A estudante de Jornalismo Helena Santos Schwonke, 23 anos, fotografou detalhes de esculturas, bustos e mausoléus que adornam o Cemitério São Francisco de Paula. As imagens em preto e branco ficaram expostas durante o mês de maio na Galeria de Arte da Universidade Católica de Pelotas.
Os cemitérios normalmente contêm obras de arte de tipos diversos: esculturas, pinturas, poesia, gravura e música. No entanto, sua existência não costuma ser considerada pela sociedade, seja porque a emoção dos visitantes impede que as percebam, seja porque as pessoas interessadas em arte não costumam visitar cemitérios.
Associada a temores e perdas, a chamada "arte tumular" cai no esquecimento geral, com o paradoxo de que tais obras de arte se destinam justamente a representar a memória nos vivos de seus entes queridos. Enquanto as igrejas têm a conotação da espiritualidade pura, apesar da existência em seu interior de mausoléus, o medo da morte tinge os cemitérios de cores negativas.
Daí que a autora destas fotos preferisse o preto e branco, como forma de chamar a atenção, com suavidade e respeito, para a existência da arte nestes ambientes. Mantendo uma tonalidade depressiva, a falta de cores evita qualquer associação possível com algum interesse mórbido.
O título por ela escolhido para esta sua primeira exposição, foi justamente “A Arte Esquecida”. O que servia para eternizar memórias está, curiosamente, sendo esquecido, avalia a artista. Muitas de suas esculturas favoritas já foram furtadas ou depredadas. “Daqui a pouco esses monumentos não existirão mais”, alertou.
Sua principal intenção, desde que começou a fotografar arte tumular, é mostrar às pessoas que o cemitério pode esconder belezas. “Muita gente não tem a ideia de que pode existir arte num lugar assim, que a maioria julga triste”, ponderou.
De acordo com a artista, que começou estes registros aos 15 anos de idade, os cemitérios são locais costumeiramente frequentados na Europa, tanto em função das figuras ilustres sepultadas nos locais quanto pelas obras de arte.
Apesar de ter fotografado arte tumular no Uruguai e no Canadá, Helena irá expor apenas imagens de Pelotas. Tudo para mostrar à população o patrimônio existente em sua própria cidade. “Aqui temos Simões Lopes Neto, Lobo da Costa, Antônio Caringi. O preconceito é só falta de informação. O cemitério é um museu a céu aberto”, avaliou.
A proposta de Helena pretende desfazer esse preconceito e, principalmente, valorizar a cultura e o patrimônio. Segundo ela, o acervo de nosso cemitério mostra a arte e a história de uma Pelotas muito diferente da que conhecemos hoje. "Se trata de uma arte de muito bom gosto e cheia de detalhes que fazem o observador viajar no tempo, na história da cidade e na história das famílias”, destacou.
A técnica utilizada privilegia os detalhes, para valorizar os traços delicados das esculturas, em dez fotografias no formato 30cm x 40cm. Em relação com a sua profissão do jornalismo, Helena explica que ela segue sendo, com a fotografia, uma mediadora entre a arte tumular e o público. “Com minhas fotos, estou representando o mérito do escultor. Eu aproximo as obras às pessoas”, declarou.
Imagens da artista
3 comentários:
Excelente o trabalho da jornalista. Realmente, sobretudo na parte antiga do cemitério, há maravilhosas obras de arte, mas esse patrimônio corre o risco de se perder não só pelo roubo ou vandalismo, como também pelo "abandono" das autoridades responsáveis por cuidar do cemitério. Há poças d'água, decorrentes de "buracos", que precisariam ser tapados. Necessários se fazem reparos no chão, paredes, etc. Parabéns pelas fotos!
Muito boa matéria, Francisco! Bj, Tê!
Parabéns à fotógrafa Helena Schwonke que sem dúvida nenhuma presta um grande serviço à comunidade tão carente de cultura.
Infelizmente, o preconceito para com a arte tumular, já era de se esperar num país onde a ignorância, o descaso, o vulgar e o banal tomam lugar do que ainda nos resta em termos de obras arquitetônicas nestes recantos.
Um abraço.
Quero convidar o autor do blog a conhecer Lírio das almas. são poemas de luto que falam do amor ido.
Sejam bem-vindos, um abraço!
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