concordar passo a passo com as ações dos personagens (vídeo acima, de 1935). Criado em 1928, Mickey Mouse foi o primeiro e preferido personagem de Disney, ficando associado com esse procedimento. Nos filmes com atores, as trilhas musicais usaram esse efeito de repetição, até que o termo ganhou conotação pejorativa. Os seguintes trechos ilustraram nesta aula o mickeymousing:

  • O Informante (música de Max Steiner, 1935): cenas de rua, com a música onipresente ilustrando os movimentos e até os pensamentos dos personagens principais (veja aqui).
  • Psicose (Bernard Herrmann, 1960): o assassinato no banheiro (veja a cena) é acompanhado por violinos em glissandos obsessivos, imitando o movimento cortante de facas e o som de gritos agudos (ouça a peça para cordas).
  • Pollock (Jeff Beal, 2000), o pintor cria um mural cheio de detalhes enquanto o compositor "pinta" um quadro musical equivalente.
  • Fantasia (vídeo abaixo, de 1940). Aqui a tática se inverteu, excepcionalmente: os animadores de Disney compuseram as cenas para a música já gravada. Se nos anos 30 os acordes frisavam os movimentos de Mickey, neste trecho o camundongo veio gesticular a música de Paul Dukas "O Aprendiz de Feiticeiro".

No cinema, a música ganhou outras funções, como a de anunciar situações iminentes ou intenções de personagens. Ainda assim, ela poderia ser vista como uma "descrição antecipatória", enquanto o mickeymousing passou a ser visto como uma descrição redundante e os compositores buscaram modos mais criativos e elegantes para acompanhar as cenas: por exemplo, deixar partes sem música e só ilustrar o que a poética visual não pode dizer.


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Curso de verão: Entendendo a música do cinema

Este verão, o Conservatório de Música abriu cinco cursos de extensão dirigidos à comunidade pelotense: Violino e viola, Musicalização em flauta doce, Introdução à etnografia em música, e Entendendo a Música no Cinema (em dois módulos). A novidade foi divulgada quando a cidade em geral já havia entrado em férias, mas com o tempo poderá estruturar-se uma verdadeira escola de verão na UFPel, numa Pelotas que costuma esvaziar-se totalmente nos meses de férias.

Hoje de manhã (dir.), o curso Entendendo a Música do Cinema (módulo 2 ) foi iniciado por Jorge Meletti, mestre e doutorando em Composição Musical (UFRGS) e professor na UFPel. Metade das 20 vagas gratuitas foram preenchidas, quase que somente por alunos da Universidade; algo parecido ocorreu no módulo 1, ministrado na segunda semana de fevereiro por Carlos Walter Soares, também mestre em Composição Musical.

Meletti planejou o curso de 20h para um público leigo em música, mas os alunos que chegaram já tinham conhecimentos na área, o que redirecionou a abordagem e a participação em grupo. O método das aulas consiste em alternar conceitos teóricos com exemplos comentados de cenas de filmes, abrindo à discussão. O objetivo: compreender as funções da música no cinema e as formas de compor as trilhas sonoras dos filmes.

Os trechos comentados esta manhã foram os seguintes (compositor entre parênteses):

