Os assim chamados "banheiros do Laranjal" tinham este aspecto de aquário flutuante, no entardecer deste domingo (22). De fato, o problema flutua desde abril de 2010, quando o Ministério Público denunciou a irregularidade da obra (leia a notícia no Amigos de Pelotas). A construção inconclusa, iniciada sobre a areia da praia no verão daquele ano, ainda não foi demolida, após a Prefeitura ter perdido a causa judicial, em abril de 2012 (veja a notícia).
A polêmica pública questionou, na época, o uso da areia para novas construções (já existem algumas ali, há décadas), o fator ecológico (do saneamento e da estética) e o uso político-administrativo da verba destinada aos banheiros.
Atualmente, os únicos banheiros disponíveis para o público são os das residências e dos restaurantes da orla; inclusive o mais usado desses toaletes é de um restaurante que está sobre a areia há uns 50 anos (dir.). Quando "a natureza chama", o faz com urgência e perdem força os valores sociais e espirituais, como a liberdade de espaço dos banhistas e a visão da paisagem.
A Justiça Federal (4ª Região) acolheu a denúncia mandando sustar a construção. Ficaram as paredes pela metade todo o verão seguinte (2010-2011), e alguns moradores de rua fizeram acampamento ali, em janeiro e fevereiro, como qualquer veraneante (veja a notícia).
Na época, artistas de rua também fizeram seu manifesto pacífico, dando beleza ao feio e chamando a atenção com fina ironia sobre estas manchas da cidade. Os peixes de cores parecem rir de nossas necessidades básicas e de nossas proibições moralistas (como dizendo "não urine em nosso aquário").
Em Pelotas, já foi interrompida a construção de uma dezena de centros comerciais nos últimos 20 anos, talvez por fatores econômicos ou culturais (mentalidade retentiva, diria um psicanalista). Aqui preservamos prédios velhos e abortamos novos. Mas este é o primeiro caso de um banheiro inacabado, e talvez seja o único no Estado ou no país. A tendência à retenção perdeu a elegância abstrata e direcionou-se aos instintos mais básicos.
Fotos: F. A. Vidal
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