Typos Populares: Dominguinhos cartão postal de Meyra&Cia (c. 1916) |
Com sua morte em 1916 ele foi notícia de jornal e sua foto virou cartão postal. A imagem (dir.) pertence ao cartofilista Pedro Fernandes Prietto (1897–1985), e foi publicada pelo sítio Viva o Charque (álbum Postais de Pelotas, parte 6, v. referência abaixo). O selo de 20 réis com a figura de Benjamin Constant circulou até 1917 (v. RHM Filatelistas).
A descrição abaixo, sem autor identificado, foi tomada do almanaque "A Cidade de Pelotas", de 1921, que lista alguns tipos populares, na verdade pessoas desadaptadas, excêntricas, tidas como estranhas ou com valor folclórico (Joca, Velho Carneiro, Boiota, Deus Te Livre, Roberto Macacão, Maria do Gato).
Natural do Congo, Dominguinhos veio para a Bahia já casado. Sendo vendido como escravo para o Rio Grande, veio depois para Pelotas, onde casou pela segunda vez. Dançando, cantando e rindo, passava os dias ao sol, comendo rapaduras, de que muito gostava.
Como o carneiro do batalhão cheio de guizos e fitas, surgia o vulto grotesco, minúsculo, quase invisível do Dominguinhos, trovador da cor inconfundível do carvão, dançarino incansável que atravessou a vida sempre carreando o peso da desventura, constantemente a rir, a cantar, a dançar, para ver se a boa sorte despertava do sono que para ele seria eterno...
Aquele metro de gente durou mais de um século (107 anos) a esperar a morte. Pobre alma! Nasceu quando o século XIX tinha apenas oito anos, o século expirou e ele sobreviveu; o século foi das luzes e morreu numa apoteose de grandezas e ele viveu sem luz para morrer numa apoteose de miséria.
A morte parecia ter-se esquecido de o levar na onda, o século viveu numa orgia de sol e ele, sempre negro, atravessou-o na escuridão da ignorância profunda e quando o novo século surgia numa alvorada polar bizarra, cortada pelo jato dos holofotes e pela asa ligeira dos aeroplanos, o Dominguinhos desceu à terra e nem os sete palmos clássicos os seus despojos ocuparam, que tanto não tinha ele de altura, mas a memória de cinco gerações está cheia dessa figura de preto que se fez branco para viver na tradição.
Livro "A Cidade de Pelotas" pertence a Giane Casaretto
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