  • A Missão (Ennio Morricone): cena de Gabriel tocando oboé. A música se situa dentro da ação, é ouvida pelos personagens (conceito de música diegética).
  • A Profecia (Jerry Goldsmith): Demian grita na frente da igreja. A música está fora da cena, faz parte de uma trilha sonora (música extradiegética).
  • O Rei Leão (Hans Zimmer): salvamento de Simba no estouro de búfalos. A trilha musical descreve a cena e antecipa possibilidades; contém simbolismos no tipo e na quantidade de instrumentos (tambores africanos), no timbre de metais que representam o herói e em quatro notas do trecho Lacrimosa, do Requiem de Mozart.
  • Veludo Azul: trechos de canções na boate, com a atriz Isabella Rosselini. A música é parte da cena, e ouvida pelos protagonistas. Neste caso, para indicar passagem do tempo, o diretor David Lynch (ou o editor de som) introduz um fragmento orquestrado entre duas canções (vídeo abaixo, minuto 1:18 - 1:24), que não está na realidade da cena (música ambidiegética, de duas origens).
  • Apocalypse Now: helicópteros atacam vilarejo vietnamita. A música é ouvida pelos personagens mas o diretor do filme a usa como trilha sonora simultaneamente, parecendo identificar-se com o oficial que dirige o ataque e comparando as aeronaves às míticas valquírias, guerreiras aladas que influem nas batalhas (veja trecho de 18 min do filme; a música vai do minuto 3:22 a 9:00). A alusão musical remete à abertura do 3º ato de uma ópera de Wagner, "As Valquírias"; a alusão política é ao nazismo (leia explicação no blogue Cinematório).
  • O dia em que a terra parou (Bernard Herrmann): em diversas cenas, ouve-se o estranho som do teremim, instrumento eletrônico criado por Leon Theremin (nome francês do russo Lev Termen). Sem instrumentos de cordas, a música ora se faz imperceptível, ora enfatiza o dramatismo das cenas visuais.
Foto de F. A. Vidal


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Paralelos entre a psicoterapia e o tênis

A reunião científica da quarta-feira 30 de maio de 2007, na Sociedade Sigmund Freud, foi uma palestra aparentemente normal, com um tema, um expositor e uma dezena de pessoas assistindo, mas houve algo diferente no conteúdo.

Na ocasião, o psiquiatra Hémerson Ari Mendes foi convidado para tratar um tema de sua preferência e, sem sair dos limites da prática psicanalítica, abordou um tema lúdico e pedagógico para os psicoterapeutas e interessados na área "psi".

Tenista amador e, na época, professor de Psicologia Médica na UFPel, Hémerson brincou com a comparação entre uma partida de tênis e um encontro terapêutico, transmitindo seu entusiasmo pela ciência, pelo ensino, pelo esporte e pela arte... da psicoterapia.

Sempre com fluência e bom-humor, o psicanalista-tenista explicou umas 50 semelhanças entre ambas atividades, dando exemplos práticos e pessoais, tudo sem ler notas nem fazer pausa alguma, no ritmo de um “lançamento” a cada 90 segundos.

Já distante do agitado campo de jogo, pois a palestra também pareceu uma partida de tênis, reli os apontamentos e fiz uma tentativa de classificação, que a seguir transcrevo, ficando-me a impressão da coerência e interesse dos conteúdos.

Os paralelos são mais evidentes entre a sessão psicológica e a partida de tênis, duas formas de diálogo humano e real, sob certos limites e normas:
  • Ambas são encontros entre duas partes,
  • situadas frente a frente,
  • em um setting (enquadramento) espacial e temporal.
  • A interação é mental nos dois casos, com a bolinha representando o foco das idéias verbalizadas, na alternância da palavra.
  • Mas ela é também, inevitavelmente, corporal e sensorial;
  • se feita virtualmente, perde seus benefícios (detalhe não mencionado na palestra).
  • É preciso um adestramento mecânico (bater bola/bater boca), mas o jogo consiste em fazer pensar, conhecer o outro, provocar mudanças.
Uma segunda série de analogias pode fazer-se entre o processo terapêutico e a partida de tênis, encontros prolongados de energias contrapostas e transformações mútuas.
  • A duração de ambos, breve ou longa, depende das ações de cada participante – criativas, agressivas ou defensivas.
  • A relação terapêutica precisa equilibrar o uso da força (nos dois participantes), assim como o tenista segura a raquete: nem com muita dureza que prejudique o vínculo, nem afrouxando demais que este se dilua.
  • A mão deve aplicar um peso, fazer sentir uma pressão (para evitar a derrota pela neurose), mas só até certo ponto, pois uma ação violenta gera reações parecidas (defesas neuróticas ou psicóticas).
  • Ambos processos conjugam a empatia mútua (atirar a bola para que o outro a apanhe, como no frescobol, jogo mais típico de namorados) com a existência de dificuldades e desafios (construir uma jogada nova, para que o competidor responda à exigência e, se puder, se saia bem).
  • Na terapia e no tênis, há um prazer inerente ao jogar, mesmo que não se ganhem pontos.
Um terceiro tipo de paralelos foi feito com o ensino do tênis, entre o instrutor esportivo e o terapeuta:
  • ambos têm objetivos e preferências pessoais, que às vezes interferem na aprendizagem ou na terapia.
  • Um aprendiz e um neurótico querem adquirir recursos adaptativos para chegar a suas metas.
  • Aluno e paciente podem ver o orientador como um modelo a seguir na vida, o que facilita simpatias e antipatias específicas.
Noutra área de comparação, tenista e terapeuta podem formar com seu público vínculos transferenciais: de admiração, dependência, ódio, angústia. Um detalhe não mencionado é que as seduções sexuais, os laços de afeto e idealização ocorrem com facilidade, tanto nas poltronas e divãs como nas canchas, onde exibição e observação se complementam, entre homens e mulheres, terapeutas e pacientes.

