Na Antiga Roma já conheciam o paradoxo psicológico de se fechar os olhos para uma situação de conveniência e, ao mesmo tempo, mantê-los abertos para o resto da realidade. O cronista Rubens Amador nos mostra como esse princípio é aplicado no Brasil de hoje.
Certa vez, conversando em Brasília com o conhecido jornalista Ricardo Noblat, então diretor do Correio Braziliense, eu lhe disse:
Certa vez, conversando em Brasília com o conhecido jornalista Ricardo Noblat, então diretor do Correio Braziliense, eu lhe disse:
— Acho fascinante a profissão e a missão social do Jornalista: denunciar, dar nomes, descrever certos fatos nefandos. Mas o que tenho observado, nos últimos anos, é que geralmente tudo acaba em nada!
Noblat concordou comigo e contou-me várias denúncias que fizera, todas muito bem embasadas, mas, como os denunciados eram pessoas ligadas diretamente ao poder, mesmo os fatos e as fotos, reforçando suas acusações, de nada adiantaram. Postergaram, postergaram, até as coisas acabarem no esquecimento, e ficou o dito pelo não dito. Mas ninguém o processou pelas denúncias, o que Noblat achou curioso.
O Sr. Paulo Maluf depositou muitos milhões em paraísos fiscais, em seu nome e de seu filho (leia), mas valeu e prevaleceu a palavra do ex-prefeito paulistano, que sempre repetiu, como um metrônomo, com aquele seu sotaque inigualável: "Eu não tenho dinheiro lá fora!" De nada valeram as documentações e as denúncias.
O Sr. Paulo Maluf depositou muitos milhões em paraísos fiscais, em seu nome e de seu filho (leia), mas valeu e prevaleceu a palavra do ex-prefeito paulistano, que sempre repetiu, como um metrônomo, com aquele seu sotaque inigualável: "Eu não tenho dinheiro lá fora!" De nada valeram as documentações e as denúncias.
Agora este escândalo do ex-ministro Palocci, que, segundo denúncia da Folha de São Paulo, em 4 anos de mandato como deputado federal multiplicou seu patrimônio em 20 vezes (leia notícia). Ele comprou uma propriedade de 6,6 milhões, sendo que somente havia declarado patrimônio de R$ 974 mil nesse período.
O mencionado não negou tal matematicamente curiosa operação, mas justificou a surpreendente compra, alegando que o dinheiro resultara de negócios feitos por seus escritórios de assistência técnica.
A mídia se esbalda no assunto. O Dr. Pertence, ex-ministro do Supremo, agora a serviço do PT, já disse que o negócio é limpo (veja notícia), e que Palocci, em conversa reservada com ele, lhe perguntara se não estava ofendendo a ética, o que o Dr. Pertence dissera-lhe que não! Segundo o próprio. E que considerava o assunto, bom e encerrado.
Agora: pai pobre e desempregado que não paga pensão, vai direto para a cadeia! Chamar moreno de “negão”, dá cadeia! Passador do conto do bilhete, vai logo em cana. A autoridade não brinca em serviço. É o peso da Lei!
Disso tudo, me ocorreu contar-lhes a narrativa de Plutarco: que Galba tendo oferecido um lauto jantar para Mecenas, durante o ágape, observou sua mulher e o romano ilustre trocando olhares e sinais, de forma tão inequívoca que o anfitrião resolveu fingir ter sido dominado pelo sono, a fim de deixar o ilustre convidado namorar com sua mulher, inteiramente à vontade.
A mídia se esbalda no assunto. O Dr. Pertence, ex-ministro do Supremo, agora a serviço do PT, já disse que o negócio é limpo (veja notícia), e que Palocci, em conversa reservada com ele, lhe perguntara se não estava ofendendo a ética, o que o Dr. Pertence dissera-lhe que não! Segundo o próprio. E que considerava o assunto, bom e encerrado.
Agora: pai pobre e desempregado que não paga pensão, vai direto para a cadeia! Chamar moreno de “negão”, dá cadeia! Passador do conto do bilhete, vai logo em cana. A autoridade não brinca em serviço. É o peso da Lei!
Disso tudo, me ocorreu contar-lhes a narrativa de Plutarco: que Galba tendo oferecido um lauto jantar para Mecenas, durante o ágape, observou sua mulher e o romano ilustre trocando olhares e sinais, de forma tão inequívoca que o anfitrião resolveu fingir ter sido dominado pelo sono, a fim de deixar o ilustre convidado namorar com sua mulher, inteiramente à vontade.
Foi tão convincente na sua representação, que um criado resolveu roubar algumas vasilhas de prata. Quando, porém, escondia as peças, gritou-lhe Galba, indignado:
— Não estás vendo, patife, que durmo somente para Mecenas?
Os que dormem para Mecenas são os que tudo permitem aos poderosos e tudo negam aos humildes.
— Não estás vendo, patife, que durmo somente para Mecenas?
Os que dormem para Mecenas são os que tudo permitem aos poderosos e tudo negam aos humildes.
Rubens Amador
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