Hoje, cinco anos após a morte do ilustre juiz (v. reportagem do Diário Popular Cinco anos sem Mozart Russomano), o projeto está ainda em fase de realização. Em outras partes do Brasil, houve homenagens em 2012 e 2014. A própria acadêmica relata o fundamento de seu projeto no artigo abaixo, publicado no Diário da Manhã impresso (sábado 17-10-15).
A professora e poetisa é Conselheira do Instituto João Simões Lopes Neto, Sócia fundadora do Museu do Charque e da Biblioteca Negra de Pelotas, Mentora da Jornada Cultural de Pelotas, integrante da União Brasileira de Escritores e Patrona do blogue "Pelotas, Capital Cultural".
Da Criação ao Juízo Final
As pessoas não morrem; permanecem encantadas em suas obras e no coração de quem as ama e admira. – João Guimarães Rosa.
A mão direita do homem criador avança ao futuro. |
O Patrono da Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras, Mozart Victor Russomano, permanece entre nós, mercê de sua personalidade, talento jurídico e capacidade de – sem extravagâncias ou exposição de seus cargos e diplomações – promover sua comunidade com um savoir faire inigualável.
Filho de Victor Russomano e Elda Costa Russomano, formou família ao lado da Professora Gilda Maciel Russomano, com quem pôde confirmar a predição do poeta Friedrich Von Schlegel (1772-1829): “Apenas em torno de uma mulher que ama pode formar-se uma família”. Seu filho Victor Russomano Júnior e Mozart Victor Russomano Neto transitam entre os tribunais das Turmas e Seções do TST, atestando a estirpe primorosa de que provêm.
Jovem, 1944, alcançou o cargo de Juiz do Trabalho. Fundador da 1ª Vara Trabalhista em Pelotas. Ministro em 1969, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho em 1975. Presidente fundador do Tribunal Administrativo da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1971 a 1976. Juiz Administrativo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de 1981 a 1986.
Catedrático de Direito Trabalhista da UFPel. Presidente de Honra da Academia Ibero-Americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social e do Instituto Latino-Americano de Direito do Trabalho e da Seguridade Social. Representante do Brasil na Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1984 a 1990, sendo Presidente do Conselho Administrativo (o segundo brasileiro na história), entre 1997 e 1998. Doutor Honoris Causa e Professor Honorário em mais de 15 universidades nacionais e internacionais.
Autor de 45 livros jurídicos, muitos dos quais vertidos para outras línguas, além de artigos em revistas especializadas, capítulos em co-participação nas mais importantes obras em sua especialidade, o Direito do Trabalho, Processual e Previdenciário, e mais 15 obras literárias (v. bibliografia completa).
A atuação de Mozart na área cultural impressiona. Em 1960, a primeira Feira do Livro em Pelotas, de 25 de novembro a 4 de dezembro, contou com a colaboração do Instituto de Sociologia e Política da URGS, então sob a presidência do Dr. Mozart Victor Russomano. Ali se originou a Feira! O primeiro Orador da Feira do Livro foi o Dr. Mozart, dando continuidade ao cultivo das letras e artes na Zona Sul, especialmente em Pelotas, sua cidade. Em 1997, na Praça Cel. Pedro Osório, foi Patrono da Feira do Livro.
E nesse mundo mágico da criação literária, seus artigos e crônicas se destacam. Como professora de línguas e literatura, admirei sempre a propriedade e a sobriedade, temperadas por finíssima ironia machadiana, veículos do pensamento de Russomano. Usando linguagem culta, economizava adjetivos, dispensava termos rebuscados que dificultariam o entendimento às pessoas mais simples.
De fino trato, tinha especial consideração com seus admiradores e leitores de todas as classes sociais. O gentleman, o homem culto, o Ministro, sabia que na simplicidade está a sofisticação e o verdadeiro requinte! Poeta, contista, jurista, cidadão do mundo. Timbrava sua postura, polida pela vivência com grandes personalidades mundiais.
Tínhamos um encantamento, uma convicção comum. A civilização ocidental cooptou dos gregos o modelo. Nessa civilização, um poeta, Homero, no século lV já era um clássico. As artes são um exemplo da grandeza que os seres humanos podem alcançar. E há um artista que engloba todos os talentos: Michelangelo Buonarrotti. Em crônica iluminada, de 2003, Russomano detalhou como essa figura ímpar cobriu a Capela Sistina: “Bem no centro, a Criação do homem. Desce do céu, envolta em mistério e poder, a mão criadora, para tocar de leve o homem criado”. Ilustrei uma poesia justamente com a figura da Criação, pois estou convicta de que toda criação é um ato de amor.
