Assim como os seres humanos, as cidades também passam por momentos significativos – uns agradáveis, outros tristes (casos como Chernobyl, New Orleans, Fukushima, Hiroshima e Nagasaki). Para Pelotas, o destino reservou um momento mágico, que ficará para sempre em nossa história citadina: foi no dia 29 de junho de 1934, às 16h40 min, quando o dirigível alemão Graf Zeppelin sobrevoou, majestoso, o centro de Pelotas, em direção de Buenos Aires. O famoso Zeppelin foi criação da empresa do conde germânico que levava esse nome.
Eu tinha sete anos de idade, mas lembro-me muito bem de onde ele surgiu, lá para o lado nordeste, a uma altura de 600 metros. Morador das imediações da hoje chamada Praça Cel. Pedro Osório, eu estava brincando, quando, de repente, vi grupos de pessoas aqui e ali olhando para o céu. Curioso, olhei para cima e vi, aproximando-se da praça, aquele enorme aparelho. Na época eu nem sabia o que era, e por certo já tinha sido anunciado, na imprensa, seu sobrevôo sobre Pelotas. Ao ver o aerostato sobre minha cabeça, podia perceber claramente, a enorme gôndola, local onde os passageiros e tripulantes se acomodavam, acenando-nos de várias janelas, e todos, do solo, retribuíam aos acenos. Viam-se lenços brancos lá do alto.
Passando por sobre a Praça Cel. Pedro Osório, o Zeppelin fez um longo círculo, tomando a direção do bairro Fragata, onde ficava a Sociedade Germânia, entidade então de muita influência social na cidade. A seu pedido, bem como da comunidade alemã, o dirigível fez aquele sobrevôo para nós inesquecível. O brilho de sua superfície prateada de duralumínio era intenso, dado ao forte sol então reinante naquela tarde.
Foi um espetáculo inesquecível, só posso repetir. Os meus contemporâneos deverão ter, vívidos, em suas mentes, ainda hoje, aquela visita famosa, pois então acreditava-se que ali estava o transporte do futuro. Pensava-se que poderia transportar mais de uma centena de pessoas, em vôo sereno, capaz de ir a qualquer parte do mundo, e sobretudo acreditava-se: altamente seguro. Essas eram, basicamente, as razões de o acontecimento ter assumido as proporções que assumiu, marcando definitivamente a própria história do mais pesado que o ar.
Em 1937 veio a decepção, pois um similar do Zeppelin, o dirigível Hindenburg, de maiores proporções do que o que nos sobrevoou, incendiou-se ao descer na cidade americana de Lakehurst, New Jersey, matando inúmeras pessoas; pois então ainda não se conhecia um gás não inflamável como o que fazia pairar o artefato, que era abastecido apenas com hidrogênio, material altamente perigoso. Ali ficou sepultada a idéia dos vôos transatlânticos naquele tipo de nave.
Apesar da tragédia que nos privou dos dirigíveis, o sobrevôo do Zeppelin sobre Pelotas jamais foi esquecido pelos que o viram e viveram naqueles dias de 1934. Colheram-se depoimentos inusitados: Um popular entrevistado na época, no Café Caneca, no bairro do Porto, local de reunião de estivadores que lá bebericavam, disse o seguinte:
— O tal de Zé Pelin me deu um susto danado. Pensei que era uma bomba da Grande Guerra ainda voando.
Houve outras descrições interessantes, como esta:
— Minha mulher dizia que era um grande charuto, reclame de alguma marca nova.
E um punguista uruguaio bateu várias carteiras, ali na praça Cel. Pedro Osório, enquanto as pessoas olhavam maravilhadas para o Zeppelin. Soube-se que acabou preso. No dia imediato ao sobrevôo impressionante (30-06-34), a imprensa local publicou, com certa poesia:
Foto 1: Fábrica de MosaicosEu tinha sete anos de idade, mas lembro-me muito bem de onde ele surgiu, lá para o lado nordeste, a uma altura de 600 metros. Morador das imediações da hoje chamada Praça Cel. Pedro Osório, eu estava brincando, quando, de repente, vi grupos de pessoas aqui e ali olhando para o céu. Curioso, olhei para cima e vi, aproximando-se da praça, aquele enorme aparelho. Na época eu nem sabia o que era, e por certo já tinha sido anunciado, na imprensa, seu sobrevôo sobre Pelotas. Ao ver o aerostato sobre minha cabeça, podia perceber claramente, a enorme gôndola, local onde os passageiros e tripulantes se acomodavam, acenando-nos de várias janelas, e todos, do solo, retribuíam aos acenos. Viam-se lenços brancos lá do alto.
Passando por sobre a Praça Cel. Pedro Osório, o Zeppelin fez um longo círculo, tomando a direção do bairro Fragata, onde ficava a Sociedade Germânia, entidade então de muita influência social na cidade. A seu pedido, bem como da comunidade alemã, o dirigível fez aquele sobrevôo para nós inesquecível. O brilho de sua superfície prateada de duralumínio era intenso, dado ao forte sol então reinante naquela tarde.
