A Feira Nacional do Doce 2009 começou nesta quarta-feira (3), e dentro dela três palcos de shows programam música, dança e teatro, além de festivais de cinema e de bandas musicais. São cerca de 200 apresentações, sendo impossível falar de todas num só meio de comunicação.
A Orquestra e Coro da Sociedade Música pela Música organizou um espetáculo popular com canções românticas, dia 12 de junho, dia dos namorados, às 21h. Para promovê-lo, este ano há um vídeo de provocação, criado pela Insight/Incomum, com edição da Zap Filmes. O próprio maestro Sérgio Sisto saiu às ruas com alguns músicos para seduzir o público da praça Osório com a canção Carinhoso.
Numa brincadeira assim, só pode predominar o bom humor, sem crítica. Para possíveis turistas interessados, quero frisar que a orquestra e os cantores fazem bem mais bonito do que se vê neste teaser comercial. Espera-se um show de uma hora, com algumas peças instrumentais, alguns solos de óperas, muita canção italiana e uma ou duas brasileiras.
3 comentários:
Parabéns, Vidal, pela tua permanente sutileza e capacidade em desenvolver eufemismos. Mas, continuo sustentando que "brincadeira" e "bom humor" não excluem "bom gosto", "bom senso" e "autocrítica", principalmente quando se está envolvido numa proposta séria e que envolve recursos públicos diretos ou indiretos. O (auto)isolamento de Pelotas, em relação a centros onde realmente se produz cultura erudita de peso, gera o deslumbramento e o aplauso fácil perante pessoas, grupos, produções que não só estão aquém do mínimo de qualidade desejada, mas que, fundados nesse prestígio tolo, perdem os referenciais para a necessária auto-superação. Nessa linha, temos os instrumentistas que repentinamente acham que são cantores, os cantores que se presumem atores e bailarinos de musical, as formações instrumentais técnica e musicalmente incipientes que acham que podem dar conta do mais refinado repertório, e por aí vai. Com resultados, se não circences, no mínimo patéticos, que geram na ínfima parcela de espectadores com algum senso crítico, a famosa sensação de "vergonha pelos outros". E, claro, em salas lotadas, sob ovações dos "pelotinos" que não perderiam a ocasião de estrear uma nova "toilette". Essa é a Capital Cultural da Metade Sul?
No ambiente provinciano é fácil provocar o deslumbramento; nas capitais, bem mais difícil. Os artistas não buscam isso, no fundo? (curiosidade, bem-estar, elevação, interesse)
Se for pela estética absoluta, não deveríamos aplaudir os iniciantes, pois seu resultado é pobre demais em relação ao que deveria. Para um crítico objetivo, somente os mais avançados mereceriam algum elogio ou reconhecimento. Mas sejamos realistas, aqui ainda estamos longe do Metropolitan ou do Scala. Temos que partir incentivando o melhoramento e a persistência. Eles criam alegria e movimento social, ainda que com pouca autocrítica. Muita autocrítica termina sendo um freio para quem aprende. Acho que, educativamente, é válida a sutileza - e o sarcasmo não - para introduzir críticas parciais, sem perder de vista o bom gosto. Pior seria ficar em casa e não fazer nada. O prazer de criar move a cultura, e diminui o medo e o crime.
Tento valorizar todas as melhorias que vejo, e denuncio o que vejo de pior (às vezes com eufemismos). Em 140 textos no blogue até hoje, ainda não consegui mostrar tudo o que quereria; há muita produção em Pelotas, mesmo que não seja equivalente à Europa.
Na metade sul do Estado, temos um patrimônio humano a ser cultivado. Se nós não o promovermos, virão os franceses e alemães (cansados de seus próprios críticos perfeccionistas). Aliás, sabia que lá em Paris há vários desses "pelotinos"? (ricos e vaidosos) Se já fomos capital cultural do Estado (s.XIX), recuperemos pelo menos nossa própria estima. Em síntese, prefiro informar e divulgar ao máximo, e o público que julgue, segundo suas preferências. Obrigado pelas sugestões, que irei tomando na medida do possível.
