O poeta, jornalista e teatrólogo pelotense Francisco Lobo da Costa nasceu há 160 anos, em 12 de julho de 1853 e faleceu aos 34 anos, em 19 de junho de 1888.
Além da rua que leva seu nome, um busto recorda o local de sua morte, na confluência das ruas Almirante Barroso, General Argolo e Ferreira Viana (foto abaixo). As leis municipais nº 662 (1956) e nº 1136 (1962) autorizaram a homenagem. Foi colocada placa em 12 de julho de 2003, dia do sesquicentenário do poeta, que naquele ano foi incluído na Semana de Pelotas (v. notícia).
Monumento a Lobo da Costa |
Sobre a vida do poeta, confira dois artigos de Mario Osorio Magalhães (transcritos no blogue de Edir Alonso), o discurso de Moisés Vellinho no centenário de Lobo da Costa em 1953, a nota Um polêmico romântico e a reportagem de Leonardo Crizel por ocasião da Feira do Livro de 2008 (vídeo acima).
Em 1998, o pesquisador Adão Fernando Monquelat escreveu o seguinte texto (foi conservada a grafia, omitidos somente os dois parágrafos iniciais).
Lobo da Costa, vítima do preconceito
Não podemos negar que a memória de Lobo da Costa é reverenciada ao longo de mais de um século após sua morte. Porém, quase que sem exceção, toda vez que alguém o faz, é de forma preconceituosa, colaborando assim para que se mantenha viva a imagem do bêbado e desapareça quase por completo a obra deste que foi, sem dúvida alguma, o poeta mais popular do Rio Grande do Sul.
Preocupados com isso, nos dedicamos a pesquisar, junto ao material por nós recolhido ao longo dos anos, a origem de afirmação de que Lobo da Costa morrera em conseqüência de uma fatídica bebedeira, verdade que até hoje povoa o imaginário dos que ouvem falar no poeta.
Grifei propositalmente a palavra "verdade" porque, à exceção de uma única matéria publicada no Correio Mercantil da época, cujo intuito era o de defender Pelotas das acusações feitas pelo Diário do Rio Grande, de que a mesma teria deixado Lobo da Costa morrer ao relento, em nenhuma outra notícia sobre a morte é mencionado o fato de ter Lobo da Costa morrido embriagado. Assim mesmo, a matéria do Correio Mercantil não é afirmativa, embora insinue como pode observar o leitor:
Agora o episódio final:
Salvo melhor juízo, quer nos parecer que a morte de Francisco Lobo da Costa foi muito mais um caso de negligência e omissão por parte de seus contemporâneos do que outra coisa qualquer que a história oficial insista em manter.
Hoje, dia do aniversário do poeta, cabe-nos uma interrogativa: até quando a figura do bêbado, chamado Francisco por batismo, ofuscará o brilho do poeta, e eterno Lobo da Costa?
Feliz Aniversário, Poeta!
Preocupados com isso, nos dedicamos a pesquisar, junto ao material por nós recolhido ao longo dos anos, a origem de afirmação de que Lobo da Costa morrera em conseqüência de uma fatídica bebedeira, verdade que até hoje povoa o imaginário dos que ouvem falar no poeta.
Imagem do poeta em 1883 |
Apesar de ter sido procurado logo depois de faltar no estabelecimento, Lobo da Costa não foi encontrado senão um dia depois, morto nas condições em que o colega pode facilmente imaginar, tratando-se de um escravo do vício...Vejamos agora, na íntegra, a notícia da morte, impressa na edição de 19 de junho de 1888, do jornal A Pátria, de Pelotas:
Uma notícia contristadora e lúgubre veio hoje à tarde surpreender-nos dolorosamente, enchendo-nos o coração da mais intensa mágua: a da morte do poeta Lobo da Costa, ao frio, ao relento, num descampado e no mais miserável dos abandonos!
Lobo da Costa, o mavioso bardo pelotense, o poeta inspirado e fecundo, que profundamente derramou as scintillações do seu astro em páginas coloridas de mágico esplendor, amanheceu hoje morto no vallo existente nas proximidades da Santa Cruz!
É duro de dizer-se:Ou quem sabe possamos esclarecer um pouco mais, reproduzindo trechos estampados na primeira página do jornal Psiu!
Morto por congelação, resultante do intenso frio que reinou durante a noite passada, em que, para cúmulo das desgraças do malogrado moço, chovia a cântaros, motivo pelo qual foi o seu cadáver encontrado completamente encharcado!
Quando supporiamos nós que ainda um dia nos viriam dizer que na civilizada cidade de Pelotas, num centro populoso onde a caridade é largamente exercida e onde os europeis da riqueza tantas vezes têm servido de capa a muita miséria moral, inhumanamente desamparado, um peregrino vate, um dos mais illustres filhos desta terra, digno pelos seus talentos, pelas suas obras e pelas suas infelicidades!
