O escritor Alcy Cheuiche esteve ontem (30) em Pelotas para autografar "João Cândido, o Almirante Negro". Lançado em Porto Alegre dia 4 de novembro passado, este livro é uma das boas coisas que às vezes perdemos por estar desconectados da Capital do Estado e por ter nossa Feira do Livro ao mesmo tempo que a de Porto Alegre. Neste caso, não houve tal perda graças ao Instituto João Simões Lopes Neto.
Nascido em Pelotas, Cheuiche formou-se em Veterinária e exerceu por muitos anos, mas encontrou sua vocação na escrita de romances históricos e biográficos. Já foi patrono literário de feiras em muitas escolas gaúchas e nas cidades de Porto Alegre, Caçapava do Sul, Gramado, Gravataí e São Sepé. Mas nunca em Pelotas. Aos 70 anos, sua marca é a literatura libertária, algo que sempre faz falta em nossa América Latina e também é muito valorizado em outros países, que traduzem este autor e o têm como um escritor universal.
A mais recente obra de Cheuiche é um romance-documento (em 42 capítulos escritos em dramático contraponto) que resgata a vida de João Cândido Felisberto (1880-1969), o gaúcho filho de escravos que conduziu a Revolta da Chibata, em novembro de 1910. Estranhamente, a intensa e trágica vida deste marinheiro somente cem anos depois tem a primeira biografia em forma de romance. Somente existe um curta-metragem que o recorda, feito em 2006 (Memórias da Chibata), e ainda está em pré-produção um longa com sua vida.
Em vida, João Cândido não teve reconhecimento algum, somente abandono e desprezo. Após sua morte aos 89 anos, durante o governo militar, João Bosco e Aldir Blanc compuseram um samba em sua homenagem, "O Mestre-Sala dos Mares" (vídeo abaixo), cuja letra sofreu censura, para evitar a memória da Revolta e de seu líder (leia a história), considerado um subversivo violento e, ainda por cima, negro (o que na época era também mal-visto).
Em sua defesa, podemos dizer que seu comportamento indica ter sido ele um homem educado e de boa índole, cuja liderança não diminuiu nem aumentou mas sim canalizou o descontentamento dos marinheiros com os abusos que sofriam.
Em nossa cidade, uma praça no bairro do Porto recorda seu nome: segundo informação do jornalista Carlos Cogoy (Diário da Manhã, segunda-feira 29-11), teria sido proposta pelo ex-vereador do PT Deogar Soares (mandato 1997-2000), falecido em 2003.
Imagens da web e F. A. Vidal (1)
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