sábado, 27 de março de 2010

Conversas de barbearia, só para homens

As conversas de barbearia são parecidas com o que se ouve nos bares e cafés. Quem vai cortar o cabelo tem o pretexto de dizer tudo o que pensa. Liberado o verbo, o barbeiro conta episódios incríveis, os clientes seguem um dominó de associações, e no final já não se sabe quem disse o quê. Homens falando são bem mais engraçados que os bate-bocas de mulheres na cabeleireira.

Em 29 de janeiro, em minha última ida ao salão de Darci e Paulo (Quinze com Cassiano), ouvi este tipo de conversa.

― Viu só, o ano que era "novo" já envelheceu: já é dia 29, acabou janeiro.

― E fevereiro este ano ainda é curtinho. Tem o carnaval, e já deu pra a bola. É em março que o ano começa.

― Mas março passa voando! Depois, abril tem dois feriadões, Semana Santa e Tiradentes. Quando se vê já terminou o mês. Depois, a Fenadoce, que este ano vai ser em maio, pra não coincidir com a Copa. E começando a Copa, só fica o segundo semestre e acaba o ano.

― É, 2010 não teve graça.

(Admito que a segunda metade eu ficcionei, mas a primeira é literal).

Na mesma sessão, Paulo (acima) tirou do fundo do baú um exemplo de como pode ser embaraçosa a ignorância verbal de certas pessoas. A gafe ocorreu no programa da Rádio Cultura "Atrações Tusa", do ex-vereador, hoje octogenário radialista Teófilo (Tufi) Salomão (esq.). Os ouvintes, a maioria de origem humilde, ligavam para mandar alôs aos amigos e pedir músicas, e eram postos no ar ao vivo. Nunca acontecia nada estranho; tudo era previsível e dentro de esquemas: desfiar a longa lista de amigos e parentes, pedir uma música antiga do Roberto Carlos ou Moacir Franco e dedicá-la a algum dos citados.

Certa noite, um moço do Fragata, dentro do esperado, recitou o terço de familiares, vizinhos, amigos da infância, cachorro, papagaio, e terminou dedicando a música... pra mulher boa que eu como lá atrás do cemitério.

Tufi tira do ar o convidado, pede desculpas aos ouvintes pela vergonha - tem cada uma, a gente não tem como prever essas coisas - e põe a música pra aliviar o mau momento. Terminado o intervalo comercial, o seguinte ouvinte que vai ao ar é... o mesmo de antes!

― Sabe, desculpa seu Tufi, às vezes a gente se atrapalha, mas a música eu queria dedicar é pra dona Maria, uma senhora muito legal que me dá almoço todos os dias, ela mora na rua atrás do cemitério. Ela é uma mãe pra muita gente.

O duplo sentido das palavras comanda a construção das melhores piadas, mesmo que involuntárias. E os mestres das anedotas reais são os radialistas e os barbeiros.
Fotos da web (2) e F. A. Vidal (1)

2 comentários:

Anônimo disse...

Rsrs! Ai, que maldade com o pobre do homem!
Rsrsr!
Bj, FRancisco!
Tê!

Anônimo disse...

Gostaria de esclarecer que quando usei os termos no comentário acima "maldade" e "pobre do homem") o fiz no sentido de lamentar _ brincando (precisa ser com gravíssima seriedade???? _ a ingenuidade desse senhor que, infelizmente não soube se expressar claramente. Com isso, corroborei o conteúdo final da matéria: "O duplo sentido das palavras comanda a construção das melhores piadas, mesmo que involuntárias."
Espero que ninguém se sinta ofendido. De antemão, se alguém se sentiu assim, desculpo-me publicamente.
Grata,
Teresinha Brandão