Sentimo-nos verdadeiramente compungidos o fatal sucesso e damo-nos os pezames a nós mesmos por ter se passado a nossos olhos e ao alcance das nossas previsões mais esta calamidade para a nossa litteratura.
Os empregados d'esse estabelecimento tinham a extincta obrigação do cumprimento do dever que se impuzeram ao acceitarem a guarda d'esse infeliz enfermo, e, competia-lhes logo que tiveram sciencia do seu desaparecimento darem os passos necessarios para descobrirem-o e fazerem-o voltar aquelle estabelecimento, o que talvez o privasse, de que continuando por mais tempo exposto as inclemências de um tempo áspero e cruel, como succedeu, se agravassem os seus padecimentos phisicos levando-o a succumbir ao desamparo de qualquer recurso, miserável e deshumanamente!
Além disso, cremos, que houve quem fosse aquelle estabelecimento avisar que esse pobre vate de quem hoje pranteamos a prematura perda, se achava no lugar onde foi encontrado morto, ainda com vida; entretanto, quaes os passos que se deram para mandal-o d'ali retirar?... Nenhum que nos conste antes de serem passados, talvez 24 horas, quando o foram já buscar no Bate-moleque!...Não será justa esta nossa censura?...Concluindo, apresentamos excertos de dois depoimentos dados por Francisco de Paula Pires a respeito da morte de Lobo da Costa:
Na tarde de 18 de junho de 1888, dirigio-se um popular á Bibliotheca Publica Pelotense, da qual eu era o bibliothecario e communicou-me que Lobo da Costa estava cahido na Santa Cruz, que é um arrabalde da bella cidade. Impossibilitado de sahir, mandei chamar Luiz Lobo da Costa, irmão do poeta e vindo a Bibliotheca contei-lhe o ocorrido, dizendo-lhe:
- Vá, sem perda de tempo, á delegacia de policia, fale com o delegado, major Joaquim Alves de Macedo, conte-lhe o que ocorre e peça-lhe que mande procurar seu irmão, para livral-o de uma morte certa. Como vê cae uma neblina impertinente e a noite ameaça uma grande geada.
Uma hora depois, mais ou menos, voltou Luiz Costa e disse-me:
– Falei com o major: elle prometeu mandar alguns praças no desempenho do seu pedido.
No dia seguinte, pelas 9 horas da manhã, dirigia-me á Bibliotheca e, de passagem, cheguei á delegacia e procurei fallar com o delegado de policia, trocando-se este dialogo:
– Então, major, que é do nosso Lobo da Costa?
– Alli vem ele, respondeu-me.
E apontou para uma carroça que vinha chegando.
– Como, interroguei, vem numa carroça?
– E morto, accrescentou o delegado.
Antologia de 2003 |
Senhor da quantia que lhe foi entregue, o infortunado Lobo vagou sem rumo pelas ruas de Pelotas, indo parar em uma casa de negocio sita á rua Santo Antonio, esquina do Dr. Miguel Rodrigues Barcellos. Achavam-se ali, como fui informado, individuos de má nota.
Infere-se que impellido por alguma necessidade, Lobo da Costa deixara a casa de negocio e dirigira-se para os lados da Santa Cruz, onde foi visto em adiantadas horas da tarde. Impossibilitado de regressar a cidade foi ali colhido por uma noite invernosa, exhalando o derradeiro suspiro longe dos seus amigos e parentes. O cadaver foi saqueado, pois apenas deixaram-n'o com as ceroulas. Esta é a verdade do facto que enlotou as lettras patrias e compungiu a todos quantos conheceram o desventurado bardo pelotense.
Salvo melhor juízo, quer nos parecer que a morte de Francisco Lobo da Costa foi muito mais um caso de negligência e omissão por parte de seus contemporâneos do que outra coisa qualquer que a história oficial insista em manter.
Hoje, dia do aniversário do poeta, cabe-nos uma interrogativa: até quando a figura do bêbado, chamado Francisco por batismo, ofuscará o brilho do poeta, e eterno Lobo da Costa?
Feliz Aniversário, Poeta!
Adão Fernando Monquelat
Fragmento da peça "O Filho das Ondas", de Lobo da Costa, com Vagner Vargas e Ândrea Guerreiro.
Imagens: F. A. Vidal (1), Wikipedia (2), Vanguarda (3)
11 comentários:
http://www.youtube.com/watch?v=5RbNTo9q4uw
Boa sugestão, Fábio, postarei o poema por separado, esta noite.
Prezado Sr. Francisco Antônio Vidal!
