Victor autografa participação no livro "Blog Amigos de Pelotas" (7-11-09) |
O jovem geógrafo sugere que o pelotense vê sua cidade... sem enxergar-se a si mesmo dentro dela. Uma crítica certeira e até dolorosa, que os leitores não pareceram entender na essência.
Fica a ideia positiva: uma cidade são as pessoas que a habitam, suas vivências e suas criações. Os prédios ficam iguais; nós é que fazemos a história, com nossas mudanças. Se Glória cresceu e brilhou fora, então não é parte de Pelotas. O melhor de uma cidade somos nós, alegres ou tristes, repetidores ou artistas, modernizadores ou saudosistas.
A história da cidade como fetiche
Glória Menezes visita Charqueada São João |
É preciso ter em mente que muito do que se vende como “preservação da história, das tradições” não é mais do que um produto. Pelo simples fato de que a história é humana, feita de momentos, sentimentos; mesmo os prédios possuem uma alma dada por aqueles que o habitam.
Os casarões antigos nunca simbolizarão o que fomos, pois quem foi na verdade foram aqueles que viveram naquela época. São preservados – e precisam ser – como memória importante, embora incompleta, do passado, de um momento somente possível naquele instante. [...]
É de impressionar a “descoberta arqueológica” feita no Mercado Público, do início do século XX [ladrilhos hidráulicos da reforma anterior]. Não são os originais, já que o primeiro Mercado Público, lá do século XIX, foi destruído.
Se o amigo leitor foi aluno do Colégio Gonzaga, como eu, olhe bem para os ladrilhos e faça força. Sim, aqueles ladrilhos com desenhos de cubos, fazendo uma espécie de ilusão ótica, são os mesmos que eu e você ficávamos olhando durante as aulas de Religião. E eles continuam lá no Gonzaga.
Glória Menezes também é do início do século XX. Daqui a pouco será tombada também.
Soprano Luísa Kurtz e sua mãe, Sílvia |
Sorrisos de criança,
amores de namorados,
cheiro de café fresco,
tarde ensolarada com um mate:
o que realmente faz Pelotas, não se tomba.
Victor Schroeder
Extratos de comentários ao post
Leitor 1 Desde que cheguei a Pelotas procuro entender por que o jovem tem horror às homenagens. Gasta-se muita energia homenageando o velho; por que o pelotense não tem condições de escolher seu futuro e dizer para os que lhe sugam as energias: "não mais"!!
Leitor 2 O progresso não passa nem pela negação autofágica do passado nem pela sua mitificação. Mas também não passa pela glorificação messiânica do futuro. Mas de novo o patrimônio histórico sempre será eleito como bode expiatório. De fato, as casas têm alma e para muitos a fúria iconoclasta se justifica porque já não se pode voltar ao passado e punir os charqueadores (pelo jeito os eternos vilões). Vamos deixar ruir a cidade e as casas "assombradas" por estas almas penadas de nossa história vergonhosa, a fim de exorcizar seus fantasmas e assim, livres, caminharemos rumo ao futuro nos braços do progresso.
Leitor 3 Victor: Concordo plenamente contigo quando falas sobre valorizar o presente e tentar fazer AGORA o futuro, mas não culpe a preservação da história por isso. Sorte a nossa que pelo menos o passado é valorizado, há bem pouco tempo nem ele era.
Victor Obviamente não sou contra a preservação do patrimônio. A mensagem é que ações podem ser melhores homenagens aos pelotenses do passado do que APENAS preservar casarões.
Fotos: F. A. Vidal (1; 4), Nauro Jr. (2), Cadernos do Cetres (3)
Um comentário:
Dez, hein, victor?
Excelente e lúcida crítica!
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