terça-feira, 7 de abril de 2009

Tertúlia de Bruxas

Em 26 de outubro de 2007, a Tertúlia Musical nº 13 se transformou num show temático, evocando bruxas e demônios. Naquela sexta-feira anterior ao Halloween, o Salão Milton de Lemos viu passar personagens tétricos, canções misteriosas e atemorizantes, numa decoração alusiva, à luz de candelabros.

Na primeira parte do recital, alunos de violino e violão tocaram peças barrocas e modernas, de Bach, Dowland, Massenet, Villa-Lobos, Garoto. Tudo num pacífico ambiente, típico de um concerto clássico, que seria o prelúdio instrumental das encenações que viriam.
No momento do intervalo, o Espectro da Morte com seus chocalhos veio caminhando pelo corredor central, em caracterização de Luthiene Bittencourt. A sinistra figura permaneceu rondando no recinto, a presidir os conteúdos da segunda parte do programa, sempre obscuros, às vezes assustadores [no vídeo abaixo, vê-se atrás do piano].
A seguir, os acadêmicos Matheus Sacramento e Caroline Peres, vestidos totalmente de preto, trouxeram canções dolentes e lamentosas, de Haendel, Scarlatti e Purcell, escolhidas para ir criando um clima crescentemente sombrio.
Fábio Guimarães, baixo, e Carla Domingues, soprano,
representaram o Diabo e Christine, separadamente.
De repente, por uma das portas laterais, um cinematográfico vampiro entra furtivo, impondo-se como o centro das atenções. É o baixo Fábio Guimarães, que vem interpretar em solo: o Funeral d’um Rei Nagô, de Heckel Tavares, e a Oração ao Diabo, de Alberto Nepomuceno [opus 20 nº 2, 1899, letra de Orlando Teixeira], obtendo dramáticos efeitos, como no clímax de uma suposta ópera demoníaca.
Personificando uma bruxa em corpo e alma, a mezzo Ângela Elias cantou a ária da cigana Azucena, da ópera de Verdi “O Trovador”, ante o fogo de uma pira que acendera previamente, diante de todos, como a enfeitiçar-nos com seus passes de magia.
Do musical de Andrew Lloyd Webber “O Fantasma da Ópera”, Carla Domingues e João Ferreira Filho interpretaram o dueto final de Christine e o Fantasma [vídeo abaixo], arrematando magistralmente esta nova edição das Tertúlias no Conservatório de Música. O professor Marcelo Cazarré, coordenador desta série de recitais, atuou nesta ocasião como pianista acompanhador dos cantores.
A idéia desta tertúlia temática, que parecia inovadora demais para um lugar como o Conservatório, teve um belo resultado teatral, especialmente na mise-en-scène das peças líricas, cujo fim é precisamente impressionar e emocionar. Reconhecido este sucesso, devemos anotar a excessiva timidez das anteriores homenagens, especialmente a que devia aludir à Semana da Pátria, em 14 de setembro, e não teve o adequado destaque.
Texto publicado no Diário da Manhã em 8-11-07.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto! À medida que narras, Francisco, nós, leitores, parecemos ir, aos poucos, adentrando nesta atmosfera "tétrica" ...! Parabéns!
Parabéns igualmente aos atores que, magistralmente, interpretaram as cenas!
Mais um parabéns, este a Marcelo Cazarré pela coordenação do espetáculo!
Bj!
Tê!