Tenho uma edição de “Lucubrações”, de Francisco Lobo da Costa, de 1874, pela Typographia J. Seckler de São Paulo, que pertenceu à biblioteca de meu bisavô Francisco José Alves Souto (1847 – 1890), que era o 6º filho de António José Alves Souto, o Visconde de Souto (1813 – 1880). Desde minha infância impressionei-me pelos belíssimos versos de Lobo da Costa e cheguei a decorar o seu poema “Na sepultura de Amélia”. O livro e o poema foram comentados (e o poema transcrito) no Jornal Água Verde nº 248, de Fevereiro de 2002, como pode ser visto na 3ª ILUSTRAÇÃO de um dos meus blogs (“Francisco Souto Neto no ano de 2002, através de antigos recortes de velhos jornais (e de algumas fotografias)”, cujo link vou tentar colar adiante:
http://franciscosoutoneto.wordpress.com/2013/11/07/francisco-souto-neto-no-ano-de-2002-atraves-de-antigos-recortes-de-velhos-jornais-e-de-algumas-fotografias/
Gostaria de acrescentar que só muito recentemente consegui informações sobre o poeta Lobo da Costa, graças à internet e ao seu blog, de tamanha qualidade. Meus parabéns pelo seu trabalho.
Atenciosamente,
Francisco Souto Neto.
Obrigado pela amabilidade e parabéns por tanta pesquisa sobre nossos antepassados, tudo isso ficará para a História do Brasil.
Neste blogue temos outro post sobre os barões do charque, ver
http://pelotascultural.blogspot.com.br/2009/04/os-baroes-do-charque.html
Só tivemos um visconde em Pelotas.
Mais sobre Francisco Souto Neto em seu outro blogue:
http://viagenseopinioes.blogspot.com.br/2011/10/jornal-agua-verde-visconde-de-souto.html
Caro Sr. Francisco Antônio Vidal!
Obrigado pela indicação do seu texto a respeito dos barões do charque, que li e achei muito interessante. Vou depois observar com mais tempo o conteúdo dos seus demais blogs.
Grato também pela divulgação do resumo da biografia do Visconde de Souto, escrita por mim e minha coautora Lúcia Helena Souto Martini. A propósito, o original da biografia encontra-se agora no Ministério da Cultura, para aprovação do projeto que prevê o seu abrigo aos benefícios da Lei Rouanet. Embora a obra seja ainda inédita, já teve três capítulos publicados na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e dois outros na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. Eu e minha coautora também fomos entrevistados pelo The History Channel (no quadro Detetives da História), no capítulo que teve o nome de “O elefante sem identidade” (uma investigação a respeito do zoológico do Visconde de Souto). O episódio teve seu lançamento em novembro do ano passado, e parece-me que continua sendo reprisado agora em 2014.
Caso o Sr. deseje conhecer a história do zoo do Visconde de Souto, poderá encontrá-lo no seguinte endereço:
http://fsoutoneto.blogspot.com.br/2011/11/chacara-do-souto-e-seu-jardim-zoologico.html
A história da Fazenda Bela Vista, onde existe até hoje a Capela Mayrink (nome do seu último proprietário), que foi visitada por D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II (este último quando a fazenda pertencia ao Visconde de Souto), é interessantíssima:
http://fsoutoneto.blogspot.com.br/2012/11/em-construcao-livro-revista-do.html
Fico feliz ante a constatação de que, de algum modo, a história do Visconde e de seu sexto filho (que residia na mesma Chácara do Souto) se fundem à história de uma edição de Lucubrações, do grande poeta pelotense Francisco Lobo da Costa.
Com o abraço do
Francisco Souto Neto.
Caro Francisco, vou verificar o que vc informa sobre a capela e o zoo, riquezas históricas do Rio de Janeiro.
Como meu blog aborda exclusivamente temas sobre Pelotas, poderia interessar-me saber mais sobre o exemplar de 1874. O livro não parece suficientemente documentado nas fotos, não se vê o título nem as páginas internas, nem o ano aludido. Com uma capa sem título não posso mostrar a existência desse antigo exemplar do nosso Poeta, que não chegou a ver a abolição da escravatura, ele que era abolicionista.
Se puder fornecer maias fotos, posso dar mais destaque ao exemplar, e se quiser redigir algo sobre o livro, também será publicado.
Caro Sr. Francisco Antônio Vidal!
Acabei de escanear as primeiras páginas de "Lucubrações", que lhe vou enviar por e-mail.
Até logo mais...
Bom dia!
Gostaria de me apresentar, sou Antônio Augusto D'Ávila Bandeira, descendente do Poeta Francisco Lobo da Costa, a partir da quarta geração. Como contribuição, gostaria de postar fotos antigas da minha tri-avó (Carolina Augusta Carnal), bem como, da minha bisavó (Amanda Costa Gauland), da minha avó (Ottilia Gauland D'Ávila) e da minha mãe (Neyde Gauland D'Ávila)... Gostaria de saber se é pertinente postar estas respectivas fotos, como relíquias de um tempo passado... Um abraço, Antônio Bandeira.
Olá Antônio Augusto, se você tem fotos dos familiares de Francisco Lobo da Costa, são bem-vindas para uma postagem à parte. Teria que haver um texto explicativo com dados da árvore genealógica e detalhes das fotos. Se vc tem algum blog, informe também a referência, e onde vc mora e como chegaram as fotos a suas mãos.
Por favor, data de inauguração do busto de Lobo da Costa em Pelotas.
Está no texto: 12/7/2003.
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