Na última quarta-feira de junho (30), o padre Adelar José Rosa (dir.) falou sobre as origens e significados das festas juninas, ante psicólogos da Sociedade Sigmund Freud, em sua maioria colegas da especialização em terapia psicanalítica.
O estudioso começou explicando que não se trata de festas nascidas no Brasil, mas trazidas pelos portugueses, sendo de origem pagã e milenar. Os europeus comemoravam há muitos séculos o solstício de início do verão no hemisfério norte e a Igreja Católica cristianizou a data, centrando-a em São João Batista, o primo de Jesus, que teria nascido em 24 de junho. Ficou com o apelido de festa joanina, que derivou para "junina", como se fosse pelo mês de junho (veja na Wikipédia).
No Brasil, os santos "juninos" mais recordados são, além de João Batista: Antônio de Pádua (dia 13) e os apóstolos Pedro e Paulo (dia 29). Antônio nasceu em Portugal, fez-se frade agostiniano e se radicou em Pádua, na Itália, passando à ordem franciscana; é conhecido como santo casamenteiro e solucionador de conflitos e coisas perdidas (no entanto, as simpatias para arranjar marido são superstições populares).
O apóstolo Pedro era pescador, discípulo de Jesus (nosso Estado leva seu nome, desde que era a Província de São Pedro). No Rio Grande do Sul, os brigadianos - por policiar a cidade em duplas - ficaram com o apelido popular de "pedripaulo".
A Igreja recorda Pedro e Paulo no mesmo dia, como líderes da evangelização no primeiro século, mas eles não foram martirizados juntos, como poderia supor-se. Nem são os únicos santos do mês; o catolicismo recorda vários (média de oito) em cada dia do ano.
Nas festas juninas brasileiras não há traços paulinos (do santo chamado Paulo), mas elas foram mais fortes no interior do Estado de São Paulo, o que marcou as datas como se fossem somente caipiras.
No Brasil, as crenças e tradições tomaram elementos europeus (como a quadrilha francesa) e se renovaram segundo cada zona. O folclore nordestino foi mais forte que os costumes paulistas, e aqui no sul nossas tradições se mesclaram com elementos caipiras e europeus.
Para não esquecer a psicanálise, o palestrante mencionou o sentido fálico da brincadeira do Pau Ensebado, que nas festas juninas os homens mais ousados trepam, à cata de um prêmio (não citou a função masturbatória masculina, representada nesse ato). Se o mastro fosse um monumento, talvez se pudesse falar de um signo de poder falocêntrico.
O Casamento na Roça é uma encenação em que um par de namorados é forçado a casar-se, por uma gravidez inesperada. Na palestra, tal costume foi relacionado com o sentido pró-familiar do famoso Santo Antônio, que também patrocina o dia dos namorados no Brasil. No entanto, como qualquer católico sabe, a Igreja não valida casamentos por força.
O interesse popular estaria focado, segundo Freud, no ato sexual dos pais, cuja visão é proibida à criança. O riso nervoso se faz prazeroso quando o padre autoriza e o delegado, com rifle na mão, obriga os noivos a assumir, em público, o papel dos pais.
O casamento caipira entre a ex-BBB Gyselle Soares e seu namorado francês (dir.) foi justamente no dia de São Pedro e São Paulo, em junho de 2008, mas parece que na ocasião não houve rifles nem pedripaulos.
Ao longo da reunião aqui comentada, Adelar ilustrou os conceitos com exemplos em imagens e música, obtendo a atenção e a motivação de todos. O momento de maior silêncio e concentração foi quando no fundo musical se ouviu um canto gregoriano - elemento genuinamente religioso e não festivo. No vídeo abaixo, o Intróito Spiritus Domini, com os monges espanhóis de Santo Domingo de Silos.
Imagens da web e F. A. Vidal (1)
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