Meus parabéns ao cronista não contém qualquer ironia. Saber apontar falhas de forma elegante é uma arte. Entretanto, ao visar os que deveriam vestir a carapuça, tal sutileza pode ser inútil. E, provavelmente, não causaria maior efeito a crítica ácida, à Oscar Guanabarino, porque a vaidade os cega, e atribuiriam tais juízos de valor ao despeito e à inveja.
Tempos atrás, conversando com dois amigos músicos portoalegrenses, conhecedores da realidade musical de Pelotas, estes observavam justamente essa “generosidade” do público local ao acompanhar e incentivar a trajetória de jovens artistas em formação, coisa que não observavam na capital, atribuindo o fato ao pedantismo de só valorizarem o que vem de fora, ou aplaudirem artistas nativos somente após terem se notabilizado no exterior. Concordei plenamente, reconhecendo esse valor do nosso público, fruto, em grande parte, de que, em uma cidade pequena, o envolvimento entre público e artista frequentemente transcende o âmbito do palco, interpolando-se com a dimensão afetiva. Podem se configurar aí, porém, alguns problemas. O mais comum é a falta de senso de limites do artista, especialmente no tocante ao nível de exigência do repertório escolhido, “dando o passo maior que a perna” e arriscando-se a um redondo malogro, tão logo exceda o âmbito protetor de “seu” público. Infelizmente, porém, têm-se visto casos em que, justamente por sua ousadia e “cara-de-pau”, são esses os que acabam por conseguir apoio e promoção de patrocinadores e mídia, pelo que, na falta de melhores referenciais, vai-se desenvolvendo no público um senso estético deformado. Na outra banda, encontram-se os acomodados, que se satisfazem com o aplauso local, sem maiores horizontes de crescimento artístico, matando no nascedouro um talvez promissor potencial. Nos dois casos, encontro a resposta à pergunta do caríssimo Vidal: “Os artistas não buscam isso, no fundo? (curiosidade, bem-estar, elevação, interesse)” A maioria, provavelmente. Os grandes artistas, porém, que compreendem que sua arte é, antes de mais nada,uma experiência pessoal com o Transcendente, a qual têm a necessidade absoluta de comunicar ao mundo, eu diria que NÃO. E é essa consciência de compromisso que se torna o fiel da balança a garantir o empenho do artista na auto-superação em todos os níveis, ao par da consciência plena de seus limites, como os conhecidos casos de grandes intérpretes que tiveram verdadeiro pânico do palco, mas que o enfrentavam apenas movidos pela pulsão estética.
Outro dia, comentava com um amigo sobre a superlotação de um espetáculo local, de algum tempo atrás, que se presumira o “show do ano”, mas que beirara ao circense, refletindo sobre como artistas de qualidade deveriam se sentir, ao pensar que tal público os aplaudiria com o mesmo entusiasmo. Meu amigo me ponderou que o público que aplaude a um, não aplaude, ao antes, sequer assiste ao outro. Certamente haverá uma parcela de público que, de fato, aplaudirá aos dois espetáculos, mas será pelas razões afetivas que já tratei. Mas felizmente há uma outra parcela de público provida de senso crítico. O que é questionável é QUE TIPO de espetáculo encontra evidência em uma cidade que se presume culta. Quanto às melhores condições das “capitais”, lamento não ser o caso de Porto Alegre, onde vivi por alguns anos. Um amigo de lá me contava o exemplo de um conhecido diretor e dramaturgo dos anos 60 que ganhou um importante prêmio por uma peça que foi bastante representada no País. Só que, dos louros desse triunfo, o autor viveu até morrer, sem produzir nada mais no mesmo nível de qualidade. Pude observar ainda atualmente fenômenos semelhantes no vários setores artísticos, sem falar no ufanismo gaúcho generalizado que confunde índices de qualidade de vida com desenvolvimento cultural. O isolamento do RS em relação ao que se produz culturalmente no centro do País é bem patente, ao mesmo tempo que é pouquíssimo aproveitada a proximidade de um centro como Buenos Aires, ou mesmo Montevidéu, cidades com as quais poderíamos estabelecer os mais diversos intercâmbios.
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