A ideia fixa era formar um time de futebol que congregasse os jovens negros da comunidade, já que o time existente não permitia a participação de pessoas “de cor”.
As conversas deram resultado: no dia 23 de janeiro de 1944, o Nico Barbeiro abriu as portas do salão para o primeiro encontro oficial, e nessa data foi fundado o Terezinha Futebol Clube (TFC). Os amigos eram: Jorge e Walter Silveira, João Pedro, João Francisco e Vivico, entre outros.
Walter Silveira (dir.) estava lá, faz 66 anos, e hoje ainda é membro do conselho do Clube. Ele relembra com emoção aqueles momentos, especialmente o amigo Manoel Gomes, que foi fundador, sócio e zelador do Terezinha. Diz o seu Walter:
"A paixão do Manoel era o Terezinha Futebol Clube. A maioria daqueles que amavam o clube não estão mais entre nós, como o massagista Jaime Motta, o cabo Jorge Siqueira e o Neife Bolônia".
O Terezinha Futebol Clube inicialmente teria as cores do manto da padroeira do bairro e da agremiação: branco e marrom. Contudo, devido à escassez de recursos, as camisetas apenas brancas receberam uma fita marrom para homenagear a Santa Terezinha.
Rapidamente, o grupo começou a construir a sede na Rua Santo Antônio, 86. Inicialmente um chalé, nas cores marrom e branco, onde formaram a primeira diretoria social da entidade.
O Terezinha vencia campeonatos e era o orgulho da comunidade negra da Zona Norte. Mas, além de ser um time de futebol, o TFC era uma sociedade de negros, onde as famílias confraternizavam e fortaleciam sua identidade racial, numa época em que o racismo era lei em Pelotas.
Existiam os clubes sociais de negros ― Fica Ahí pra Ir Dizendo (esq.), Chove Não Molha, Depois da Chuva ― e os clubes de brancos (Diamantinos, Brilhante, Comercial). Nos bairros, a rivalidade esportiva coincidia com a social e a racial.
Na Santa Terezinha, o Grêmio Esportivo Sul Brasil representava a comunidade branca. E o maior empenho do Terezinha Futebol Clube era disputar com o Sul Brasil e vencê-lo. Subconscientemente, a vitória era sobre o preconceito e o prêmio, a valorização étnica.
Com o passar do tempo, o TFC quebrou o muro do preconceito racial e nestes 66 anos é mantido pelos filhos, netos, bisnetos, sobrinhos daqueles rapazes que criaram um time de futebol.
O clube ficou fechado por dez anos e a reabertura se deu através de Renato Pinto em 1995. Nos anos consecutivos, Waldir Mendes, Marcos Ferreira (Marcola), Mario Dias e Lenoi Lopes assumiram a presidência e mantiveram ativo o Terezinha (à direita, a velha guarda do Clube).
― Precisamos contribuir de alguma forma para que o Terezinha Futebol Clube volte a ser um clube respeitado, e que se mantenha viva a história do futebol amador do nosso bairro. O meu sonho e meu maior orgulho será o dia em que meus filhos vestirem as camisetas do clube e entrarem em campo para defenderem as cores do Terezinha.
Palavras do presidente Marcola (dir., de óculos, com o resto da diretoria), que foi empossado neste sábado (23), nos 66 anos do Clube.
Nesta nova diretoria quase todos são descendentes dos fundadores originais do Terezinha Futebol Clube: Ana Siqueira, Laura Madruga, Vanessa Fonseca, Márcia Madruga e Luiz Heleno Madruga.
Josiane Maciel Carvalho Silva
Em azul, transcrição literal de partes da reportagem de Josiane, publicada no Diário da Manhã (23-01-10)
Fotos de Josiane Maciel (1; 3; 4)
Fotos de Josiane Maciel (1; 3; 4)
Um comentário:
Boa sorte ao Santa Terezinha! Vamos acabar com a dupla BRAPEL!
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