Nosso colaborador cronista Rubens Amador publicou no Diário da Manhã impresso de domingo passado (24-08-14) a crônica seguinte, onde sugere que a gripe espanhola e os recentes surtos da febre ebola poderiam ter em comum um mesmo fator de risco: a exposição ao ar livre de cadáveres de vítimas de guerra.
A terrível influenza não tem origem certa, mas se associou à Espanha porque naquele país, neutro na 1ª Guerra Mundial, a imprensa noticiou abertamente sobre a epidemia, enquanto os demais países (afetados pela guerra e pela doença) estavam sob censura. Na Espanha, era chamada "russa"; na Rússia, era "siberiana".
A gripe espanhola foi a pior pandemia da história da humanidade (v. slide à dir.). Também chegou ao Rio Grande do Sul, e a Pelotas, como menciona nosso cronista. Em 1918, nossa cidade tinha uns 78 mil habitantes (v. artigo de L. A. Gill) e Porto Alegre, 192 mil.
A historiadora Janete Abrão informa em palestra (v. vídeo 34 min., slide 33) que, em 1918, houve somente em Porto Alegre 1316 óbitos pela gripe espanhola (12 mil na cidade do Rio, 5 mil em São Paulo), estimando-se em 300 mil mortos em todo o Brasil, em todos os Estados (entre 1 e 2 % da população morreu). Em Pelotas pode ter sido entre 800 e 1000 pessoas, comparável a 4 mil mortos em 2014.
Um novo vírus apareceu em 1976 perto do Rio Ebola, no Congo, ganhando o nome ebolavírus. A grafia ébola é do francês, idioma oficial do Congo, e sua pronúncia é ebolá. Sobre esta epidemia surgida na África, v. a nota de Médicos sem Fronteiras, o artigo Ebola e a falência moral do capitalismo e a reportagem da Revista Veja.
Curiosamente, pelo que leio sobre o Ebola, não encontrei até agora nenhuma conotação com algo muito importante que deve ser pensado, acho eu. Refiro-me à famosa Gripe Espanhola, de 1918. Foi atribuída àquela tragédia universal, como causa, os corpos insepultos durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Milhões de seres se putrefizeram na atmosfera, contaminando-a seriamente, tal como acontece com a branda e lenta poluição de hoje pelas chaminés das fábricas e dos automóveis.
A Gripe recebeu esse nome porque falsamente surgiu na Espanha (leia um resumo). Foram considerados mortos pela gripe “espanhola”, no mundo daquela época, de 20 a 100 milhões de pessoas!
Os sintomas eram terríveis: a pele da pessoa assumia uma coloração castanha arroxeada, os pés ficavam pretos, o doente começava a tossir sangue, deixando a saliva tingida. Sobrevinha uma sufocação por falta de ar, e a vítima entrava em agonia até a morte, por ter seus pulmões inchados por um muco sanguinolento.
Agora questiono o seguinte: Lá na Nigéria, Libéria, Serra Leoa, Guiné, Monróvia e adjacências, está acontecendo um terrível morticínio por questões políticas terroristas, de onde resulta também ficarem milhares de corpos insepultos. Há poucos dias, vi na televisão o depoimento de um homem que fugia do pavor pelas mortes praticadas por guerrilheiros islamitas fanáticos, que ele e sua mulher conseguiram vencer a fadiga, em difícil fuga, com fome e sede, mas que sua mãe morrera no caminho, e ele teve de abandonar seu corpo na estrada. E que essa via estava juncada de cadáveres. Naquele setor da África, há enormes condições pró-vírus, por enquanto uma epidemia, com já quase dois mil mortos, tal a miséria que lá impera.
E aqui venho perguntar: não terá o Ebola certa similitude com a Gripe Espanhola? Só que agora manifestando-se com outro vírus peculiar? Face ao perigo de outra pandemia, vários países estão tentando circunscrever o foco do vírus (já morreu um médico espanhol, e dois colegas seus americanos que, contaminados, já foram recambiados em câmaras muito especiais para serem tratados nos EUA), mas o resto da humanidade teme que possa acontecer outra pandemia como a trágica Gripe Espanhola.
Em Pelotas, milhares de pessoas morreram com a “espanhola”. Não havia caixões suficientes, nem médicos, nem hospitais. Os corpos eram transportados em carroças para sítios distantes, pois não havia lugar no cemitério local de então.
Foi uma tragédia universal. Tudo – se afirma – uma trágica decorrência da guerra de 1914-18, quando as condições sanitárias ainda eram muito precárias e pouco se sabia de como enfrentar uma agressão virótica daquela magnitude, com milhares de corpos insepultos.
Para se ter uma idéia da letalidade do vírus da chamada Gripe Espanhola, ele só pôde ser tratado 77 anos depois de aparecer, quando o Dr. Jeffrey Tautenberg – um norte americano – o isolou no ano de 1995, tornando possível uma vacina. O mundo agora conhece o vírus da terrível Gripe Espanhola, que leva a sigla H1N1.
Para concluir estas considerações de um leigo no assunto, baseado apenas em leituras, insisto: O vírus Ebola, no meu entender, surgiu devido aos corpos insepultos e a uma precária higiene, o que aconteceu também na 1ª Guerra Mundial de 1914-18. Na miséria dos países africanos onde hoje o Ebola nasceu e prolifera, reina pouca sanidade, e os corpos se espalham pelas ruas e estradas, ante as mortes abundantes de contaminados.
