A inauguração da megamostra Arte no Porto III, em outubro passado, não contou somente com as obras de artes plásticas e um vídeo que faziam parte do acervo exposto. Naquela noite, nos diversos pisos do prédio da antiga Cotada, houve apresentações musicais e uma performance teatral.
Esta última, no último andar, concluiu com um gesto concreto-simbólico dos atores: tirarem a roupa e permanecerem nus no lugar, misturando-se aos visitantes como se também fossem observadores da exposição e em postura de ficar expostos à observação. O público, em maioria artistas, tolerou bem esta atuação, como quem trata com algo inofensivo. Toda atuação tem algum grau de exibicionismo, mas a nudez fora de contexto é chocante, de início, e aos poucos nos deixa algo novo em que pensar.
A pura nudez corporal nos recorda que somos animais, que por natureza não se vestem: ao ver bichos com roupas nos surpreendemos, e ante pessoas nuas - pressupondo a proibição de tocá-las - preferimos vê-las como se fossem animais. O gesto de despojar-se de tudo também mostrava a disposição dos atores à nudez da alma (abertura ao encontro humano sem pudores) e denunciava a nudez dos que andam vestidos (exibição social da personalidade).
O professor Pellegrin, coordenador-curador do evento, aprovou sem moralismo esta manifestação, que considerou poética. Ao ser questionado sobre o exibicionismo, ele enfatizou o significado das máscaras sociais, recordando que São Francisco de Assis ficou nu para entrar na vida espiritual. Evocou também o final do soneto de Vinícius São demais os perigos desta vida:
Uma mulher que é como a própria lua:
tão linda que só espalha sofrimento, tão cheia de pudor que vive nua.
Foto de Guitavares (Flickr)
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