Denise é mestranda em Memória Social e Patrimônio Cultural, e Fábio é professor orientador e diretor do Instituto de Ciências Humanas da UFPel.
Sob o título "A Camisola do Dia: memória da noite de núpcias", a exposição começou no Museu da Baronesa, passou por Arroio Grande e Jaguarão, foi relançada hoje (7) no Instituto João Simões Lopes Neto, onde ficará 30 dias, e logo deverá visitar Pedro Osório e Bagé. A exposição tem crescido, à medida que o trabalho vai passeando por cidades da Zona Sul, onde foi feito o estudo; o catálogo está em sua primeira edição (R$ 5), mas poderá vir a ser feito em cores.
A expressão "camisola do dia" parece aludir a algo diurno, mas significa "daquele dia", eufemismo para "camisola da primeira noite da lua-de-mel". O uso é somente no Brasil do século XX, até onde se deduz pelo artigo de Sérgio Teixeira na revista Horizontes Antropológicos (Porto Alegre, 2004), A camisola do dia e seu divino conteúdo, ponto de partida da pesquisa de Santos e Cerqueira.
No entanto, os antecedentes europeus e a origem da terminologia estão ainda sem estudos. "Chambre de jour" significa outra coisa no francês; é só para nós que chambre significa "roupão".
A concentração de cargas afetivas numa peça de roupa íntima configura-se como fetichismo, mas neste caso há muitas implicâncias culturais e históricas, além de psicológicas. Esta carga é reconhecida entre as mulheres, que a mantêm no segredo familiar e na herança informal de mãe para filha.
Os homens não tomam conhecimento destes detalhes, como não costumam interessar-se por roupas e adornos. Na circunstância nupcial, seu interesse se foca somente na mulher, como sugere a música "A camisola do dia", de Herivelto Martins e David Nasser (1957). O homem deseja sua esposa, e não sua calcinha; de modo oposto, a mulher - em postura egocêntrica - valoriza sua camisola como forma de negar (não reconhecer explicitamente, deslocando) a valorização de si mesma.
Na reunião desta noite, Denise se referiu à confecção e aos tecidos das "camisolas do dia", e Fábio leu seu artigo "Entre rendas e bordados: memórias orais do uso da camisola do dia", incluído no catálogo.
Na plateia, interessados pelo assunto da pesquisa e alguns participantes da mesma. Uma das entrevistadas, a sra. Carmem Bergamaschi Costa, que cedeu sua própria camisola de 1962, veio especialmente de Rio Grande e falou de sua experiência (dir.): o casamento foi na Catedral de Porto Alegre, a primeira noite foi em Pelotas e as seguintes no Chuí uruguaio e em Montevidéu. Camisola e saia-de-baixo eram de seda da China, costurada à mão (esq.). Seu simpático testemunho aumentou o interesse dos presentes.
A exposição se acompanha de objetos antigos relacionados com a confecção das camisolas, incluído um pijama masculino. A mais antiga é de 1925 e a mais recente, de 1972 (nylon vermelho, 1ª foto). As entrevistas que focaram nas memórias nupciais são posteriores; de 1960 a inícios do século XXI.
Fotos de F. A. Vidal.
Fotos de F. A. Vidal.
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