O perigo é enorme, um dos maiores deste século, pois se tal vírus ganhar o resto do mundo, neste momento em que se desconhece tudo sobre ele, talvez ainda leve outros 2 anos para se chegar à etiologia do vírus em laboratório.
Enquanto isso, por certo, milhões de pessoas serão infectadas, em outra pandemia, apesar do progresso científico de hoje.
Fonte: SlidePlayer |
A gripe espanhola foi a pior pandemia da história da humanidade (v. slide à dir.). Também chegou ao Rio Grande do Sul, e a Pelotas, como menciona nosso cronista. Em 1918, nossa cidade tinha uns 78 mil habitantes (v. artigo de L. A. Gill) e Porto Alegre, 192 mil.
A historiadora Janete Abrão informa em palestra (v. vídeo 34 min., slide 33) que, em 1918, houve somente em Porto Alegre 1316 óbitos pela gripe espanhola (12 mil na cidade do Rio, 5 mil em São Paulo), estimando-se em 300 mil mortos em todo o Brasil, em todos os Estados (entre 1 e 2 % da população morreu). Em Pelotas pode ter sido entre 800 e 1000 pessoas, comparável a 4 mil mortos em 2014.
Um novo vírus apareceu em 1976 perto do Rio Ebola, no Congo, ganhando o nome ebolavírus. A grafia ébola é do francês, idioma oficial do Congo, e sua pronúncia é ebolá. Sobre esta epidemia surgida na África, v. a nota de Médicos sem Fronteiras, o artigo Ebola e a falência moral do capitalismo e a reportagem da Revista Veja.
Cuidado com a pandemia
Curiosamente, pelo que leio sobre o Ebola, não encontrei até agora nenhuma conotação com algo muito importante que deve ser pensado, acho eu. Refiro-me à famosa Gripe Espanhola, de 1918. Foi atribuída àquela tragédia universal, como causa, os corpos insepultos durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914-1918. Milhões de seres se putrefizeram na atmosfera, contaminando-a seriamente, tal como acontece com a branda e lenta poluição de hoje pelas chaminés das fábricas e dos automóveis.
"Gripe A" de 1918 matou, em todo o planeta, mais que a 1ª Guerra (que teve 16 milhões de mortos) |
Os sintomas eram terríveis: a pele da pessoa assumia uma coloração castanha arroxeada, os pés ficavam pretos, o doente começava a tossir sangue, deixando a saliva tingida. Sobrevinha uma sufocação por falta de ar, e a vítima entrava em agonia até a morte, por ter seus pulmões inchados por um muco sanguinolento.
Agora questiono o seguinte: Lá na Nigéria, Libéria, Serra Leoa, Guiné, Monróvia e adjacências, está acontecendo um terrível morticínio por questões políticas terroristas, de onde resulta também ficarem milhares de corpos insepultos. Há poucos dias, vi na televisão o depoimento de um homem que fugia do pavor pelas mortes praticadas por guerrilheiros islamitas fanáticos, que ele e sua mulher conseguiram vencer a fadiga, em difícil fuga, com fome e sede, mas que sua mãe morrera no caminho, e ele teve de abandonar seu corpo na estrada. E que essa via estava juncada de cadáveres. Naquele setor da África, há enormes condições pró-vírus, por enquanto uma epidemia, com já quase dois mil mortos, tal a miséria que lá impera.
E aqui venho perguntar: não terá o Ebola certa similitude com a Gripe Espanhola? Só que agora manifestando-se com outro vírus peculiar? Face ao perigo de outra pandemia, vários países estão tentando circunscrever o foco do vírus (já morreu um médico espanhol, e dois colegas seus americanos que, contaminados, já foram recambiados em câmaras muito especiais para serem tratados nos EUA), mas o resto da humanidade teme que possa acontecer outra pandemia como a trágica Gripe Espanhola.
Ebola mata 90% dos contagiados, entre estes alguns médicos e cuidadores. |
Foi uma tragédia universal. Tudo – se afirma – uma trágica decorrência da guerra de 1914-18, quando as condições sanitárias ainda eram muito precárias e pouco se sabia de como enfrentar uma agressão virótica daquela magnitude, com milhares de corpos insepultos.
Para se ter uma idéia da letalidade do vírus da chamada Gripe Espanhola, ele só pôde ser tratado 77 anos depois de aparecer, quando o Dr. Jeffrey Tautenberg – um norte americano – o isolou no ano de 1995, tornando possível uma vacina. O mundo agora conhece o vírus da terrível Gripe Espanhola, que leva a sigla H1N1.
Para concluir estas considerações de um leigo no assunto, baseado apenas em leituras, insisto: O vírus Ebola, no meu entender, surgiu devido aos corpos insepultos e a uma precária higiene, o que aconteceu também na 1ª Guerra Mundial de 1914-18. Na miséria dos países africanos onde hoje o Ebola nasceu e prolifera, reina pouca sanidade, e os corpos se espalham pelas ruas e estradas, ante as mortes abundantes de contaminados.
O ebolavírus é tão letal e contagioso que os pesquisadores devem usar proteções especiais. |
Enquanto isso, por certo, milhões de pessoas serão infectadas, em outra pandemia, apesar do progresso científico de hoje.
Rubens Amador
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