A Sociedade Pelotense Música pela Música celebrou seu 19º aniversário, na sexta 30 de outubro, com um sarau lírico em seu estilo grandioso e mozartiano: festivo, amistoso, abundante em talentos e proclive aos prazeres dos sentidos e do espírito.
A ideia foi sonhada por algum tempo, até que agora se fez possível, com o novo instrumento da Sociedade - a Fábrica Cultural, multiespaço adequado para esse fim - e um grupo de revelações surpreendentes para a comunidade.
Os saraus eram reuniões ao anoitecer em casas de famílias mais cultas e ricas, para compartilhar conhecimentos, poesia, música e novidades importantes. A palavra vem de "serão", do latim seranu, vespertino. Em Pelotas havia festas e encontros de salão, pouco numerosos mas que fizeram história e fama.
Já acostumada a organizar concertos de música erudita para mais de mil espectadores, a Sociedade Música pela Música preparou um prato mais delicado: um espetáculo para não mais de 150 pessoas, sem a solenidade dos teatros e com a animação de um aniversário.
A ideia foi sonhada por algum tempo, até que agora se fez possível, com o novo instrumento da Sociedade - a Fábrica Cultural, multiespaço adequado para esse fim - e um grupo de revelações surpreendentes para a comunidade.
Os saraus eram reuniões ao anoitecer em casas de famílias mais cultas e ricas, para compartilhar conhecimentos, poesia, música e novidades importantes. A palavra vem de "serão", do latim seranu, vespertino. Em Pelotas havia festas e encontros de salão, pouco numerosos mas que fizeram história e fama.
Já acostumada a organizar concertos de música erudita para mais de mil espectadores, a Sociedade Música pela Música preparou um prato mais delicado: um espetáculo para não mais de 150 pessoas, sem a solenidade dos teatros e com a animação de um aniversário.
A intimidade ficou por conta do piano, único instrumento de acompanhamento, a erudição veio dos talentos preparados pelo maestro Sérgio Sisto, e a alegria foi colocada pelo champanhe com docinhos, tudo coordenado pela diretora da entidade, Ana Elisa Kratz.
Neste sarau de canto, inspirado em usos do século XIX, a primeira parte mostrou somente solistas vocais e a segunda, o coro sinfônico com alguns solistas - cada segmento com sete números e um longo intervalo a modo de confraternização.
Neste sarau de canto, inspirado em usos do século XIX, a primeira parte mostrou somente solistas vocais e a segunda, o coro sinfônico com alguns solistas - cada segmento com sete números e um longo intervalo a modo de confraternização.
A primeira parte do sarau
De início, Luís Bernardo Trindade (foto acima) exibiu volume e firmeza na sua grave voz como o Don Juan de Mozart, personagem que se vangloria de sua capacidade amatória, mostrando seu caderno com os nomes de 1003 mulheres(só na Espanha).
De início, Luís Bernardo Trindade (foto acima) exibiu volume e firmeza na sua grave voz como o Don Juan de Mozart, personagem que se vangloria de sua capacidade amatória, mostrando seu caderno com os nomes de 1003 mulheres(só na Espanha).
O sex appeal feminino veio representado por Ângela Pachon Elias (dir.)com canzonetta espanhola de Rossini. Da zarzuela La Tabernera del Puerto, João Ferreira Filho fez a seguir o solo "No puede ser", com vigoroso entusiasmo.
Logo vieram a valsa de Musetta, de Puccini - cantada por Cristiane Fonseca, de rigoroso vermelho (foto abaixo), com seus controlados agudos e boa expressão cênica - e a seguidilha da ópera Carmen, gesticulada e sapateada por uma sensual e provocadora Letizia Etcheverry (foto inferior à dir.). O público participava boquiaberto da aberta sedução, pois talvez nunca havia estado tão perto de uma atuação operística, e não sabia bem se isto era um ensaio, um show ou havia algo de verdade. Ou um pouco de cada um. Os aplausos eram de total aprovação.
Ainda havia boas surpresas. O violinista de 16 anos Lucas Nogueira interpretou por primeira vez em público um trecho como barítono lírico. Sua voz tem passado por estudo, mas já soa como a de um adulto bem preparado. Nesta ocasião, ele fez duo com o maestro Sisto (foto superior à dir.), respectivamente pai e filho (numa ópera que esqueceram de identificar, certamente pela emoção).
Logo vieram a valsa de Musetta, de Puccini - cantada por Cristiane Fonseca, de rigoroso vermelho (foto abaixo), com seus controlados agudos e boa expressão cênica - e a seguidilha da ópera Carmen, gesticulada e sapateada por uma sensual e provocadora Letizia Etcheverry (foto inferior à dir.). O público participava boquiaberto da aberta sedução, pois talvez nunca havia estado tão perto de uma atuação operística, e não sabia bem se isto era um ensaio, um show ou havia algo de verdade. Ou um pouco de cada um. Os aplausos eram de total aprovação.
Ainda havia boas surpresas. O violinista de 16 anos Lucas Nogueira interpretou por primeira vez em público um trecho como barítono lírico. Sua voz tem passado por estudo, mas já soa como a de um adulto bem preparado. Nesta ocasião, ele fez duo com o maestro Sisto (foto superior à dir.), respectivamente pai e filho (numa ópera que esqueceram de identificar, certamente pela emoção).
