Esta semana se recordou, ao redor do mundo, o bicentenário de nascimento do maior compositor polonês, mais conhecido por seu nome francês: Fréderic François Chopin (1810-1849). Ao mesmo tempo, se celebrou ontem (5), no Brasil, o dia nacional da música clássica, escolhido em 2009 (leia histórico) por ser o aniversário de Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Em Pelotas não houve celebrações por nenhum dos dois motivos.
O nascimento de Chopin foi registrado - numa paróquia próxima a Varsóvia - como sendo 22 de fevereiro de 1810, mas se acredita que a data certa seja mais perto do dia 1 de março. O menino teve as primeiras aulas de piano com a irmã mais velha e com a mãe. O talento precoce o fez conhecido em Varsóvia como "segundo Mozart", pois aos oito anos de idade deu o primeiro recital como pianista e já era autor de uma polonaise (veja biografia). Devia ser como Dimitri, de 7 anos (acima, tocando a Valsa em lá menor, opus póstumo nº 17). Aos quinze, Chopin compôs a obra que seria seu opus 1: o Rondó em dó maior.
Aos vinte, foi morar em Viena, mudou-se para a França - terra de seu pai, professor de francês em Varsóvia - mas nunca pôde voltar à terra natal. Do exílio são suas obras mais intensas, como a famosa "Marcha Fúnebre" (1837), que veio fazer parte da Sonata nº 2 em Si bemol menor, opus 35 (vídeo abaixo, interpretação de Jeffrey Biegel).
Por sentimento e por compromisso político, Chopin esteve sempre ligado à Polônia, como um revolucionário de coração contra a invasão russa. Seguiu compondo até que morreu em Paris, de tuberculose, aos 39 anos. Sua Marcha Fúnebre foi tocada em seu próprio enterro e ficou conhecida em funerais de governantes como John Kennedy, mais especialmente na versão orquestrada pelo inglês Edward Elgar. No Brasil, o motivo melódico principal foi um bordão da novela de sátira política "O Bem-Amado" (1972-73).
Habitualmente se recordam a fama e o inegável talento de Chopin como músico. Nas comemorações dos seus 200 anos, um moderno museu foi inaugurado em Varsóvia e muitos concertos estão sendo realizados em todo o mundo; em São Paulo, por exemplo, o pianista Nelson Freire interpretará algumas de suas obras no próximo sábado (13).
No entanto, em Pelotas o compositor polonês foi homenageado por seu compromisso político e patriótico, sem menção da música. Um pequeno monumento foi levantado, há 65 anos, e até hoje pode ser visto, defronte à Escola de Direito (abaixo). Seus dizeres são: A Chopin, símbolo da liberdade, a Federação Acadêmica de Pelotas.
Segundo o historiador Mário Osório Magalhães (Diário Popular, 24-11-2002), a Federação Acadêmica decidiu, em 1943, destacar o valor patriótico e libertário do artista polonês. Naquele ano, recrudescia a Segunda Guerra Mundial, já com o Brasil aderido às forças aliadas, após submarinos alemães terem atacado mercantes brasileiros. A Polônia era um emblema da luta contra o nazismo (terminada esta guerra, seria novamente dominada pela ditadura russa soviética).
O bronze foi um trabalho da escultora Eugênia Smyte, conforme relata o historiador pelotense. Ainda em 1943 se falou na imprensa sobre a escolha do local para o busto: a praça Osório, a Júlio de Castilhos (hoje Parque Dom Antônio Zattera) ou a pracinha Conselheiro Maciel, a da Escola de Direito, onde finalmente se inaugurou, em 31 de maio de 1944. A Guerra ainda duraria um ano angustiante, envolvendo países de todos os continentes, inclusive com forças expedicionárias brasileiras.
Assim como o Aeroporto Tom Jobim no Rio de Janeiro, a Polônia denominou o seu principal aeroporto internacional com o nome de Fréderic Chopin. Além do proverbial patriotismo (derivado das perseguições dos poderosos vizinhos), o país é um modelo mundial de valorização de seus artistas e intelectuais; muitos deles são designados oficialmente como autoridades públicas e do serviço diplomático, denotando que a inteligência e a cultura é que devem governar ou, pelo menos, representar os princípios morais e éticos da nação.
Pelotas tem muitos artistas e intelectuais, mas aqui eles não governam e inclusive são vistos pela autoridade como um segmento social e político reduzido, fonte de pressões e exigências. A mesma cidade que já homenageou governantes locais - e até artistas estrangeiros - ainda deve um monumento a seu maior escritor, João Simões Lopes Neto.
Imagens da Wikipedia (1) e F. A. Vidal (2)
2 comentários:
Parabéns Vidal, pela excelente matéria sobre o imortal Chopin (que tem pronúncia certa como CHOPEN,como se pronuncia na Polônia, e não CHOPAN, que ficou marcado por ter Frederic vivo seus últimos anos na França, onde morreu, sem jamais voltar á pátria que amava. Eu andei escrevendo há alguns anos sobre o grande autor, nãosei onde anada esse material. Contava eu sua vida com Mme.George Sand, uma figura mixta, e narrava suas doenças eaté seu final. Mas tua aordagem foi excelente para lembrar o imortal Frederic Chopin. Rubens Amador.
Chopin foi lembrado pelo Conservatório de Música de Pelotas há 50 anos, quando se comemorou o sesquicentenário (lembrado pela ex-professora Yara André Bastos Cava). Hoje a casa não toma partido de estilos e olha muito mais para autores contemporâneos.
Interessante e complexa é a questão da pronúncia, que na Polônia é uma só e varia ao redor do mundo, mostrando que Chopin é patrimônio da humanidade. O nome completo original é Fryderyk Franciszek Chopin. O verbete em inglês da Wikipédia anota a pronúncia polonesa: shópen.
Complicando a história: o pai do compositor nasceu na França e, sendo descendente de poloneses, radicou-se na Polônia. Portanto, o sobrenome poderia manter-se oxítono (por ser do país de nascimento do pai, e onde Chopin se consagrou) ou paroxítono como na Polônia, país de nascimento do compositor e de seus antepassados.
A pronúncia francesa foi a que se divulgou pelo mundo: shopân (nativos franceses) ou shopén (polacos residentes). Esta diferença é observada pela pianista gaúcha Olinda Allessandrini, quando fala sobre o compositor.
O inglês também oscila: tchôupen ou tchoupén.
Em países de língua espanhola, a tendência oxítona se impõe: o literal tchopín ou o afrancesado tchopán.
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