Precedendo a publicação do segundo volume do Almanaque do Bicentenário de Pelotas, prevista para novembro de 2013, a Confraria do Almanaque promove, de julho a outubro, um ciclo de quatro debates com o título Pelotas, uma outra história. Uma terça-feira por mês, sempre às 19h, no térreo da Biblioteca Pública, com entrada franca.
A série de encontros busca discutir sobre as origens, as características históricas e a contemporaneidade da cidade de Pelotas. Na mesa, sempre com a mediação do professor de Filosofia da UFPel Luís Rubira, debatem historiadores, professores, reitores, artistas, intelectuais e agentes culturais.
Esta terça (9-7), no primeiro debate (Como surgiu a cidade de Pelotas?), o tema foi a pré-história dos Campos das Pelotas e da Freguesia de São Francisco de Paula, com os pesquisadores autodidatas Adão Fernando Monquelat e Jarbas Rosa Lazzari. A reunião não lotou a sala, mas o debate de duas horas foi muito intenso, cheio de informações e de emoções.
Monquelat apresentou um mapa de 1781, ainda inédito, posterior à libertação da Vila de Rio Grande, mostrando o Sangradouro da Mirim (São Gonçalo) e o Rio das Pelotas (Arroio Pelotas); nesta zona, que seria posteriormente a freguesia pelotense, já havia charqueadas e viviam açorianos e casais de Maldonado.
O palestrante mostrou que a charqueada de Pinto Martins não foi a primeira em Pelotas nem na região e que o charque produzido na época era de má qualidade, sendo necessário adquirir técnicas europeias e dos saladeros castelhanos, que vendiam o produto ao Império do Brasil a melhor preço que os charqueadores brasileiros. As origens de Pelotas ligam-se, portanto, aos movimentos bélicos militares entre portugueses e espanhóis e ao desenvolvimento capitalista das charqueadas numa geografia propícia.
Lazzari enfatizou que a presença de mais de 700 mil africanos trazidos à força para a América foi uma grande operação clandestina, que a lei não permitia, mas teve a aceitação de toda a sociedade, incluindo os próprios governantes. O dano humano realizado no Brasil ao longo de séculos ainda não foi reparado, e até se menospreza hoje em dia a importância da contribuição da cultura africana. Em Pelotas, a sociedade dominante valorizou somente a riqueza à europeia, de saraus em palácios onde só os ricos entravam, e formaram-se nos bairros "pequenas áfricas", onde se cultivou o nosso carnaval, a força do nosso futebol, do samba e do chorinho.
Imagens: FacebookA série de encontros busca discutir sobre as origens, as características históricas e a contemporaneidade da cidade de Pelotas. Na mesa, sempre com a mediação do professor de Filosofia da UFPel Luís Rubira, debatem historiadores, professores, reitores, artistas, intelectuais e agentes culturais.
Adão F. Monquelat em novembro de 2012 |
Monquelat apresentou um mapa de 1781, ainda inédito, posterior à libertação da Vila de Rio Grande, mostrando o Sangradouro da Mirim (São Gonçalo) e o Rio das Pelotas (Arroio Pelotas); nesta zona, que seria posteriormente a freguesia pelotense, já havia charqueadas e viviam açorianos e casais de Maldonado.
O palestrante mostrou que a charqueada de Pinto Martins não foi a primeira em Pelotas nem na região e que o charque produzido na época era de má qualidade, sendo necessário adquirir técnicas europeias e dos saladeros castelhanos, que vendiam o produto ao Império do Brasil a melhor preço que os charqueadores brasileiros. As origens de Pelotas ligam-se, portanto, aos movimentos bélicos militares entre portugueses e espanhóis e ao desenvolvimento capitalista das charqueadas numa geografia propícia.
Lazzari enfatizou que a presença de mais de 700 mil africanos trazidos à força para a América foi uma grande operação clandestina, que a lei não permitia, mas teve a aceitação de toda a sociedade, incluindo os próprios governantes. O dano humano realizado no Brasil ao longo de séculos ainda não foi reparado, e até se menospreza hoje em dia a importância da contribuição da cultura africana. Em Pelotas, a sociedade dominante valorizou somente a riqueza à europeia, de saraus em palácios onde só os ricos entravam, e formaram-se nos bairros "pequenas áfricas", onde se cultivou o nosso carnaval, a força do nosso futebol, do samba e do chorinho.
- Em agosto, agentes culturais discutem o tema: PELOTAS, CAPITAL CULTURAL? (até agora estão convidados a professora Renata Requião, ex-secretária de Cultura, a professora Paula Mascarenhas, ex-diretora do Instituto J. Simões Lopes Neto e atual vice-prefeita, e o psicólogo Francisco A. S. Vidal, editor deste blogue.
- Em setembro o tema será: PELOTAS, CIDADE HISTÓRICA?
- Em outubro, reitores debaterão sobre a pergunta: PELOTAS, CIDADE UNIVERSITÁRIA?
POST DATA
27 de agosto
Ontem (26) a mesa do encontro incluiu 5 debatedores (nenhum dos anunciados em julho): Secretária de Cultura Beatriz Araújo, teatrólogo Valter Sobreiro Jr., Paulo Gaiger (UFPel), Fernando Keiber (Produtora Haia) e Herberto Mereb (ONG Amiz).
Um comentário:
Ter perspectiva histórica, ou seja, distanciamento dos acontecimentos a fim de poder-se ter noção do contexto dos fatos, é fundamental, essencial, para chegar-se o mais próximo possível do real.
E ser um acervista apaixonado, um pittbull perseguindo não a verossimilhança (o que se faz em literatura) mas o fato, é o que possibilitou a AMonquelat e parceiros, apontar, finalmente, alguns dados essenciais para o entendimento de nossa história. A cada pesquisa, afunila-se o enfoque, aperfeiçoa-se o detalhe, as datas.
Ao leitor cabe, gratidão e a leitura aprofundada, e a difusão de tão preciosos trabalho. Trabalho hercúleo, que não se faz em conversas ou algumas horas. São anos e anos de dedicação e esmero.
Parabéns, aguardo aniosa o novo volume do Almanaque.
Abraço fraterno,prof.ª Loiva Hartmann
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