Tânia Maria Araújo Bellora formou-se em Direito e exerceu por uns anos como advogada e juíza; estudou Arquitetura, sem concluir o curso, e hoje trabalha no ramo imobiliário, atividade que de certa forma une as duas anteriores (entender-se com as pessoas e assegurar-lhes habitação). Mas não havia estudado fotografia, nem ninguém lhe reconhecia talento para isso - até que um fotógrafo profissional lhe abriu os olhos para o valor de suas imagens.
Com curiosidade e sensibilidade, o artista busca novos materiais ou novas técnicas, e obtém novos efeitos para transmitir mensagens, originais ou não. Só pessoas muito curiosas e sensíveis experimentam novas técnicas na fotografia, que é tida mais como o registro objetivo de dados da realidade do que uma arte plástica.
É o caso de Tânia Bellora, que descobriu efeitos visuais interessantes ao prolongar o tempo de exposição da câmera. Observando a lua, deliciava-se com os rastros luminosos que apareciam na sua máquina, e dessa brincadeira de quem não tinha os estudos técnicos saiu um trabalho mais elaborado, o qual se pode considerar Arte Abstrata. Tânia faz da fotografia um terreno de pesquisa e uma arte plástica pura, sem realismo algum.
O nome formal da técnica é: fotografia digital em baixa velocidade. O nome informal poderia ser: brincando com as luzes da lua.
Aí estão os dois lados da arte: a diversão prazerosa, que trazemos instintivamente em nossa natureza, e o trabalho intelectual, que aprendemos com a inteligência e aperfeiçoamos com a disciplina.
Mais do que uma artista clássica, a fotógrafa se revela uma pesquisadora e, a partir do momento em que provoca o espectador e o faz imaginar novas coisas, ela é também uma artista moderna. Assim como as ações fotográficas tiveram resultados imprevistos, as consequências de mostrar estes a um público também são imprevisíveis.
Algumas imagens são mais sugestivas que outras, mas aí é que entra a sensibilidade do espectador, disposto ou não a se deixar levar pela associação livre, que leva ao autodescobrimento. Algumas luzes formarão linhas, manchas ou elementos conhecidos; outras não parecerão dizer nada claro, mas se imporão com autoridade, como se falassem de si mesmas com independência total da realidade, desde outro mundo e outra linguagem.
A profundidade artística permite levantar esta linguagem visual tão diferente e às vezes chocante, anterior à razão, mas paralela ao nosso mundo consciente. É o mundo das imagens oníricas e dos processos mentais primários, associados aos primeiros dias de vida ou ao psiquismo pré-natal.
A primeira exposição de Tânia, sob o título "Luz e Movimento: Visão além da Imagem", com 30 fotografias, foi aberta na sexta-feira passada (13) e segue até fim do mês na galeria de arte da Universidade Católica. Somente para esta ocasião, o projeto de extensão Bolsa de Arte organizou um coquetel com convidados, onde estiveram presentes autoridades da UCPel e destacados artistas e professores pelotenses.
O costume de não fazer vernissages se deve em parte a que a sala da galeria não se presta para grandes reuniões, e a exceção se deveu a que neste caso a expositora é esposa de um conhecido diretor da Universidade, o que motivou uma recepção amistosa e informal, com ponche e docinhos. O encontro começou às 18h e duas horas depois as pessoas ainda seguiam ali conversando.
Movido pelo espírito alegre das fotos e da reunião, também quis brincar com as imagens (minhas e da exposição), o que um fotógrafo sério nunca deveria fazer. Vi no chão uma grande regularidade, que nunca me havia impressionado, mas agora se contrapunha com as fotos artísticas. Então pensei em provocar um terceiro efeito. Se a artista rompeu com a natureza relativamente ordenada das percepções humanas, as tijoletas nada criativas sugerem um efeito duplo: ir contra a insensatez das ondas luminosas sem destino e ao mesmo tempo destacar por contraste a graça e a beleza da imaginação livre.
Fotos de F. A. Vidal.
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