Textura musical
Em composição musical, o termo "textura", proveniente da física, se refere à organização e complexidade das vozes instrumentais. Uma "voz musical" pode ser um instrumento solista, uma voz humana ou todo um naipe (conjunto de instrumentos ou de vozes humanas). Considerando as linhas melódicas como o material da música, este se agrupa e se entretece formando o resultado final que ouvimos.
A textura musical se avalia, geralmente, em termos de densidade: as texturas menos densas contêm poucas vozes, geralmente solistas, em formas rítmicas simples; as mais densas têm um arranjo complexo, com vários instrumentos em grande variação rítmica. Foram apresentadas cenas de 3 filmes para exemplificar a baixa ou alta densidade da música: Sangue Negro (compositor: Jonny Greenwood, 2007), Matrix (Don Davis, 1999) e Apocalypto (James Horner, 2006).
Mickeymousing
Assim como a música de concerto pode ilustrar sentimentos, movimentos da natureza ou até situações visuais, no cinema a música tem uma função essencialmente descritiva. Quando ela é sincrônica com a imagem, a marcação imitativa - adequada para ações cômicas - às vezes fica óbvia demais, podendo incomodar tanto como alguém que relata em voz alta, aos espectadores de um filme, as ações que todos já estão vendo.
A sincronização de música e imagem começou - fora do cinema mudo - quando alguns pianistas improvisavam o fundo musical olhando a ação na tela. Foi desenvolvida nos desenhos animados de Walt Disney (1901-1966), onde cada nota musical era feita para concordar passo a passo com as ações dos personagens (vídeo acima, de 1935). Criado em 1928, Mickey Mouse foi o primeiro e preferido personagem de Disney, ficando associado com esse procedimento. Nos filmes com atores, as trilhas musicais usaram esse efeito de repetição, até que o termo ganhou conotação pejorativa. Os seguintes trechos ilustraram nesta aula o mickeymousing:
- O Informante (música de Max Steiner, 1935): cenas de rua, com a música onipresente ilustrando os movimentos e até os pensamentos dos personagens principais (veja aqui).
- Psicose (Bernard Herrmann, 1960): o assassinato no banheiro (veja a cena) é acompanhado por violinos em glissandos obsessivos, imitando o movimento cortante de facas e o som de gritos agudos (ouça a peça para cordas).
- Pollock (Jeff Beal, 2000), o pintor cria um mural cheio de detalhes enquanto o compositor "pinta" um quadro musical equivalente.
- Fantasia (vídeo abaixo, de 1940). Aqui a tática se inverteu, excepcionalmente: os animadores de Disney compuseram as cenas para a música já gravada. Se nos anos 30 os acordes frisavam os movimentos de Mickey, neste trecho o camundongo veio gesticular a música de Paul Dukas "O Aprendiz de Feiticeiro".
No cinema, a música ganhou outras funções, como a de anunciar situações iminentes ou intenções de personagens. Ainda assim, ela poderia ser vista como uma "descrição antecipatória", enquanto o mickeymousing passou a ser visto como uma descrição redundante e os compositores buscaram modos mais criativos e elegantes para acompanhar as cenas: por exemplo, deixar partes sem música e só ilustrar o que a poética visual não pode dizer.
Um comentário:
Muito legal esta "aula". Não conhecia o termo mickeymousing, vim parar aqui e agora estou ouvindo a Federal FM... Internet tem horas que é muito legal! valeu!
Postar um comentário