O estudante avançado de piano Adrian Borges foi quem acompanhou os dois, em outro acerto da noite, que mostra as vantagens de cada pessoa tomar uma só função em cena, sem os riscos do malabarismo (indireta para o maestro que rege, comenta, canta e toca piano).
Ante tanto drama amoroso, a contraparte cômica foi trazida por sete homens, entre tenores e barítonos. João Ferreira Filho, Sérgio Maestrini, Osvaldo Soares, Luís Trindade, Matheus Sacramento, Ardilson Stifft e Lucas Nogueira criticaram as mulheres segundo a versão em português da opereta "A Viúva Alegre", com toda a expressão teatral necessária, inclusive o passo de can-can e cordão marchando pelo corredor, já com o público gargalhando e aplaudindo deliciado o que perfeitamente compreendia, em seu idioma e em sua emoção.
Ante tanto drama amoroso, a contraparte cômica foi trazida por sete homens, entre tenores e barítonos. João Ferreira Filho, Sérgio Maestrini, Osvaldo Soares, Luís Trindade, Matheus Sacramento, Ardilson Stifft e Lucas Nogueira criticaram as mulheres segundo a versão em português da opereta "A Viúva Alegre", com toda a expressão teatral necessária, inclusive o passo de can-can e cordão marchando pelo corredor, já com o público gargalhando e aplaudindo deliciado o que perfeitamente compreendia, em seu idioma e em sua emoção.
O mais impressionante, para quem conhece os artistas mais de perto, é saber que muitos deles provêm de outras áreas e chegaram a cantar pelo talento e pelo amor à arte. Ângela exerceu como dentista, Sérgio é médico, Letizia é professora, Cristiane é técnica em informática, Matheus e Lucas são músicos da orquestra. Virtude de cada um, mérito do regente Sérgio Sisto e alegria da comunidade que se orgulha deles todos.
Fotos de F. A. Vidal
No vídeo abaixo, João e Letizia fazem um dueto, em recente apresentação na Fenadoce.
Lucas é o violino em primeira fila ao lado de João.
Fotos de F. A. Vidal
No vídeo abaixo, João e Letizia fazem um dueto, em recente apresentação na Fenadoce.
Lucas é o violino em primeira fila ao lado de João.
5 comentários:
Pequena correção: não assisti ao recital, mas, suponho que a ária do "Don Giovanni" mencionada seja a popularmente conhecida como "ária do catálogo". A personagem que a interpreta não é o papel título (Don Juan), mas seu criado, Leporello, que apresenta as façanhas sexuais de seu patrão a uma de suas vítimas apaixonadas.
Tem razão o leitor. Pode ter sido distração minha ao ouvir a apresentação feita pelo maestro Sisto.
É o criado Leporello que fala a Elvira, espanhola que vem atrás de Don Juan desde Burgos (600 km ao norte de Sevilha) e se decepciona ao saber que não somente não é a preferida, mas um nome a mais entre 1003.
O problema não está em reger, tocar, comentar e tocar piano, mas, em não fazer realmente bem nenhuma dessas coisas... Entretanto, o "multi-instrumentismo" medíocre (na acepção própria do termo)parece que agrada muito à mentalidade amadorística pelotense, mais ou menos como uma habilidade circence; haja vista que o mencionado maestro (aliás, cidadão pelotense emérito) não é o único exemplar consagrado perante o público, dentro do meio musical local. Mas, vamos evoluindo: encontram-se já espalhados pela cidade cartazes de um VIOLONISTA que pretende realizar um espetáculo de CANTO, abordando "apenas" quatro estéticas tão distintas quanto jazz, bossa nova, tango e bolero... IMPERDÍVEL, não concordam?!
Corrigindo, acima: reger, CANTAR, comentar e tocar piano.
O circo faz sucesso em todas as épocas e lugares; é emocionante em qualquer idade da vida ver o malabarismo e ficar na espera de que alguma das bolas caia. O artista normalmente gosta de que o público fique impressionado e aplauda ansioso, isso é parte do espetáculo. Ver um trabalho cuidadoso ou vagoroso não dá tanto ibope, é para os espectadores e ouvintes mais pacientes e meticulosos. Não vamos querer que todos sejam assim. Tb se requer vender entradas.
Na verdade, não aconselho tentar proezas nem sequer aos mais talentosos; o ideal é que o artista ao evoluir se concentre e eduque no público a concentração. Mas também é uma opção o não evoluir.
O repertório comentado nesta nota permite essa concentração, mas é preciso sempre aperfeiçoar-se, não engolir todo o aplauso; que a emoção amaine e a razão conduza, alternativamente. Será que a falta de circos em nossa cidade faz que o interesse do pelotense por emoções fortes seja preenchido pelos malabaristas (talentosos ou não)?
Não percamos o multishow, se a curiosidade for grande (tb somos humanos), mas não será preciso aplaudir ou vaiar demais. Isso somente alimenta o sistema. Saudemos e elogiemos com entusiasmo os nossos prediletos; eles precisam saber que seus fãs estão ali atentos e agradecidos. Os outros gritarão, baterão pé, tocarão cornetas etc. (não é exagero: nas formaturas o público toca corneta como num estádio).
Para quem não sabe: o violonista aludido canta no Guarani dia 2 de dezembro.
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