Na atividade em si mesma, também há semelhanças entre o que o jogador e o terapeuta fazem: alguns seguem fórmulas, enquanto outros fazem as coisas sem consciência dos detalhes, na base dos talentos naturais. Para não errar, é preciso olhar a bola-foco (ao recebê-la), enquanto nos lançamentos a visão deve concentrar-se no objetivo.

Após um debate com os assistentes, Hémerson deixou uma instigante idéia para pensar: O jogo não termina; é importante manter-se nele, pois sempre há mais jogadas, mesmo que nos sintamos momentaneamente perdidos.

Na palestra não se mencionaram diferenças entre o esporte e a terapia, mas elas existem e são importantes: os jogadores competem um contra outro em busca de um troféu, o tênis ocorre geralmente com público olhando e torcendo, há campeonatos e hierarquias de tenistas mas não de psicólogos, na terapia os participantes não podem alternar entre análise e relação sexual.

Estes e outros paralelos entre o tênis e a vida mental humana podem ver-se no filme inglês Wimbledon, de 2004. Em português chamou-se “O Jogo do Amor”, nome que para nós já é uma alusão ao encontro terapêutico.
Fotos da web


sábado, 26 de dezembro de 2009

Café Sócrates

Há poucos anos - mais ou menos entre 2005 e 2007 - esteve funcionando em Pelotas o Café Sócrates, encontros mensais de reflexão filosófica entre profissionais de diversas áreas.

A atividade foi iniciada pelo psicanalista Paulo Luís Sousa e seguiu em mãos de um informal clube filosófico, entre os quais o professor Jandir João Zanotelli ex-reitor da UCPel, e a empresária sra. Aira Gallo. O piso superior da Doçaria Pelotense se fez acolhedor para as conversas do pequeno grupo, porém com inconvenientes acústicos. Eu estive em quatro encontros e num deles expus um ponto de vista psicológico.

Em agosto de 2007, Zanotelli tratou a pergunta “Por que me odeias se não te fiz nenhum favor?”, ao redor dos valores da solidariedade e da generosidade. Houve doze presentes, que participaram fazendo perguntas e comentários. Esta reunião teve um convite de divulgação (abaixo), que deu impulso à atividade, mas o procedimento não se repetiu.

Em setembro, cinco pessoas discutiram, durante quase duas horas, sobre a pergunta “O que é o poder?” e seus significados filosóficos, teológicos e psicológicos.

