Aves de mau agouro há em todo o mundo, e falam em todos os idiomas. |
Talvez ao observar o prédio num estado de abandono de décadas ocorreu-lhe a expressão "nunca mais", do poema-relato "O Corvo" (The Raven), de Edgar Allan Poe (veja tradução de Fernando Pessoa).
Adriane não podia trazer aves falantes nem longos textos, mas atualizou em nossa realidade a frase agoureira, que em si mesma sintetiza muitos significados, e serve de resposta em espelho a muitas perguntas e desejos humanos.
Junto ao poder de síntese e ao realismo interativo do objeto em exposição, a artista tocou num dos temores de fracasso mais íntimos do ser humano, o da solidão perpétua. No momento e lugar menos pensado, um bolinho da sorte pode dizer-nos que será realizado nosso maior medo.
A temida frase do corvo é vivida cada dia, pelas almas depressivas. |
Uma boa tese literária poderia relacionar a vida e a obra de dois poetas depressivos e mal-sucedidos: o americano Poe (1809-1849) e o nosso Lobo da Costa (1853-1888), falecidos de modo triste e prematuro. O paralelo foi proposto por Mozart Victor Russomano no discurso "O drama de Lobo da Costa", para o centenário do poeta (1953).
O material usado no trabalho de Adriane Hernandez foi um dispensador de senhas com pé de apoio, desses que davam número para espera em filas de bancos e lojas bem organizadas. Em vez de senhas numéricas, que deixavam a esperança de ser atendido em certo tempo, aqui lemos a resposta padrão, fria e definitiva: "Nunca mais".
Fotos: F. A. Vidal
Fotos: F. A. Vidal
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