"A Santa Ceia" foi um dos trabalhos expostos na Galeria da UCPel até esta sexta-feira (leia nota). O tópico é um dos mais visitados nos últimos 500 anos da história da arte, desde o famoso afresco mural A Última Ceia de Leonardo da Vinci. Diz-se que o medo popular com a sexta-feira 13 teria relação com a morte de Cristo e do discípulo Judas após aquela reunião de 13 pessoas, ocorrida no início de uma sexta-feira.
Misturando, inventando ou desconhecendo detalhes religiosos e históricos, o artista local introduz, na cena da ceia judaico-cristã, elementos simbólicos, ingredientes oníricos e anacronismos. Os símbolos coerentes são o número de apóstolos, as cruzes e o signo ictus (no respaldo das cadeiras). Outros simbolismos menos claros dão um ar irreal, como as pirâmides e camelos, em possível relação com o Antigo Testamento. A linha do horizonte cortada sugere uma fragmentação do sentido de realidade, própria dos sonhos.
O ambiente interno lembra um castelo medieval, de gelado chão, grandiosas janelas e duras paredes. Cadeiras modernas, uma enorme toalha de mesa e o que parecem ser pratos individuais são outros anacronismos, que denunciam o ponto de vista histórico do autor. As ordenadas posturas físicas e a distribuição de lugares sugerem atitudes imóveis ou solenes demais para a ocasião; quem seria o mestre se mostra passivo em vez de liderar.
Apesar da inspiração religiosa, o conjunto visual se apresenta como uma imagem surrealista atemporal e convida a uma interpretação psicológica. Enquanto a visão do exterior parece sonhadora e livre, a mentalidade interna se mostra rígida e sem calidez, com sentimentos apagados, o masculino distanciado (líder minimizado) e o feminino deslocado (fora da cena principal). Tudo isto exemplifica como a riqueza pessoal se expressa nas artes plásticas, independentemente do realismo lógico e histórico.
Foto: F. A. Vidal
Um comentário:
Muito boa sua interpretação frente à obra.
Realmente, instiga a imaginação.
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