De 2002 a 2010, houve a Jornada Cultural de Pelotas. À semelhança de Paraty e Passo Fundo, teve como objetivo difundir as artes e a cultura. Em 2006, Dr. Russomano, a nosso convite, tentaria participar da 4ª Jornada. Havia feito grave cirurgia no quadril e recém iniciava a fisioterapia. Conscientes de que deveríamos nos conter, em respeito à sua idade e sofrimento, mesmo assim o lembramos da imensa motivação que sua presença provocaria aos assistentes. Por telefone confirmou que iria. A emoção foi indescritível!
No Pavilhão 2, Fenadoce, chegam os palestrantes: Ir. Elvo Clemente, Hilda Simões Lopes, Lígia Antunes, Mário Osório Magalhães, Luiz Antônio de Assis Brasil , Prefeito Fetter Júnior. Minutos depois, adentra ao recinto Dr. Mozart Victor Russomano, acompanhado de familiares, enfermeiro e seu médico. Quase impossibilitado de andar, fazia um esforço sobrehumano para estar com sua comunidade e mais: dar o exemplo de que, quando se quer realmente alguma coisa, não há o que nos impeça de realizá-la! Obrigada, caro amigo, pelo exemplo ímpar de determinação dado à nossa juventude, professores, cidadãos.
Presidente de Honra da Academia Pelotense de Letras, leitor de Eça de Queiroz, assim o definiu: “Imortalizado no mármore de Teixeira Lopes, sustentando nos braços a nudez forte da verdade, levemente coberta pelo manto diáfano da fantasia, chamado constantemente pela evocação da saudade de seus leitores e pela voz do seu gênio, magicamente ele sai do mármore. Para onde vai? Vai ao encontro do mundo, nimbado pela admiração daqueles que amam a beleza, a arte, a realidade e a fantasia que dá cintilações à realidade. A realidade que inspira o artista, fazendo-o subir, voar nos espaços imensos e claros da imaginação e da glória!” ("O Poeta Anônimo", p. 65-66).
No séc. XIX, o escritor italiano Cesare Cantù (1804-1895) disse: “Querem conhecer o grau de civilização de um povo? Reparem naqueles que erguem monumentos!”. Hoje, cabe a todos nós eternizarmos em mármore e bronze a memória do eminente conterrâneo Mozart Victor Russomano. O jurista, o escritor, o poeta, o cidadão do mundo, o amigo, o pelotense ilustre. Para que os pósteros o conheçam e para que nós o tenhamos sempre presente.
Nosso projeto, proposto na Câmara Municipal e aprovado há um ano, é agora a Lei nº 6.151/ 07.08.2014. Autoriza o Município a edificar monumento a Mozart Victor Russomano na Praça Coronel Pedro Osório ou seu entorno. Ao conhecer o projeto, o prefeito Eduardo Leite disse: “Eu julgo absolutamente meritória esta iniciativa e assim que chegar até nós começaremos a viabilizar o ponto de vista jurídico e financeiro”.
Filho de Victor Russomano e Elda Costa Russomano, formou família ao lado da Professora Gilda Maciel Russomano, com quem pôde confirmar a predição do poeta Friedrich Von Schlegel (1772-1829): “Apenas em torno de uma mulher que ama pode formar-se uma família”. Seu filho Victor Russomano Júnior e Mozart Victor Russomano Neto transitam entre os tribunais das Turmas e Seções do TST, atestando a estirpe primorosa de que provêm.
Jovem, 1944, alcançou o cargo de Juiz do Trabalho. Fundador da 1ª Vara Trabalhista em Pelotas. Ministro em 1969, Corregedor-Geral da Justiça do Trabalho em 1975. Presidente fundador do Tribunal Administrativo da Organização dos Estados Americanos (OEA), de 1971 a 1976. Juiz Administrativo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de 1981 a 1986.
Catedrático de Direito Trabalhista da UFPel. Presidente de Honra da Academia Ibero-Americana de Direito do Trabalho e Seguridade Social e do Instituto Latino-Americano de Direito do Trabalho e da Seguridade Social. Representante do Brasil na Organização Internacional do Trabalho (OIT), de 1984 a 1990, sendo Presidente do Conselho Administrativo (o segundo brasileiro na história), entre 1997 e 1998. Doutor Honoris Causa e Professor Honorário em mais de 15 universidades nacionais e internacionais.
