Desde que a Sociedade foi fundada, em 1981, o costume é seguir a tradição de Freud, que se reunia às quartas-feiras com seus primeiros amigos e discípulos, na Viena de 1902. Como Pelotas está um pouco longe dessa realidade, no tempo e no espaço, contamos com a inspiração do patrono, e seus discípulos (médicos ou psicanalistas) realizam palestras sobre temas científicos relacionados com a Psicanálise. Também se costuma deixar a última quarta do mês para uma palestra de tema cultural, a cargo de algum profissional da área artística.
Na última quarta-feira de março (25) realizou-se então a primeira reunião científica do ano. A nova secretária científica Camila Muswieck apresentou o psiquiatra Fábio de Alencar Braga (dir.), que exporia o tema “O primeiro sexo”, sobre a natureza da mulher. Na Sigmund Freud, o tema é lembrado pela proximidade com o dia 8 de março e por ser de alto interesse para a Psicologia, que estuda a natureza do masculino e do feminino, especialmente com as contribuições de Freud. No entanto, como não existe um dia internacional do homem ninguém aqui se lembra de completar estes conteúdos com o lado masculino.
Fábio Braga se referiu primeiro ao título da conferência: Simone de Beauvoir denominou a mulher como “o segundo sexo”, não sem alguma ironia, numa sociedade onde os homens pretendem ser primeiros em tudo. Mas biologicamente o gênero feminino é o que primeiro se define: na genética, se sabe que a dupla de cromossomos XX indica que o indivíduo é mulher, e se o 2º cromossomo X ficar como Y, a dupla XY determina que o bebê seja menino. O homem nesse sentido seria a segunda opção. Por outro lado, no âmbito social a antropologia e a psicologia dizem que as pessoas aprendem a ser mulher; ou seja, não se nasce na condição de "mulher", mas esta se aprende no ambiente cultural.
A História também mostra, segundo Braga, que a mulher foi, de início, mais importante que o homem na sobrevivência, pois com a aparição da agricultura ela deixou de fornecer 80% da alimentação, ficando o uso do arado para os mais musculosos. Com a agressividade reprimida, a mulher teria sido obrigada a dirigir seu erotismo à comunidade em geral, ao lar e à educação das crianças.
O palestrante seguiu surpreendendo, com sua ampla cultura e suas teorias do comportamento sexual, sempre do ponto de vista da Biologia Evolutiva. Com fluência e clareza, passou a falar como zoólogo da espécie humana: exemplificou a hipersexualização feminina (que na verdade é do ser humano), referiu-se às inconveniências da gestação e do incesto, ao mistério do hímen e ao favorecimento da reprodução no estupro.
No amor, os dois sexos buscam companheiros de mesma identidade cultural (crenças, objetivos) e diversa bioquímica (tamanhos, cheiros). Caindo em simplificações, mas sem perder de vista o alto interesse do assunto, Braga disse que os homens em geral preferem parceiras sexuais mais jovens, que por sua vez buscam “melhorar” sua aparência mediante cabelos loiros, depilações e cuidados de pele. Mas há linguagens diferentes, em que as mulheres gostam de discutir o relacionamento enquanto os homens são mais rápidos e práticos.
A comparação entre o masculino e o feminino é de permanente interesse na Psicanálise, mas desta vez a abordagem foi etológica. Convidado a nova palestra, desta vez sobre o outro sexo (o masculino), Braga gracejou meio atrapalhado, aduzindo que o sexo masculino não tinha graça e o interessante era falar das mulheres. Com isso marcou seu pensamento masculino, deixando de lado o interesse da maioria feminina presente. Mas como homem entendo o argumento: tudo o que foi dito nesta ocasião poderia simplesmente repetir-se em aplicação ao sexo oposto, pois na verdade a palestra foi sobre a sexualidade humana, independentemente do voyeurismo do palestrante.
Fotos da web (1 e 3) e F.A.Vidal (2).
Fotos da web (1 e 3) e F.A.Vidal (2).
Um comentário:
Excelente matéria, Francisco! Parabéns!
Lamento não ter ido à palestra do Dr. Fábio. Adoro os textos que escreve, aliás, deveria publicá-los!
Além disso, a temática é muito interessante, portanto, parabéns também ao Dr. Fábio!
Bj!
Tê!
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