Foi um espetáculo inesquecível, só posso repetir. Os meus contemporâneos deverão ter, vívidos, em suas mentes, ainda hoje, aquela visita famosa, pois então acreditava-se que ali estava o transporte do futuro. Pensava-se que poderia transportar mais de uma centena de pessoas, em vôo sereno, capaz de ir a qualquer parte do mundo, e sobretudo acreditava-se: altamente seguro. Essas eram, basicamente, as razões de o acontecimento ter assumido as proporções que assumiu, marcando definitivamente a própria história do mais pesado que o ar.
Graf Zeppelin sobre Buenos Aires |
Apesar da tragédia que nos privou dos dirigíveis, o sobrevôo do Zeppelin sobre Pelotas jamais foi esquecido pelos que o viram e viveram naqueles dias de 1934. Colheram-se depoimentos inusitados: Um popular entrevistado na época, no Café Caneca, no bairro do Porto, local de reunião de estivadores que lá bebericavam, disse o seguinte:
— O tal de Zé Pelin me deu um susto danado. Pensei que era uma bomba da Grande Guerra ainda voando.
Houve outras descrições interessantes, como esta:
— Minha mulher dizia que era um grande charuto, reclame de alguma marca nova.
E um punguista uruguaio bateu várias carteiras, ali na praça Cel. Pedro Osório, enquanto as pessoas olhavam maravilhadas para o Zeppelin. Soube-se que acabou preso. No dia imediato ao sobrevôo impressionante (30-06-34), a imprensa local publicou, com certa poesia:
A alma pelotense viveu, ontem, instantes de infinita satisfação e se deixou maravilhar ante a passagem serena, deslumbrante, majestosa, da grande aeronave alemã “Graff Zeppelin”, que, pela primeira vez (e seria a última), atendendo o seu ilustre comandante, o conspícuo engenheiro Sr. Eckner, aos reiterados reclamos das associações e personalidades de destaque da colônia germânica entre nós, cruzou o céu de Pelotas.
POST DATA
22-09-14
Veja a reportagem Foto do Zepelim foi montada em 1957.
5 comentários:
Talvez seja redundante dizer que se trata de uma crônica histórica. É de uma importância extraordinária, ainda mais pelo fato de o autor haver participado da história. As ilustrações também são excelentes; parabéns ao editor (o Vidal). A foto da Av.da de Mayo tem um ar surrealista; curiosamente, parece feita em estúdio, lembrando um filme antigo de ficção científica. (Isto é apenas o começo de um comentário que não vou poder terminar agora.)
- A quantidade de vezes que caiu (não foi processada) a postagem deste comentário lembra-me a velha frase do irmão Marx (Karl):
"NÓS ESTAMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DA HUMANIDADE".
Ele tinha mais razão do que imaginava.
Excelente artigo, com toques de poesia até!
Mas não posso deixar de constatar dois erros básicos sobre aeronáutica:
Um dirigível não é um aerostato nem é um "mais pesado que o ar". Além disso o duraluminio era usado na sua estrutura interna, e não no seu revertimento (que era basicamente de tecido de algodão impermeabilizado e pintado com pó de alumínio).
Errata: é um aerostato dirigível mais leve que o ar.
Obrigado pelas observações. Esclarecendo:
Um dirigível é um tipo de aerostato, pois o gás que usa é mais leve que o ar. O que é mais pesado é a sua estrutura física. Na percepção do povo, as naves voadoras seriam mais leves que o ar, só pelo fato de elevar-se, mas o princípio físico é que o gás faz as estruturas subirem, como se puxadas pela leveza do gás.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aer%C3%B3stato
Este artigo sobre o Zeppelin em Recife dá muitos detalhes sobre a história e a estrutura destes dirigíveis.
http://moraisvinna.blogspot.com.br/2008/05/o-dirigvel-graff-zeppelin-chega-ao.html
Sobre a aparência aluminizada da nave, o comandante Eckener informou, segundo esse artigo:
"Trata-se de uma tinta aluminizada sobre tecido de algodão que recobre por completo a estrutura metálica interna do dirigível", esclareceu o comandante respondendo a primeira e geral pergunta dos visitantes.
A estrutura era de uma liga de metais conhecida como duralumínio.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Duralum%C3%ADnio
O famoso dirigível passou por Pelotas na data citada acima, mas não pôde ser fotografado. A montagem foi hoje (20-09-14) confessada no Diário Popular pelo fotógrafo Elste, que a publicou em 1957.
www.diariopopular.com.br/index.php?n_sistema=3056&id_noticia=ODk0MDg=&id_area=Mg==
Nosso cronista Rubens Amador relata que o viu, quando criança, proveniente do nordeste e fazendo uma virada em direção ao bairro Fragata, para depois rumar a Buenos Aires. A foto mostra o aparelho na direção contrária, o que já fazia suspeitar sobre uma montagem.
O leitor Francisco Moraes, no primeiro comentário, fez ver a aparência surrealista da imagem.
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