Francisco em 2006 |
Meu pai - Francisco Dias da Costa Vidal - veraneou ali com sua família, quando tinha entre 7 e 16 anos. Em 1936, a motivação para ir tão longe foi a indicação médica para tratar, com ar puro e o iodo do mar, um início de tuberculose. Em 1945, os pais decidiram suspender os veraneios, e as lembranças da infância davam volta, cada verão, como as ondas rompendo na areia.
Francisco passeando na praia, ante as poucas casas que havia em 1942 No Hermenegildo, a orla era mais ampla que hoje, mas o vento ainda é do sul |
Eram recordações daqueles anos, retiradas de fragmentos de seus diários de vida e reformuladas pela visão do adulto. Todo um passado familiar vinha à tona nestas crônicas, que agora podem ler-se também de outras formas: como uma descrição do longo espaço entre Pelotas e Santa Vitória, e como uma viagem pelo túnel do tempo que separa a década de 1940 do século XXI.
Com esses relatos como material de um volume (seu primeiro livro, também de crônicas, saiu em 2001), os filhos Francisco, Carlos, Ana e Maria colocaram fotos antigas da família, reformaram o texto e conseguiram o design gráfico e a impressão na Editora da UFPel. O título "Vamos ao Hermenegildo?" foi escolhido para que o livro tivesse um sentido afetivo, inclusivo e turístico.
Na capa (esq.), desenhada por Ana Teresa Vidal, vê-se o autor naquela época, em foto tomada em Pelotas, remarcando que ele não era do Hermenegildo mas gostava de ir lá.
Profª Anita Carrasco |
Como primeira fã da obra, ela indicou os conterrâneos e leitores que se interessariam. Também sugeriu a expressão "livro para mergulhões", a partir da localização tão precisa que o livro contém e que motivaria quase que somente aos naturais de Santa Vitória.
O mergulhão é uma ave comum no litoral sul, a partir da qual saiu o apelativo carinhoso com que os santa-vitorienses se identificam. Tanto é assim que a palavra funciona como um verdadeiro chamariz de vitorienses, seja onde for que eles se encontrem (leia comentário).
A primeira sessão de autógrafos foi em Pelotas, dia 19 de dezembro de 2008 |
O lançamento em Pelotas foi marcado para 19 de dezembro, que - depois soubemos - os vitorienses celebram como o aniversário da cidade, pois nesse dia, no ano de 1855, iniciou-se a Povoação de Andréia, com a construção da primeira capela e sua padroeira Santa Vitória, que daria o nome definitivo à Vila, em 1872 (veja a história do nome).
Nesta sessão de autógrafos (dir., com o amigo Rubens Amador) e no mês seguinte, foram vendidos uns cem exemplares. Dois deles foram levados por vitorienses e começaram a circular entre os veraneantes.
É preciso dizer que os fãs do Hermenegildo - além de ser muitos e estarem espalhados por várias cidades gaúchas - são verdadeiros fanáticos de uma causa, tão apaixonados como torcedores de um time ou seguidores de um partido ou de uma religião.
A biblioteca atende gratuitamente, durante todo o ano |
A primeira parte da reunião durou uma hora, somente com discursos. A apresentação foi feita pelo prefeito Cláudio Pereira e pelo Secretário de Cultura, Esporte e Lazer, Kininho Dornelles, também conhecido como cantor nativista. Depois deram seus testemunhos outras figuras locais, colaboradores do livro e o próprio autor, que na sequência autografou por mais duas horas.
Kininho apresentou o autor |
Todas elas também chegaram na Casa do Livro naquela tarde. Descendentes de outras pessoas citadas no texto fizeram-se presentes na cerimônia com a honra de representar personagens históricos do lugar, que viveram entre na primeira metade do século XX.Em cada acolhida pudemos sentir aquele amor pela terra, mencionado acima, que era devolvido também a nós mediante o lançamento do livro.
Estudiosos do Hermenegildo se entusiasmaram com a obra |
Um casal de turistas uruguaios e um rio-grandino que passavam uns dias no balneário se interessaram pelo acontecimento social que o livro estava gerando. Curiosamente, uma senhora que é citada no texto não soube do lançamento, nem nós soubemos que, justamente naqueles dias, ela estava veraneando no Hermenegildo (mas dias depois a encontramos, seguindo pistas inesperadas e contatos de amizades).
Rua das Maravilhas, Rua da Saudade, Vento Sul, Marinheiros ao Largo, Rua das Lembranças, Beco do Bagre... são nomes poéticos (mas reais) que transportam o veraneante a outro mundo - um mundo de fronteira, que não é brasileiro nem uruguaio, mas uma mistura única. No Hermenegildo, por exemplo, observamos que os "mergulhões", que têm nomes de batismo incomuns, se conhecem somente por apelidos - ainda mais incomuns.
O "Hermena" está relativamente modernizado, tem dois supermercados, um hotel e uma lan house, mas não se pode dizer que possa receber muito turismo nem tenha uma autonomia para funcionar como município... ainda. Enquanto o lugar não se faz muito atraente para grandes massas, conserva (e perde lentamente) aquele caráter de intimidade e informalidade tão próprio.
Em fevereiro de 2009, houve outra sessão de autógrafos na Feira do Livro do Cassino. Em novembro, durante a Feira de Pelotas, o blogue Tear de Sentidos, de Teresinha Brandão, publicou uma das crônicas. Deixamos o livro à venda aqui, em Rio Grande, Santa Vitória e Hermenegildo, com a sensação de que um longo ciclo de despedidas históricas se fecha mas a vida continua.
Imagens: F. A. Vidal
Um comentário:
Eu liiiii! É muito legal!!!!!
Bj, Tê!
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