O espetáculo Satolep Sambatown, de Vítor Ramil e do carioca Marcos Suzano, fechou a 6ª Quinzena Gastronômica sem estridências.
Podia ter-se esperado algo mais impressionante ou nunca visto em Pelotas, ou de maior duração, mas os organizadores optaram por devolver o pelotense aos pelotenses, que se apresenta pouco aqui porque já é um artista plenamente nacional.
Foram cantadas as músicas do disco de mesmo nome, de 2007, mais outras de Ramil. A dupla soa como uma orquestra, com apoio dos efeitos eletrônicos. O público, ao contrário, soou como um público normal, de pouco menos da metade do Guarani.
Quem se iniciou como compositor revelou-se com o tempo um inteligente escritor de poemas musicais, de textos não musicais e mesmo de ensaios teóricos. No palco, Vítor Hugo é ao mesmo tempo engraçado e profundo ao conversar com o público, enquanto seu desempenho musical se parece muito às gravações em estúdio: impecáveis mas sem alma teatral. O ator que vive em Ramil é um cômico satírico, por ele reprimido intencionalmente, enquanto o músico é totalmente sério em cena. Suas músicas são feitas com tanto esmero que o auditor ou fã pode até preferir ouvi-las em casa, com a letra à vista e a possibilidade de repeti-las. Mas os comentários jocosos dele valem o show.
Já no início, Suzano precisou de uma pausa para arrumar um pedal e voltar a tocar. Enquanto isso, Ramil improvisou com brincadeiras fora do roteiro.
Saindo de sua hospedagem na Rua Augusta, mencionou os países baixos que outros visitam, e já mais reflexivo passou para o farol uruguaio de La Paloma (foto abaixo), que inspirou Jorge Drexler para escrever Doce segundos de oscuridad. O nome alude à escuridão que fica entre as voltas do foco de luz, de 12 segundos.
Ramil contou então ter estado depois na Bahia, e viu que os ciclos do farol de Itapuã eram de somente 6 segundos. Que injustiça com os baianos! Os uruguaios são muito mais vagarosos e ninguém diz nada deles!
Mais adiante, aludiu ao próprio Guarani em recuperação, menos irreverente que o comentário de Rita Lee meses atrás, e dirigindo o peso da brincadeira à cantora paulista. Ela havia se referido à antiguidade e mau estado do teatro, e Ramil recordou que - quando ele era guri - ali mesmo, num show da Rita Lee, o público tinha quebrado as cadeiras, no entusiasmo do rock. Pediu que todos ficassem à vontade: podem ficar de pé, dançar; só se comportem, não quebrem o teatro, que está em reforma. A ironia era consigo mesmo, na verdade, sugerindo que o ambiente estava muito calmo e repousado.
Com toda essa simplicidade e bom-humor, o músico pelotense lançou seu último livro, em 2008, no casarão defronte ao mesmo Guarani e já foi patrono da feira do livro no Cassino no verão passado, aos 46 anos de idade. Com este espetáculo que fechava a Quinzena, também poderia aparentar que estava abrindo musicalmente o outro evento que iniciava na Praça Osório, um que integra as culturas Brasil-Uruguai. Não demorará muito – mais rápido que um baiano – e este escritor musical chegará a ser patrono da Feira do Livro de Satolep.
Fotos de F. A. Vidal (1-2) e Hilton Lebarbenchon - Flickr (3)
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