Sete anos depois do álbum Samba Meu (2007), a cantora Maria Rita lança "Coração a Batucar" (abril de 2014), sua segunda incursão pelo mais brasileiro dos gêneros musicais. O próprio título alude ao ritmo sincopado, que é o do nosso samba e também caracteriza as batidas cardíacas. O Teatro Guarani de Pelotas é uma das primeiras salas brasileiras que verá o espetáculo, nesta quarta 7 de maio (v. agenda de shows no sítio da cantora, e o verbete Maria Rita na Wikipédia).
À medida que surgia o conteúdo do novo disco, ela já preparava o programa deste show, que inclui tanto músicas recém criadas como de álbuns anteriores. Algumas das novas são: "Rumo ao infinito", "Meu Samba, sim senhor", "Fogo no paiol", "Abre o peito e chora", "Saco cheio", "Bola pra frente", "Mainha me ensinou" e "No mistério do samba" [leia mais sobre o show no Blueticket].
"Coração a Batucar" foi gravado numa roda de samba, com sabor de apresentação ao vivo e, no show que agora está passeando pelo Brasil, a plateia poderá perceber uma viva interação da cantora com os músicos. A banda que a acompanhou em estúdio também vai para o palco, com Davi Moraes (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Rannieri de Oliveira (piano) e Wallace Santos (bateria).
Perguntada por que volta ao samba após 7 anos do disco anterior, Maria Rita respondeu com uma frase da música "É corpo, é alma, é religião":
Maria Rita Camargo Mariano, cada vez mais graciosa e cantando melhor, não lotou o Guarani, ontem à noite. Às 21:20, ainda havia uns 200 lugares disponíveis e o show não começava. Seu jovem público não dispõe de cem reais para um show. Ou não vê nela o maior talento vocal da MPB hoje?
Curiosamente, Maria Rita vende menos discos à medida que amadurece, e o motivo não é uma decadência, mas que o público vai percebendo que ela é diferente de sua mãe e, por isso, não pode reproduzir nela a idolatria que se interrompeu em 1982. Viúvos e viúvas de Elis Regina – metade do Brasil – ainda não aceitamos que a baixinha nos abandonou de repente, sem razão clara. A angústia e os transtornos de personalidade dela eram para nós toleráveis; para ela, nem a cocaína sozinha podia mitigá-los. Sua única filha também é uma diva precoce e leva o peso de nossa frustração.
Toda filha leva algo da mãe, e precisa assumir as semelhanças para logo desenvolver as diferenças, mas Maria Rita deve resolver esse dilema em público. Quem não teria chiliques de nervosismo com tanta cobrança? Ela precisa dar-se conta de que o amor de seu público não depende de semelhanças com a mãe no repertório, na voz, na pronúncia, nos gestos. E nós precisamos ver que Maria Rita não tem nem transtornos do humor, nem abusa de drogas, nem nos abandonará.
Ela é Maria Rita mesmo, e está tentando ser, mesmo com pouca ajuda. Ninguém merece ser ídolo assim, mas o talento é para ser usado: não só para cantar melhor (como Elis), mas para construir-se a si mesmo e não destruir-se.
À medida que surgia o conteúdo do novo disco, ela já preparava o programa deste show, que inclui tanto músicas recém criadas como de álbuns anteriores. Algumas das novas são: "Rumo ao infinito", "Meu Samba, sim senhor", "Fogo no paiol", "Abre o peito e chora", "Saco cheio", "Bola pra frente", "Mainha me ensinou" e "No mistério do samba" [leia mais sobre o show no Blueticket].
V. entrevista No camarim com Maria Rita. |
"Coração a Batucar" foi gravado numa roda de samba, com sabor de apresentação ao vivo e, no show que agora está passeando pelo Brasil, a plateia poderá perceber uma viva interação da cantora com os músicos. A banda que a acompanhou em estúdio também vai para o palco, com Davi Moraes (guitarra), Alberto Continentino (baixo), Rannieri de Oliveira (piano) e Wallace Santos (bateria).
Perguntada por que volta ao samba após 7 anos do disco anterior, Maria Rita respondeu com uma frase da música "É corpo, é alma, é religião":
Eu não nasci no samba, mas o samba nasceu em mim. É uma coisa intrauterina. Minha mãe adorava sambas e gravou muitos. Eu sempre estive aqui. Não posso estar voltando de onde nunca saí.Na quinta-feira 27 de novembro de 2008, Maria Rita apresentou "Samba Meu" em nossa cidade (v. agenda no Amigos de Pelotas), ocasião em que escrevi o seguinte artigo crítico sobre sua evolução. Mais abaixo, confira vídeo de "Samba Meu" (1 hora).
Maria Rita é Maria Rita
Maria Rita Camargo Mariano, cada vez mais graciosa e cantando melhor, não lotou o Guarani, ontem à noite. Às 21:20, ainda havia uns 200 lugares disponíveis e o show não começava. Seu jovem público não dispõe de cem reais para um show. Ou não vê nela o maior talento vocal da MPB hoje?
Curiosamente, Maria Rita vende menos discos à medida que amadurece, e o motivo não é uma decadência, mas que o público vai percebendo que ela é diferente de sua mãe e, por isso, não pode reproduzir nela a idolatria que se interrompeu em 1982. Viúvos e viúvas de Elis Regina – metade do Brasil – ainda não aceitamos que a baixinha nos abandonou de repente, sem razão clara. A angústia e os transtornos de personalidade dela eram para nós toleráveis; para ela, nem a cocaína sozinha podia mitigá-los. Sua única filha também é uma diva precoce e leva o peso de nossa frustração.
Toda filha leva algo da mãe, e precisa assumir as semelhanças para logo desenvolver as diferenças, mas Maria Rita deve resolver esse dilema em público. Quem não teria chiliques de nervosismo com tanta cobrança? Ela precisa dar-se conta de que o amor de seu público não depende de semelhanças com a mãe no repertório, na voz, na pronúncia, nos gestos. E nós precisamos ver que Maria Rita não tem nem transtornos do humor, nem abusa de drogas, nem nos abandonará.
Ela é Maria Rita mesmo, e está tentando ser, mesmo com pouca ajuda. Ninguém merece ser ídolo assim, mas o talento é para ser usado: não só para cantar melhor (como Elis), mas para construir-se a si mesmo e não destruir-se.
Ars Longa, 28-11-08
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