A vida urbana nos deixa cada vez mais em angústias e solidões sem saídas claras, com o paradoxo de estarmos rodeados de gente, também solitários sem remédio ou pessoas mais adaptadas que não percebem seus vazios e unicidades.
O sistema oferece algumas saídas enganosas, como as distrações, anestesias, autocastigos e evasões. Uma muito aceita são as festas sem razão, cheias de ruído e drogas diversas. Elas duram toda a madrugada, e se realizam em zona residencial, ante os cidadãos que dormem ou tentam ignorar os alaridos dos angustiados.
Tem-me chamado a atenção um grito silencioso desses sofredores: as garrafas vazias de algum líquido espirituoso, colocadas com cuidado em portas ou janelas. Neste caso, a festa de oito horas foi do lado de minha casa, numa garagem intitulada To-atoa City Hall (equivalente a "centro municipal da vadiagem").
As garrafinhas não aceitam ir para o lixo; não podem caminhar pela longa calçada. Seu lugar é mais alto. São tristes ilustrações do vazio e da solidão de quem busca uma porta aberta, uma janela por onde entrar ou sair. Essas almas de vidro não nos deixarão dormir até voltarem às camas dos psiquiátricos ou descansarem em paz.
Foto de F. A. Vidal
Foto de F. A. Vidal
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