Soprano Luísa Kurtz num ensaio da ópera "A volta do parafuso", em São Paulo |
Luísa Kurt e Ivan Marinho em ensaio |
Confira a seguir o que disseram alguns críticos de São Paulo, todos os quais a viram por primeira vez e ficaram positivamente impressionados. No final desta nota, Luísa escreve sobre sua nova experiência.
Leonardo Marques redigiu uma cuidadosa crítica desta atuação coletiva no São Pedro de São Paulo, destacando, no final do texto, a cantora principal:
A soprano Luísa Kurtz viveu uma Governanta surpreendente. Se a memória não me trai, esta foi a primeira vez que a escutei, e a impressão deixada pela artista não poderia ter sido melhor: voz firme, segura, bem afinada, bem projetada na acústica amigável do São Pedro (é preciso ainda conferir sua projeção num palco maior, naturalmente), e que se manteve em excelente nível durante toda a récita – vale lembrar que a Governanta canta em quinze das dezesseis cenas da ópera. Sua atuação cênica acompanhou o desenvolvimento das angústias e das dúvidas da personagem, e o resultado final foi daqueles que ficarão grudados na memória por um longo tempo [v. texto completo no portal de música erudita Movimento].Outro crítico especializado, Irineu Franco Perpetuo, descreveu Luísa como "um benfazejo sopro de renovação nos viciados elencos de ópera paulistanos". Representando o personagem central, ela canta do início ao fim do espetáculo. Diz o crítico que, "sem jamais cair a intensidade, Kurtz mostrou ter qualidades cênicas no mínimo equivalentes às sopranos de seu registro que vêm monopolizando a cena lírica daqui nas duas últimas décadas – e dotes vocais superiores à maioria" (leia seu artigo completo no sítio da Revista Concerto). O divulgador Ali Hassan Ayache publicou uma terceira crítica deste espetáculo no portal de música erudita Movimento.
A obra de Henry James The turn of the screw (1898) sobre a qual foi feita esta ópera em 1954, já teve mais de vinte edições em português, com diversos títulos (v. resenha das traduções no blogue de Denise Bottmann Não gosto de plágio). A expressão inglesa "volta de parafuso" não pode ser compreendida nessa forma literal; de acordo ao Cambridge Online, seu sentido é de "um movimento que piora uma situação, especialmente quando se submete alguém pela força". O texto de James passou ao teatro em 1950 e ao cinema desde 1959 até hoje, com títulos como "Os inocentes" e "Os outros" (v. resenha do livro).
Luísa Kurtz e Gabriel Lima em "A volta do parafuso", ópera em inglês de Benjamin Britten |
Foi bastante trabalhosa. Desde que recebi o convite do Theatro São Pedro, no final do ano passado, tratei de encomendar a partitura e já começar a dar uma olhada, pois sabia que seria a ópera mais difícil da minha vida até o momento, e realmente foi. O resultado para quem ouve é muito natural, a música se encaixa perfeitamente no libreto, comunicando de forma eficaz as emoções dos personagens e, consequentemente, emocionando o público, mas a verdade é que o estudo dessa obra requer muita dedicação, devido às inúmeras dissonâncias e dificuldades rítmicas que se encontram na partitura.
— E como foi o desempenho em relação ao espaço do teatro e aos colegas de cena?Além da dificuldade musical, o que achei mais diferente nesse trabalho foi o fato de viver um personagem de grande riqueza. A Governanta inicia a ópera como uma "mocinha" normal, e aos poucos vai revelando lados estranhos de sua personalidade, vivendo no final o que com certeza foi a maior tragédia de sua vida. Um personagem assim possibilita que o artista mostre toda a sua verdadeira habilidade cênica, com nuances de não só algumas mas muitas emoções. Isso não acontece quando o personagem é mais linear.
O Theatro São Pedro de São Paulo é um pouco maior do que o de Porto Alegre e tem uma boa acústica. Me senti muito bem cantando lá. O público de São Paulo é em geral mais exigente do que o do Rio Grande do Sul, por ter acesso a muito mais espetáculos do gênero. Mesmo assim a acolhida da ópera foi muito boa, tivemos grande sucesso de público e crítica.
Os colegas foram muito competentes e agradáveis, sendo que o diferencial desta ópera neste aspecto foi ter colegas crianças! Havia sempre um menino e uma menina com a gente, o que na minha opinião fez muito bem a todos nos ensaios. As crianças foram capazes de memorizar a música difícil e em inglês, além de atuar muito bem. E elas falavam inglês na vida real também, não só no palco! Presenciei várias conversas delas com o nosso Maestro americano.
Prólogo de "A volta do parafuso", de Britten, com o tenor Samuel Boden,
acompanhado por The Koenig Ensemble (estreia no México, 2011)
acompanhado por The Koenig Ensemble (estreia no México, 2011)
Fotos: Décio Figueiredo (Facebook) e Cristina Flória (Facebook)
3 comentários:
A embaixadora cultural de Pelotas na Itália agora também nos representa em São Paulo. Um verdadeiro luxo... né?
Verdade, é uma embaixadora binacional.
E o que achas, Luísa, de também ser nossa correspondente na Itália?
NAnattacio está se revelando excelente jornalista cultural. Realmente, o que tem apresentado nos deixa deleitados e dispostos a retornar mais seguido aos grandes centros.
Quando organizamos roteiro de viagem, os grandes espetáculos são o que nos incentiva e nos guia. É alimento intelectual para meses. E, cada vez, nos dispomos a voltar, a rever, a degustar essa iguaria preciosa que a maioria dos brasileiros desconhece.
Realmente uma delícia ler, apreciar e comparar com o que já vimos.
Esse é, sem dúvida, um blog necessário a qualquer comunidade. Especialmente em cidades como Pelotas, que já vivenciou e que se dispõe a reviver esse tipo de espetáculo.
Visita obrigatória de quem fala, ou faz cultura.
Abraço fraterno, prof.ª Loiva Hartmann
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