Em outubro, a reunião foi em torno ao tema “Como ocorre o encontro humano?” (no caso, ocorreu em torno a uma bandeja de doces e o chá de frutas da Doçaria). Ante a pouca clareza na organização das datas, os sete contertúlios concordaram que as sessões ficassem na penúltima quarta-feira de cada mês.
A reunião de novembro abordou o tema “Nascimento e Morte”. Depois disso, as férias diluíram o grupo, que não se reconstituiu no ano seguinte (ou não me informou).
As quatro reuniões foram organizadas pela sr. Aira Gallo, dona da Doçaria, e o professor Zanotelli fez as exposições para estimular os debates, sugerindo também os temas seguintes, com aprovação dos contertúlios. Apesar de ser uma excelente ideia, não teve continuidade por falta de organização. Entre fundar um estilo próprio em Pelotas e reproduzir uma iniciativa trazida de fora, a informalidade do grupo não conseguiu nem uma coisa nem outra.
O Café Sócrates não é um lugar físico, mas uma forma de diálogo, que pode estabelecer-se entre pessoas de quaisquer idades ou origens, somente exigindo atitudes de curiosidade, tolerância e profundidade. Longe de pretender encontrar respostas definitivas, visa a gerar mais perguntas em torno a assuntos de interesse das pessoas.
Em dezembro de 1992, o francês Marc Sautet (dir.), professor de filosofia, iniciou diálogos num café de Paris, que denominou "Café Filosófico", com inspiração socrática. Em 1995 relatou seu método no livro Un Café pour Socrate (veja passagens do texto original). Os temas eram escolhidos na hora do encontro - domingos às 11h - e as opiniões eram dadas por todos os presentes, somente facilitadas por um mediador, que era sempre ele. Sautet faleceu em 1998, por um tumor cerebral, aos 51 anos, mas os cafés-philos (leia verbete na Wikipédia) seguem até hoje.

A divulgação deste método nos Estados Unidos pertence a Christopher Phillips (abaixo à esq.), escritor que em 1996 fundou a S.P.I. (Sociedade para a Indagação Filosófica) em Nova Jersey e estabeleceu orientações para o debate coletivo.
Em 2001 ele escreveu parte de suas experiências em Socrates Café: a Fresh Taste of Philosophy (1ª imagem acima à dir.), e já tem mais dois livros nesse tema. Algumas das sugestões de seu criador são que as reuniões destes “clubes filosóficos” sejam semanais ou quinzenais, durem duas horas, tenham a condução de um facilitador (não um expositor) e girem cada vez em torno a uma pergunta, que cada pessoa responderá. É importante a estabilidade do lugar, horário e periodicidade. O objetivo é ordenar a expressão participativa, estimulando a curiosidade e a tolerância intelectual. Há um formato para crianças e adolescentes, com os mesmos princípios.
A iniciativa se transformou numa espécie de franquia internacional bastante livre, que já teve centenas de grupos em diversos países. Na América do Sul, há ou houve pelo menos um Café Sócrates em Caracas e outro em Buenos Aires. A esposa de Christopher, a professora e pesquisadora mexicana Cecilia Chapa Phillips, traduziu a informação principal ao espanhol, mas ao parecer os livros ainda não passaram ao português.
Imagens da web (1, 3) e F. A. Vidal (2)

domingo, 29 de novembro de 2009

As palavras de Sartre sobre a existência

O professor da UFPel Luís Rubira deu continuidade ao ciclo Encontros com a Filosofia, falando sobre "Memória e Filosofia" em Sartre e sua última obra, "As Palavras". Na quinta 26, o auditório do Centro do Mercosul ficou quase lotado de pessoas interessadas em trazer o pensamento abstrato para perto da realidade cotidiana (veja a programação).

O ser humano é o que ele faz de si mesmo, e não o que o ambiente determina. No caso do homem, a existência precede a essência, ou seja, primeiro ele existe e então se define e constrói sua realidade e sua essência. Podem as circunstâncias ser limitantes, mas ele é livre em si mesmo.

O próprio Jean-Paul (1905-1980) viveu num corpo pequeno (1m 57) mas com privilegiada capacidade mental, que explorou o mundo de sua época e muitas possibilidades criativas.

