domingo, 16 de março de 2014

Kledir lança livro de crônicas


A Livraria Vanguarda já tem à venda exemplares do 3º livro de Kledir Ramil, "Crônicas para ler na escola" (v. nota da editora). Com o autor pelotense, a Editora Objetiva dá continuidade à coleção de mesmo nome que começou, há poucos anos, com escritores como Moacyr Scliar, Ruy Castro e Ignácio de Loyola Brandão.

O autor das letras da dupla Kleiton e Kledir já vinha escrevendo crônicas em Zero Hora e compilando-as em livros: "Tipo Assim" (2003) e "O Pai Invisível" (2011). Veja neste post a lista dos 9 livros anteriormente publicados pelos irmãos Kleiton, Kledir e Vitor Ramil.

Na quinta que vem (20-3), o cantor e cronista autografará para seus leitores na livraria do Shopping Pelotas, a partir das 19h. O livro tem 168 páginas e custa R$ 36,90.

Kledir pode ser descrito como um humorista do cotidiano, seja escrevendo um texto de leitura breve, seja teatralizando ao vivo algum caso fantástico. Muitos desses textos estão em seus dois blogues, catalogados como crônicas, "audiocrônicas" ou "videocrônicas" (no vídeo abaixo ele transforma em show audiovisual a sua crônica "Língua Portuguesa"). Os blogues têm o mesmo nome (BLOG DO KLEDIR o primeiro, e Blog do Kledir, o posterior e atual), a mesma finalidade e a mesma apresentação gráfica. Mas nenhum tem datas, contrariando uma lei essencial dos blogues, que é seguir uma cronologia.


Nos escritos de Kledir não encontramos personagens importantes no conteúdo do texto, mas na alma do cronista: podemos ouvir um narrador campeiro de exagerada fantasia, um amoroso homem de família (paizão, irmãozão, vovô, dono do cachorro), um estudioso de temas humanísticos ou um espantado observador da mudança dos tempos, entre outras figuras. Por trás dessas figuras que ele é, existe um coordenador geral, que é o escritor, outro personagem, mais imparcial e mais sério. Veja como ele mesmo se define, e a seguir uma de suas crônicas no personagem do paizão amoroso:
Sou um moleque de rua, um compositor de música popular. Comecei a juntar palavras para encaixar nas melodias que soavam na minha cabeça e essa brincadeira virou minha profissão. Depois de anos escrevendo canções, acabei desenvolvendo por nossa língua um amor tão grande que me deu coragem para invadir o terreno da prosa. E comecei prudentemente pela crônica, que é dentro da literatura a forma mais simples de todas. Tão simples que até um cantor de rádio é capaz de conseguir.

Lindinha

Quando nasceu minha filha Julia, eu estava despreparado para ser pai. Despreparado no pior sentido em que um músico-cantor-compositor pode estar: eu não conhecia canções de ninar.

Na falta de um repertório específico, comecei a cantar mantras indianos para fazer a pequena dormir. Em especial, os Cantos de Yogananda, que são pérolas preciosas. Fui improvisando com aquilo que eu considerava ser o mais adequado para uma alma pura, recém-chegada a esse mundo.

A verdade é que não funcionava. Muitas vezes virei noites sacolejando aquela coisinha linda nos meus braços e nada. Ela lá, com os olhinhos arregalados, à espera daquilo que amava e era o que efetivamente a fazia adormecer: o seio materno.

Meu repertório, na época, não apresentou o resultado esperado. Ela acalmava, mas não dormia. Por outro lado, acredito que alguma coisa boa deve ter ficado no subconsciente de minha filha. Hoje, olho pra ela já crescida, uma entusiasmada praticante de yoga e meditação, e fico imaginando que talvez aqueles mantras sagrados tenham deixado algumas sementes espalhadas.

É impressionante como, das formas mais inusitadas, a gente vai marcando a vida dos filhos. Eu, por exemplo, sou um sujeito friorento até hoje por culpa do “sapo-cururu” [versão livre de Cyro Baptista].

Voltando ao começo, às minhas tentativas de botar a guria pra dormir. No embalo de muitas noites acordado com Júlia no colo, comecei a compor uma valsinha, aproveitando o ritmo em ¾ que minha mão reproduzia naquele bumbum protegido por uma fralda descartável.

Agora, mais recentemente, quando a canção foi gravada no CD “Par ou Ímpar”, o som dessa percussão insólita, mais afetiva do que efetiva, foi registrado com o nome de Bundolone. É claro, Júlia já está crescidinha e não usa mais fraldas, completou 25 anos. Mesmo assim, fizemos em estúdio uma simulação do som das palmadinhas do papai acompanhando a melodia e, por pouco, ela não pegou no sono. O que só confirma o que eu já sabia: a música funciona bem para os seus objetivos, ou seja, realmente faz dormir.

“Lindinha” surgiu assim, espontânea. É uma canção de ninar carregada de carinho e de pureza. É a manifestação de amor de um artista aprendendo a ser pai.
Kledir Ramil
Fonte: Blog do Kledir



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