A destra humana aponta ao Criador de Tudo. |
A atuação de Mozart na área cultural impressiona. Em 1960, a primeira Feira do Livro em Pelotas, de 25 de novembro a 4 de dezembro, contou com a colaboração do Instituto de Sociologia e Política da URGS, então sob a presidência do Dr. Mozart Victor Russomano. Ali se originou a Feira! O primeiro Orador da Feira do Livro foi o Dr. Mozart, dando continuidade ao cultivo das letras e artes na Zona Sul, especialmente em Pelotas, sua cidade. Em 1997, na Praça Cel. Pedro Osório, foi Patrono da Feira do Livro.
E nesse mundo mágico da criação literária, seus artigos e crônicas se destacam. Como professora de línguas e literatura, admirei sempre a propriedade e a sobriedade, temperadas por finíssima ironia machadiana, veículos do pensamento de Russomano. Usando linguagem culta, economizava adjetivos, dispensava termos rebuscados que dificultariam o entendimento às pessoas mais simples.
De fino trato, tinha especial consideração com seus admiradores e leitores de todas as classes sociais. O gentleman, o homem culto, o Ministro, sabia que na simplicidade está a sofisticação e o verdadeiro requinte! Poeta, contista, jurista, cidadão do mundo. Timbrava sua postura, polida pela vivência com grandes personalidades mundiais.
Tínhamos um encantamento, uma convicção comum. A civilização ocidental cooptou dos gregos o modelo. Nessa civilização, um poeta, Homero, no século lV já era um clássico. As artes são um exemplo da grandeza que os seres humanos podem alcançar. E há um artista que engloba todos os talentos: Michelangelo Buonarrotti. Em crônica iluminada, de 2003, Russomano detalhou como essa figura ímpar cobriu a Capela Sistina: “Bem no centro, a Criação do homem. Desce do céu, envolta em mistério e poder, a mão criadora, para tocar de leve o homem criado”. Ilustrei uma poesia justamente com a figura da Criação, pois estou convicta de que toda criação é um ato de amor.
Como mostra Michelangelo, "A Criação de Adão" é feita pela destra de Deus. |
No Pavilhão 2, Fenadoce, chegam os palestrantes: Ir. Elvo Clemente, Hilda Simões Lopes, Lígia Antunes, Mário Osório Magalhães, Luiz Antônio de Assis Brasil , Prefeito Fetter Júnior. Minutos depois, adentra ao recinto Dr. Mozart Victor Russomano, acompanhado de familiares, enfermeiro e seu médico. Quase impossibilitado de andar, fazia um esforço sobrehumano para estar com sua comunidade e mais: dar o exemplo de que, quando se quer realmente alguma coisa, não há o que nos impeça de realizá-la! Obrigada, caro amigo, pelo exemplo ímpar de determinação dado à nossa juventude, professores, cidadãos.
- Em abril de 2012, o Tribunal Superior do Trabalho inaugurou o Auditório Ministro Mozart Victor Russomano, situado no 5º andar do edifício sede, em Brasília (v. notícia de 18-4-12 com o discurso do Ministro João Oreste Dalazen).
- Em janeiro de 2014, o TRT da 11ª Região, inaugurando suas instalações no Foro Trabalhista de Manaus, deu oficialmente o nome de Mozart Victor Russomano a seu novo edifício (v. Resolução Administrativa 108/2013 do TRT11). A placa foi descerrada pelo desembargador David Mello Jr. e por Victor Russomano Jr. (foto abaixo).
Os tribunais do trabalho de Manaus funcionam no Forum Ministro Mozart Victor Russomano. |
No séc. XIX, o escritor italiano Cesare Cantù (1804-1895) disse: “Querem conhecer o grau de civilização de um povo? Reparem naqueles que erguem monumentos!”. Hoje, cabe a todos nós eternizarmos em mármore e bronze a memória do eminente conterrâneo Mozart Victor Russomano. O jurista, o escritor, o poeta, o cidadão do mundo, o amigo, o pelotense ilustre. Para que os pósteros o conheçam e para que nós o tenhamos sempre presente.
Nosso projeto, proposto na Câmara Municipal e aprovado há um ano, é agora a Lei nº 6.151/ 07.08.2014. Autoriza o Município a edificar monumento a Mozart Victor Russomano na Praça Coronel Pedro Osório ou seu entorno. Ao conhecer o projeto, o prefeito Eduardo Leite disse: “Eu julgo absolutamente meritória esta iniciativa e assim que chegar até nós começaremos a viabilizar o ponto de vista jurídico e financeiro”.
Loiva Hartmann
Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras
Patrono: Mozart Victor Russomano
Cadeira 34 da Academia Pelotense de Letras
Patrono: Mozart Victor Russomano
Projeto ideado por Loiva Hartmann para seu patrono na Academia de Letras foi levado à Câmara e ao Prefeito, e transformou-se em lei em 2014. |
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