Como jornalista, visitou Havana e foi o primeiro a escrever sobre a Revolução Cubana, em 1960. De lá veio para o Brasil, onde passou dois meses com Simone de Beauvoir (abaixo, em Copacabana); não veio ao Rio Grande do Sul, pois a URGS não quis convidá-lo (leia explicação).

Mereceu o Nobel de Literatura de 1964, por seu livro "As Palavras", mas o rejeitou para não perder sua liberdade de pensamento e sua possibilidade de seguir evoluindo, em vez de estagnar-se como um autor "já condecorado".

Sartre aproximou psicanálise e filosofia em suas obras existencialistas, acreditando que as experiências da infância são cruciais na vida da pessoa; no entanto, questionou alguns conceitos sobre o inconsciente. Escreveu "Freud - roteiro para um filme", a pedido do cineasta John Houston, texto que foi levado em parte ao cinema em 1962 (leia comentário), com título que em português ficou: "Freud - Além da Alma".

O professor Rubira soube trazer os elevados temas à compreensão do público, que mesmo assim não fez muitas perguntas. O silêncio é às vezes o efeito de uma palestra sobre psicanálise e, neste caso, as ideias principais podiam aplicar-se à existência de uma cidade como a nossa, que tenta definir-se e refazer-se ao longo da história.

Se já não é fácil para uma pessoa no tempo de uma vida, será possível para uma comunidade recém com 200 anos?
Foto de F. A. Vidal (1)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Blogues de psicólogos de Pelotas

Em setembro, a subsede Pelotas do Conselho de Psicologia (Félix da Cunha 772, 3º andar) começou um ciclo de encontros sobre afazeres dos profissionais de nossa cidade, que se tem caracterizado por um amplo número e variedade de trabalhos psicológicos. A primeira reunião foi tomada por alunos e professor de psicanálise da Sociedade Sigmund Freud, que analisaram o filme Little Miss Sunshine (veja a nota).

No segundo encontro (dir.), a psicóloga Isane Dávila mostrou o documentário Orgasmic Birth, proposta internacional para favorecer os partos naturais, centrados no amor e no prazer.

A discussão posterior durou uma hora e recolheu os pontos de vista dos presentes, mulheres e homens com experiências diversas em partos e acompanhamento de grávidas.

O terceiro encontro será nesta quarta (18) e tratará sobre blogues de psicólogos, ideia nascida a partir desta experiência do Pelotas, Capital Cultural. Apesar de haver muitos psicólogos em nossa zona, pouquíssimos têm blogues, tendência diferente fora daqui: somente no Blogger em português e espanhol, há uns dois mil blogues de psicólogos homens e uns 5 mil de psicólogas.

Nesta reunião, falarei deste blogue e perguntarei a duas colegas sobre como chegaram a transformar-se em blogueiras: Isane Dávila (esq.), autora do Blog da Gestante, e Liana Corrêa de Mendonça (dir.), que criou o Casa de Chá: comportamento, cultura e sociedade. Isane estará presente na mesa de debate e Liana falará conosco pelo computador, pois se encontra na Inglaterra.
Fotos de F. A. Vidal (1-2) e Liana Mendonça (3)


POST DATA - 19 novembro
A reunião durou cerca de duas horas, com Isane e Francisco presentes, Liana falando desde uma cidade próxima de Londres, e mais cinco pessoas (esq.), na maioria sem conhecimento prévio sobre sítios da internet. Os três blogues foram apresentados e todos discutiram as vantagens desse meio de comunicação. Cada blogueiro falou de sua experiência e também fez perguntas aos outros. Foi possível conversar com Liana à distância, mesmo com a falha de nossa câmera de vídeo (abaixo). Quando a colega voltar a Pelotas, em dezembro próximo, um novo encontro será marcado, para explorar a experiência da aproximação virtual, pois nenhum a conhecia em pessoa.